"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Os quatro caminhos

O povo San, os primeiros habitantes do sul da África, acreditavam que depois da morte o espírito humano se defrontava com quatro caminhos. Três dos quatro caminhos eram estradas magníficas, com chão liso, sombrejadas por árvores altas, que levavam ao Inferno. O quarto caminho era uma estrada calcinada de pedras soltas que levava ao Paraíso. O espírito precisava escolher, e a sua escolha não era entre o Inferno e o Céu, era entre o caminho e o destino. Andar por uma das três estradas largas e prazerosas engrandeceria o espírito, mesmo que levasse à perdição. Escolher o caminho mais difícil castigaria o espírito mas o levaria à salvação. O que era uma opção para os mortos era um enigma para os vivos: vale mais a viagem ou o seu fim? O que se aproveita da vida se ela for apenas uma provação para a alma? Fiquei sabendo da crença dos San num cenário adequado para reflexões sobre a sabedoria antiga, o Museu das Origens, na grande universidade de Witwatersrand, em Johannesburg. É um museu arqueológico com natural ênfase em evidências de que a África foi mesmo o berço da humanidade, entre estas uma pedra com riscos siméticos feitos há 75.000 anos que foi a primeira obra de arte do mundo. Talvez impressionado com a rede de avenidas, elevadas e minhocões que se entrecruzam ao redor de Johannesburg, achei que havia uma metáfora aproveitável na parábola dos quatro caminhos dos San - só ainda não conclui qual é. Johannesburg decididamente escolheu seu destino, que não é mais do que ser uma nova América, ou um conglomerado de shopping centres e condomínios fechados interligados por grandes estradas. Resta saber se perdeu sua alma no caminho. Pois a opção pelas grandes estradas também deu em universidades publicas como a Witwatersrand, onde vimos o que parecia ser uma maioria de estudantes negros, e em vários prêmios Nobel em física, medicina e literatura. As universidades publicas foram feitas na sua maior parte com dinheiro branco. Afinal, uma raça que produziu a Charlize Theron não pode ser totalmente ruim.

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