"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A OUTRA CANUDOS

Em Caldeirão, no Ceará, 700 pessoas foram mortas pelo Exército em 1937, acusadas de comunismo e fanatismo. O centenário da Guerra de Canudos, em 1997, renovou as atenções dedicadas ao massacre cometido contra os seguidores do beato Antônio Conselheiro, mas um outro episódio, com características semelhantes, continua sendo tratado de forma marginal pela historiografia brasileira. Trata-se da história de Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, um arraial localizado no município de Crato (516 km ao sul de Fortaleza), que chegou a reunir 2.000 pessoas sob a liderança do beato José Lourenço, um fiel seguidor do padre Cícero Romão Batista. Assim como Canudos, Caldeirão foi marcado pelo catolicismo popular e a produção coletiva. Fundado em 1926, Caldeirão cresceu rapidamente, incomodando a cúpula da Igreja Católica e as oligarquias da região, que passaram a exigir o fim do que chamavam de "antro de fanáticos e comunistas”. A destruição final de Caldeirão ocorreu em 1937, 40 anos depois da de Canudos, num bombardeio que usou aviões de guerra e provocou a morte de cerca de 700 pessoas. Considerado o maior massacre da história do Ceará, Caldeirão foi assunto proibido durante muitos anos na região do Cariri, na qual está situada Crato, e até hoje não consta nos livros didáticos da rede oficial de ensino do Ceará. Fugindo da fome A gênese da experiência desenvolvida em Caldeirão coincidiu com o apocalipse de Canudos, em l897. Naquele ano, o padre Cícero destacou José Lourenço para cuidar da fazenda Baixa Dantas, de propriedade de seu amigo João Brito. Negro, forte e com grande disposição para o trabalho, Lourenço ganhara a confiança do padre Cícero pelas suas demonstrações de fé. Paraibano de Pilão de Dentro, Lourenço chegara a Juazeiro em 1890, atraído pelo prestígio místico de padre Cícero e porque considerava a cidade o melhor local para desenvolver práticas de penitência. Em Baixa Dantas, padre Cícero acolheu dezenas de famílias de fiéis que procuravam-no, fugindo da fome do sertão. Sob a liderança de Lourenço, o sítio passou a ser um celeiro de produção agrícola. Alternando sessões diárias de reza com jornadas de trabalho em regime de mutirão, os fiéis transformaram o lugar, diversificando a produção – o que destoava da monocultura da cana-de-açúcar predominante na região. Na década de 20, padre Cícero sofreu perseguição feroz de seus inimigos políticos e religiosos. Floro Bartolomeu, considerado o braço político do padre, era acusado na Câmara Federal de ser o deputado dos “fanáticos e cangaceiro". Querendo acabar com essa fama, Bartolomeu escolheu Lourenço como uma espécie de bode expiatório. Em 1922, mandou prendê-lo e divulgou que Lourenço era um fanático que adotava um animal corno objeto de culto religioso. O animal em questão era um boi, chamado de “Mansinho”, que havia sido doado ao padre Cícero por Delmiro Gouveia. Lourenço era acusado de atribuir milagres à urina e às fezes do boi. Preso, Lourenço foi obrigado a comer da carne de “Mansinho”. A humilhação e os sofrimentos da prisão criaram uma mística em torno de Lourenço, que viu crescer seu carisma de beato junto ao religioso povo da região. “Trabalhar e rezar” Lourenço ainda conseguiu retornar para Baixa Dantas, mas, em 1926, foi obrigado a deixar o local, pois o proprietário pediu as terras de volta. No mesmo ano, padre Cícero encaminhou Lourenço e seus seguidores ao sítio Caldeirão. Distante 20 km de Crato, Caldeirão estava encravado na região mais árida da serra do Araripe, numa área de 900 hectares. Neste sítio, Lourenço fundou a irmandade de Santa Cruz do Deserto, uma seita de penitentes que via no trabalho uma forma de salvar a alma. Com o lema “Trabalhar e rezar”, Lourenço organizou Caldeirão baseando-se em uma lógica coletivista, distribuindo a produção de acordo com as necessidades de cada fiel. A experiência transformou a paisagem do local, que em pouco tempo passou a abastecer Crato e Juazeiro com produtos agrícolas. Na grande seca de 1932, quando cerca de 40 mil pessoas se refugiaram num campo de concentração de flagelados armado pelo governo federal em Crato, a fartura do Caldeirão se tornou um referencial e o prestígio de Lourenço aumentou. A morte do padre Cícero, em 1934, serviu para detonar a ira da hierarquia da Igreja Católica e dos proprietários rurais contra Caldeirão. Os padres temiam que Lourenço canalizasse o prestígio de padre Cícero. Os latifundiários viam contingentes da sua mão-de-obra escoando para Caldeirão. Em artigos de jornais e sermões, pregavam que Caldeirão era uma reedição de Canudos, com Lourenço no papel de Conselheiro e os monarquistas substituídos por comunistas. No dia 9 de setembro de 1936, um batalhão liderado pelo chefe da Segurança Pública do Ceará, Cordeiro de Farias Neto, chegou ao Caldeirão com a missão de destrui-lo. Lourenço fugiu antes da chegada dos “macacos” (policiais). Seguindo a orientação pacifista de Lourenço, os fiéis não resistiram. Mesmo assim, a polícia pôs fogo nas 400 casas do arraial e confiscou todos os bens da coletividade. Os fiéis se refugiaram nas cercanias de Caldeirão. No ano seguinte, os fiéis dividiram-se em duas facções. A liderada por Lourenço defendia a volta negociada a Caldeirão e recorreu à Justiça para exigir uma indenização pelas benfeitorias destruídas. O outro grupo, liderado por Severino Tavares, pregava a formação de um braço armado para Caldeirão e a retomada do sítio pela força. Em maio de 1937, os seguidores de Tavares mataram o capitão da Polícia Militar José Bezerra e quatro policiais num conflito. A vingança da morte de Bezerra ganhou o aval do então ministro da Guerra, Eurico Dutra, que enviou um batalhão de 200 homens e três aviões com a missão de destruir o que sobrou de Caldeirão. O bombardeio de Caldeirão ficou registrado como a primeira ação da Aeronáutica contra populações civis no país. O saldo foi de 200 mortos, na versão oficial, mas o próprio comandante da operação admitiu depois que morreram 700 pessoas. Contrário ao confronto armado, Lourenço refugiou-se no sítio União, em Exu (PE), onde morreu de peste bubônica, no dia 12 de fevereiro de 1946. O seu corpo foi enterrado ao lado do túmulo do padre Cícero, em Juazeiro, depois de ter sido conduzido por uma multidão pela serra do Araripe, percorrendo a pé os 82 quilômetros que separam as duas cidades. O enterro de Lourenço aconteceu à revelia da Igreja Católica, que se recusou a oficiar o ritual de despedida. Atualmente, o túmulo de Lourenço é um dos mais freqüentados pelos milhares de romeiros fiéis de padre Cícero que visitam Juazeiro

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ESTADOS UNIDOS: GUERRA, PÃO E CIRCO

‘Não em vão dizia Frederico II da Prússia que se deve fazer a guerra de tal modo que a população civil não se de conta dela. A divisa das guerras do absolutismo era: ‘ a calma é o primeiro dever dos súditos’. (G.Lukács – O romance histórico, 1954) Ainda que a condução da política econômica norte-americana, de cunho neoliberal, tenha sido responsabilizada pelas culpas do desastre econômico que se abateu sobre os Estados Unidos, irradiando-se em seguida pelo mundo, é bom lembrar que a razão dele é a manutenção de uma custosa guerra travada do outro lado do planeta a um custo astronômico que se somou a mais absoluta irresponsabilidade em conter os gastos com o consumo interno. Medidas de contenção Quando o Brasil declarou guerra às potências fascistas em agosto de 1942 , as primeiras providências do governo de Getúlio Vargas não foram no sentido da convocação das tropas mas sim de impor severas medidas de contenção de gastos. Durante os três anos seguintes o fornecimento de energia foi condicionado por cortes de luz a partir de determinadas horas, o mesmo se dando com o combustível ao lado de um rigoroso sistema de racionamento geral. Não que o Brasil temesse uma invasão nazi-fascista mas simplesmente porque tais medidas são comuns a qualquer nação que esteja em guerra. Poupa-se para gastar com as tropas, é o jejum do civil quem mantém o soldado. Exatamente o oposto tem sido a política dos Estrados Unidos. Os governos americanos, tanto o dos democratas durante a Guerra do Vietnã, como o dos republicanos no Afeganistão e no Iraque, tocaram os conflitos sem exigir sacrifícios dos cidadãos. Ao contrário, estimularam ainda mais o consumo e o gasto conspícuo. O resultado disto, primeiro, foi a grande inflação da década de 1970, e, em segundo, a atual quebra do sistema financeiro que se alastra pelo mundo. E isto, essencialmente, tem mais a ver com a prática imperial e pouco a ver com o capitalismo. Pão e Circo Na Roma antiga, os generais vindos das campanhas de espoliação dos povos subjugados, desfilavam pela cidade jogando moedas para a plebe. Em seguida, promoviam um magnífico espetáculo circense para agradá-la ainda mais. Dividindo os ganhos com a multidão no Coliseu, eles corrompiam a população tornando-a cúmplice da rapinagem. Era esta a razão de até a conversão ao cristianismo, jamais haver em Roma quem fizesse restrições morais às conquistas de um César, de um Tibério ou de um Trajano. Ora, as moedas que o governo americano jogou ao seu povo em troca do apoio foram exatamente as de ordem hipotecária. Para manter-lhe a fidelidade à invasão do Afeganistão e do Iraque, que já dava os primeiros sinais do desastre, o Congresso norte-americano aprovou em 2004, no terceiro ano da guerra, com a designação de ‘empréstimos sociais’, a lei que permitiu aos agentes imobiliários - Fannie Mae e Freddie Mac - repassar recursos para aqueles que não tinham as garantias suficientes. Ao mesmo tempo, o FED (Federal Reserve), entre 2002 e 2004, desta feita com Bagdá em chamas, manteve as taxas de juros abaixo da inflação durante 31 meses, para dopar o povo com dinheiro fácil (o endividamento das famílias que andava ao redor de 60% da renda, saltou para 130%). E, evidentemente, seguindo o conselho de Frederico II, não tomou nenhuma medida restritiva ao consumo em larga escala para que ninguém criasse obstáculos à operação colonialista contra dois paises muçulmanos, pois ‘a calma é o primeiro dever do súdito’. Um gasto astronômico O resultado disto – liberação do consumo interno mais as fantásticas despesas com a guerra no exterior por cinco anos seguidos - é que os custos previstos para a aventura, segundo o Mitch Daniels o chefe do orçamento nacional, estimados inicialmente entre U$ 100 e 200 bilhões, provavelmente alcançarão a U$ 1 trilhão em 2010. Algo assim como U$ 300 milhões/dia, gerando um déficit anual de U$ 455 bilhões. O prêmio Nobel Joseph Stiglitz e Linda Blames ( in The Trillion Dollar War: the true cost of the Iraq conflict, 2008) , por sua vez, mais pessimistas, jogam as despesas para possíveis U$ 4,5 trilhões! Contribui mais do que tudo para o desabamento das coisas o fato da ocupação ir de mal a pior, de não haver uma perspectiva de uma paz produtiva que esteja ao alcance dos olhos. Isto tudo gerou a desconfiança universal com os papéis norte-americanos. Permitiram que os sem-renda participassem de um banquete sem terem dinheiro para cobrir sequer a sobremesa, ao tempo em que deixaram livre o pasto para os ganhos extraordinários dos lobos de Wall Street.

ABRAÃO LINCOLN, BARACK OBAMA E A CASA DIVIDIDA

“Uma casa dividida não pode parar em pé. Eu acredito que este governo não pode manter-se, permanentemente, meio escravo e meio livre. Eu não espero que a União se dissolva – eu não espero que a casa caia – mas eu espero é que ela cesse de ficar dividida.”A. Lincoln – Discurso da Casa Dividida (Springfield, Illinois, 18 de junho de 1858 O presidente Barack Obama em reiteradas ocasiões manifestou-se admirador de Abrão Lincoln, o líder abolicionista, assassinado em 1865. O motivo disto, todavia, não é relembrar a questão já superada da escravidão nem as cicatrizes da Guerra de Secessão, mas sim a obsessão do presidente-herói pela manutenção da união política dos norte-americanos. O adversário de Abraão Lincoln ao senado de Illinois era um tipo formidável. Stephen Douglas, ‘ o pequeno gigante’, era um orador brilhante e um polemista de primeira. Lincoln, quase um recém chegado à política, mostrou, há 150 anos atrás, enorme coragem em desafiá-lo para uma série de debates públicos a serem travados em várias cidades do estado (Ottawa, Freeport, Jonesboro, Charleston, Galesburg, Quincy e Alton, entre 21 de agosto a 15 de outubro de 1858). Stephen acusava Lincoln de interpretar de modo incorreto a Declaração de Independência que afirmava a igualdade de todos. Para ele os negros não eram iguais, não mereciam ter direitos humanos. Lincoln, ao contrário, enfatizou que a questão da escravidão não era apenas um problema dos americanos, muito menos de Illinois, mas sim uma desgraça universal a ser varrida da América. O que não cessou de destacar era o estrago que a permanência do sistema servil provocava na vida dos Estados Unidos. Foi na largada da campanha de 1858 que ele pronunciou o famoso discurso da ‘Casa Dividida’ prevendo que aquela situação do país, ter uma parte livre e outra escrava, não poderia perdurar. Bastava ver o que estava se passando no território do Kansas, o ‘Kansas ensangüentado’ de Horace Greely, onde bandos de pistoleiros pró e contra a escravidão se tiroteavam há quatros anos. Tudo pela União Eleito presidente em 1860, Lincoln não hesitou em aceitar a guerra que lhe fora imposta pelos estados do sul escravista quase que em seguida a sua posse. Não podia concordar que a casa ruísse inteiramente. A União da América tinha que ser preservada. E o foi depois de 618 mil americanos mortos! Num encontro que Lincoln teve na Casa Branca com Frederick Douglas e algumas lideranças negras após ter feito aprovar a 13ª emenda, a que aboliu com a servidão nos Estados Unidos, se manifestou pessimista quanto ao destino da gente de cor. Não acreditava que eles fossem algum dia integrados à sociedade dominada pelos brancos. Chegou até a recomendar que arrumassem um modo de voltarem para a África agora que os havia libertado. Mas nenhum deles mostrou entusiasmo com a idéia. Lincoln estava errado. Barack Obama é o resultado disto. Um foi fruto do Movimento Abolicionista, o outro do Movimento pelos Direitos Civis. O jovem presidente negro que assumiu o mais alto cargo do país, tal como Lincoln, herdou uma casa dividida. Pela guerra no oriente e pela crise econômica. Está falida e endividada.Terá pela frente uma tarefa digna de um Hércules para fazer com que ela não estremeça e se transforme numa ruína. Daí o simbolismo de começar sua posse em Washington pronunciando-se no Memorial Lincoln, o homem que lutou pela união e evitou que a casa desabasse.

domingo, 16 de agosto de 2009

O BRASIL E A FOBIA À CIÊNCIA

Os países latino-americanos, o Brasil entre eles, carregam uma triste herança vinda da Ibéria. A profunda hostilidade à ciência desencadeada nos tempos da Contra-Reforma católica (1534-1590) colocou o conhecimento científico sob desconfiança das autoridades clericais e seculares. Creditaram-no como obra do mal, prejudicial à fé do bom cristão e à boa ordem das coisas. Da tolerância à desconfiança Ainda até a metade do século XVI, a Igreja Católica Romana era condescendente com os progressos da ciência. Tanto assim que Nicolau Copérnico, que atacou o sistema geocêntrico de Ptolomeu, ofereceu em 1543 o seu projeto “Sobre as Revoluções” ao Papa Paulo III. Outros pontífices, por igual, revelaram-se entusiastas das pesquisas sérias que lhes chegavam às mãos ou aos ouvidos. Não viam nada de mal naquilo. Todavia, com o recrudecimento da Reforma Protestante, movimento que se espalhou por todo o centro-norte da Europa, foi-se a tolerância. A reação da Igreja Católica ao desafio lançado por Lutero e de Calvino foi desencadear a Contra-Reforma. Tendo-se reagrupado no Concilio de Trento (1545-1585), o Papado aparelhou-se para uma guerra teológica e material de longa duração na qual não só reforçou a Eucaristia contra a Heresia, recriando o Tribunal do Santo Ofício, como assumiu extremos cuidados em relação aos cientistas, colocados sob a mais rigorosa vigilância. Os que suspeitassem dos dogmas da fé seriam considerados “inimigos de Cristo.”, quando não braço auxiliar do Demônio. O caso mais célebre deu-se com Galileu Galilei, forçado, depois de submetido à tortura, a retratar-se frente a um Tribunal da Inquisição, em 1633, ocasião em que abjurou da sua afirmação de que a Terra se movia. Os reinos ibéricos e a ciência A desgraça dos latino-americanos em geral, sob o ponto de vista do avanço do conhecimento científico, foi que os Reinos Ibéricos, da Espanha e de Portugal, nossos colonizadores, tornaram-se os campeões da Contra-Reforma. Desde aquela época nada mais de relevante se inventou por lá, e pouco menos por aqui. De inúmeros os modos, por quase quatro séculos, as autoridades eclesiásticas, apoiadas por seus aliados nos governos e instituições, impediram que prosperasse o que Gaston Bachelard denominou de “a formação do espírito científico”, criando um sem número de obstáculos para bloquear o surgimento de um pensamento laico. Tanto assim que as verbas estatais ou privadas dedicadas ao aparelhamento dos laboratórios e ao estimulo das pesquisas sempre foram magras frente aos gastos bacharelescos. Certa vez, constrangido e embaraçado pela sua Espanha não produzir um só nome de porte naquela área tão importante para a evolução humana, o filósofo Miguel de Unamuno, falecido em 1936, esbravejou: “Deixe que os outros inventem!”. Ao colocar a natural curiosidade humana como perigosa para a fé cristã e para os dogmas da Igreja, a ciência viu-se condenada, por vezes, a ser uma atividade subversiva, somente aceita se tolerada pelo Colégio dos Cardeais (que, certamente não entendiam nada de ciência). Enquanto o único Prêmio Nobel da área médica até hoje recebido por Portugal foi dado ao psicocirurgião Dr.Egas Muniz que havia inventado a lobotomia, uma técnica operatória que paralisava parte do cérebro humano (sic), os países de formação protestante ficaram ao longo do século XX com 80% das vitórias nas áreas científicas. Continua o mesmo Ainda assim, com toda esta defasagem, o mundo neo-ibérico continua o mesmo, o que de certo modo explica a sua total subordinação presente frente ao mundo anglo-saxão. Há bem pouco tempo no sul do Brasil, milícias de pobres diabos mobilizados pelo baixo clero gaúcho e por extremistas da esquerda, como que revivendo os idos da Idade das Trevas, atacaram centros de experiência com transgênicos e invadiram hortos com plantas de eucaliptos. Um outro grupo, ainda anônimo, tocou fogo num laboratório de pesquisas biológicas da UFRGS. Faziam eco às destruições patrocinadas na França, país que também sofreu os efeitos da contra-reforma, pelo militante José Bové que liderara a vandalização de canteiros de arroz. No Brasil, aspirando neste mesmo clima reacionário do contra-reformismo tardio, ninguém menos do que o ex- procurador-geral da República, e não um beato fundamentalista qualquer, manifestou num parecer a sua inconformidade contra a interrupção da gravidez de um feto anancefálico (sem cérebro), como também, pouco depois, questionou a constitucionalidade da experiência com as células-tronco, o que levou a que o Supremo Tribunal Federal servisse de palco para uma das tantas batalhas entre a ciência e a religião (vencida desta feita pela primeira por 6 votos contra 5). Embate bem sucedido que foi fundamental para restabelecer a esperança na recuperação de doentes desenganados, mas que apontado pelos apóstolos do medievo e seus representantes laicos como uma das mais visíveis intromissões de Satanás na nossa santa vida.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: uma questão social

A gravidez na adolescência, fato amplamente discutido atualmente nos meios acadêmicos, mídia e órgãos governamentais, longe de representar um acontecimento novo, esteve sempre presente na história da humanidade. Nas civilizações antigas, tão logo aparecessem os primeiros sinais de puberdade, a jovem era considerada apta para o casamento. Presença comum no passado de cada um de nós é facilmente reconhecida em nossas memórias e nos álbuns de família, onde aparecem nossas mães, avós ou bisavós, ainda em tenra idade, cercadas de numerosa prole. A capacidade reprodutiva, àquela época, estava associada ao frescor da juventude e quanto maior a prole, maior o "mérito da matrona". Nada questionava-se quanto a capacidade psicobiológica daquelas imaturas jovens em parir, cuidar e educar seus filhos. A igreja católica, detentora de grande poder sobre as questões da sexualidade e reprodução, propagava o " crescei e multiplicai". Exercendo forte repressão sexual e radicalmente contrária ao uso de qualquer tipo de método contraceptivo, contribuía para os 12, 15 ou 20 filhos presentes na maioria das famílias. Somando-se aos fatores culturais e religiosos, haviam os interesses políticos e econômicos vigentes.O Estado dependia do rápido crescimento da mão de obra para concretizar sua expansão e impulsionar as grandes transformações da época, o que tornou o crescimento populacional desejado e incentivado. A quem se destinariam então os serviços de pré-natal e planejamento familiar? Neste contexto, as mulheres, longe de qualquer expressão social ou política viviam submissas ao marido e senhor e detentoras da "sagrada missão da maternidade" tinham como único legado: casar, procriar e zelar pelos filhos, cabendo ao homem, chefiar e prover adequadamente a família. Na década de 60, com o movimento de contracultura, os jovens começaram a questionar as políticas sociais vigentes e além disto, reinvidicaram o direito ao livre exercício da sexualidade. Contrariando os rígidos padrões morais, a gravidez passou a ocorrer fora dos laços matrimoniais. O crescimento populacional tornara-se preocupante e a então, explosão demográfica somada ao processo maciço de industrialização tornou o trabalho humano "dispensável". O excedente de mão de obra, o desemprego e o futuro dos jovens passaram a ser preocupações para o Estado.Os acontecimentos sócio-político-econômicos e as transformações ocorridas no âmbito da moral e dos costumes levaram invariavelmente, o Estado e a sociedade, a um novo posicionamento em relação aos padrões sexuais adotados pelos jovens "modernos". Neste momento, o controle da natalidade tornara-se uma alternativa para conter este processo e os métodos contraceptivos passaram a ser mais divulgados. Nos idos de 60, surgiram as pílulas anticoncepcionais e criaram-se os primeiros serviços de pré-natal voltados às jovens gestantes. A implantação efetiva dos programas de planejamento familiar permitiu às mulheres e ao Estado, o controle sobre a prole. Nos países em desenvolvimento, fazia-se necessário mais do que o planejamento familiar, o controle definitivo sobre o número de filhos. Realizou-se então, nas décadas de 80 e 90, a esterilização de grande número de mulheres jovens em idade fértil, tornando-a hoje, o segundo método contraceptivo mais utilizado pelas jovens brasileiras em união (8%), precedido apenas pelas pílulas anticoncepcionais (PNDS-96). As progressivas transformações no âmbito da sexualidade dos jovens continuaram ocorrendo, e hoje, a iniciação sexual, ocorrendo cada vez mais precocemente, torna-os alvo de preocupações. A sexualidade, presente em todas as etapas do desenvolvimento humano, aflora com toda sua força na adolescência sobre influência dos hormônios sexuais. Responsáveis pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários conduzem a um novo "olhar" para o sexo oposto, antes indiferente. Donos de um corpo em crescente transformação e regidos por uma mente ávida de novas experiências, trilham pelos caminhos da curiosidade e do desejo, ainda incontrolável. Alguns com pouco ou nenhum conhecimento da fisiologia do corpo, agora reprodutivo, outros, carregados de conhecimentos científicos e das "sábias" orientações paternas, seguem indistintamente pelos mesmos caminhos. Apoiados no pensamento mágico "isso não acontecerá comigo" e levados pelo calor do momento lançam-se nas mais diversas experiências, entre elas a do sexo desprotegido. Independente do meio social em que estejam inseridos e do conhecimento prévio dos métodos contraceptivos, expõem-se, frequentemente, ao risco da gestação não planejada. No Brasil, 50% das jovens e 78% dos jovens tem a sua primeira experiência sexual até os 24 anos de idade, com idade mediana da sexarca de 16,4 anos para as garotas e 15,3 anos para os rapazes (1996). Apenas 33% dos jovens relatam uso de contracepção na primeira relação sexual e em 1998, 25% dos partos realizados no Sistema Único da Saúde (SUS), foram de adolescentes. Considerando que aproximadamente 40% das adolescentes engravidam até 3 anos da primeira gestação a questão torna-se ainda mais preocupante.. No mundo moderno, escolaridade e capacitação profissional são fundamentais para inserção do jovem no mercado de trabalho, hoje tão escasso e competitivo. O mesmo ocorrendo para as jovens que já não vêem no casamento e na maternidade ideais de vida.A ocorrência e a reincidência da gestação não programada, em pleno processo de capacitação e formação profissional conduzirá invariavelmente os jovens, por necessidade de prover a nova família, à deserção escolar e sub-emprego, mantendo assim o ciclo da pobreza. Num país pobre, eminentemente jovem como o Brasil ( 21% da população formada por adolescentes), a gestação na adolescência representa um grande desafio. Dos problemas envolvidos com a gravidez precoce, o biológico, parece-nos o menor e mais contornável. Uma assistência pré-natal especializada, precoce e preferencialmente multidisciplinar é capaz de minimizar o impacto biopsíquico da gestação para estas jovens. O principal impacto, porém, ainda é o social. BibliografiaCOATES V, CORREA M.M. Implicações sociais do papel do pai. In: Maakaroun MF, Souza RP, Cruz AR. Tratado de Adolescência – Um Estudo Multidisciplinar. Rio de Janeiro: Editora de Cultura Médica,1991: 407-13. COSTA, C. F. F. Gravidez na adolescência. In: Magalhães FSC e Andrade H. S. S. M. Ginecologia Infanto Juvenil, Rio de Janeiro: Medsi, 1998: 501-05.GALVÃO, L. , DÍAZ, J. Saúde Sexual e Reprodutiva no Brasil. Rio de Janeiro, Hucitec, 1999, 389p.KRAUSKOPF, D.; THAMES, P. L. A. Embarazo en la adolescência e Aspectos antropológicos del embarazo de adolescentes. Comision Nacional de Atencion Integral al Adolescente. Costa Rica: Organizacion Panamericana de la Salud / OPS,1996.MAIA FILHO, N. L. et alli. Gravidez na adolescência: três décadas de um problema social crescente. Goiânia: Revista GO Atual,1998. 28 a 32.MONTEIRO, D. L. M.; CUNHA, A. A.; BASTOS, A. C. Gravidez na Adolescência. São Paulo, Revinter, 1998, 190p.SCHOR N.; MOTA M. S. F. T.; BRANCO, V. C. (orgs.) Cadernos Juventude Saúde e Desenvolvimento. Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde, 1999.VIEIRA E. M. et alli .Seminário Gravidez na Adolescência. Brasília: 1998.

sábado, 8 de agosto de 2009

O PROJETO DE PESQUISA

Pesquisa é o conjunto de atividades intelectuais tendentes à descoberta de novos conhecimentos” (SAAVEDRA, 2001, p. 61) A melhor definição para o projeto de pesquisa é um plano de trabalho da futura pesquisa a ser realizada para a construção da monografia ou do TCC, visando primordialmente a definição dos rumos a serem adotados de acordo com a natureza específica do seu estudo, de modo a facilitar sobremaneira seu trabalho futuro. Via de regra, o projeto de pesquisa se encontra orientado para a resposta de perguntas conceituais como: O quê? Para quê? Por quê? Onde? Como? Quando? Assim, a construção do projeto deve ser específica para ordenar de maneira metódica e completa aquilo que o aluno realizará posteriormente em sua monografia. Para a consecução dos seus objetivos, o projeto de pesquisa é dividido em partes específicas do mesmo. A definição do tema é uma das partes essenciais do projeto, onde ocorre a seleção do objeto de estudo. Os objetivos são as indicações do que se pretende estudar, quais os resultados que se procura alcançar, auxiliando ainda a identificação da natureza de pesquisa, assim como da delimitação da mesma. A fundamentação teórica do projeto de pesquisa tem a finalidade de nortear o entendimento atual sobre o tema da monografia, apresentando fontes de pesquisa já realizadas sobre o mesmo tema, ou altamente correlato, sendo a hora do levantamento das publicações existentes, assim como do teor das mesmas, relacionadas ao mesmo tema do projeto. Todo projeto de pesquisa indica uma metodologia, que consiste na explanação do método, do modus operandi a ser adotado pelo aluno para a realização do seu trabalho monográfico. O tratamento oferecido aos dados a serem obtidos também faz parte da metodologia. A definição dos custos do projeto também deve estar indicada, demonstrando-se detalhadamente os gastos futuros a serem realizados para a consecução do trabalho. Já o cronograma, parte constante do projeto de pesquisa, serve como ponte de relação entre o tempo e o trabalho a ser realizado, devendo estar indicado por etapas visando a compreensão do aproveitamento do período disponível por parte do aluno. Termina-se o projeto de pesquisa com as referências bibliográficas adotadas para a realização do mesmo, assim como para as escolhidas para o norteamento do trabalho a ser realizado. O essencial é que você tenha um excelente relacionamento com seu orientador de monografia ou de TCC para que este lhe auxilie nas diretrizes e nos formatos a serem adotados.

COMO SELECIONAR O TEMA PARA UMA MONOGRAFIA

A seleção de um apreciável tema de monografias é um núcleo do sucesso da escrita de sua monografia ou TCC e deve ser tratada de acordo com sua importância. Você deve considerar o tema para uma monografia que fornecerá a oportunidade de sintetizar suas experiências e características pessoais de modo coerente ao se dirigir a seu desejo para alcançar as audiências específicas que deseja com sua monografia ou TCC. Da mesma forma, a confiança em um tema de monografia deve ser altamente considerada. Ao escolher um tema para sua monografia, as seguintes perguntas devem ser consideradas: - Você escolheu um tema para sua monografia que descrevesse algo de importância em sua vida, e com a qual você possa usar a experiência pessoal? Como exemplo, observe o artigo relacionado ao tema para monografia e TCC sobre dado e informação. - É um tema de monografia que refletirá o pensamento de outrem? Se a resposta for positiva escolha acima uma abordagem nova para discutir em sua monografia. - Seu tema de monografia pode fornecer parágrafos com interessantes citações? Se citar parágrafos com exemplos bibliográficos concretos for algo você não pode facilmente realizar em sua monografia, considere um argumento diferente. - Existe bibliografia suficiente para a realização de seu tema de monografia? Um dos problemas mais freqüentemente detectados durante a elaboração de uma monografia ou TCC é a descoberta de que não existem fontes bibliográficas disponíveis. - Você está certo de que pode responder integralmente à pergunta central de sua monografia ou TCC? Você pode processar o seu tema, durante a elaboração de sua monografia ou TCC em todos os pontos dentro da limitação, ou limitações existentes? - Você conseguiria prender o interesse dos leitores desde o primeiro parágrafo de sua monografia? Sua monografia, TCC ou qualquer outro trabalho deve ser interessante e memorável. Um dos aspectos os mais importantes a ser considerado ao escolher o tema de sua monografia ou TCC é se seu interesse sobre o mesmo é correspondido por um número significativo de pessoas, sendo este um índice da qualidade da monografia. Tente evitar ao máximo temas de monografias que tratam de doutrinas políticas, religiões específicas e opiniões controversas se sua abordagem for denegrir as mesmas. No entanto, se você conseguir ser imparcial em sua monografia, estes são temas que sempre atraem a atenção sobre monografias ou TCC. Se você apresentar um tema de monografia controverso, deve reconhecer argumentos contrários sem soar arrogante.
Após ter avaliado o tema de monografia com os critérios acima, você deve ter diversos argumentos interessantes para a definição deste.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O PLÁGIO NAS MONOGRAFIAS

1 O ORIENTADOR DA MONOGRAFIA Uma indefinição, infelizmente, para todo aluno que realiza sua monografia ou TCC é a participação do orientador no processo. Afinal, seu orientador é um parceiro ou um carrasco em sua monografia? Infelizmente, a grande parte dos alunos que iniciam seus Trabalhos de Conclusão de Curso não percebe a importância do orientador em todos os níveis de produção de monografias, da escolha do tema de monografia até a defesa de sua monografia ou de seu TCC. Em relação a monografias, dentro de sua função a função do orientador advém do próprio termo: aquele que orienta, que guia, que sustenta e auxilia. No entanto, nem sempre esta função é cumprida como deveria e a culpa não é somente do orientador, mas também do aluno. Em algumas universidades, o aluno procura aquele orientador com quem sinta afinidade, estando mais à vontade para discutir detalhes e o andamento de sua monografia, já em outras, este mesmo orientador é imposto. Em alguns casos, cada orientador segue somente algumas monografias por semestre ou ano, já em outros, um mesmo orientador precisa coordenar mais de 50 monografias simultaneamente. Sem contar a apresentação do projeto de pesquisa, etapa muitas vezes essencial para o aluno e seu TCC ou monografia. É óbvio que quanto mais exclusivo for o seu orientador, mais auxílio ele poderá dar em sua monografia, e menos reclamações você terá. Torna-se muito comum a procura por parte de nossos alunos para que possamos definir um tema para sua monografia. No entanto, aconselhamos a você procurar seu orientador para definirem, em conjunto, as melhores diretrizes para o seu trabalho e sua necessidade. Caso ele lhe sugira um tema que você não domina para sua monografia ou TCC, procure se informar sobre o mesmo, lendo artigos e outras obras. A idéia é que você procure seu orientador sempre que necessário, tirando dúvidas, questionando, com a humildade de aceitar e acatar o que ele tem a lhe oferecer. Peça sempre mais do que ele dá, já que um aspecto que sempre notamos é que muitos alunos esperam que o seu orientador sempre tome a iniciativa. 2 O PAPEL DO ORIENTADOR NO PLÁGIO EM MONOGRAFIAS E TCC Um caso de suspeita de plágio por parte de um estudante em uma monografia ou em um TCC, nunca é algo realizador ou mesmo satisfatório para um professor orientador de monografia. Da mesma forma, provar que o estudante cometeu o crime de plágio pode ser considerado como algo ainda pior. Tal plágio pode recair sobre a entrega de um material que não foi elaborado pelo aluno ou a utilização inadequada de bibliografias em sua monografia. É comum que o orientador se sinta ofendido e magoado quando a falta de ética se encontra presente na relação professor – aluno. No entanto, diversas medidas podem ser tomadas para que a prática do plágio em monografias ou TCC seja minimizada ou mesmo anulada. A palavra de ordem neste campo é rigor. Primeiramente, não há uma idéia clara por parte dos estudantes do que seja plágio. Na verdade, muitos alunos se surpreendem pelo fato de uma paráfrase em monografias ser uma prática plagiadora quando não acompanhada da devida citação. Assim, a primeira providência deve ser um intensivo trabalho de formação acadêmica sobre os alunos, explicando o conceito do plágio, quais as conseqüências , não somente em uma monografia ou um gênero de trabalho monográfico mas em todos os campos de suas vidas e, principalmente, exemplificar a finalidade da elaboração verdadeira e completa de uma monografia. Desta feita, tem-se a necessidade de uma discussão mais ampla sobre o plagio em monografia. 3 A QUESTÃO DO PLÁGIO O plágio é caracterizado no ato de copiar, imitar obra alheia, apresentando como seu, um trabalho intelectual advindo, de fato, de outra pessoa. Reproduzir, ainda que em pequenas partes, um texto, sem citar sua fonte, é considerado plágio. Havendo citação, porém sendo esta incompleta, há caracterização de irregularidade, de descumprimento das normas pertinentes à citação e às referências bibliográficas. A Lei de direitos autorais (Lei n. 9.610) estabelece que reproduzir um texto, ainda que indicando sua fonte, mas sem autorização do autor, pode constituir crime de violação de direitos autorais. Desse modo, é conveniente na elaboração de todo e qualquer trabalho acadêmico, a existência de uma redação própria, autônoma, livre de reprodução indiscriminada do potencial intelectual alheio, podendo porém, buscar o aluno, inspiração conceitual, doutrinária e ideológica em distintas fontes. Entretanto, na confecção de uma pesquisa científica é essencial um estudo profundo que possa embasar conclusões próprias, diretrizes que de alguma forma, possam contribuir no crescimento na nação. É bom saber, que a caracterização de plágio em trabalhos acadêmicos pode acionar o rigor da Lei n. 9.610, sujeitando o infrator à punição, e no mínimo sua expulsão da Instituição de Ensino Superior à qual encontra-se vinculado. Em suma, originalidade é imprescindível em todo e qualquer trabalho acadêmico, mas em caso do aproveitamento de citações alheias, estas devem estar corretamente sinalizadas e identificadas.

domingo, 2 de agosto de 2009

Por Que Terapias Espúrias Freqüentemente Parecem Funcionar
Forças sutis podem levar pessoas inteligentes (tanto pacientes como terapeutas) a acharem que um tratamento ajudou alguém quando na verdade não ajudou. Isto é verdadeiro para tratamentos novos na medicina científica, bem como para preparados da medicina popular, das práticas marginais na "medicina alternativa" e para as manifestações de curandeiros que usam a “fé”. Muitos métodos dúbios permanecem no mercado principalmente porque satisfazem consumidores que oferecem testemunhos de seu valor. Essencialmente, estas pessoas dizem: "Eu experimentei, e fiquei melhor, então deve ser eficaz”.A mídia eletrônica e impressa tipicamente retrata testemunhos como evidência válida. Mas sem testes apropriados, é difícil ou impossível determinar se isto é verdade. Proponho-me aqui a descrever sete razões pelas quais as pessoas podem erroneamente concluir que uma terapia ineficaz funciona. 1. A doença pode ter seguido seu curso natural. Muitas doenças são auto-limitadas. Se a condição não é crônica ou fatal, os processos de recuperação próprios do corpo normalmente restauram a saúde do doente. Desse modo, para demonstrar que uma terapia é eficaz, seus proponentes devem mostrar que o número de pacientes listados como melhora supere o número esperado de recuperação sem qualquer tratamento (ou que eles se recuperem realmente mais rápido que se deixados sem tratamento). Sem os registros detalhados dos sucessos e dos fracassos com um número grande o suficiente de pacientes com a mesma queixa, alguém não pode legitimamente alegar ter superado as normas publicadas de recuperação sem ajuda. 2. Muitas doenças são cíclicas. Certas condições como artrite, esclerose múltipla, alergias e problemas gastrointestinais normalmente tem "altos e baixos". Naturalmente, as pessoas tendem a procurar tratamento durante a recaída de qualquer dado ciclo. Desta maneira, um tratamento espúrio terá oportunidades repetidas para coincidir com períodos de melhoras que teriam acontecido de qualquer jeito. 3. O efeito placebo pode ser o responsável. Através da sugestão, crença, expectativa, reinterpretação cognitiva e desvio da atenção, os pacientes que recebem tratamentos inúteis biologicamente freqüentemente experimentam alívio mensurável. Algumas respostas placebo produzem mudanças reais na condição física; outras são mudanças subjetivas que fazem os pacientes se sentirem melhores mesmo que não haja nenhuma mudança objetiva na patologia de base. 4. As pessoas que apostam suas fichas na coisa errada. Se ocorre uma melhora após alguém ter sido submetido tanto ao tratamento "alternativo" como ao baseado na ciência, a prática marginal freqüentemente leva uma divisão desproporcional do crédito. 5. O diagnóstico ou prognóstico original pode ter sido incorreto. Médicos treinados cientificamente não são infalíveis. Um diagnóstico errado, seguido por uma visita a um santuário ou a um curandeiro "alternativo", pode levar a testemunhos inflamados de cura para uma condição que teria se resolvido sozinha. Em outros casos, o diagnóstico pode ser correto mas o prognóstico, que é inerentemente difícil de se prever, pode mostrar-se impreciso. 6. Melhora temporária do humor pode ser confundida com cura. Curandeiros alternativos freqüentemente possuem personalidades fortes, carismáticas, até o ponto que os pacientes são levados pelos aspectos messiânicos da "medicina alternativa",o que pode ser seguido por uma melhora psicológica. 7. Necessidades psicológicas podem distorcer o que as pessoas percebem e fazem. Mesmo quando nenhuma melhora objetiva ocorre, as pessoas com um investimento psicológico pesado na "medicina alternativa" podem se convencer que foram auxiliadas. De acordo com a teoria da dissonância cognitiva, quando as experiências contradizem as atitudes, os sentimentos ou os conhecimentos existentes, é gerada angústia mental. As pessoas tendem a aliviar esta discordância reinterpretando (distorcendo) a informação ofensiva. Se nenhum alívio ocorre após ter comprometido tempo, dinheiro e "encarado" um curso alternativo de tratamento (e talvez da visão de mundo da qual o tratamento faz parte), pode resultar uma desarmonia interna. Ao invés de admitirem para elas mesmas ou para as outras que seus esforços foram um desperdício, muitas pessoas procuram algum valor para redimir o tratamento. A essência da crença tende a ser vigorosamente defendida através da distorção da percepção e da memória. Praticantes que estão à margem da ciência e seus clientes são inclinados a interpretar erroneamente as sugestões e lembrarem-se das coisas como eles gostariam que elas tivessem acontecido. Podem ser seletivos naquilo que recordam, superestimando seus aparentes sucessos enquanto ignoram, enrolam ou atenuam seus fracassos. O método científico evoluiu em grande parte para reduzir o impacto desta tendência humana para saltar para conclusões convenientes. Além disso, as pessoas normalmente se sentem obrigadas à reciprocidade quando alguém faz a elas algo de bom. Uma vez que a maioria dos terapeutas "alternativos" sinceramente acreditam que estão ajudando, é apenas natural que os pacientes queiram agradá-los em troca. Sem os pacientes necessariamente perceberem isto, tais obrigações são suficientes para inflar suas percepções de quanto benefício eles receberam. Comprador Cuidado! O trabalho de distinguir relações causais reais das espúrias exigem estudos muito bem conduzidos e abstrações lógicas a partir de grandes bancos de dados. Muitas fontes de erros podem confundir as pessoas que se fiam na intuição ou razão informal para analisar eventos complexos. Antes de concordar com qualquer tipo de tratamento, você deve se sentir seguro que ele faz sentido e foi cientificamente validado através de estudos que controlam respostas placebo, efeitos de complacência e erros de julgamentos. Você deve desconfiar muito se a "evidência" consiste meramente de testemunhos, panfletos ou livros publicados pelo próprio autor ou itens da mídia popular.

Fósseis são Restos de Formas de Vida Antigas

A ciência que estuda os fósseis é a Paleontologia (do grego palaios = antigo, onto = ser, logos = conhecimento; "conhecimento de seres antigos"). A Paleontologia é uma ciência que se situa em uma interface entre a Biologia e a Geologia, usando conhecimentos de ambas. Poucos ramos do conhecimento têm fornecido tantas evidências em favor da evolução das espécies como a Paleontologia. É difícil não aceitar que as aves descendem dos répteis, após observar com atenção os restos da ave primitiva Archaeopteryx. É difícil não reconhecer o parentesco tão próximo entre o ser humano e os outros primatas, após observar o esqueleto de algum hominídeo primitivo. Os fósseis são conhecidos pela humanidade desde tempos remotos. O homem pré-histórico usava ossos fósseis como matéria prima para criar ferramentas e arte. Isto ainda é feito por algumas culturas primitivas. É muito provável que os ossos e as pegadas de grandes animais pré-históricos tenham dado origem às lendas sobre vários seres mitológicos. Na China os restos de dinossauros são ainda conhecidos na linguagem popular dos camponeses como "ossos de dragão". O mito do Grifo, que, segundo a narração de Heródoto habitava entre a Mongólia e a China, seguramente originou-se pela observação de restos de Protoceraptops (dinossauro do mesmo grupo de Triceratops), comuns nessa região. Na Europa, algumas narrações sobre dragões como a de Siegfried e a de São Jorge, podem ter se originado pela observação das pegadas de grandes répteis do período Triássico tais como Chirotherium, cujas pegadas são comuns na Alemanha e na Grã Bretanha. No início do século XIX, em Connecticut, EUA, uma criança camponesa descobriu uma série de pegadas de dinossauros. A ciência ainda não conhecia a existência dos dinossauros naquela época e os habitantes da região atribuíram estas pegadas a "aves gigantes". O estudo dos fósseis tem despertado a curiosidade e o fascínio desde a Antigüidade. Na Grécia, os sábios Anaximandro, Pitágoras, Xenófanes e Heródoto afirmaram corretamente que os fósseis marinhos encontrados em terra firme pertenceram a animais que viveram no oceano e, conseqüentemente, o que agora era terra firme teria sido fundo de mar. Esta idéia foi esquecida por séculos. Só após o fim da Idade Média, retomar-se-ia este conceito. Durante o Renascimento, Leonardo da Vinci estudou moluscos marinhos fósseis encontrados nas montanhas do interior da Itália. A explicação tradicional dizia que estas conchas teriam sido depositadas no alto das montanhas ao serem levadas pelo dilúvio relatado na Bíblia. Da Vinci provou que isso era falso, já que as conchas encontravam-se em posição de vida, ou seja, elas viveram no próprio local em que se encontravam, e, por tanto, não foram transportadas por acidente. Também mostrou que estes moluscos não poderiam ter migrado por seus próprios meios desde o litoral até o alto das montanhas durante o dilúvio universal, já que o tempo de duração do dilúvio era muito reduzido para que eles percorressem as dezenas de quilômetros que separam estas montanhas da costa. Assim, da Vinci mostrou que essas montanhas foram uma vez leito marinho permanente.A Paleontologia na atualidade é uma ciência bastante desenvolvida e ampla. Parte do trabalho dos paleontólogos consiste em descrever novas espécies, estudar a evolução dos diferentes grupos, estimar as idades em que os organismos viveram, estabelecer as relações ecológicas entre estes, reconstruir o seu meio ambiente, as possíveis causas da sua extinção, etc. Este trabalho não é fácil, já que o registro fóssil é muito incompleto, ou seja, os achados fósseis representam apenas uma pequena parte das formas de vida que existiram na Terra. Muitas espécies extinguiram-se sem deixar rastro algum, por terem existido em um período de tempo muito curto ou por terem habitado em ambientes que não facilitavam a sua preservação ou por outros motivos. A história da Terra é como um livro ao qual faltam muitas páginas e às vezes capítulos inteiros, principalmente no início deste. No entanto, com ajuda do método científico é possível preencher, pelo menos em parte, esse livro para que todos o possam ler.
O Poder da Coincidência: Alguns Comentários sobre Previsões "Psíquicas"
Coincidências ocorrem na vida de todo mundo. Algumas são triviais, como receber um flush no pôquer, mas outras realmente chamam nossa atenção, como pensar em um amigo que não vemos há anos e recebermos um telefonema dele um pouco depois. O que esses eventos têm em comum é nosso desejo intenso em explicá-los, uma crença de que há uma razão especial para as coisas acontecerem da maneira que elas acontecem. Essas explicações podem variar de um pé de coelho da sorte até uma ligação psíquica com um amigo. O que a maior parte das pessoas não sabem ou não querem acreditar é que coincidências, mesmo as notáveis, não são assim tão surpreendentes. Na verdade a maioria são ocorrências inevitáveis sem nenhum significado especial. Existem muitas razões simples pelas quais a maioria das pessoas interpreta erroneamente as coincidências: · Humanos têm uma pobre compreensão inata de probabilidade. · Acreditamos que todos os efeitos devem ter causas deliberadas. · Não compreendemos as leis que regem os números verdadeiramente grandes. · Sucumbimos facilmente à validação seletiva - a tendência de lembrar somente correlações positivas e esquecer um número muito maior de insucessos. Probabilidade não era uma disciplina muito popular quando fui para a faculdade. Isto é lamentável, porque compreender probabilidade pode dar o poder para apreciar mais grandiosamente o significado, ou a falta de significado, de muitos eventos do dia a dia. Uma compreensão precária de probabilidade e estatística, comum em nossa sociedade, leva as pessoas a se surpreenderem mais do que deveriam quando confrontadas com coincidências, por conseguinte um salto fácil em direção a uma explicação metafísica. Por exemplo, quais são as chances de duas pessoas terem o mesmo dia de aniversário em uma sala com vinte e três pessoas? Muitas pessoas com quem tenho conversado dizem que deve ser uma em trinta ou mais. Surpreendentemente para a maioria das pessoas, é de somente uma em duas (Paulos; 1991). Desconhecer esse tipo de coisa tem levado muitas pessoas a concluírem que uma vez que suas experiências parecem tão improváveis, talvez elas compartilhem alguma ligação especial ou que uma força sobrenatural as uniu. O verdadeiro significado de coincidências bizarras pode ser compreendido mais plenamente com o que é chamado de a lei dos números verdadeiramente grandes. Esta lei da estatística amplamente aceita declara que com uma amostra grande o suficiente, mesmo um evento extremamente improvável torna-se provável, e portanto qualquer coisa ultrajante está fadada a acontecer. Um exemplo notável disto ocorreu há alguns anos atrás quando uma mulher ganhou duas loterias no prazo de quatro meses. Os jornais anunciaram amplamente que é era uma coincidência de um em dezessete trilhões (Kolata; 1990). Tecnicamente falando, isto é correto; mas é enganador porque é baseado em uma perspectiva muito estreita. A chance de uma pessoa em particular ganhar duas loterias após comprar dois bilhetes é realmente uma em trilhões, mas a probabilidade de alguém ganhar entre os milhões que jogam é de apenas uma em trinta. Essa é a essência da lei dos números verdadeiramente grandes. Quando um número suficiente de pessoas está envolvido, ocorrências "incomuns" tornam-se altamente prováveis. Essa perspectiva dissipa o manto de mistério e coloca o foco no lugar correto, na ciência. A memória humana não é como um gravador, gravando fielmente todas as experiências. As experiências dramáticas tendem a ser recordadas mais do que outras. Isto leva a um fenômeno chamado validação subjetiva, mais comumente conhecido como memória seletiva. Deste modo é natural lembrar-se de experiências incomuns. Mesmo vítimas do Alzheimer com déficits significativos de memória de curto prazo podem relembrar mais facilmente eventos recentes que foram extraordinários. Voltando ao nosso amigo que ligou logo após você pensar nele, esse evento se torna muito menos notável se considerarmos quantas vezes pensamos em amigos que não nos ligaram em seguida. Um truque comum usado por médiuns (freqüentemente chamado de efeito Jeanne Dixon) é fazer dezenas de previsões sabendo que quanto mais fizer, maiores são as chances de que acerte uma. Quando uma se torna real, o médium conta com que convenientemente esqueçamos os 99% que passaram longe. Isto faz com que as previsões corretas pareçam muito mais devastadoras do que realmente são. Isso é uma forma consciente ou deliberada de validação subjetiva, ou, colocado de uma maneira mais simples, fraude. Nossas habilidades de detecção de coincidências têm sido finamente afiadas através das eras pela evolução e seleção natural. Ser capaz de identificar correlações significativas entre eventos proporcionaria uma importante vantagem de sobrevivência aos nossos ancestrais que seriam então selecionados através das gerações. Podemos especular, desse modo, que o homem é programado para procurar padrões e conexões por toda parte. A cultura moderna, entretanto, com sua miríade de conexões entre eventos e pessoas, ativa essas capacidades toda vez, levando-nos continuamente a sugerir explicações e invocar forças estranhas - tais como poderes psíquicos - que não existem. Não quero dizer com isto que todas coincidências são sem sentido e deveriam ser ignoradas. De fato, eventos verdadeiramente improváveis podem ter algum significado nas entrelinhas e a busca por suas causas seria um esforço louvável. Entretanto, a vasta maioria das que vivenciamos vem a ser muito mais provável do que parece, se analisada criticamente. Quando isto é levado em conta, junto com nossa propensão em validação seletiva, nosso desejo em acreditar em algo ligado ao destino, e nosso "hardware" de detecção de coincidência, o verdadeiro poder ilusório da coincidência é percebido. Referências: Paulos JA. Coincidences. Skeptical Inquirer 15:382-385, 1991. Kolata G. 1-in-a-trillion coincidence, you say? Not really, experts find. The New York Times/Science Times, Feb 27, 1990.

Algumas Notas sobre A Natureza da Ciência

O método científico oferece uma maneira objetiva de avaliar informações para determinar o que é falso. O falecido astrônomo Carl Sagan, Ph.D., salientava que "A ciência é uma maneira de pensar muito mais que um corpo de fatos." Um livro de 1998 da National Academy of Sciences contêm um capítulo soberbo que distingui entre fatos e teorias e entre crenças científicas e fé. Apesar do assunto principal do livro ser a evolução, suas explicações são igualmente aplicáveis a assuntos ligados a saúde. O livro declara: Em termos científicos, "teoria" não significa "suposição" ou "palpite" como em seu uso diário. Teorias científicas são explicações de fenômenos naturais construídas logicamente a partir de observações e hipóteses testáveis... Os cientistas muito freqüentemente usam a palavra "fato" para descrever uma observação. Mas os cientistas podem também usar "fato" no sentido que algo tenha sido testado ou observado por tantas vezes que não existe mais nenhuma razão forte para continuar testando ou procurando por exemplo... Normalmente "fé" se refere à crenças que são aceitas sem evidência empírica (observada). A maioria dos religiosos têm dogmas de fé. A ciência difere da religião porque é da natureza da ciência testar e testar novamente as explicações a respeito do mundo natural. Desse modo, é provável que as explicações científicas sejam construídas e modificadas com novas informações e novas maneiras de olhar para as antigas informações. Isto é completamente diferente da maioria das crenças religiosas. Portanto, "crença" não é realmente um termo apropriado para ser utilizado na ciência, porque testar é uma parte muito importante desse modo de conhecimento. Se existe um componente de fé na ciência, é a suposição de que o universo opera de acordo com regularidades... Esta "fé" é muito diferente da fé religiosa. As seguintes idéias podem ajudá-lo a avaliar informações que encontrar sobre ciência e saúde: 1. A ciência é processo de busca da verdade. Não é uma coleção de "verdades" incontestáveis. É, todavia, uma disciplina auto-corretiva. Tais correções podem levar um longo tempo - a prática médica das sangrias foi realizada por séculos antes que sua futilidade fosse percebida - mas conforme o conhecimento científico se acumula, a chance de cometer erros substanciais diminui. 2. A certeza é impalpável na ciência, e é freqüentemente difícil dar respostas "Sim" ou "Não" categóricas para questões científicas. Para determinar se a água engarrafada é preferível à água de torneira, por exemplo, alguém teria que desenvolver um estudo a longo prazo de dois grupos grandes de pessoas cujos estilos de vida fossem similares em todos os aspectos exceto pelo tipo de água que consumem. Isto é virtualmente impossível. Temos desse modo que contar com evidências menos diretas para formular muitas de nossas conclusões. 3. Pode não ser possível prever todas as conseqüências de uma ação, não importa quantas pesquisas avançadas tenham sido feitas. Quando os clorofluorcarbonos (CFCs) foram introduzidos como refrigeradores, ninguém podia prever que 30 anos mais tarde teríamos um impacto sobre a camada de ozônio. Se algo indesejável acontece, não é necessariamente porque alguém tenha sido negligente. 4. Qualquer descoberta nova deveria ser examinada com ceticismo. Ceticismo saudável não significa relutância em acreditar. Os céticos baseiam suas crenças na prova científica e não engolem informações de maneira acrítica. 5. Nenhuma mudança grande no estilo de vida deveria ser baseada em qualquer estudo isolado. Os resultados devem ser confirmados independentemente por outros. Tenha em mente que a ciência não avança por "rupturas milagrosas" ou "saltos gigantescos". Caminha com dificuldade, tomando muitos passos pequenos, lentamente construídos através de um consenso. 6. Os estudos têm que ser cuidadosamente interpretados por especialistas na área. Toda associação de duas variáveis não implica necessariamente em causa e efeito. Como um exemplo extremo, considere a forte associação entre câncer de mama e o uso de saia. Obviamente, usar saia não causa a doença. Cientistas, entretanto, algumas vezes mostram uma atitude surpreendente por aparecerem com racionalizações inapropriadas para suas teorias de estimação. 7. Repetir uma noção falsa não a torna verdadeira. Muitas pessoas estão convencidas que o açúcar causa hiperatividade em crianças - não porque tenham examinado estudos deste efeito mas porque elas têm ouvido a respeito disso. Na verdade, uma série de estudos tem demonstrado que, se houver algo, o açúcar tem um efeito calmante sobre as crianças. 8. Um jargão absurdo pode soar muito científico. Um anúncio de um tipo de algas declara que "a estrutura molecular da clorofila é quase a mesma que a da hemoglobina, a qual é responsável pelo transporte de oxigênio por todo o corpo. O oxigênio é o nutriente fundamental e a clorofila é a molécula central para aumentar a disponibilidade de oxigênio para seu sistema”. Isto é um absurdo. A clorofila não transporta oxigênio no sangue. 9. Há freqüentemente oposição legítima de pontos de vista nos assuntos científicos. Mas é incorreto concluir que a ciência não pode ser verdadeira porque para cada estudo há um estudo igual e contrário. Sempre é importante levar em conta quem conduziu um dado estudo, se foi bem planejado e conduzido, e se alguém o apóia para lucrar financeiramente com os resultados. Seja cauteloso sobre quem é o "eles" em "eles dizem que..." Em muitos casos, o que eles dizem são apenas boatos, relatados sem precisão. 10. Estudos com animais não são necessariamente relevantes para humanos, ainda que possam proporcionar muitas informações valiosas. A penicilina, por exemplo, é segura para humanos mas tóxica para porquinhos da índia. Ratos não precisam de vitamina C como nutriente dietético, mas humanos sim. Alimentar animais com altas doses de uma toxina suspeita para testá-los por curtos períodos de tempo pode não refletir com precisão o efeito em humanos expostos a diminutas doses por um longo período de tempo. 11. Se uma substância é um veneno ou um remédio depende da dosagem. Não faz sentido falar sobre os efeitos de certas substâncias no corpo sem falar nas quantidades. Lamber uma aspirina não fará nada com uma dor de cabeça, mas tomar dois comprimidos fará com que a dor de cabeça vá embora. Engolir um frasco inteiro de comprimidos fará o paciente ir embora. 12. "Química" não é uma palavra indecente. Substâncias químicas são os blocos de construção de nosso mundo. Não são boas nem más. A nitroglicerina pode aliviar a dor da angina ou derrubar um prédio. A escolha é nossa. Além disso, não há nenhuma relação entre o risco apresentado por uma substância e a complexidade de seu nome. "Monóxido de dihidrogênio" é apenas água. 13. A natureza não é benigna. As toxinas mais mortalmente conhecidas, como a ricina da mamona ou botulina da bactéria Clostridium botulinum, são completamente naturais. "Natural" não é igual a "seguro", e "sintético" não é igual a "perigoso". As propriedades de qualquer substância são determinadas por sua estrutura molecular, não importa se foi sintetizada por um químico em um laboratório ou pela natureza em uma planta. 14. Os riscos percebidos são freqüentemente diferentes dos riscos reais. Alimentos intoxicados por contaminação microbiana são um risco muito maior à saúde que traços de óleos residuais de pesticidas em frutas e vegetais. 15. O corpo humano é incrivelmente complexo. Nossa saúde é determinada por muitas variáveis, as quais incluem genética, nossa dieta, a dieta de nossa mãe durante a gravidez, estresse, nível de exercícios, exposição a micróbios, exposição a perigos ocupacionais, e pura sorte. 16. Embora a dieta claramente desempenhe um papel na promoção da boa saúde, a eficácia de alimentos ou nutrientes específicos no tratamento de doenças é normalmente exagerado. Alimentos individuais não são bons ou ruins, ainda que a dieta global possa ser descrita como tal. Quanto maior a variedade dos alimentos consumidos, menor a chance de que falte nutrientes importantes. Há concordância universal entre os cientistas que um alto consumo de frutas e vegetais é benéfico. 17. Cerca de 80% das doenças são auto-limitadas e irão se resolver em resposta a quase qualquer tipo de tratamento. Freqüentemente, um remédio receberá o crédito indevido. Evidência anedótica não é confiável, porque resultados positivos têm uma chance muito maior de serem relatados que os negativos. 18. Não há nenhuma galinha dos ovos de ouro. Em outras palavras, se algo soa bom demais para ser verdade, provavelmente não é. Como H.L. Mencken uma vez disse, "Todo problema complexo tem uma solução que é simples, direta, plausível e errada." Referências Sagan C. The fine art of baloney detection. Parade Magazine, p 12­13, Feb 1, 1987. National Academy of Sciences Working Group on Teaching Evolution. Teaching about Evolution and the Nature of Science. Washington, DC: National Academy Press, 1998.