"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung
que mutilá-lo."Carl Jung
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
O poder imaginário
No México mais do que em outros lugares da América Latina nota-se a repartição de poderes que é comum a todos, o poder dos descendentes de europeus sobre a economia e a política - ou seja, o poder real - e o poder dos nativos sobre a identidade cultural – ou seja, sobre o imaginário – do país.
Isto talvez se deva ao fato de estar na cidade do México o maior de todos os monumentos às civilizações pré-colombianas, o seu magnífico Museu Antropológico, onde se comemora uma vitória nativa que nunca houve. E explica por que demorou 500 anos para que um descendente de indígenas fosse eleito presidente de um país com maioria indígena como a Bolívia.
Esta invasão do poder real pelo poder imaginário rompeu um acordo tácito de anos e é um precedente ameaçador para as oligarquias americanas – a não ser, claro, que o representante do poder imaginário apenas imagine ter conquistado o poder real.
Se você conseguir pensar no Lula como o primeiro índio brasileiro a chegar à presidência também pode se perguntar se o governo dele foi uma novidade ou uma concessão.
Na África do Sul é clara essa divisão entre o poder real, que continua nas mesmas mãos brancas, e o domínio dos negros sobre os mitos, os ritos, as artes e até a memória do país.
Na cidade de Durban estão fazendo uma espécie de higienização do passado, substituindo todos os nomes de ruas e praças que lembrem os tempos coloniais por nomes de lideres e guerreiros nativos e heróis da luta antiapartheid.
Nesta ocupação do imaginário do país cometem alguma injustiças. Vi poucas referências lá a, por exemplo, Nadine Gordimer, cujo Prêmio Nobel de Literatura se deveu em boa parte à sua oposição corajosa ao apartheid.
O próprio J. M. Coetzee, hoje o mais conhecido escritor sul-africano, outro ganhador do Nobel e crítico do regime racista, também não parece ter o reconhecimento que merece - ou então eu é que não procurei direito.
E você não consegue evitar a impressão de que, na África do Sul como na América Latina, também existe um acordo tácito entre o real e o imaginário, e que a elite branca entrincheirada nos seus condomínios fechados cedeu tudo aos negros, inclusive a sua História, para preservar o poder verdadeiro.
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