"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

quinta-feira, 22 de julho de 2010

GANHEI CORAGEM

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem. Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo. Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere. A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos. E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão.Até que ela o abandonou. Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava.Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre.". Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus. Deus era o amante apaixonado. povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga. Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos. Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo. Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia. Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham. Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar. O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer. O povo, unido, jamais será vencido! Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de Verdi, de Wagner, de Goya, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de tomate, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de praia. Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China. De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção.", Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

domingo, 18 de julho de 2010

Os leões e os germanos

Os germanos eram assustadores, e esse adjetivo não é força de expressão. Numa das primeiras vezes em que os romanos depararam com eles ocorreu o seguinte: os germanos emergiram das sombras da Floresta Negra urrando feito selvagens que eram, um som horrendo, como se predadores monstruosos investissem sobre a legião. Detrás de seus escudos de madeira revestida com bronze, os romanos viram correr em sua direção aqueles homens de estatura descomunal, desenvolvidos pela vida ao ar livre, pelas caçadas e pelas eternas guerras tribais. As longas cabeleiras amarelas e vermelhas dos germanos esvoaçavam e davam uma aparência ainda mais ameaçadora aos seus rostos barbados. Por um momento, os legionários ficaram petrificados debaixo de seus elmos. No momento seguinte, não vacilaram: giraram em cima das sandálias e correram com devoção a fim de salvar suas peles latinas. Veni, vidi, corri. Depois que os romanos se acostumaram com a visão pouco ortodoxa dos guerreiros germanos em ação, não entraram mais em pânico e até passaram a derrotá-los, isso graças à disciplina tática das legiões. Mesmo assim, os germanos jamais se submeteram completamente ao Império, nem quando o Império os absorveu. Por volta do ano 200 da Era Cristã, o imperador filósofo, Marco Aurélio, já nem morava mais em Roma, vivia nas fronteiras, vigiando os movimentos inquietos e inquietantes dos bárbaros. Um dia, o imperador teve uma idéia: mandou buscar leões da África e, numa batalha perto de Vindobona, a atual Viena, açulou-os sobre os germanos. Calculava, Marco Aurélio, que os bárbaros ficariam aterrorizados com o ataque daquelas feras das quais nunca nem tinham ouvido falar. De fato, numa época sem National Geographic, os germanos não conheciam leões, e essa foi a sorte deles. Acreditando que fossem apenas cães enormes, os louros guerreiros da Alemanha não só não fugiram como chacinaram os bichos a golpes de espada, lança e clava, pouco se importando com a repercussão entre os protetores dos animais. Nos dois casos, como se viu, o medo foi decisivo. Os romanos só bateram os germanos quando perderam o medo deles; os germanos mataram os leões porque não tinham medo deles. O medo, muitas vezes, é o que faz diferença na batalha.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Quem tem conhecimento supera qualquer obstáculo

Imagine um computador duas mil vezes mais lento que o seu, com a mesma capacidade de processamento de uma calculadora digital. E ele é sua única ajuda para pousar na Lua... Em julho de 1969, mais de um bilhão de pessoas assistiam a um dos momentos mais importantes da história: a chegada do homem à Lua. Para fazer isso, os astronautas da Apollo 11 contavam com um computador extremamente avançado para a época, mas com a mesma capacidade de processamento de uma calculadora de bolso atual. Por causa de uma falha, o alarme do computador começou a disparar. Além disso, ele colocou o módulo lunar na direção de um campo rochoso, ao lado de uma enorme cratera. Neil Armstrong, um experiente piloto, decidiu não correr nenhum risco e pousar longe dali. Mas teria que fazer isso sem a ajuda do computador. Então, a poucos metros do solo, ele assumiu completamente o controle manual da nave e voou para longe dali, passando sobre enormes crateras e rochas. Armstrong fez um pouso perfeito, com apenas vinte segundos de combustível sobrando. O resto é história. Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade. A prova de que mesmo a mais avançada tecnologia não significa nada sem o conhecimento humano. Meus alunos, estudem! Façam cursos complementares! Façam pós-graduação! Participem de congressos, seminários e eventos científicos! Elaborem trabalhos e apresentem-nos! Voce serão os grandes beneficiários!

MINHA VISÃO DAS RESERVAS INDÍGENAS

Entendo que índio, na acepção da palavra, é aquele indivíduo que não estabeleceu contato com nossa civilização, impregnada de tecnologia. À medida em que este índio vai estabelecendo contato com os chamados civilizados, vai ele perdendo, paulatinamente, sua condição de índio, da forma que entendo o significado da palavra. Quando aquele índio chega a um estágio em que usa vestimentas produzidas por nossa civilização, utiliza parabólicas, adota métodos de cultivo da terra que não os tradicionais dele, que passa a desejar e a utilizar modernas camionetas, aí, parece-me, passou a ser ele integrante de nosso grupo, ou seja, é brasileiro, e como tal devendo obediência às normas jurídicas do Brasil. Julgo estranho que grupos ainda denominados de índios exijam, por exemplo, da VALE vultosos pagamentos anuais (ou seja, adotam nossos padrões monetários) e, no momento em que cometem crimes, sejam considerados inimputáveis. Estranho muito o fato de estes ainda chamados índios comparecerem a sessões do STF, da Câmara e do Senado (poderes de nossa República) e, no entanto, terem tratamento diferente quando quebram dependências governamentais ou colocam funcionários do governo na condição de reféns. Julgo absurdas as demarcações de reservas indígenas feitas a partir da Yanomami, no governo Collor, ainda mais com a vulgarização do termo Nações Indígenas. Áreas imensas, por coincidência sempre ricas em minérios e, em geral, em regiões de fronteira, ocupadas por poucos indivíduos. Estas áreas imensas, denominadas reservas indígenas, podem servir de pretexto a que, no futuro, nações venham a intervir em solo brasileiro sob a desculpa de proteção de Nação Indígena, promovendo, desta forma, um processo de balcanização do Brasil. Boas políticas públicas, conduzidas e fiscalizadas por cidadãos honestos, podem assegurar a necessária preservação da natureza, sem que sejam concedidos privilégios a grupos que, há muito, deixaram de ser verdadeiramente índios. Estas reservas indígenas, quilombos e cotas raciais estão adubando terreno para sérios problemas em solo brasileiro, em futuro que pode estar não muito distante.

Cristianismo antigo e a rejeição ao sexo

“Não; a felicidade não é um corpo e por isso não se vê com os olhos.”Santo Agostinho, Confissões, 397-400 d.C. Um pouco antes de completar o penúltimo livro da suas Confissões, concluído ao redor do ano 400, Santo Agostinho implorou a Deus que se fosse ele o encarregado de escrever o Gênesis, como anteriormente o fora Moisés, desejaria “receber de Vós uma tal arte de expressão que... até aqueles que não podem compreender como é que Deus cria... acreditassem nas minhas palavras”. As Confissões de Santo Agostinho Pois foi inteiramente atendido. Deus foi pródigo com o grande teólogo, mas sovina com os demais escritores cristãos, tornando Agostinho o maior e quase o único grande literato gerado pelo cristianismo nos seus primeiros tempos, até o surgimento de Pascal e do Padre Vieira, treze séculos depois. Não satisfeito com o dom das letras e com uma espantosa facilidade de comunicação, que o colocou entre os imortais, ele deu início logo depois, provavelmente em 401, à redação de uma leitura própria, muito sua, do real significado do Gênesis – De Genesi ad Litteram – na qual ainda demorou uns quinze anos. O que já havia esboçado nas Confissões tomou então corpo. Fazia tempo que os primeiros evangelistas vinham hostilizando o sexo, mas foi com Santo Agostinho que a questão se tornou dominante, reveladora da sua idéia do homem e da humanidade, a qual o cristianismo, até os nossos dias, teima em não abandonar. Impressionados pela liberalidade sexual e pela vocação orgiástica da elite romana, majoritariamente não-cristã, os apologistas cristãos daqueles primeiros tempos fizeram questão de manter uma marcada distância em relação aos deuses e aos ritos pagãos. Inspirados pelos solitários “homens do deserto”, eremitas e anacoretas, dedicaram-se a uma política de radical repúdio ao sexo. Amparados nas epístolas paulinas, acentuaram a prática da abstinência carnal, transformando-a num atrativo tão forte para os novos seguidores como deixar-se sacrificar, imitando Cristo, nas arenas romanas. Enquanto os mártires davam suas entranhas para as feras devorarem, outros abandonavam as práticas sexuais para sempre: o martírio e a castidade tornaram-se as faces diferentes da mesma moeda. Havia muito simbolismo por detrás disso, revela o prof. Peter Brown (1990). Não se tratava só da busca da perfeição, do “coração simples”, mas de uma nova visão do ser humano, na qual ele somente poderia manter a frescura com que saiu das mãos do Criador, permanecendo puro ou intocado. A abstinência sexual e a castidade, seguidas da intensa propaganda a favor do ascetismo, tornaram-se uma forma peculiar de protesto. Por elas, os crentes, os primeiros conversos do cristianismo, manifestavam abertamente seu desprezo pela época em que viviam, dominada pela concupiscência, impiedade, libertinagem e crueldade pagã. O problema que enfrentavam os evangelistas do cristianismo primitivo dava-se com o casamento: como conseguir manter a retórica da abstinência e da rejeição ao sexo se um dos princípios básicos da nova fé era o “crescei e multiplicai-vos”? Levado a resolver o conflito, Santo Agostinho, o bispo de Hipona, terminou por expor a sua doutrina sobre o casamento, o sexo e a privação carnal. Donde viria, indagou ele, a miséria que nos cerca, esta corrupção, as heresias e a crassa maldade? A única resposta que ele encontrou é que existia dentro da própria sociedade uma mancha inapagável, resultante do pecado original advindo do impulso sexual que atormentava o homem até a morte. Essa era a maldição que acompanhava Adão e Eva e seus descendentes desde a queda do Paraíso. Para Santo Agostinho, na vida paradisíaca onde o Homem se encontrou primordialmente, não havia tensão entre o impulso e o ato sexual. Foi a partir da danação dos nossos pais bíblicos que se deu a desgraça. Parecia-lhe que a relação sexual e o Paraíso eram tão incompatíveis como o Paraíso e a Morte. A sexualidade era o indicador da queda do homem, do triste declínio da sua anterior situação angelical, fazendo com que ele deslizasse para a natureza física e dessa para a sepultura. O sexo melancólico Mesmo que os casais se preocupassem com a gestação dos filhos, deveriam estar conscientes de que estavam cometendo um ato de rebaixamento, necessário mas humilhante, devendo ser feito num clima de intensa melancolia. Coube, pois, a Agostinho ter semeado entre os cristãos uma nódoa de pecado, de consciência culpada, quando faziam sexo ou tinham sentimentos e impulsos prazerosos. Essa doutrina sexual lançou sobre todos os lares e leitos conjugais uma sombra maligna, de impureza, perversão e vício, que arruinou a vida de incontáveis casais, para os quais o sexo ficou para sempre associado a um “presente do demônio”, um discordium malum, um princípio de discórdia alojado no interior de cada ser humano desde a Queda. Opôs definitivamente a Carne a Deus! Penso eu que uma das maneiras de se entender subjetivamente esta sua obsessão em denunciar a sexualidade se deve a ter sido ele num certo momento da sua vida um renegado do erotismo. Como todo aquele que abjura, no caso das suas paixões sensuais pregressas, Agostinho votou intenso ódio ao que, no passado, o atraiu, lamentando ter desperdiçado nele tanta energia. Como ele mesmo não negou, deixou-se dominar na sua juventude por uma intensa voluptuosidade, pela lasciva, ao ponto de, em determinado momento, quando pediu a Deus que o fizesse casto, acrescentou... “mas não ainda”! Sexo e corrupção E foi mais longe ainda. A presença do impulso sexual apontou-lhe a corrupção da nossa natureza, como se nascêssemos com uma erva daninha que jamais poderia ser removida. Explicava a maldade como resultado desse tumor dissoluto dentro de nós, provocador de uma desordem crônica nas nossas relações, nos perturbando, com suas poluções, mesmo quando nos encontrávamos a sós. Não havia dieta ou jejum que nos salvasse dele, acompanhando-nos até na velhice e no encarquilhamento, como um vestígio do nosso passado libidinoso e pecador. Foi contra este fatalismo que se mobilizou seu rival Juliano, o bispo de Eclanum, que, depois de 418, se meteu numa ruidosa polêmica porque se indignou com as acusações de Santo Agostinho ao sexo e ao casamento. Não aceitava, explicou ele, que o ato gerador da vida fosse algo demoníaco e menos ainda terem que praticá-lo sob o véu da vergonha e da culpa. Afinal eram “impulsos dos corpos feitos por Deus”. O prazer, dizia Juliano, era necessário à reprodução, era a força que fundia as sementes masculinas e femininas num amplo calor genitalis, útil para que ocorresse uma conjunção saudável e feliz. Nada poderia haver de sinistro numa relação sexual bem realizada e completa; ao contrário, via-a como “o instrumento de eleição de qualquer casamento.... merecedor de censura apenas em seus excessos”. Sexo como transgressão Santo Agostinho, em várias cartas da sua imensa correspondência, tentou amenizar as objeções do seu confrade Juliano, mostrando-se menos radical do que em seus escritos anteriores. Mas sabe-se que para a posteridade, infelizmente, foi essa visão trágica da existência – de sermos os portadores perpétuos do pecado capital – de origem paulina-agostiniana que irá identificar o cristianismo, ficando o sexo desde então – até o surgimento de Freud – visto como uma transgressão, como uma obscenidade... quiçá um ardil satânico para atormentar infinitamente a existência humana. Bibliografia Agostinho. As confissões. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1955, 5. ed. Brown, Peter. Corpo e sociedade: o homem, a mulher e a renúncia sexual no início do cristianismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990

sábado, 10 de julho de 2010

AGROTÓXICOS: “Todo cuidado é pouco”

( Aos meus alunos do Curso de Agronomia) Os efeitos provocados na saúde por agrotóxicos podem ser agudos ou crônicos e dependem do tipo de produto e da exposição. No Brasil, ainda temos muito que progredir nos quesitos diagnóstico e registro de intoxicações. Em 2006, o IBGE identificou 25.008 estabelecimentos que admitiram a ocorrência de envenenamento. Aplicar inseticidas é hoje uma prática comum, para controle de insetos em culturas e criações. Mas, tais produtos podem também transformar-se num dos piores inimigos dos trabalhadores rurais, se não forem usados adequadamente. Por isso, é indispensável atender sempre ao que se recomenda em seus invólucros ou recipientes... Inseticidas clorados são razoavelmente seguros, quando aplicados na quantidade normalmente recomendada.” Parte do título deste artigo e todo o parágrafo acima foram transcritos de uma matéria publicada no Brasil em 1962. Poucos meses depois, Rachel Carson publicou o clássico Primavera Silenciosa, no qual alertava para os efeitos nocivos dos inseticidas organoclorados. A repercussão do livro entre cientistas, governantes e o público em geral representou um marco na história da produção industrial e do desenvolvimento tecnológico ao mostrar a importância de se conhecer melhor os impactos provocados por substâncias químicas ao ambiente e à saúde e propiciar a constatação da necessidade de estabelecer e aprimorar regulamentações e sistemas de controle para a produção e uso de produtos químicos. Depois dessas revelações, muito foi implementado nesse sentido. No Brasil, entre vários outros aspectos, os produtos organoclorados foram proibidos para uso agrícola em 1985 e a regulamentação que abrange o controle de agrotóxicos passou por reformulações importantes a partir de 1989. Houve avanços em diversos pontos, como na definição de critérios para a proibição e para o cancelamento de registros de agrotóxicos. Mas muitos problemas ainda podem ser constatados. O preocupante é que para justificá-los ainda se recorre às premissas que circunscrevem a matéria anteriormente citada, publicada pela revista Dirigente Rural há quase 50 anos: os agrotóxicos são seguros desde que corretamente utilizados, e os trabalhadores que os aplicam são os responsáveis pelo uso seguro. A primeira premissa - os agrotóxicos são seguros desde que corretamente utilizados - está fragilizada desde o alerta de Rachel Carson. Substâncias químicas não podem ser simplesmente classificadas como seguras ou inseguras. As exigências toxicológicas e ambientais para o registro e uso de agrotóxicos vêm se tornando progressivamente mais complexas e rigorosas, sempre buscando diminuir incertezas e melhorar o embasamento para a tomada de decisão. Mas, o próprio avanço científico, com base em novas evidências, pode mostrar posteriormente que determinadas conclusões, por insuficiência de informações ou limitações técnicas, por exemplo, eram inconsistentes. Por isso, especialmente no caso dos agrotóxicos, será somente a partir do uso que eventuais efeitos prejudiciais não-detectados ou não previstos pelos estudos se manifestarão, sobretudo nas populações mais expostas: os trabalhadores que os manipulam. Os efeitos provocados na saúde por agrotóxicos podem ser agudos ou crônicos e dependem do tipo de produto e da exposição. Podem afetar os sistemas nervoso, gastrointestinal e circulatório; irritar os olhos ou a pele. Alguns podem ser carcinogênicos e outros podem afetar os sistemas imunológico e endócrino. Segundo um grande estudo conduzido nos Estados Unidos desde 1994 por pesquisadores de diversos institutos, trabalhadores rurais apresentam taxas maiores para alguns tipos de câncer, incluindo leucemia, mieloma, linfoma Não-Hodgkin e cânceres de lábio, estômago, pele, cérebro e próstata. Outros agravos à saúde também são relacionados com o trabalho agrícola, como asma, doenças neurológicas e manifestações reprodutivas adversas. Com relação aos efeitos agudos, em 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimava que ocorressem anualmente no mundo 3 milhões de intoxicações severas, incluindo 1 milhão de casos não intencionais, com 20 mil mortes, sendo 70% desses casos por exposição ocupacional. Também estimava que, embora os países em desenvolvimento consumissem apenas 25% do mercado mundial de agrotóxicos, 90% dos casos agudos e 99% dos óbitos por agrotóxicos ocorressem nesses países. Estimava ainda que os efeitos crônicos incluíssem 25 mil casos de sequelas neurocomportamentais, 37 mil casos de câncer e 700 mil casos de dermatoses, por ano. Em 2005, a Organização Internacional do Trabalho – OIT e a OMS estimaram em 7 milhões os casos agudos e de longo termo e 70 mil os óbitos provocados por agrotóxicos anualmente no mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento. A Agência Ambiental dos Estados Unidos estima que 10 a 20 mil diagnósticos de intoxicações por agrotóxicos ocorram anualmente entre os 2 milhões de agricultores daquele país. No Brasil ainda temos muito que progredir nos quesitos diagnóstico e registro de intoxicações por agrotóxicos, e essa não é uma tarefa simples. Mas uma fonte importante sobre intoxicações é o Sistema Nacional de Informações Toxicofarmacológicas - SINITOX, vinculado ao Ministério da Saúde, que, em 2006, registrou 6.346 casos de intoxicação por esses produtos. Por outro lado, o IBGE, por meio do Censo Agropecuário 2006, identificou 25.008 estabelecimentos que admitiram a ocorrência de intoxicação nesse mesmo ano. Um número provavelmente conservador, já que é possível imaginar que ocorrências podem ter sido omitidas por declarantes do Censo por não quererem relacionar problemas dessa natureza ao seu estabelecimento. Também não se sabe quantas intoxicações ocorreram em cada um deles. Ainda segundo o Censo Agropecuário 2006, cerca de 16,5 milhões de pessoas trabalhavam nos 5,2 milhões de estabelecimentos agrícolas do país. Desses, cerca de 1,4 milhão de estabelecimentos utilizaram agrotóxicos naquele ano, expondo um contingente estimado de 4,6 milhões de pessoas que neles trabalhavam, mais da metade (54%) em unidades menores que 20 ha, chegando a 81% se considerados os que trabalhavam em estabelecimentos de até 100 ha. A OMS estima que, anualmente, 1% dos expostos aos agrotóxicos por atividades de trabalho poderiam se intoxicar. Assim, poderia se inferir que, em 2006, podem ter ocorrido cerca de 46 mil intoxicações entre os que trabalhavam nos estabelecimentos que utilizaram agrotóxicos. Pimentel, pesquisador da Universidade de Cornell, estima os custos sociais e ambientais do impacto do uso de agrotóxicos nos EUA em US$ 10 bilhões ao ano, compondo esse valor, entre outros, U$ 1,1 bilhão de gastos em saúde pública e US$ 2 bilhões devido à contaminação de fontes de água. O Brasil tornou-se um dos maiores produtores agrícolas do planeta. E, também, o maior consumidor mundial de agrotóxicos, em termos de valor comercializado. O crescimento das vendas no país vem crescendo praticamente de forma contínua. De 2002 a 2008 as vendas de agrotóxicos aumentaram 3,6 vezes, chegando a US$ 7,1 bilhões e ultrapassando os EUA. Mas as condições de uso e de trabalho com esses produtos ainda deixam a desejar, como mostrou o Censo Agropecuário. Dos quase 1,4 milhão de estabelecimentos que utilizaram agrotóxicos em 2006, 56% não receberam orientação técnica e apenas 21% a receberam regularmente. Na maioria (70%) dos estabelecimentos utilizava-se o pulverizador costal, que oferece maior potencial de exposição aos trabalhadores: 84% das unidades de produção que relataram ocorrência de intoxicação faziam uso desses pulverizadores. Cerca de 21% dos estabelecimentos admitiram que não usavam equipamentos de proteção e apenas 30% dos que faziam uso de pulverizador costal relatou o uso de roupas protetoras. Apesar do trabalho crescente que está sendo feito no país para recolher e destinar embalagens usadas de agrotóxicos, cerca de 41% dos estabelecimentos ainda não davam destino adequado às embalagens naquele ano. Assim, o uso crescente, generalizado e intensivo de agrotóxicos gera impactos prejudiciais à saúde pública e ao ambiente. O desequilíbrio ecológico ocasionado também acarreta problemas à própria agricultura, agravando o surgimento, a proliferação e a resistência de pragas e, consequentemente, aumentando o uso de agrotóxicos.
O enfoque simplista.
Diante desse quadro, o chamado uso inadequado ou incorreto dos agrotóxicos é geralmente apontado como a causa dos problemas, argumentando-se que suas origens estão na não observação dos cuidados necessários para o manuseio e aplicação do produto por parte do trabalhador, no não uso dos equipamentos de proteção individual necessários para o trabalho com os agrotóxicos e no fato de ele não seguir as orientações e instruções transmitidas pelo seu empregador ou aquelas contidas nos rótulos e bulas dos produtos. Assim chegamos à segunda premissa da abordagem do artigo da revista Dirigente Rural de 50 anos atrás: os trabalhadores que aplicam os agrotóxicos são os responsáveis pelo seu uso seguro. Nesse raciocínio, a “educação” dos trabalhadores por meio de treinamentos é preconizada como solução para os problemas. Essa é a análise usual entre muitos profissionais e instituições que atuam na área. No entanto, embora o uso inadequado possa ser visto como causa imediata dos problemas, na verdade ele é consequência de diversos outros fatores, como a forma de introdução dos agrotóxicos e o modelo de produção adotado, a instabilidade da política agrícola e agrária, a grande e fácil disponibilidade desses produtos químicos, inclusive os de maior toxicidade, o difícil acesso à informação técnica, as características ambientais, as condições sociais e econômicas e as condições e relações de trabalho no meio rural, entre outros. Assim sendo, intervir nessa realidade não pode centrar-se somente sobre o aspecto de “ensinar” ao usuário como lidar com o produto. Esse enfoque simplista e maniqueísta transfere ao usuário, seja ele o próprio produtor rural ou o trabalhador, praticamente toda a responsabilidade pela contaminação ambiental e dos alimentos e por sua própria intoxicação provocada pelos agrotóxicos. Reduzir a complexa discussão que envolve o uso de agrotóxicos a um “problema de educação” ou se trata de uma visão estreita sobre o tema ou é uma forma de setores envolvidos com o assunto se eximirem das suas responsabilidades e evitarem outras ações necessárias para um enfrentamento mais eficaz do problema. Porém, outras medidas encontram resistências, determinam conflitos de interesses e implicam custos para implantá-las e mantê-las. Por exemplo: o aumento de exigências para o registro dos produtos estabelece conflitos entre as empresas registrantes e o Estado; a intensificação das atividades de fiscalização da fabricação, comercialização, qualidade e uso dos insumos, gera conflitos entre o Estado, os fabricantes, os comerciantes, as empresas rurais e os trabalhadores; o controle dos resíduos nos alimentos representa conflito entre o Estado, os produtores rurais, os comerciantes e os consumidores. Taxações, restrição e banimento dos agrotóxicos de maior periculosidade têm sido discutidos e recomendados por agências internacionais e pelo Fórum Intergovernamental de Segurança Química (IFCS), mas a resistência dos fabricantes desses insumos e de setores da produção agrícola ainda é grande no Brasil. Assim, nas últimas décadas têm prevalecido como discurso básico para o enfrentamento dos problemas relacionados com os agrotóxicos a divulgação e adoção dos “cuidados” necessários no seu uso. Mas apesar dos investimentos públicos e privados nessa direção, os problemas insistem em persistir. Ou a periculosidade e as condições de uso desses produtos não mudaram, ou essas ações não foram suficientes para modificá-las. Ou ambas. Embora se possa considerar que, de modo geral, os ‘cuidados’ recomendados estejam corretos, a capacidade dessas práticas controlarem a exposição dos trabalhadores é muito limitada, pois só podem trazer resultados efetivos se forem adotadas sob boas condições de organização, de segurança e de higiene do trabalho, que normalmente não estão presentes nos ambientes do trabalho rural. Ainda são empregadas substâncias muito tóxicas, algumas sintetizadas há muito tempo, e que, por seu largo espectro de ação e relativo baixo custo, acabam sendo bem aceitas pelos agricultores. Os sistemas de aplicação desses produtos nas lavouras pouco evoluíram: são pouco precisos, propiciando contaminação ambiental e exposição excessiva dos trabalhadores. O acesso aos agrotóxicos é mediado por uma receita agronômica que foi descaracterizada como instrumento de orientação, tornando-se basicamente um instrumento de venda. A ausência de controle do uso desses produtos ainda persiste. Aliás, essa é outra limitação do raciocínio simplista: entende “uso”, basicamente, como a aplicação e a manipulação direta do produto e não como as condições de uso determinadas pelo ambiente e condições de trabalho. Pequenos produtores, por exemplo, por sua condição socioeconômica e modo de produção familiar, muitas vezes enfrentam situações que inviabilizam as recomendações de uso mais comuns, como não pulverizar nos horários mais quentes do dia, não permitir a presença de “estranhos” durante o trabalho de pulverização, especialmente crianças, e não aplicar agrotóxico próximo a moradias e cursos d’água. Devido ao tamanho de sua área de produção e contando apenas com a ajuda de seus familiares, inclusive crianças, pressionado pelas condições sanitárias de sua cultura e não podendo arriscar seu investimento, muitas vezes o agricultor é obrigado a aplicar o agrotóxico no menor prazo possível, inclusive os horários mais quentes, expondo demasiadamente a si e aos seus familiares, e também as crianças. É bastante comum que as plantações cheguem muito próximas de moradias e cursos d’água, até mesmo fontes de água para abastecimento, além de margearem os caminhos utilizados pelos moradores locais. Os agricultores não deixam de pulverizar essas áreas, sob pena de perder boa parte da sua pequena produção. A informação é ferramenta imprescindível para a ação. Por isso, não há dúvida quanto à essa necessidade. Contudo, a simples transmissão de regras aos usuários não garante sua aplicação. A adoção das recomendações transmitidas depende, além da existência de condições para sua aplicação, da sua compreensão e aceitação pelos próprios trabalhadores. No caso das substâncias químicas, os riscos sequer são óbvios como em atividades que implicam perigos evidentes de lesões por acidentes. Além disso, a tentativa de combater pragas nas plantações com a aplicação de agrotóxicos determina um paradoxo para a segurança ambiental e do trabalho: é provavelmente a única atividade na qual a contaminação do ambiente de trabalho é intencional e, mais do que isso, é o propósito da atividade conduzida pelo trabalhador que se quer se proteger. Provavelmente, não há nenhuma outra atividade produtiva em que isso ocorra. Normalmente, as contaminações de ambientes de trabalho são indesejáveis e devem ser evitadas e controladas, mas como proceder quando a contaminação é a finalidade da atividade? Nesse contexto, como diz o título deste artigo “todo cuidado é pouco”. Mas não no senso comum normalmente empregado a esta expressão, o de que o trabalhador deve ter o máximo de cuidado. Na realidade, a expressão deve transmitir que, mesmo que um trabalhador procurasse adotar todos os ‘cuidados’ recomendados para o manuseio e a aplicação de agrotóxicos, eles seriam insuficientes para garantir a sua segurança e prevenir impactos ao ambiente. Por isso, é fundamental discutir e implantar medidas que extrapolem o âmbito do usuário, privilegiando, sobretudo, o controle da disponibilidade e acesso às substâncias de maior periculosidade. Indo mais além, é essencial ampliar a discussão não só no sentido do gerenciamento dos riscos no uso de agrotóxicos, mas também no que diz respeito à adoção de sistemas de produção agrícola que propiciem menor necessidade desses produtos e até a eliminação do seu uso, o que representaria, de fato, o controle total desse risco.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O CRIME OFICIAL ORGANIZADO

Quando é oficial, o crime organizado perpetrado por quem o próprio presideus Lula classifica como "pessoas não comuns" não tem os mesmos desfechos que o crime desorganizado cometido pela sociedade de "pessoas comuns". Mesmo quando se trata de um figura pública e notória, como Bruno - o goleiro que tem o distintivo do Flamengo, mas não usa chapa-branca. Fosse Bruno, esse enredado goleiro do Flamengo, um honorável vendedor de gado fantasma, um comedor de jornalista, um sanguessuga, um dono de lavanderia monetária nas ilhas Caimãs, um amo e senhor do Maranhão ou das Alagoas, estaria gozando o pleno sol da liberdade porque, mais do que ídolo da maior torcida do Brasil, seria um intocável habitante do Olimpo - Congresso Nacional dos deuses imunes e impunes. Não se lamenta aqui, o que vai acontecer com Bruno - esse reles mortal que merece as malhas da lei e pagar pelo que fez ou mandou fazer; chora-se aqui um rio de lágrimas, pela diferença que acoberta vendedores de ambulância e de esperanças, compradores de siglas partidárias, negociadores de cargos públicos, chantagistas contumazes da coisa pública, proprietários indébitos do Estado e do País. Eles aplicam em cima da nação inteira, o mesmo tipo de chantagem - trocando pequenos favores por grandes fortunas - que essa menina Eliza, uma pobre Maria Chuteira, aplicou um dia para cima de Bruno, um ídolo de pés de barro. Ela quis trocar um filho por uma gorda pensão. Ele, pressionado, agiu como agem contra nós os donos do Brasil, esses meliantes que se dizem representantes do povo usando o voto como arma contra a democracia. A diferença é que Bruno integra o bloco do crime organizado de fachada, coisa como facções assim tipo PCC, CV, CBF... Já os finórios, os muitos finórios, da Casa do Polvo e dos organismos de defesa da cidadania pertencem à casta do crime oficial organizado que executa, sem dó nem piedade, o intocável governo invisível. Quanto mais o brasileiro votar nessa pandilha de sevandijas, menos justiça, menos igualdade, menos liberdade, menos fraternidade, menos Brasil há de sobrar para os homens de bem. Não se trata de nenhum alerta contra esse outubro nada azul que vem por aí. Seria inútil, não há saída. Eles já votaram por nós nos candidatos a donos desse país, das nossas esperanças, da nossa vida. Esse é o crime hediondo cometido em cascata, sistemática e impunemente por esses serial killers. Eles não vão para a cadeia. Fazem de cada partido uma facção que se multiplica em estados; que se reparte em cidades. E então, cada cidade é um canto e cada canto uma caverna que abriga a Federação, esconderijo perfeito que acoberta e protege suas ambições de poder desmedido. É assim que eles assumem o Brasil.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A expressão máxima de um pulha.

“Quando soube da tragédia, fui visitar a região e pela primeira vez não me contive e chorei”. O imperador Pedro II parecia emocionado e triste lembrando daqueles acontecimentos e da sensação de impotência que sentiu na época, constatando que tudo que fizesse somente ajudaria a amenizar muito pouco o sofrimento daquela boa gente. Os outros se mantiveram calados em respeito à tristeza do imperador. Após alguns instantes, alguém resolveu quebrar o silencio. “Majestade, não crê que há muita gente interessada em perpetuar a imagem do nordeste miserável para atrair verbas para a região?” (Giulio Sanmartini) O fato acima aconteceu em 1877, ano da grande seca. que atingiu o Nordeste do Brasil (1877/79) Até em Portugal arrecadaram ajuda econômica para atender os flagelados, com o dístico “Não deixe ninguém pedir esmolas no mesmo idioma de Camões”. Nesse mês de junho (24/6/2010), mudando o que deve ser mudado, a história se repete, não é mais a seca, mas o aluvião, o protagonista não é imperador, mas um vil demagogo. Este também faz que chora do alto da caçamba de uma camionete, cercado por uma multidão de pusilânimes bajuladores atolados no barro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contemplou o lamaçal em que se transformou a Praça Paulo Paranhos e chorou. “Me emocionei. Primeiro por ver aquela situação. Depois por ver a gratidão do povo. Um cidadão que estava ali com o pé enfiado naquela lama fedida poderia estar xingando o presidente e o governador, mas, não, estavam ali agradecendo”, disse o presidente pouco depois de visitar a praça principal de Palmares (PE), uma das cidades mais atingidas pelas enchentes no Nordeste. Prometeu mundos e fundos, cancelou viagem ao exterior para supervisionar pessoalmente as providências que deveriam ser tomadas e voltou para o confortável carpete de seu gabinete, com as lágrimas de crocodilo já enxutas e sem que algo de positivo tenha sido feito. No Nordeste os flagelados chafurdam na lama, nos dejetos a procura de comida e pedindo esmolas no idioma de Camões. Mas o presidente tem ouras coisas a pensar: a Copa do Mundo e as próximas eleições. Pobre país que em nome da democracia se vê governado por um presidente acanalhado e desprezível, sem a mínima noção de ética ou decoro, sustentado por um poder Judiciário, que dá a entender conivência.

Eleição sem maquiagem

O mundo continua se contorcendo sem encontrar caminhos seguros para superar as consequências da crise desencadeada no sistema financeiro. Até a idéia de Fernando Henrique Cardoso, divulgada nos anos 90 – e que pareceu a todos uma heresia - de impor taxas à movimentação financeira reapareceu na voz dos mais ortodoxos defensores do rigor dos bancos centrais e da intocabilidade das leis de mercado. No afã de estancar a sangria produzida pelas exacerbações irracionais dos mercados, outros tantos ortodoxos passaram a usar e até a abusar de incentivos fiscais e benesses de todo tipo para salvar os bancos e o consumo. Paul Krugman, mais recentemente, lamentou a resistência europeia à frouxidão fiscal. Ele pensa que o corte aos estímulos pode levar a economia mundial a algo semelhante ao que ocorreu em 1929. Quando a crise parecia acalmada, em 1933, suspenderam-se estímulos e medidas facilitadoras do crédito, devolvendo a recessão ao mundo. Será isso mesmo? É cedo para saber. Mas, barbas de molho, as notícias que vêm do Exterior, e não só da Europa, mas também da ziguezagueante economia americana e da letárgica economia japonesa, afora as dúvidas sobre a economia chinesa, não são sinais de uma retomada alentadora. Enquanto isso, vive-se no Brasil oficial como se tivéssemos nos transformado em uma Noruega tropical, na feliz ironia de um jornal em editorial recente. E em tão curto intervalo, que estamos todos atônitos com tanto dinheiro e tantas realizações. Basta ler o último artigo presidencial no Financial Times. A pobreza existia na época da “estagnação”. Agora assistimos ao espetáculo do crescimento, sem travas, dispensando reformas e desautorizando preocupações. Se no governo Geisel se dizia que éramos uma ilha de prosperidade num mundo em crise, hoje a retórica oficial nos dá a impressão de que somos um mundo de prosperidade e o mundo, uma distante ilha em crise. Baixo investimento em infraestrutura? Ora, o PAC resolve. Receio com o aumento do endividamento público e o crescente déficit previdenciário? Ora, preocupação com isso é lá na Europa. Aqui, não. Afinal, Deus é brasileiro. Só que a realidade existe. A prosperidade de uns depende da de outros no mundo globalizado. Por mais que estejamos relativamente bem em comparação com os países de economia mais madura, se estes estagnarem ou crescerem a taxas baixas, haverá problemas. A queda nos preços das matérias-primas prejudicará as nossas exportações, grande parte delas composta de commodities. A ausência de crescimento complicará a solução dos desequilíbrios monetários e fiscais dos países ricos e isso significará menos recursos disponíveis para o Brasil no mercado financeiro global. Não devemos ser pessimistas, mas não podemos nos deixar embalar em devaneios quase infantis, que nos distraem de discutir os verdadeiros desafios do país. Infelizmente, estamos às voltas com distrações. Um cântico de louvor às nossas grandezas, de uma falta de realismo assustador. Embarcamos na antiga tese do Brasil-potência e, sem olhar em volta, propomo-nos a dar saltos sem saber com que recursos: trem-bala de custos desconhecidos, pré-sal sem atenção ao impacto do desastre do Golfo do México sobre os custos futuros da extração do petróleo, capitalização da Petrobras de proporções gigantescas, uma Petro-Sal de propósitos incertos e tamanho imprevisível. Tudo grandioso. Fala-se mais do que se faz. E o que se faz é graças a transferências maciças do bolso dos contribuintes para o caixa das grandes empresas amigas do Estado, através de empréstimos subsidiados do BNDES, que de quebra engordam a dívida bruta do Tesouro. A encenação para a eleição de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que diga, especialmente o que o “mercado” e os parceiros internacionais querem ouvir. Mas a própria candidata já alertou: não é um poste. E não é mesmo, espero. Tem uma história, que não bate com o que se quer que ela diga. Cumprirá o que disse? No México do PRI, cujo domínio durou décadas, o presidente apontava sozinho o candidato a sucedê-lo, em um processo vedado ao olhar e às influências da opinião pública. No entanto, quando a escolha era revelada ao público – “el destape del tapado” –, o escolhido se via obrigado a dizer o que pensava. Aqui, o “dedazo” de Lula apontou a candidata. Só que ela não pode dizer o que pensa para não pôr em risco a eleição. Estamos diante de um personagem a ser moldado pelos marqueteiros. Antigamente, no linguajar que já foi da candidata, se chamava isso de “alienação”. Esconde-se, assim, o que realmente está em jogo. Queremos aperfeiçoar nossa democracia ou aceitaremos como normal os grandes delitos de aloprados e as pequenas infrações sistemáticas, como as de um presidente que dá de ombros diante de seis multas a ele aplicadas por desrespeito à legislação eleitoral? Queremos um Estado partidariamente neutro ou capturado por interesses partidários? Que dialogue com a sociedade ou se feche para tomar decisões baseadas em pretensa superioridade estratégica para escolher o que é melhor para o país? Que confunda a nação com o Estado e o Estado com empresas e corporações estatais, em aliança com poucos grandes grupos privados, ou saiba distinguir uma coisa da outra em nome do interesse público? Que aposte no desenvolvimento das capacidades de cada indivíduo, para a cidadania e para o trabalho, ou veja o povo como massa e a si próprio como benfeitor? Que enxergue no meio ambiente uma dimensão essencial ou um obstáculo ao desenvolvimento? Está na hora de cada candidato, com a alma aberta e a cara lavada, dizer ao país o que pensa.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

SOB AS ORDENS DO INIMIGO

À articulação mundial da esquerda corresponde a completa desarticulação e fragmentação das direitas, não só no plano da ação estratégica, mas da simples percepção dos fatos. Lembro do caso de um de meus amigos mais inteligentes, anticomunista e católico fervoroso, companheiro de farda nas alturas dos Bálcãs, que me recomendou um livro de William F. Engdahl, o qual, dizia ele, rastreava com muita exatidão a origem do movimento abortista no projeto global de controle da natalidade concebido e financiado pelos Rockefellers e outros banqueiros internacionais. Lendo o livro, notei que Engdahl se aproveitava de uma denúncia verídica para jogar sobre a elite americana todas as culpas dos males do mundo, ocultando a ação dos comunistas e dos muçulmanos. O que ele omitia era tão importante quanto o que mostrava, mas meu amigo, com toda a sua experiência de décadas na militância católica, não se dera conta de nada. Só começou a desconfiar de alguma coisa quando lhe mostrei os vídeos de propaganda anti-americana que Engdahl fizera para a televisão estatal russa. Quase na mesma época, outro colega, igualmente talentoso e brilhante, e tão anticomunista quanto o primeiro, apareceu defendendo com ardor a liberação das drogas, com base na concepção liberal de que o Estado não deve se meter na conduta privada dos cidadãos. Nem de longe lhe ocorria que a aplicação direta e rasa desse preceito abstrato nas condições históricas presentes da América Latina resultaria na imediata consagração das Farc como empresa capitalista normal e partido político legítimo, entregando-lhes de mão beijada tudo o que elas não haviam logrado obter pela violência. Um terceiro colega, americano, militante conservador, lutava pela destruição de todas as lideranças republicanas que se acomodassem, por motivos de mera tática eleitoral, a alianças mesmo temporárias com a elite esquerdista. Para ele, toda política que não seguisse literalmente os preceitos da moral bíblica era coisa do diabo. Em vão tentei mostrar-lhe que a implantação forçada do cristianismo como regra da politica exigiria uma concentração formidável do poder estatal, estrangulando a democracia a pretexto de defendê-la e, em última instância, realizando por meios extra-econômicos a profecia enunciada por Friedrich Hayek em O Caminho da Servidão. Afinal, o primeiro regime totalitário da modernidade e a organização da massa militante requerida para implantá-lo não foram invenções nem de comunistas nem de fascistas, mas de João Calvino na Suíça protestante. Em Washington D.C., o Hudson Institute, o mais prestigioso think tank americano, realizou uma sessão em homenagem à tradição espiritual sufi, enaltecendo-a como alternativa ao radicalismo islâmico. Não apareceu ali um único expert para lembrar à platéia que a ocupação cultural e física do Ocidente pelo Islam não surgiu com os atentados terroristas nem com a imigração em massa, mas é um antigo projeto das taríqas, as organizações esotéricas sufis. Na Colômbia, o presidente Uribe combate bravamente as guerrilhas, ao mesmo tempo que, no afã de levar às suas últimas conseqüências o princípio abstrato da igualdade democrática, não só apóia todas as iniciativas da revolução cultural esquerdista mas oferece cargos públicos e proteção militar aos amigos e cúmplices das Farc, ajudando-os a obter pela via pacífica da sedução e do engodo o que não puderam conquistar pelo terror. Política análoga segue no Brasil o candidato presidencial José Serra: reprime eficazmente a criminalidade no Estado que governa, mas se recusa a falar ou agir contra a aliança PT-Farc que a fomenta e protege. Em todos os países da Europa Ocidental, os entusiastas da democracia moderna tentam fechar as portas à invasão islâmica ao mesmo tempo que buscam destruir os últimos valores civilizacionais cristãos que poderiam protegê-los do invasor. Em suma, do ponto de vista de liberais e conservadores, tudo parece constituir-se de processos isolados, de fatores inconexos, de elementos separados. As guerrilhas não têm nada a ver com a mídia internacional que as apóia, a mídia é totalmente isolada dos organismos internacionais cujo discurso ela repete ipsis litteris, as ONGs ativistas alimentadas por dinheiro do narcotráfico não têm nenhum envolvimento com o narcotráfico, o narcotráfico por sua vez não tem nenhuma conexão com os serviços secretos russos e chineses que já o controlam desde a década de 60, a política e o crime são entidades estanques, a invasão islâmica não tem nada a ver com o esquema globalista euro-americano que a protege descaradamente, os banqueiros internacionais que financiam movimentos subversivos não são jamais subversivos em si mesmos. Nada tem nada a ver com nada, e a História, no fim das contas, se constitui apenas da somatória fortuita de curiosas coincidências. Qualquer tentativa de juntar os pontos parece a essas delicadas criaturas um sinal de paranóia conspirativa e, sobretudo, uma tremenda falta de educação. Em contrapartida, qualquer militante esquerdista, ainda que sem experiência, apreende intuitivamente a unidade por trás de todos esses processos, mesmo os mais heterogêneos em aparência, pelo simples fato de que diariamente os vê convergir com a harmonia de esquadrões bem disciplinados no ataque geral ao inimigo comum, a civilização do Ocidente. À articulação mundial da esquerda corresponde a completa desarticulação e fragmentação das direitas, não só no plano da ação estratégica, mas da simples percepção dos fatos. Os marxistas sempre acusaram seu inimigo burguês de ter uma visão abstratista e mecanizada das coisas, incapaz de apreender a unidade do processo histórico. Se no passado essa acusação foi injusta, hoje em dia ela é a correta e fidedigna expressão dos fatos. Por preguiça mental, covardia e inépcia presunçosa, os liberais e conservadores tornaram-se aquilo que os marxistas queriam que eles fossem. Cedendo ao inimigo, permitiram que ele os moldasse conforme bem lhe convinha.

ALMA DE MULHER

Duas mulheres estão disputando a presidência da República: Marina da Silva, aparentemente frágil, figura feminina doentia, voz fininha. Como ex-petista Marina terá sempre alma de PT em que pese estar por circunstâncias políticas no PV. Sem chances de vencer, num eventual segundo turno ela certamente dará apoio a Dilma Rousseff, candidata que há dois anos vem sendo conduzida em campanha por seu criador político, Lula da Silva. Na convenção festiva do PT que oficializou Rousseff, obedientes petistas cantaram a plenos pulmões: “Lula tá com ela, eu também to”. Como pesquisas detectaram que Rousseff tem pior desempenho do que o candidato do PSDB, José Serra, no eleitorado feminino, o marqueteiro João Santana investiu na exaltação da mulher e na feminilização da candidata, que na convenção leu com sua voz rascante um longo e enfadonho discurso capaz de fazer dormir militante petista. Santana se concentrou na esfera psicológica, elemento fundamental da propaganda enganosa capaz de convencer pessoas a comprarem produtos de má qualidade que não lhes são necessários. Retoques físicos obtidos com primorosa plástica, aplicações de botox, penteados sofisticados, sobrancelhas arqueadas adequadamente, maquiagem de artista de novela operaram milagres na senhora sessentona de modos rudes. Mas, qual o truque para mudar uma personalidade? Isso é tarefa impossível. Entretanto, assim como o truculento ex-sindicalista foi momentaneamente transformado no “Lulinha paz e amor”, por que não confeccionar uma “Dilminha ternura” sob encomenda do chefe? Na preparação para a entrada triunfal da “grande estadista” na convenção foram exibidos vídeos da Princesa Isabel, Anita Garibaldi, Chiquinha Gonzaga, Maria da Penha. Naturalmente, a intenção era passar a idéia de uma Rousseff superior a todas elas. Faltou a Santana a idéia de compará-la á Imaculada Conceição, já que o piedoso irmão leigo, Frei Betto, chamou Lula da Silva de “luz do mundo”, privilégio que antes pertencia a Jesus Cristo. Estrategicamente não foram mencionadas, entre outras: a ministra Zélia Cardoso de Melo que detonou o governo Collor com a expropriação da poupança; a petista Benedita da Silva, expelida do ministério por conta de algumas, digamos, extravagâncias em gastos; a petista, braço direito de Rousseff, senhora Erenice, hoje ocupando o lugar da ex-ministra e que, junto com a chefa sofreu acusações que se desmancharam no ar, relativas à habitual tática dos “aloprados” do PT de confeccionar dossiês para difamar concorrentes políticos. Na verdade, várias mulheres em cargos públicos são incompetentes ou se comportam de maneira nada edificante, exatamente como homens incompetentes e corruptos, o que prova que não basta ser mulher ou homem, branco ou negro, pobre ou rico para assumir o poder. Para governar, sobretudo um país, é necessário ter experiência que prove competência, biografia que demonstre honestidade, liderança confirmada, ideal voltado para o bem-comum. O resto é mistificação, populismo barato, empulhação de eleitor incauto. Isso não quer dizer que a mulher não possa se sair bem na política. Grandes governantes entraram para a história como, por exemplo, a rainha Elisabeth da Inglaterra, Indira Gandhi na Índia, Golda Meir em Israel, Margareth Tatcher na Inglaterra, Violeta Chamorro na Nicarágua. Entretanto, como disse Indira Gandhi: “Não me considero uma mulher fazendo política, mas, sim, uma pessoa exercendo um ofício”. No discurso da convenção Rousseff prometeu que fará um governo como o de Lula, mas “com alma e coração de mulher”. O que será que a colérica Rousseff entende por alma de mulher? Numa idealização da “alma de mulher” direi que podem, entre outras coisas, ser generosas, compreensivas, pacientes, atributos, aliás, inerentes ao maravilhoso dom da maternidade. No comportamento muitas delas são graciosas, sedutoras, sensuais, encantadoras no jeito de andar e falar. No dia-a-dia de muitas mulheres se encontram heroínas que amparam, consolam, lutam pela existência, protegem a família. Nem todas possuem tais características, é claro. Existem mães que matam os filhos, megeras que infernizam a vida alheia, ignorantes que danificam suas vidas e a de outros, mulheres nada graciosas que andam com passadas de guarda de campo de concentração, sempre dando ordens com vozes desagradáveis feitas para o comando. Parece, porém, que essa coisa de alma virou moda. Até Michel Temer disse que o “PMDB vai entrar em campanha com sua alma, e não apenas com seu raciocínio”. Alguns eleitores mais atilados conhecem bem a “alma e o raciocínio” de José Sarney, Renan Calheiros... De qualquer modo, se Rousseff ganhar não teremos uma mulher na presidência da República. Como inferior e submissa ao homem ela apenas esquentará o lugar para Lula da Silva que pretende voltar em 2014. Assim os homens do PT traçaram sua manutenção no poder. E se a herança maldita pesar foi a mulher que não soube fazer como a “luz do mundo”. Afinal, só Lula da Silva tem alma.

A segurança pública e a sociedade

Um dos problemas mais afligentes do Brasil de hoje é sem sombra de dúvidas, a questão da segurança pública que deixa a desejar aos anseios da população, pois em todos os lugares a violência e a criminalidade crescem em proporções imensuráveis e de maneira incontrolável pelo poder público. Aos olhos do povo, parece ser a Polícia a única responsável pela segurança da sociedade, quando em verdade tem essa instituição somente a função mais árdua de todas, vez que atua na linha de frente em prevenção ao crime ou na garimpagem de criminosos e na execução das leis penais, a fim de torná-las efetivas ao exigir o cumprimento das regras sociais e solucionar os seus conflitos. Assim, durante muito tempo a problemática da segurança pública foi vista apenas como questão de ordem absoluta da Polícia, regida e orquestrada pelos governos estadual e federal, sem participação alguma de qualquer segmento da sociedade. Agora que a epidemia da insegurança se alastrou por todo o Brasil a própria sociedade se mostra preocupada com o problema e até já comunga com o preceito constitucional de que a segurança pública é responsabilidade de todos, e com isso já se formam movimentos diversos que objetivam maior interatividade com a Polícia para uma conseqüente união de forças de combate ao crime. As associações de moradores e os conselhos de segurança dos Estados, bem como, as diversas organizações não governamentais já se conscientizam e devem se fortalecer cada vez no sentido de ajudar a Polícia, na sua árdua missão de combater o mal e resgatar a ordem ferida. Entretanto, essa necessária e importante interação ainda aparece de maneira emperrada, pois existe a tradição arraigada no seio de grande parte da sociedade em generalizar, colocando-se com regra ao invés da exceção, que a Polícia é ineficiente e criminosa, que todo policial é ignorante, arbitrário, violento e irresponsável, quando em verdade, de uma maneira geral, tais entendimentos não passam de pensamentos ilógicos e insensatos, vez que é dever e obrigação de todos os nossos componentes, acima de tudo, valorar e guardar as leis do país e, em assim sendo, não é uma minoria desvirtuada que deve superar a grande maioria dos nossos valorosos policiais que trabalham com amor a causa. Aliados a tais pensamentos insensatos que menosprezam as nossas classes, os governos ao longo dos tempos pouco investiram ou investem nas suas Polícias. A segurança pública sempre foi esquecida e sucateada através dos anos. As Polícias sempre foram relegadas ao segundo plano, principalmente no que tange a valorização profissional dos nossos membros. Com raras exceções, poucas conquistas foram alcançadas pelas classes policiais em alguns Estados da Nação. Assim, as várias culturas negativas que cresceram no âmago do povo através das eras relacionadas a tais questões pejorativas em desfavor dos policiais, fazendo com que a sociedade tema a Policia ao invés de respeitá-la como aliada, urgem em ser desclassificadas e ao mesmo tempo revistas para o bem geral da nação brasileira. A eficiência do trabalho policial está intimamente ligada ao bom relacionamento entre cidadãos e policiais. Um deve ver e sentir o outro no valor da amizade, como elemento de apoio, de confiança nos seus recíprocos atos. Os policiais dependem da iniciativa e da cooperação das pessoas e estas dependem da proteção dos policiais. Havendo mudanças nessas concepções errôneas para que haja uma maior união e interatividade entre o povo e a sua Polícia. Para que haja confiança do cidadão nas ações da Polícia. Para que a sociedade tenha a Polícia como sua amiga, como sua aliada no combate ao crime e no cumprimento das leis. Para que a própria sociedade reconheça e se engaje na nossa luta pelo resgate da dignidade perdida, relacionada principalmente a salários condizentes com a importância da árdua missão policial e então estimular ainda mais o bom profissional, teremos enfim, uma segurança pública mais real, mais eficaz e satisfatória aos anseios da própria população.

O Brasil e a cultura da desconfiança

“Por trás de cada ato de administração puramente burocrático existe um sistema de ‘motivos’ racionalmente discutíveis...”Max Weber, Economia e sociedade, 1922. A cultura da desconfiança talvez seja um dos piores legados dos trezentos anos de colonização portuguesa do Brasil. O povo visto sempre com receio supremo pelas autoridades civis, militares e eclesiásticas vindas de Lisboa, paga até hoje o fato de o país ter sido território conquistado. Mesmo a Independência e a implantação da Republica não moderaram a relação de suspeita permanente entre os que mandam e os que obedecem no nosso país. Virtudes da colonização lusitana Louva-se o colonialismo luso por ter conseguido manter nossa integridade territorial por quatro séculos e fazer com que o brasileiro de hoje seja um dos poucos a poder percorrer 5 ou 6 mil quilômetros, em seu próprio país, em todos os sentidos, ao abrigo das mesmas leis e sem grandes dificuldades de se fazer entender entre os seus. Deve-se também a eles a notável capacidade plástica de se adaptarem aos trópicos, bem como o convívio, quase argiloso, com as mais variadas raças. Virtude que Gilberto Freyre atribuía a Portugal ser “meio Europa e um tanto de África”, ou, como disse na sua saborosa prosa, estar “a influência africana fervendo sob a européia”... “o sangue mouro ou negro correndo por uma grande população brancarona”. A paixão pelo carimbo Mas infelizmente também somos herdeiros da desgraçada cultura da desconfiança que aqui introduziram com a conquista, que faz com que qualquer caixeirinha ou funcionariozinho deste país se arrogue em funções de policial inquisidor, nos obrigando, pelos motivos mais banais, a mostrar documentos, reconhecer firmas, comprovantes, atestados, requerimentos, certificados, alvarás, licenciamentos, carimbos, e todo o resto da parafernália que a burocracia é capaz de inventar. Imagino, por vezes, que benefícios não teríamos nós se toda essa energia e esse tempo, que perdemos nos labirintos administrativos, correndo atrás dessa infindável papelada, fossem canalizados para a produção! Quiçá batêssemos o Japão! Olhando para o nosso passado, no entanto, para os tempos da gestão colonial lusitana, percebe-se que não poderia ser diferente do que terminou sendo. Atribui-se esta calamidade – a cultura da desconfiança –, da qual, parece que nunca poderemos nos livrar, à convergência de três fontes que deságuam no nosso atual estuário burocrático-carimbatório... As três fontes históricas da cultura da desconfiança A primeira delas origina-se do próprio corpo de administradores da Coroa, aqui encarregados de extrair impostos de uma gente arredia, “sem lei nem rei”. O reinol, o garimpeiro, o canavieiro, o proprietário de sesmaria e de outras terras, o traficante de escravos, o tropeiro, o almocreve, aproveitando-se do ar de terras livres, de tudo faziam para escapar do exator, inclusive embrenhando-se no sertão. Atrás do quinto, por sua vez, o publicano ou contratador em nome do Monarca, estudando as manhas e sanhas, ignorando as desculpas, tratava, com seu braço fiscal, de emboscar e forçar o fujão a dar a el-Rei o que lhe era devido, engendrando desde aqueles tempos coloniais uma pequena guerra civil tributária. A outra é própria da sujeição militar da colônia, tratada como conquista pelo soldado ibero. Instalados em fortes, sitiados pela bugrada hostil, que quando os capturava, por vezes, os devorava até os ossos, meteram-se numa guerra de mais de três séculos e meio e obviamente desenvolveram uma mentalidade de casta invasora, tratando a maioria dos nativos como nações vencidas, como um inimigo a ser vigiado e espoliado de tudo. E, finalmente, a que derivou da catequese dos jesuítas. Acreditando ser o Brasil um espaço bárbaro vazio de Deus, quando não a morada do Diabo, lançaram suspeitas sobre tudo e todos. Prova maior dessa possessão satânica para eles era o fato de as índias – em conluio com as nagôs – andarem com suas impudicícias expostas, arreganhando-se para a portuguesada desregrada e com eles se amancebando. Viam que por aqui tudo desandava. Caciques cheios de mulheres, trocando de nomes a toda hora e inclinando-se a “meter-se na cabeça qualquer coisa, ao menos de maus costumes”, como disse deles o venerável padre Anchieta. O país, definitivamente, era o valhacouto do Demônio. Para precaver-se ainda de outras ameaças heréticas – de origem luterana ou judaizante –, era preciso ter mil olhos e audição atenta. Os combatentes da Contra-Reforma estimulavam a indiada, os escravos, os mamelucos e os povoadores em geral a denunciarem à visitação do Santo Ofício, ou a sussurrarem no amplo ouvido do padre confessor os bestialismos, as perversões e todas as demais coisas pecaminosas que os vizinhos eram capazes de cometer contra Deus e o Rei. Prometiam-lhes, em troca da bisbilhotice, uns Pais-Nossos e um seguro lugar no Céu. Desta maneira, o funcionário da corte, o soldado e o padre português convergiram em cultivar uma atitude de soberba desconfiança para com a população, que não mais se alterou e que a todos contaminou. A burocracia brasileira, herdeira do colonialismo, apenas lhes seguiu nas pegadas. Tratado como incorrigível sonegador, como provável falsário ou adulterador, como falto de palavra e de fé, um preguiçoso dado à luxúria e à irresponsabilidade, um delator e informante, uma raça de gente vil e derrotada, um tipo de pouca confiança, enfim só restou ao povo não lhes frustrar a expectativa e ser tudo aquilo que eles diziam que ele era.