"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Avec élégance

Precisei conhecer Paris para descobrir que tem gente que odeia a cidade. Gente que foi, como eu, visitar e detestou – não volta e faz propaganda negativa. O comentário normalmente vem acompanhado do argumento: aquilo lá é muito decadente, credo. De velharia basta eu (ou minha esposa, marido, etc). Confesso que eu não entendia muito bem – mas passeando de forma crítica pelo Brasil consegui deixar mais clara, pelo menos para mim, a noção de decadência que esses turistas identificam por lá. Li uma vez uma entrevista da Sofia Coppolla dizendo que ela precisa sair dos Estados Unidos para ver o quanto é americana. Eu acho que precisei ir à Europa para ver a mesma coisa: o quanto nós somos americanos. Quando estive em Brasília fiquei impressionado com a beleza das quadras, dos comércios, letreiros bonitos, logomarcas vistosas, luzes piscando. Não existe mais botequim em Brasília – aqueles de pintura descascando, onde os porteiros comiam um PF de pé, bebendo cerveja. Agora tudo está moderno, tem letreiro vermelho e amarelo para todo lado, tudo muito profissional. Ir a Paris e andar nos bairros mais “normais” da cidade, longe da Champs Elysées, me deu a exata percepção dessa certa decadência de que falam certos turistas. As lojas de lá não tem essas fachadas à Las Vegas. Os comércios de serviço – cabeleireiro, imobiliária – esses não têm mesmo. A maior parte têm só o nome pintado na parede. Nem neon, nem placas retroiluminadas, nada. Só tinta. Bares e restaurantes seguem mais ou menos aquele padrão das brasseries – um neonzinho vermelho fajuto que facilita a identificação do lugar à noite. Quando muito. E o engraçado é que a existência ou ausência de uma fachada caprichada, por lá, não diz absolutamente nada sobre o refinamento e a importância do lugar. Basta dizer que as mais importantes boates de Paris, onde é quase impossível de entrar se você não estiver acompanhado de um certo Karl ou de uma certa Carla, sequer o nome na porta possuem. Jeitão de festa privê. Na rue des Canettes, um dos bares de vinhos mais conhecidos da cidade, o Chez George, tem a fachada mais degradée do mundo, com o nome pintado à mão. Lá dentro, jovens yuppies e gente de todas as partes do mundo dividem o balcão para conseguir sua tacinha de vinho. Um bar com aquele jeitão boêmio que, concordo, é meio decadente. Mas ao mesmo tempo…

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