"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

quarta-feira, 30 de março de 2011

13º Salário NÃO EXISTE!

Os trabalhadores ingleses recebem os ordenados semanalmente!
Mas há sempre uma razão para as coisas e os trabalhadores ingleses, membros de uma sociedade mais amadurecida e crítica do que a nossa, não fazem nada por acaso!
Bem, cá está um exemplo aritmético simples, que não exige altos conhecimentos de Matemática, mas talvez necessite de conhecimentos médios de desmontagem de retórica enganosa.
Lembrando que o 13º no Brasil foi uma inovação de Getúlio Vargas, o “pai dos pobres” e que nenhum governo depois do dele mexeu nisso, nem mesmo o “governo dos trabalhadores”.
Comenta-se agora a extinção do 13º Salário. Se tal pretensão prosperar, será um roubo sobre outro roubo.
Perguntarão porquê?
Respondo: Porque o 13º salário não existe.
O 13º salário é uma das mais escandalosas de todas as mentiras dos donos do poder, quer se intitulem “capitalistas” ou “socialistas”, e é justamente aquela que os trabalhadores mais acreditam.
Eis aqui uma modesta demonstração aritmética de como foi fácil enganar os trabalhadores.
Suponhamos que você ganhe R$ 700,00 por mês.
Multiplicando-se esse salário por 12 meses, você recebe um total de R$ 8.400,00 por um ano de doze meses.
R$ 700 X 12 = R$ 8.400,00
Em Dezembro, a generosa lei manda então pagar-lhe o conhecido 13º salário.
R$ 8.400,00 + 13º salário = R$ 9.100,00 R$ 8.400,00 (Salário anual) + R$ 700,00 (13º salário) = R$ 9.100 (Salário anual mais o 13º salário)
O trabalhador vai para casa todo feliz com a lei que mandou o patrão pagar o 13.
Agora veja bem o que acontece quando o trabalhador se predispõe a fazer uma simples conta que aprendeu no Ensino Fundamental: se o trabalhador recebe R$ 700,00 mês e o mês tem quatro semanas, significa que ganha por semana R$ 175,00.
R$ 700,00 (Salário mensal) / 4 (semanas do mês) = R$ 175,00 (Salário semanal). O ano tem 52 semanas.
Se multiplicarmos R$ 175,00 (Salário semanal) por 52 (número de semanas anuais) o resultado será R$ 9.100,00. R$ 175,00 (Salário semanal) X 52 (número de semanas anuais) = R$ 9.100.00
O resultado acima é o mesmo valor do Salário anual mais o 13º salário.
Surpresa. Surpresa?
Onde está, portanto, o 13º Salário?
A explicação é simples.
A resposta se obtém pela simples razão de que há meses com 30 dias, outros com 31 e também meses com quatro ou cinco semanas (ainda assim, apesar de cinco semanas a lei só manda o patrão pagar quatro semanas) o salário é o mesmo tenha o mês 30 ou 31 dias, quatro ou cinco semanas.
No final do ano a lei presenteia o trabalhador com um 13º salário, cujo dinheiro saiu do próprio bolso do trabalhador.
Se o governo retirar o 13º salário dos trabalhadores da função pública, o roubo é duplo (sem falar que não se cogita em alteração na lei que paga o 14º salário para políticos e empresários de alto escalão, esse sim um verdadeiro adicional...).
Daí que, como palavra final para os trabalhadores inteligentes: não existe nenhum 13º salário.
A lei apenas devolve e manda o patrão devolver o que sorrateiramente foi tirado do salário anual.
Conclusão: Os trabalhadores recebem o que já trabalharam e não um adicional.
13º NÃO É PRÊMIO, NEM GENTILEZA, NEM CONCESSÃO. É SIMPLES PAGAMENTO PELO TEMPO TRABALHADO NO ANO!

domingo, 20 de março de 2011

Mudar de opinião, não de valores

Mudar de opinião assusta muita gente. O medo de ser interpretado como fraco faz com que muitos permaneçam seguindo por caminhos que já se provaram ineficientes. Muitos de nós insistimos em interpretações que, no íntimo, sabemos que não nos convencem mais, apesar de todos os impactos acumulados na nossa experiência pessoal. Um recente comercial da televisão mostra, em 30 segundos de bom humor, que ninguém morre ou deixa o “eu” de lado quando muda de opinião. No filme, dois amigos caminham conversando e, conforme avançam, mudam de ideia. Coisas simples em uma fase da vida, como achar ridículo andar de patins, vão da rejeição à importância em uma fração de segundos. Conforme o filme corre, as opiniões tornam-se mais complexas. A decisão de “Casar? Nem pensar!”, discutida pelos dois amigos, cede a vez para a próxima fase, onde um deles sai de cena e abre espaço para a noiva do que fica. O filme encerra com um questionamento não de opinião, mas de valores: ao prometer compromisso para a mulher, ele corre o risco de se contradizer na etapa seguinte da vida. Se podemos considerar a nossa vida como uma viagem, sujeita a mudar de rumo a qualquer instante, o que carregamos na nossa mochila são os nossos valores. Eles podem até embasar nossas opiniões, porém sua consistência deve ser mais densa, feita em metal mais nobre. Se os nossos caminhos variam, conforme nosso amadurecimento e experiência de vida, os nossos valores, em especial os que nossos pais cultivaram em nós, nos conferem a segurança para seguir em frente. Ética, respeito à diversidade, relevância, responsabilidade, autenticidade são fatores que não devem ser flex, como num dia preferir salada e, no outro, macarrão. Quando falamos de valores, obviamente falamos dos positivos. Cultivar zeros à esquerda não promove diferença. Perdoar, por exemplo, é uma mudança de opinião que, em nenhum momento, denota perda de valor. Certa vez, um grande personagem público da recente história brasileira, já morto, foi questionado sobre a mudança de opinião frente a determinado assunto. A resposta mostrou o porquê dessa pessoa ter se tornado referência para muitos: “não temo mudar de opinião porque não temo evoluir". A vida vem em ondas, como sugere a música. Em cada uma delas, ser fiel aos seus valores, mas estar aberto a novas opiniões, é uma questão de inteligência.

A importância da tomada de decisão

O ato de tomada de decisão pode ser para muitas pessoas, um ato de sofrimento. Algumas pessoas possuem dificuldades nas decisões mais simples, como escolher um prato num restaurante ou um programa social. Quando trazemos esta dificuldade de poder de decisão para o universo empresarial, ele se torna muito mais grave, pois pode-se perder uma grande negociação apenas pelo titubear de decisão numa reunião. E tão grave quanto a indecisão é a procrastinação, que tem levado muitas pessoas a erros difíceis de reparação. Um exemplo disto é aquele empresário que precisa tomar uma decisão de investimento em inovação de produtos, ou numa negociação com fornecedores e acaba perdendo uma excelente oportunidade de ganho ou lucro porque no momento de tomada de decisão ele opta pela indecisão. E o mercado não perdoa quem não toma as decisões nas horas certas. São inúmeras as implicações de uma tomada de decisão, e a maior parte das conseqüências está normalmente fora do nosso alcance visual. Por isso é preciso ser cuidadoso, considerar não só o negócio mas as pessoas, a sociedade e o planeta. Principalmente, é preciso agir em coletividade; a complexidade dos inúmeros contextos criados pelo cotidiano de um negócio requer competências multidisciplinares para ser propriamente equacionada. Visto no geral, um processo decisório pressupõe opções, escolhas nem sempre muito fáceis de fazer. Há perdas e há ganhos, há o curto e o médio prazos, há conflitos de valores, e isso tudo é extremamente mobilizador. Por isso é importante tentar, de alguma forma, sistematizar um contexto, criar um cenário pelo menos próximo da realidade onde as possibilidades da decisão possam ser examinadas sob todos os ângulos. É mais fácil fugir da decisão do que enfrentá-la, e muitas vezes fazemos isso por métodos subliminares. Evitamos a decisão apoiando-nos em ideologias e referenciais rígidos não passíveis de questionamento ou por meio de processos que nos auto-iludem, como a alienação, o perfeccionismo, a idealização excessiva, a auto-depreciação, a preocupação em manter uma pretensa imagem de si ou o assim chamado "complexo de anjo", pelo qual nos julgamos sempre os melhores. Esses processos podem ser considerados como sendo "bloqueadores das decisões". Muitas pessoas apresentam grande dificuldade para tomar decisões. Outras não conseguem fazê-lo de modo algum. Uma vez consumada, a decisão é uma estrada sem volta. As conseqüências virão, cedo ou tarde, positivas ou negativas. Por isso a decisão exige um compromisso efetivo com a escolha feita e suas conseqüências. Isso nem sempre é fácil, por três motivos: - Não existe decisão perfeita, porque não podemos analisar todas as alternativas e todas as conseqüências; - Ao optar por uma alternativa, temos de renunciar às outras, e isso gera sempre um sentimento de perda, mesmo quando a decisão é eficaz; - Toda decisão é um ato absolutamente individual e intransferível. Não se pode decidir pelos outros nem culpar os outros pelas nossas más ações. A capacidade de tomar decisões firmes, claras e no tempo certo é uma importante característica de liderança. O tipo de decisão, porém, varia conforme as circunstâncias. Por isso, é preciso sempre fazer uma análise da situação e de possíveis implicações, com o máximo de elementos possíveis, para que, ao menos, possamos tomar uma decisão com embasamento de conhecimento. Cada decisão implica um efeito, para o bem ou para o mal. Tente reduzir os riscos futuros: liste os efeitos possíveis de cada ação, avaliando as probabilidades de sua ocorrência e o dano que possa causar. Avalie também as conseqüências no tempo - imediatamente, em curto e longo prazos. Na medida do possível, privilegie os resultados a longo prazo ao invés de valorizar apenas os efeitos mais imediatos. Observe os fatores externos que podem influir em sua decisão e tente medir a probabilidade (e as razões) de um eventual fracasso. Ao esquematizar esses itens você estará se antecipando aos futuros problemas. Essa medida reduzirá os elementos causadores do insucesso, aumentando as chances de êxito. Acredite, tomar decisões é um comportamento que pode ser aprendido com o tempo, como qualquer outro comportamento ou atitude. Então, comece a praticar.

terça-feira, 8 de março de 2011

O PROBLEMA DAS VIRGENS

Outro dia lia o "Carta a uma Nação Cristã" do filósofo ateu Sam Harris. É um livro fininho de leitura agradável, companhia perfeita para se ter na pasta quando se vai para o Bradesco para pagar mais uma conta; você começa a ler logo após sentar naquelas poltronas vermelhas, faz uma pausa para trocar o protocolar "bom dia" com algum conhecido, outra pausa mais tarde para procurar um cafezinho ou tomar um copo d’água e antes de chegar ao caixa você já terminou. Então deve ter sido quase na hora de chegar no caixa, já chegando ao final do livro, que mais uma vez vi mencionada aquela história de que os terroristas muçulmanos que seqüestraram os aviões no dia 11 de setembro acreditavam que, em troca de seu martírio, seriam recompensados no paraíso com um séquito de 72 virgens. Só que desta vez eu parei para pensar um pouco mais no lado, digamos, prático, deste assunto. Supondo que a religião islâmica realmente assegure 72 virgens aos que morrem em nome de Alah, será que esta graça está reservada aos mártires ou é estendida a todos os fiéis que adentram o paraíso? E de onde vêm 72 mulheres virgens para cada homem do reino dos céus? São as almas das mulheres que morreram imaculadas que vão ao céu servir os mártires? Se não, o que reserva o céu às mulheres mártires? maridos perfeitos que nunca se esquecem de abaixar a tampa da privada? Pensando em todas estas questões decidi pesquisar um pouco mais sobre o paraíso islâmico. Comecei pelo Alcorão. O livro máximo da religião islâmica não deixa dúvidas de que o paraíso islâmico é um lugar bastante sensual, mas nada é dito sobre a quantidade de virgens que aguarda os eleitos. "E se deitarão sobre leitos incrustados com pedras preciosas, frente a frente, onde lhes servirão jovens de frescores imortais com taças e jarras cheias de vinho que não lhes provocará dores de cabeça nem intoxicação, e frutas de sua predileção, e carne das aves que desejarem. E deles serão as huris [virgens] de olhos escuros, castas como pérolas bem guardadas, em recompensa por tudo quanto houverem feito. (...) Sabei que criamos as huris para eles, e as fizemos virgens, companheiras amorosas para os justos." Alcorão, surata 56, versículos 12-40.(todas as traduções deste texto foram feitas a partir do inglês) São inúmeras as passagens como esta que mencionam a existência no paraíso de jóias, criados jovens e cheirosos, vinho (uma extravagância, já que o islã proíbe consumir bebidas alcoólicas em vida), rios de leite, rios de mel, rios de água (que costuma ser coisa preciosa nos países muçulmanos), frutas abundantes e moçoilas virgens para fazer "companhia" aos justos... Comparado ao paraíso cristão, com seus anjos assexuados de aparência andrógina tocando harpa e entoando cânticos (quando não estão em missão para destruir alguma cidade ou coisa assim), o céu islâmico parece o Club Med dos paraísos. Só que diferentemente da Bíblia, que é a única fonte autenticada pela Igreja das palavras de Deus, na religião islâmica o Alcorão é complementado pelos hadiths, uma coletânea de histórias sobre tudo o que supostamente disse ou fez o profeta Maomé durante sua vida, que circularam no boca a boca por mais de um século até serem redigidas em sua forma atual. É aí, nessa barafunda de textos, às vezes antagônicos, que vamos encontrar mais detalhes sobre o paraíso islâmico, incluindo o número de virgens com que os eleitos são agraciados: "A menor recompensa para aqueles que se encontram no paraíso é um átrio com 80.000 servos e 72 esposas, sobre o qual repousa um domo decorado com pérolas, aquamarinas e rubis, tão largo quanto a distância entre Al-Jabiyyah (hoje na cidade de Damasco) e Sana'a (hoje o Iemem)"Hadith 2687 (Livro de Sunan, volume IV). Se esta é a menor recompensa que aguarda os felizardos no paraíso, então é certo que os servos e as virgens não foram parar lá por mérito. Quem sabe fossem candidatos ao inferno (não dizem que "é melhor reinar no inferno que servir no paraíso"?). No caso das virgens isto faria todo o sentido, já que a rotina delas no céu não é moleza; sobre isso escreveu Al-Suyuti, um renomado comentador do Alcorão e estudioso dos hadith, no século XV: "Cada vez que se dorme com uma huri descobre-se que ela continua virgem. Além disso o pênis dos eleitos nunca amolece. A ereção é eterna. A sensação que se sente cada vez que se faz amor é mais do que deliciosa e se você a experimentasse neste mundo você desmaiaria. Cada escolhido se casa com setenta huris, além das mulheres com que se casou na terra, e todas têm sexos apetitosos." Para as virgens o paraíso islâmico é mais ou menos como uma versão pornô do mito de Prometheus (aquele do titã que tinha seu fígado devorado todos os dias por uma águia), só que é o hímen das jovens donzelas, e não o fígado do titã, que se regenera perpetuamente. Se você tem uma ereção permanente e o resto da eternidade nas mãos algumas dezenas de virgens não devem bastar, por isso o paraíso islâmico conta ainda com um local que, cá embaixo seria chamado de "bordel", mas que no paraíso islâmico chamam de "mercado". Segundo os hadith, Maomé teria dito: "Existe no paraíso um mercado onde não há compra ou venda, mas homens e mulheres. Quando um homem deseja uma mulher ele vai até lá e tem relações sexuais com ela." Al Hadis, Vol. 4, p. 172, No. 34 Os cristãos, a quem devemos a noção agostiniana de que o mundo físico é impuro, gostam muito de apontar o dedo na cara dos muçulmanos e dizer que o paraíso deles é "liberal" demais. Aí, é a vez dos muçulmanos dizerem aos cristãos que se eles querem mesmo falar sobre sacanagem em livros sagrados é bom que se lembrem que têm teto de vidro. É impressionante quanta energia é gasta na internet nesta troca de citações porno-sacras entre cristãos e muçulmanos; eu imagino que jovens beatos de ambas as religiões aprendam bastante sobre estupro, pedofilia e prostituição nestes sites. Bem, na defesa dos muçulmanos é justo dizer que como os hadith foram escritos muito tempo depois da morte de Maomé, nem todos eles são considerados genuínos pelos estudiosos islâmicos (segundo eles, por exemplo, o trecho acima é falso). Só que mesmo as passagens consideradas verdadeiras podem ser bastante embaraçosas; em algumas delas o constrangimento dos tradutores fez com que a formosura das virgens fosse minguando até que seus detalhes anatômicos desaparecessem por completo. Eis um bom exemplo: Versão 1 - por Arberry Para os tementes aguardam um lugar seguro, jardins, vinhedos, donzelas de seios arredondados (maduros) e um copo transbordante de vinho. Versão 2 - por Yusuf Ali Para os justos haverá a satisfação dos desejos em seu coração, jardins e vinhedos, companheiras da mesma idade e um copo cheio de vinho. Versão 3 - por Rashad Khalifa Os justos merecerão uma recompensa. Jardins e uvas. Esposas magníficas. Drinques deliciosos.Surah an-Naba' (78:31-34) Mas existe uma boa chance de que os tradutores islâmicos nunca mais precisem dissimular a exuberância das virgens. Um livro publicado recentemente na Alemanha e muito bem recebido pela comunidade científica, "Die Syro-Aramaische Lesart des Koran" ("Uma Leitura Sírio-Aramaica do Alcorão"), do professor de línguas antigas Christoph Luxenberg, defende a tese de que muita coisa faria mais sentido nos textos sagrados se os tradutores levassem em conta que o Alcorão não foi escrito apenas em árabe, mas num mix de antigos dialetos aramaicos. Por exemplo, a palavra "hur", que em árabe quer dizer "virgem", em sírio significa "branca". Assim, segundo Luxenberg, as "castas huris de olhos castanhos" descritas no Alcorão seriam na verdade "uvas brancas secas" de "clareza cristalina", uma iguaria bastante apreciada naquela época. Dá para imaginar a decepção dos mártires? Deve ser como comprar uma passagem para um cruzeiro de solteiros e ao embarcar descobrir que não vai ter mulher... No final o problema das virgens vai ser resolvido com a troca de uma única palavrinha. Nenhum candidato a homem-bomba vai ficar mesmo muito entusiasmado em abandonar esta vida quando souber que sua recompensa por morrer abraçado em dinamite será um suprimento vitalício de passas. Mas é claro que esta não deveria ser a solução. A continuidade da civilização como a conhecemos não deveria depender da tradução de uma palavra num livro sagrado, ou de distinguir o que de fato disse um homem denominado profeta das fantasias eróticas de um bando de velhos babões. Melhor seria se não houvesse pessoas no mundo dispostas a acreditar literalmente em histórias escritas há milhares de anos, numa época em que a maioria das pessoas sabia tanto sobre o mundo natural quanto provavelmente sabe hoje uma criança da sétima série, e tinha os mesmos temores e superstições infantis de uma criança da quinta série.

AUTO-ILUSÃO CONTRA A AIDS

As pessoas tem uma capacidade muito grande para inventar histórias e explicações fantásticas. Muitas usam esta capacidade para criar visões distorcidas da realidade na esperança de construirem para si mesmas um universo mais feliz e justo. Uma coisa que frustra muitos seres humanos é a sua impotência diante do universo e das leis naturais e é isso que deixa muitos mais propensos a acreditarem em magia, bruxaria, vidência, paranormalidade e coisas do tipo. A pseudo-medicina tem um apelo tão grande justamente por criar um mundo ilusório no qual a panacéia não é um mito - mas algo real. Você só precisa ignorar tudo o que dizem os cientistas e médicos materialistas, positivistas e malvados. Eles participam de uma conspiração secreta para esconder a existência da panacéia das pessoas comuns. Também existe um outro tipo de auto-ilusão ainda mais irracional. Aquela que ao invés de afirmar a existência de algo inexistente nega a existência de algo que existe. Essas pessoas simplismente ignoram todas as provas de existência de algo. Os criacionistas e os neo-nazistas que negam o holocausto são um bom exemplo. Eles demonstram um pseudo-ceticismo profundo contra qualquer evidência que vá contra o que eles acreditam. Recentemente, descobri um outro exemplo muito triste de pessoas que rejeitam a existência de algo evidente. Eles formam um grupo conhecido como CURA, ou Centro pela Urgência da Reavaliação da AIDS. Apesar da sigla, as idéias que este grupo defende não tem absolutamente nada de benéficas para a saúde das pessoas. O que essa gente afirma é que o HIV não causa AIDS. Ou seja, não tem problema algum em fazer transplantes de sangue em pessoas que são portadoras do vírus e também o uso de camisinha não em efeito nenhum na prevenção da doença. Dizem também que se você foi diagnosticado como soropositivo, não deve tomar o coquetel de medicamentos contra a AIDS, pois é esse medicamento que vai fazer você ficar com AIDS. Este movimento de dissidência é quase tão antigo como o descobrimento do HIV. Tudo isso começou com os questionamentos do professor de biologia molecular e celular Peter Duesberg que acusava os estudos que indicavam que o HIV causa AIDS de serem inconclusivos. Não demorou muito para que outros pesquisadores passassem a concordar com as opiniões de Duesberg. Em princípio, não havia nada de errado neste questionamento, pois uma das principais vantagens da ciência é a inexistência de dogmas. Qualquer dissidência no meio científico deve ser visto como algo positivo, pois elas podem fazer com que teorias sejam refinadas e melhoradas. O problema acontece quando pessoas com uma posição minoritária começam a escrever artigos para a mídia e para pessoas comuns dizendo que a sua opinião dissidente é uma verdade e que já foi comprovada. Não demorou muito para que pessoas comuns que estavam contaminadas pelo vírus tomassem conhecimento das idéias defendidas pelos cientistas dissidentes. Eles diziam que os portadores da doença não estavam condenados a morrer e que podiam levar uma vida sexual normal. Não é muito difícil entender porque muitos preferiram acreditar em uma minoria dissidente do que na opinião da esmagadora maioria de especialistas. Embora no começo existissem muitos pesquisadores que tinham esta opinião, a maior parte deles acabou abandonando o movimento dissidente justamente porque as evidências de que HIV causa AIDS eram tantas que não podiam mais ser ignoradas. É o caso dos pesquisadores Robert Root-Bernstein e Joseph Sonnabend, que depois de apoiarem muito a dissidência, acabaram reconhecendo que estavam errados. Mas infelizmente, existem pessoas que são teimosas demais para mudarem de idéia. É o caso do próprio Duesberg e de milhares de pessoas que mantém o Movimento de Reavaliação da AIDS vivo. Existiu até o caso de um médico chamado Robert Wilner que injetou o vírus HIV em si mesmo em um programa de televisão. Pena que o infeliz acabou morrendo algum tempo depois devido à um acidente de carro antes de desenvlver a doença. Se ele não tivesse morrido desta forma estúpida, ao menos outras pessoas poderiam aprender com o erro que ele cometeu. Quando tentei entender o que fazia tanta gente acreditar que o vírus HIV era inofensivo, me deparei com várias explicações e argumentos clássicos de pseudo-ciências. Haviam pessoas dizendo que havia uma conspiração mantida pela indústria farmacêutica para encobrir o movimento justamente porque isso iria diminuir a venda de remédios. É claro, isso é um absurdo. A existência de coquetéis de remédios para tratar a AIDS é recente e durante a maior parte do tempo não havia medicamento capaz de melhorar a vida de pessoas contaminadas. Porque então a indústria farmacêutica iria encobrir isso muito tempo antes de surgirem os primeiros remédios? Também encontrei pérolas como: "Cada pessoa é um emaranhado de relações muito complexas (corpo, mente, espirito). Todas estas partes necessitam estar em harmonia para funciomar bem.Existe um ramo da psicologia/psiquiatria, a imunoneuropsicologia, que diz que apenas pelo fato de um indivíduo saber que supostamente tem um vírus mortal, morre! (É famoso o caso de dois caras na Europa, que ficaram presos dentro do bau de um caminhão frigorífico e morreram de frio. Acontece que o o resfriador do caminhão estava desligado!).". Bem, vou ignorar todas as teorias da conspiração, lendas urbanas e falácias que estes negacionistas tanto defendem e me aterei a analizar alguns de seus argumentos mais lógicos. O primeiro deles é: * Existem pessoas sem HIV que possuem AIDS. Errado. O que existem são casos de distúrbios de imunodeficiência que aparecem em pessoas que não estão contaminadas por HIV. Estes distúrbios podem ser causados por bactérias, fungos ou podem ser hereditários. Assim como uma pessoa com AIDS, as defesas do organismo de uma pessoa com o distúrbio não funcionam e o organismo fica vulnerável ao ataque de microorganismos. Na verdade, qualquer tipo de doença debilita um pouco o sistema imune de uma pessoa. Mas o fato de existirem problemas de saúde semelhantes aos causados pela AIDS não significa que a AIDS não exista. Toda AIDS é uma imunodeficiência, mas nem toda imunodeficiência é AIDS. * O HIV não atende aos postulados de Koch , que são critérios que precisam ser rigorosamente atendidos a fim de provar que um determinado micróbio causa uma doença. Não há dúvidas de que o HIV causa AIDS em meio à comunidade científica. As origens do vírus já foram traçadas e o mecanismo pelo qual ele atua é conhecido. Já sabemos que qualquer pessoa que tenha o vírus injetado acidentalmente ou que o obtenha através de relações sexuais, irá sim desenvolver a doença. Virtualmente todos os testes com pacientes que possuem AIDS mostraram que eles são HIV soropositivo. E o HIV já foi isolado de pacientes com AIDS. O que acontece é que muitos dos negacionistas simplismente não lêem estudos mais modernos sobre AIDS e se atêm apenas a argumentos e estudos da década passada. Já aqueles que estão mais bem informados, simplismente usam uma interpretação própria do que seriam os "Postulados de Koch" tudo para que teimosamente possam continuar a defender suas idéias insensatas. Eu realmente tentei encontrar outros argumentos com um pouco mais de lógica, mas tudo o que encontrei foram mais teorias da conspiração e também um questionamento sobre as metodologias usadas por pesquisadores. O problema é que as pessoas que faziam tais críticas metodológicas não estavam nem um pouco qualificadas para falar sobre isso. Outro argumento que os dissidentes gostam bastante é um extremamente absurdo que diz que a AIDS tem origem psicossomática (é psicológica). É bastante triste ver como tem tanta gente se iludindo e preferindo acreditar em uma fantasia para não ter que conviver com o fato de que está com uma doença incurável. O problema é que por causa desta ilusão, elas deixam de buscar tratamento, fazem com que outras pessoas não se tratem e contribuem para a proliferação do vírus HIV. Para podermos ver quantos problemas esta gente está causando, basta lembrarmos que na África a existência deses dissidentes está sendo usada como desculpa por alguns governos para não fornecer tratamento contra a AIDS para o seu povo. Também existem palestras nas quais a desinformação e mentiras sobre o tema são espalhadas livremente e já vi recomendarem o uso de suco de couve, espinafre e limão para tratar AIDS . Não é difícil perceber as conseqüências desastrosas de toda esta campanha de desinformação e mentira. O Brasil é o país que fornece o melhor tratamento gratuito do mundo para a AIDS. Possuir esta doença não é mais o fim do mundo como era a 10 anos atrás. É perfeitamente possível controlar o avanço da doença através de coquetéis de medicamentos fornecidos pelo SUS. A única coisa que parece ser muito difícil de controlar é a estupidez de pessoas como os membros do CURA. Para isso, parece que nenhum remédio ou argumentação surte efeito.

AS TESTEMUNHAS FANTASMAS

Uma prática que foi bastante comum em tribunais do passado era o uso do ordálio. Esta prática servia para decidir se um réu era inocente ou culpado. Funcionava assim: uma pessoa fazia alguma coisa como sentar sobre labaredas, ser lançada amarrada em um rio ou ter sua mão queimada com ferro quente. Se a pessoa escapasse ilesa ou sofresse ferimentos leves, ela era considerada inocente. Caso o seu ferimento piorasse, ela era considerada culpada. Um número muito grande de culturas utilizaram este curioso método de forma independente. Por mais absurdo que ele possa parecer, existe uma lógica por trás ele. Afinal, se a divindade ou coisa parecida na qual todos os povos que praticavam isso existisse, ela jamais permitiria que uma injustiça fôsse cometida. Alguma divindade ou algum espírito iria interceder em favor de um réu inocente e faria um milagre ocorrer. Então, este sistema seria perfeito. Não havia riscos de ocorrer injustiças! É claro, sabemos que não é bem assim. Coisas como infecção em ferimentos existem e parecem ter mais influência real do que qualquer divindade ou espírito. Por confiar em agentes sobrenaturais para solucionar crimes, muitas injustiças devem ter ocorrido no passado. Felizmente, a prática começou a desaparecer na Europa durante a Baixa Idade Média. Em 1215, o papa Inocêncio III proibiu o apoio do clero à este tipo de prática. Em seu lugar, outros métodos passaram a ser usados como provas de um crime como por exemplo, a confissão obtida durante torturas. É, não se pode dizer que houve um avanço muito grande no Direito medieval por causa disso. O abandono do uso de métodos sobrenaturais em tribunais foi algo que ocorreu gradualmente conforme a influência da igreja diminuía e o Iluminismo trazia idéias novas para a sociedade. Atualmente, acredito que a maioria das pessoas devam concordar que para não repetirmos os erros do passado, não podemos recorrer à interpretações subjetivas, nem à interferência de supostos ajudantes sobrenaturais para decidir se um ato é certo ou errado, ou então para decidir se um réu é inocente ou culpado. Espera-se que apenas coisas materiais ou passíveis de estudo por parte do método científico sejam usadas como provas ou argumentos em um tribunal. Um juíz deveria julgar um caso baseando-se apenas em dados objetivos. Ou pelo menos, deveria ser assim em um mundo sério. Aquele que tomasse qualquer decisão baseando-se em princípios metafísicos ou sobrenaturais deveria ser suspenso do judiciário, como aconteceu ano passado com um juíz filipino que dizia tomar suas decisões consultando duendes Apesar deste parecer (para mim, ao menos) um princípio óbvio, aqui no Brasil temos alguns casos nos quais ele não foi respeitado. E tenho um grande receio que o problema aumente mais futuramente. Fiquei muito preocupado com uma declaração recente de um advogado dizendo que iria apresentar no tribunal uma carta psicografada pelos fantasmas dos pais da sua cliente, acusada de homicídio dos próprios pais, dizendo que perdoam a filha. Em princípio, parece (para mim, ao menos) ser uma coisa tão absurda que ninguém levaria à sério e que não teria como uma prova como esta ser aceita. Entretanto, esta não é a primeira vez que uma palhaçada dessas ocorre. Já houveram casos nos quais cartas escritas por fantasmas foram usadas como provas e absolveram um réu: 1) Em 1976, um jovem chamado Henrique Emmanuel Gregoris foi morto em uma brincadeira estúpida de roleta russa. Durante o julgamento, o juíz Orimar Pontes aceitou como prova uma psicografia supostamente feita pelo morto no qual ele dividia a responsabilidade pelo ocorrido. O réu foi absolvido. 2) No mesmo ano, foi morto Maurício Garcez Henrique por um tiro supostamente acidental efetuado por um amigo enquanto tentava sintonizar um rádio. O mesmo juíz absolveu o réu baseando-se em uma carta psicografada. 3) Em 1980, José Francisco Marcondes de Deus é acusado de matar sua esposa, a ex-miss Campo Grande. O fantasma dela intercede por meio de uma psicografia e faz com que ele seja absolvido. 4) Em 1982, um soldado da PM (Aparecido Andrade Branco) mata um Deputado Federal. O fantasma do político também intercede pelo réu. Mas desta vez, a assombração não é muito convincente e o réu é considerado culpado mesmo assim. 5) Em 2006, Lara Marques Barcelos, acusada de matar um tabelião com dois tiros na cabeça é ajudada pelo fantasma que depõe à seu favor no tribunal por meio de uma carta. Ela é absolvida.
Nos 5 casos já ocorridos, é assustador como em 4 deles, o juri concordou com aquilo que um suposto fantasma falava e absolveu o réu. É claro, as cartas psicografadas não eram as únicas provas apresentadas. Mas mesmo assim, considero isso alarmante. O mais impressionante é como um absurdo destes é aceito em um tribunal. Mesmo que o juíz imbecil acredite em espíritos, ele não deveria saber que isso jamais deveria ser aceito como prova? Afinal, se a hipótese de que espíritos não existem não passa pela cabeça do juíz, ao menos a hipótese de que o médium esteja mentindo ou de que o fantasma seja um impostor deveria passar! É claro que se uma coisa dessas for aceita, ela poderá ter um grande impacto no júri que nem sempre é composto por pessoas esclarecidas capazes de analizar objetivamente os fatos. Por isso, filtrar este tipo de coisa, deveria ser responsabilidade do juíz! Na verdade, eu considero bastante improvável que, na atualidade, uma carta psicografada seja aceita como prova. Mas é mesmo alarmante que um advogado chegue a pensar na possibilidade de usar uma estratégia dessas. É nessas horas que podemos ver a importância de coisas como a divulgação científica e a popularização do método científico. Se isso não ocorrer, talvez no futuro, nossos filhos sejam julgados em um tribunal baseando-se na posição de Júpiter no momento de seus nascimentos. Ou então, nossos netos podem passar pelo julgamento de um tribunal que baseie suas práticas no reconhecido e respeitado código jurídico presente no Malleus Malleficarum.