"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CHAPÉUZINHO VERMELHO (politicamente correto)

Era uma vez uma jovem chamada Chapeuzinho Vermelho que vivia à beira de uma grande floresta com árvores e plantas exóticas num belo exemplo de integração entre utilização natural dos recursos e urbanização. Chapeuzinho Vermelho vivia com sua genitora, à qual ela tinha o hábito de chamar como "mãe". No entanto, a utilização deste termo não implicava que ela trataria com menos respeito outras pessoas com as quais ela não tivesse uma grande ligação biológica. Da mesma forma ela não pretendia denegrir ou menosprezar os valores tradicionais das estruturas familiares. De qualquer forma, Chapeuzinho insiste em registrar que lamenta se alguma destas impressões pejorativas possam ser deduzidas desta estória. Um dia, a Mãe de Chapeuzinho Vermelho pediu que ela transportasse uma cesta de frutas sem tratamento químico, e água mineral para a casa de sua avó. - "Mas, mãe, tal iniciativa não seria roubar o trabalho de pessoas sindicalizadas que lutaram anos a fio pelo direito de exercer sua atividade profissional na qualidade de transportadores?" A Mãe de Chapeuzinho garantiu-a que todas as formalidades já haviam sido providenciadas junto ao sindicato de transportadores e o formulário autorizando esta missão autônoma já estava devidamente carimbado. - "Mas, mãe, você não está me oprimindo com esta ordem?" A Mãe explicou-lhe que é impossível que uma mulher oprima outra mulher, posto que todas as mulheres são igualmente oprimidas por uma sociedade machista. - "Mas, mãe, não deveria ser o meu irmão, na sua condição de opressor, que deveria se encarregar desta tarefa no intuito de aprender a condição de oprimido?" A Mãe lembrou-lhe que seu irmão estava participando de uma passeata pelos direitos dos animais. Além disto, a tarefa em questão não poderia ser considerada uma típica tarefa feminina, mas sim uma atitude que visava o sentimento de comunhão e companheirismo entre mulheres. - "Mas, mãe, não estaríamos, então, oprimindo a Vovó, através da mensagem subliminar de que ela esteja velha demais para garantir sua própria subsistência?" A Mãe lhe assegurou que Vovó não estava doente nem incapacitada nos planos físico e mental, ainda que nenhuma destas condições implicassem considerar alguém inferior a pessoas ditas saudáveis. Convencida e segura de seus atos, Chapeuzinho Vermelho partiu pela floresta. Várias pessoas consideram a floresta um lugar perigoso, mas Chapeuzinho sabia que este tipo de medo irracional está baseado em paradigmas culturais impostos por uma sociedade patriarcal que encara a natureza como um conjunto de recursos a serem explorados, e, que, por esta razão, acredita que predadores naturais são adversários. Outras pessoas evitavam a floresta por medo de ladrões e de marginais, mas Chapeuzinho acreditava que, numa sociedade justa e não hierárquica, todas as pessoas poderiam exercer seu direito de viver segundo suas próprias regras, sem serem taxadas de "marginais". No caminho, Chapeuzinho passou por um lenhador e observou algumas flores; porém, momentos após, ela se viu frente a um lobo que lhe perguntou o que ela carregava na cesta. Chapeuzinho, lembrando-se que sua professora havia recomendado prudência quanto a estranhos que tentassem falar com ela, hesitou. No entanto, segura de si e consciente de sua sexualidade, decidiu responder ao lobo: - "Eu estou levando mantimentos saudáveis para a minha Avó num gesto de solidariedade." O lobo, então, comentou que não era seguro para uma menina passear pela floresta sozinha. - "Eu me sinto completamente ofendida pelo seu comentário sexista. Apesar disto eu decidi ignorá-lo por causa do seu status social de excluído. A pressão da sociedade é a verdadeira responsável pelo desenvolvimento deste seu ponto de vista alternativo. Agora, com licença, pois vou retomar o meu caminho". O lobo, provavelmente devido à sua condição de excluído, pôde adotar um pensamento não-linear, fora dos padrões ocidentais e da moral judaico-cristã, que o levou a utilizar um caminho alternativo para chegar antes de Chapeuzinho à casa da Vovó. Lá chegando, devorou (lato sensu) a Vovó, numa ação afirmativa de sua condição de predador desprovido de escrúpulos. Então, movido por noções rígidas e tradicionais de comportamento, o lobo vestiu a camisola da Vovó e deitou-se na cama, cobrindo moralisticamente todas as suas partes que poderiam denunciá-lo (anatomicamente falando). Chegando à casa da Vovó, Chapeuzinho sentenciou: - "Vovó, eu lhe trouxe um lanche gratuito para saudá-la em sua condição de sábia e madura matriarca!" O lobo respondeu suavemente: - "Venha cá, minha netinha para que eu possa te ver ..." - "Nossa! Vovó, que olhos grandes que você tem!" - "Você esquece que eu tenho certas deficiências visuais totalmente compatíveis com minha idade, apesar disto não afetar em nada minha capacidade ou qualificação como ser humano é válido para a sociedade." - "E Vovó, que nariz enorme você tem ..." - "Naturalmente, eu poderia ter mudado isto, mas resolvi não ceder às pressões sociais da estética e do consumismo." - "E Vovó, que dentes afiados você tem ..." Nisso, o lobo, não agüentando mais o proselitismo da discussão e numa típica reação de seu meio social, saltou da cama pegando Chapeuzinho, abrindo a bocarra... Chapeuzinho, reconhecendo o lobo, retorquiu: - "Eu creio que você está esquecendo de me pedir permissão para aumentar o nosso nível de intimidade." O lobo, surpreso, ficou sem ação e, neste momento, o lenhador entra pela porta agitando seu machado: - "Não se mexa!" - "O que você pensa que está fazendo?" Perguntou Chapeuzinho. "Se eu lhe deixo me ajudar agora, eu estarei expressando uma falta de confiança em mim mesma e em minhas capacidades - o que causaria uma tremenda falta de auto-estima que poderia se refletir inclusive no meu desempenho escolar." Porém, o lenhador não se intimida e responde: -"Última chance baby, afaste-se desta espécie protegida, eu sou um agente credenciado do IBAMA". Como Chapeuzinho não considerou fundamentada a imposição imperialista e policial, o lenhador, num movimento seco, deu uma machadada certeira na contraventora. - "Ainda bem que você chegou a tempo!" - disse o lobo aliviado. - "Esta jovem e sua Avó haviam me capturado nesta ideologia de violência". - "Não." - diz o lenhador - "A verdadeira vítima aqui sou eu, que tive que lidar com minha raiva profunda e encarar de frente todos os meus fantasmas. E ainda vou ter que lidar com o imenso trauma de ter tido contato com uma parte violenta da minha essência, para a qual minha formação pessoal não estava preparada a enfrentar". - "Eu sinto sua dor", condescendeu o lobo. E os dois se abraçaram fraternalmente.

sábado, 19 de setembro de 2009

O líder que pensa

O líder que pensa Se liderança já é um tema difícil de escrever, imagine exercê-la. O trabalho de um líder é semelhante ao de um pai, que deseja que seu filho estude, se desenvolva, aprenda a vencer obstáculos, que se mantenha motivado e cheio de energia. E, assim como o comportamento do filho sofre constantes mudanças, a do liderado, ou da equipe, também. Poderíamos falar horas e horas sobre liderança, porém, neste artigo, vou tratar de um aspecto objetivo e simples da liderança: as atitudes do líder. Muitos líderes pensam que há duas partes bem definidas na organização: o líder e os liderados. Engano puro. Um está constantemente influenciando o outro por meio de gestos e idéias. Podemos dizer que os dois se misturam, querendo ou não. Já ouviu dizer que a empresa tem a cara do chefe? Motivo este que a probabilidade de um filho se tornar fumante quando o pai é, torna-se muito maior do que se o pai não for adepto do tabaco - mesmo quando o filho é adotivo, deixando de lado os aspectos genéticos. O “líder que pensa” é aquele que não age apenas por instinto. Todo o tempo ele envia estímulos para a equipe. É aquele que sabe que a prática do exemplo é muito mais eficaz que a teoria. Não faz nenhum sentido pedir que a equipe chegue às 9h, se o líder chega às 10h30. O psicólogo americano Frederick Herzberg fez uma pesquisa para descobrir o que motiva e o que desmotiva uma pessoa. Neste estudo, que resultou em sua teoria motivação-higiene, o termo "reconhecimento" ficou em segundo lugar nos fatores que levam à extrema satisfação. Infelizmente o que mais vemos nas organizações são líderes que só param o que estão fazendo para punir um membro da equipe, e só se lembram de reconhecê-los na reunião de metas do fim do mês. O “líder que pensa” premia e elogia a equipe sempre que se fazem merecedores. No começo, no meio ou no fim do dia. Quantas vezes forem necessárias. Quando reforçamos um bom comportamento, aumentamos a probabilidade do mesmo ocorrer. Lembre-se: o que é dito é facilmente esquecido. O que é feito é aprendido. O “líder que pensa” age de forma consciente, produz estímulos deliberados e se preocupa muito mais com o bem-estar e a satisfação da equipe, do que com a punição. Um 'líder que pensa' ganha autoridade por mérito e não por imposição e, assim, é tratado como todo pai gostaria: com admiração e respeito.

OS DEZ MANDAMENTOS PARA UM “CHEFE” DESTRUIR A EMPRESA SEM FAZER FORÇA

Apresento a seguir dez mandamentos importantíssimos para um chefe destruir a empresa sem fazer força: 1ª LEI – A CENTRAL DE CENTRALIZAÇÃO Você é um chefe e está atrás desta mesa enorme não é à toa. Você tem que ficar sentado aí o dia inteiro. Os outros é que devem vir até você... Arme-se logo contra os espertinhos independentes... Crie a Central de Centralização, ou seja, a sua própria mesa. Tudo deve passar por você. Não deixe nada de fora. Afinal, essa é a sua função. Crie o “Você Decide” na sua empresa, onde todos têm que ligar para o seu número telefônico e pedir autorização. Não deixe escapar nada, nem mesmo se algum funcionário deve receber vale-transporte para ônibus, metrô ou bicicleta. Controle tudo. 2ª LEI – A INTELIGÊNCIA BURRA Valorize sempre os funcionários “puxa-saco”. Aqueles que fazem tudo aquilo que você manda, do jeito que você manda. Bom funcionário é aquele que faz exatamente o que você quer. 3ª LEI – A COMUNICAÇÃO A comunicação é sua fonte do poder e de mais ninguém. Um chefe sabe muito bem que quanto mais explicar como funcionam as coisas, menos os funcionários entenderão. Quanto mais se explica, mais desconfiados eles ficarão, mais facilmente sabotarão as suas idéias, mais rapidamente darão risadas pelas suas costas. Ora, você é um excelente chefe, então por que tolerar isso? Os seus funcionários não têm e nunca vão ter capacidade para entender os detalhes técnicos ou gerenciais. Isto vale dizer que quanto menos você se expor e menos falar, mais eles vão trabalhar e produzir. 4ª LEI – O CLIENTE EM PENÚLTIMO LUGAR “Cliente tem sempre razão” desde que concorde com suas idéias. Adote esse pensamento. Essa história de ficar preocupado com aquilo que o cliente deseja é pura tolice. O cliente nunca sabe o que quer, sempre causa transtorno, reclama de tudo sem razão alguma, cria sempre problemas de toda ordem. Portanto, em vez de gastar tempo e dinheiro procurando saber o que ele deseja, faça aquilo que for mais interessante para a sua administração. O Cliente não entende do seu negócio. É um leigo. Não sabe nada de Gestão e só dá opinião errada. Você tem sempre razão e uma desculpa pronta para dar em diversos idiomas. 5ª LEI – O FUNCIONÁRIO EM ÚLTIMO LUGAR Um chefe que se preze tem a obrigação de valorizar o funcionário. Depois, é claro, de ter valorizado todo o resto. Colocar o funcionário como prioridade só traz despesas extras. O importante são os processos. Os funcionários têm que se adaptar a sua realidade. Não se preocupe em formar equipes ou times competentes e comprometidos com a sua Empresa. Ninguém dura para sempre. 6ª LEI – CRIATIVIDADE Para uma empresa funcionar cada vez melhor e produzir cada vez mais, o chefe deve investir em criar atividades. Criar cada vez mais atividades para seus funcionários, a fim de não deixá-los um minuto sequer ociosos. Faça-os controlar o consumo de clips, canetas, borracha, lápis, papel, envelopes e xerox no setor. Exija um relatório mensal dos produtos consumidos e um “Business Plan” anual de consumo. Com essas tarefas sendo criadas, você verá a produtividade aumentar estrondosamente. 7ª LEI – SOLUÇÃO DE CONFLITOS Conflitos sempre existirão. Então por que perder tempo para resolvê-los? Os conflitos devem ser ignorados. Um bom chefe não pode perder tempo, produtividade e dinheiro com pequenos detalhes. Afinal, em cada conflito os funcionários sempre passam a defender um dos lados e transformam um desentendimento sem importância em uma comoção descontrolada. E além disso, os conflitos sempre criam fofocas e boatos que facilitam as condições e os relacionamentos de trabalho. Quando os conflitos aparecerem, faça de conta que eles não existem. Seu tempo é precioso demais para isso. 8ª LEI – POLÍTICA SALARIAL Mostre aos seus funcionários o custo total de despesas com pessoal. Comece a reformular a política salarial da sua empresa: corte os Vale-Transporte – caminhar faz bem à saúde. Essa decisão é importantíssima. Contenção de despesas começa com os salários e benefícios. Não esqueça de mostrar o quanto a empresa gasta com contribuições para o governo. E se algum funcionário engraçadinho pedir aumento de salário, demita-o. 9ª LEI – MOSTRAR RESPEITO Cada pessoa que trabalha para você é um indivíduo. Por isso eles não precisam de elogios Precisam de críticas para trabalhar mais e mais. As pessoas gostam de ouvir que elas não estão trabalhando direito, isso incentiva mais o trabalho. Critique tudo e todos. 10ª LEI – AUTORIDADE Os funcionários precisam de certa autoridade para realizar o seu trabalho. Eles precisam saber que é você que manda. Crie um clima de tensão. Assim eles vão trabalhar mais e não vão ficar passeando pelos corredores ou setores vizinhos. Se você pegar algum funcionário fora do seu setor de trabalho dê uma suspensão de 10 dias. Sua autoridade é poder. Se você se encaixou em algum desses mandamentos é hora de começar a mudar o seu estilo gerencial. Lembre-se: é com o chefe que as pessoas convivem no dia-a-dia. Chefes que sabem liderar pessoas são peças importantíssimas para um ambiente de trabalho estimulante, saudável e criativo. Ao contrário, chefes despreparados para lidar com pessoas perdem em produtividade, criatividade e, conseqüentemente, em resultados. É o chefe que orienta as pessoas, ou, desorienta. É o chefe que as ajuda a crescer ou a estagnar. O chefe tem o poder de melhorar, ou piorar, sensivelmente, a vida de seus subordinados. Depende dele, em grande parte, os aumentos, promoções, oportunidades e o avanço profissional de todos os que a ele se reportam. Se o chefe souber lidar com as pessoas, for competente, orientar e aproveitar o que elas têm de melhor, for líder e justo, os subordinados vão gostar cada vez mais da empresa. Mas, se o chefe for autoritário, desmotivador, não souber estimular e se não tiver as qualidades profissionais e humanas básicas, as pessoas vão deixar a empresa na primeira oportunidade. Por fim, algo que faz toda a diferença: um bom chefe é a alma do negócio, pois ele define, inspira e impregna o ambiente de trabalho.

Você sabe se comportar no trabalho?

No convívio diário com os colegas de trabalho, é comum que as pessoas sintam-se mais à vontade e em alguns casos até se esquecem de que estão em um ambiente que "teoricamente" requer certa formalidade. O resultado é que alguns profissionais levam o "costume de casa" para a empresa e isso pode prejudicar a imagem do colaborador junto ao gestor e aos próprios pares. Confira abaixo algumas dicas sobre etiqueta profissional que podem ser adotadas por qualquer pessoa. 1. Porta aberta - Mesmo que você tenha proximidade com o colega de trabalho e a porta da sala dele esteja entreaberta, não custa dar aquela "batidinha". 2. O telefone - Ao entrar na sala, se a pessoa estiver ao telefone volte e espere alguns minutos. Pode ser que seu colega precise de um pouco de privacidade naquele momento. 3. A ligação - Quando alguém estiver ao telefone, evite falar alto e próximo à pessoa, pois do outro lado da linha pode estar até mesmo um cliente da empresa. 4. O celular - Quando seu celular tocar, o ideal é atendê-lo fora da sala. Lembre-se que toques altos e "exagerados" chamam a atenção. 5. Quebra do gelo - Expressões com: "Bom dia!", "Olá, tudo bem?", "Bom final de semana!" são sempre bem-vindas e muitas vezes quebram o gelo do ambiente. 6. Uma conversa - No ambiente de trabalho é fundamental trocar ideias com os colegas. Quando estiver em uma conversa, preste atenção, seja um bom ouvinte e olhe diretamente para a pessoa. No momento oportuno, faça suas colocações, mas não atropele o processo de comunicação de forma "bruta". 7. O pega-pega - Imagine a seguinte cena: você está na sua sala e um outro funcionário chega. Ao falar, já pega em seus ombros, dá aquelas terríveis "empurradinhas" como se estivesse em um campo de futebol. Não faça parte do clube dos "pega-pega". Mantenha uma distância razoável e evite gesticular exageradamente. 8. Qual é a música? - Para muitas pessoas, ouvir música é uma forma de relaxar e há quem adore um som agradável enquanto trabalha. Usar o fone de ouvido é perfeito para não incomodar os colegas. 9. Brincadeira tem hora - O ambiente de trabalho descontraído melhora o astral de qualquer pessoa. No entanto, cuidado para não brincar com o colega no momento errado. Se ele estiver muito concentrado em uma atividade, não o interrompa para contar uma piada, por exemplo. 10. Lixo no lixo - Como é bom trabalhar em um local limpo. Mas, isso não depende apenas do profissional responsável pela limpeza. Você precisa fazer a sua parte. Bolinhas de papel devem ir para o lixo. Se você errou o alvo, não custa pegar o papel e colocá-lo no cesto. Isso também vale para quem usa o toalete.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Aborto: Uma Visão antropológica

A espinhosa questão do aborto voluntário que nos últimos anos adquiriu uma amplitude descomunal, até converter-se em uma das questões mais urgentes nas sociedades ocidentais, pode ser proposta de diversas maneiras. Entre os que consideram a inconveniência ou ilicitude do aborto, a posição mais freqüente é a religiosa. Sem dúvida que, para os cristãos (às vezes, de maneira mais estreita, para os católicos), o aborto pode ser ilícito mas não se pode impor a uma sociedade inteira uma moral “particular”. Quer dizer, os argumentos fundados na fé religiosa não são válidos para os não crentes. Raramente se investiga se os argumentos assim propostos, ainda que procedendo de uma maneira cristã de ver a realidade, não têm força de convicção inclusive prescindindo dessa origem; o fato é que todos os que não participam dessa crença os repudiam e consideram que não lhes podem levar em conta. E os fatos devem ser considerados. Há outra posição que pretende ter validade universal, que é a científica. As razões biológicas, concretamente genéticas, são tidas como demonstráveis, inteiramente fidedignas, conclusivas para todos. Certamente essas razões têm valor muito alto, e devem ser levadas em conta, mas suas provas não são acessíveis à imensa maioria dos homens e mulheres, que as admitem por fé (isto é, por fé na ciência, pela validade que ela tem no mundo atual). Há outro fator que me parece mais grave a respeito da posição científica da questão: depende do estado atual da ciência biológica, dos resultados da mais recente e avançada investigação. Quero dizer que o que hoje se sabe, não se sabia antes. Os argumentos dos biólogos e geneticistas, válidos para o que conhece estas disciplinas e para os que participam da confiança nelas, não foram válidos para os homens e mulheres de outros tempos, inclusive muito recentemente. Creio que faz falta uma posição elementar, ligada à mera condição humana, acessível a todos, independente de conhecimentos científicos ou teológicos que poucos possuem. É forçoso propor uma questão tão importante, de conseqüências práticas decisivas, que afeta a milhões de pessoas e à possibilidade de vida de milhões de crianças que nascerão ou deixarão de nascer, de uma maneira evidente, imediata, fundada no que todos vivem e entendem sem interposição de teorias (que às vezes impedem a visão direta e provocam desorientação). Esta visão não pode ser outra senão a antropológica, fundada na mera realidade do homem tal como se vê, se vive, se compreende a si mesmo. Temos, pois, de tentar retroceder ao mais elementar, que não tem pressupostos de nenhuma ciência ou doutrina, que apela unicamente à evidência e não pede mais que uma coisa: abrir os olhos e não colocar-se de costas para a realidade. Trata-se da distinção decisiva entre coisa e pessoa. Bem, dito assim pode parecer coisa de doutrina. Por verdadeira e justificável que seja, evitemo-la. Limitemo-nos a algo que faz parte de nossa vida mais elementar e espontânea: o uso da língua. Todo mundo, em todas as línguas que conheço, distingue, sem a menor possibilidade de confusão, entre que e quem, algo e alguém, nada e ninguém. Se entro em uma casa onde não há nenhuma pessoa, direi: “não há ninguém”, mas não me ocorrerá dizer: “não há nada”, porque pode estar cheia de móveis, livros, lustres, quadros. Se se ouve um grande ruído estranho, me alarmarei e perguntarei: “O que é isso?”. Mas se ouço batidas na porta, nunca perguntarei “o que é?” mas sim “quem é?”. Apesar disso, a ciência e mesmo a filosofia estão há dois milênios e meio fazendo a pergunta: “Que é o homem?”, com a qual pelo menos derrubaram a estrutura de uma resposta errada, porque só de maneira muito secundária é o homem um “que”; a pergunta certa e pertinente seria: “Quem é o homem?”, ou, com mais rigor e adequação: “Quem sou eu?”. Claro, “eu” ou “tu”, ou “ele” sempre que se entenda de maneira inequivocamente pessoal. É significativo que os pronomes de primeira e segunda pessoa (eu, tu) têm somente uma forma, sem distinção de gênero, enquanto que o da terceira pessoa admite essa distinção, e inclusive com dois gêneros (ele, ela). Quem fala e a quem se fala são realidades imediatas e pessoas, e seu gênero é evidente na ação mesma, mas não é assim quando se fala de alguém no presente (e, ademais, se pode falar de algo). O que isso tem a ver com o aborto? O que me interessa aqui é ver o que é, em que consiste, qual é a sua realidade. O nascimento de uma criança é uma radical inovação de realidade: a aparição de uma realidade nova. Dirão talvez que não é propriamente nova, uma vez que se deriva ou vem de seus pais. Direi que é verdade e muito mais: dos pais, dos avós, de todos os antepassados; e também do oxigênio, nitrogênio, hidrogênio, carbono, cálcio, fósforo e todos os demais elementos que intervêm na composição de seu organismo. O corpo, o psíquico, até o caráter vem daí e não é algo rigorosamente novo. Diremos que o que a criança é se deriva de tudo isso que enumeramos, é reduzível a isso. É uma “coisa”, certamente animada e não inerte, diferente de todas as demais, em muitos sentidos única, mas uma coisa. Desse ponto de vista, sua destruição é irreparável, como quando se quebra uma peça que é exemplar único. Todavia, isso não é o importante. O que é a criança pode “reduzir-se” a seus pais e ao mundo; mas a criança não é o que é. É alguém. Não um que, mas um quem, alguém a quem se diz tu, que dirá no momento certo, dentro de algum tempo, eu. E este quem é irreduzível a tudo e a todos, aos elementos químicos e a seus pais, e a Deus mesmo, se pensarmos nele. Ao dizer “eu”, enfrenta-se com todo o universo, contrapõe-se polarmente a tudo o que não é ele, a tudo o mais (incluindo, claro, o que é). É um terceiro absolutamente novo, que se soma ao pai e à mãe. E é tão distinto do que é, que dois gêmeos univitelinos, biologicamente indiscerníveis e que podemos supor “idênticos”, são absolutamente distintos entre si e a cada um dos demais; são, sem a menor sombra de dúvida, “eu” e “tu”. Quando se diz que o feto é “parte” do corpo da mãe, se diz uma grande falsidade, porque não é parte: está alojado nela, melhor ainda, implantado nela (nela e não meramente em seu corpo). Uma mulher dirá: “estou grávida”, nunca “meu corpo está grávido”. É um assunto pessoal por parte da mãe. Ademais, e sobretudo, a questão não se reduz ao que, senão a esse quem, a esse terceiro que vem e que fará com que sejam três os que antes eram dois. Para que isto seja mais claro ainda, pensemos na morte. Quando alguém morre, nos deixa sós; éramos dois e agora não há mais que um. Inversamente, quando alguém nasce, há três em vez de dois (ou, se for o caso, dois em vez de um). Isto é o que se vive de maneira imediata, o que se impõe à evidência sem teorias, o que refletem os usos da linguagem. Uma mulher diz: “vou ter um filho”; não diz: “tenho um tumor”. (Quando uma mulher acredita estar grávida e verifica que o que tem é um tumor, sua surpresa é tal que mostra até que ponto se trata de realidades radicalmente diferentes). A criança não nascida ainda é uma realidade vindoura, que chegará se não a pararmos, se não a matarmos no caminho. Mas se investigarmos bem as coisas, isso não é exclusivo da criança antes do nascimento: o homem é sempre uma realidade vindoura, que vai se fazendo e realizando, alguém sempre inconcluso, um projeto inacabado, um argumento que tende a uma solução. E se dissermos que o feto não é um “quem” porque não tem uma vida “pessoal”, então teríamos que dizer o mesmo da criança já nascida durante muitos meses (e do homem durante o sono profundo, da anestesia, da arteriosclerose avançada, da extrema senilidade, sem dizer do estado de coma). Às vezes lançam mão de uma expressão de refinada hipocrisia para denomiar o aborto provocado; dizem que é a “interrupção da gravidez”. Os partidários da pena de morte teriam suas dificuldades resolvidas: para que falar de tal pena, de tal morte? A forca ou o garrote podem chamar-se “interrupção da respiração” (e basta um par de minutos); já não há mais problema. Quando provoca-se o aborto ou enforca-se alguém, não se interrompe a gravidez ou a respiração; em ambos os casos mata-se alguém. E, claro, é uma hipocrisia ainda maior considerar que há diferença em que lugar do caminho se encontra a criança, a que distância em semanas ou meses dessa etapa da vida que se chama nascimento será surpreendida pela morte. Consideremos outro aspecto da questão. Com freqüência se afirma a licitude do aborto quando se julga que provavelmente aquele que vai nascer (ou que iria nascer) seria anormal, física ou psiquicamente. Mas isso implica que o que é anormal não deve viver, já que essa condição não é provável, senão segura. E teríamos de estender a mesma norma ao que chega a ser anormal por acidente, enfermidade ou velhice. Se temos tal convicção, então temos de sustentá-la com todas as suas conseqüências. Esta situação não é nova; já foi aplicada, e com grande amplitude, na Alemanha hitlerista, há meio século, com o nome de eugenia prática. O que me interessa é entender o que é aborto. Com incrível freqüência mascara-se sua realidade com seus fins. Quero dizer que tentam identificar o aborto com certos propósitos que pareçam valiosos, convenientes ou pelo menos aceitáveis: por exemplo, o controle populacional, o bem-estar dos pais, a situação da mãe solteira, as dificuldades econômicas, a conveniência de dispor de tempo livre, a melhoria da raça. Poder-se-ia investigar em cada caso a veracidade ou a justificação desses mesmos fins (por exemplo, foi feita uma campanha abortista em uma região da América do Sul de 144.000 quilômetros quadrados de extensão e 25.000 habitantes, isto é, despovoada). Mas o que quero mostrar é que esses fins não são o aborto. O correto seria dizer: para isso (para conseguir isso ou aquilo) deve-se matar tais pessoas. Isto é o que se propõe, o que em tantos casos se faz em muitos países na época em que vivemos. Esta é a significação antropológica dessa palavra tão usada e abusada, que se escreve mais vezes em um só dia do que em qualquer outra época em um ano. E mais uma prova de como se pensa o tema do aborto, eliminando arbitrariamente a condição pessoal do homem, o caráter de quem se fala, é que em muitas legislações sobre o assunto – sem irmos mais longe, a que se propõe atualmente na Espanha – se prescinde inteiramente do pai. Atribui-se a decisão exclusivamente à mãe (a palavra não parece inteiramente apropriada, seria mais adequado falar da fêmea grávida), sem que o pai tenha nada a dizer. Isto é, mesmo no caso em que o pai seja perfeitamente conhecido e legítimo, por exemplo, se se trata de uma mulher casada, é ela e somente ela é quem decide, e se sua decisão é abortar, o pai não pode fazer nada para que não matem a seu filho. Isto, claro, não se diz assim; tende-se a não dizê-lo, a passar por alto, para que não se advirta o que significa. Em uma época em que se fala tanto da “mulher objeto” – não sei se alguma vez chegou a ser assim; suspeito que sempre a viram como “sujeito” (ou “sujeita”) –, um caminho foi aberto na mente de inúmeras pessoas a interpretação da criança-objeto, da criança-tumor, que se pode extirpar como um crescimento nojento. Trata-se de obliterar literalmente o caráter pessoal do humano. Para isso fala-se do “direito de dispor do próprio corpo”. Mas, além da criança não ser o corpo do mãe, senão que é alguém corporalmente implantado na realidade corporal de sua mãe, é que esse suposto direito não existe. A ninguém se permite a mutilação: se eu quero cortar minha mão num golpe só, os outros, e em última instância o poder público, me impedirão; sem falar no caso de querer cortar a mão de outrem, mesmo com seu consentimento. E se quero me atirar da janela ou de um terraço, a polícia e os bombeiros acudir-me-ão e pela força me impedem de realizar esse ato, do qual me pedirão explicações. O núcleo da questão é a negação do caráter pessoal do homem. Por isso oculta-se a paternidade; por isso reduz-se a maternidade ao estado de suportar um crescimento intruso que pode ser eliminado. Descarta-se todo uso possível do quem, dos pronomes tu e eu. Tão logo apareçam, toda o castelo erguido para justificar o aborto rui como uma monstruosidade. Por acaso não se trata precisamente disso? Não estará em curso um processo de despersonalização, isto é, de desumanização do homem e da mulher, as duas formas irredutíveis, mutuamente necessárias em que se realiza a vida humana? Se as relações de maternidade e paternidade forem abolidas, se a relação entre os pais for reduzida a uma mera função biológica sem duração para além do ato de geração, sem nenhuma significação pessoal entre as três pessoas implicadas, que ocorre de humano em tudo isso? E se isso se impõe e se generaliza, se em fins do século XX a humanidade vive de acordo com esses princípios, não estará comprometida, quem sabe até quando, essa mesma condição humana? Por isso me parece que a aceitação social do aborto é, sem exceção, o que de mais grave tem acontecido neste século que se inicia.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Arqueologia da Cultura Ocidental

O filósofo Michel Foucault, historiador das idéias, num ensaio famoso, procurando as raízes primeiras do conhecimento moderno, praticou um exercício que denominou de L'archeologie du savoir, a ‘arqueologia do saber’, identificando no Renascimento as fontes originais das ciências sociais como hoje elas são conhecidas. Se algum outro se atrevesse a uma escavação ainda mais profunda e ampla, buscando os umbrais da cultura ocidental, o que ele encontraria? Em qual arquivo arcaico estariam as provas e as pistas mais remotas das facetas desta cultura que ganhou o mundo? As grandes etapas culturais Em primeiro lugar, antes da procura pelas pistas mais remotas, é interessante observar que a cultura ocidental, ao longo dos seus três mil anos de existência, passou por três grandes fases, ou Períodos, muito distintos entre si: o do Paganismo, o do Cristianismo e o do Iluminismo, sob o qual vivemos no presente. O Paganismo: a) Tem, em sua primeira etapa, partindo-se do ano mil a.C., como ponto irradiador, a cidade de Atenas (desde o período Clássico), situada na Grécia continental e, depois, a cidade de Alexandria (até ser submetida a Roma no século I a.C.), localizada na margem mediterrânea do Egito. b) A sua segunda fase concentra-se na cidade de Roma, tornada império, até a conversão de Constantino, em 313. O Cristianismo: a) Em sua primeira fase, dividiu-se entre Roma e Constantinopla, tendo ambas a cidade de Jerusalém como força simbólica inspiradora. O livro guia torna-se a Bíblia. b) Com a divisão da Igreja Cristã (1054), em Igreja Ortodoxa (ou Bizantina) e Igreja Católica, Roma assume a função absoluta de capital da cristandade ocidental, enquanto Bizâncio e, depois Moscou, assumem a representação oriental do cristianismo. c) A partir do século XIV, a cidade de Florença ocupa o lugar de Roma como centro irradiador da cultura ocidental. Na Europa do norte este papel passa a ser exercido por Paris. O Iluminismo: a) Superando a longa fase do cristianismo, o Movimento Iluminista, no século XVIII, tem seu epicentro concentrado entre Paris e Londres, capitais que passam a liderar o desenvolvimento científico e a laicização da sociedade em geral, emancipando a cultura ocidental da influência das igrejas cristãs, acelerada desde a Revolução Francesa de 1789. b) Com o declínio da Europa, ao longo do século XX, o centro dinâmico, a partir de 1945, torna-se os Estados Unidos da América. A Gênese do Ocidente Nesta busca pela gênese da cultura ocidental, certamente poucos discordariam de que sua origem mais remota encontra-se na bacia do Mar Egeu, área situada no Mediterrâneo Oriental, entre a Europa Oriental e a Ásia Menor. Por igual, não rejeitariam a conclusão de que os três principais elementos constitutivos dela encontram-se na Grécia Antiga. Numa ordem de importância, o primeiro destes elementos certamente foi o surgimento da escrita, no século IX a.C., com a adoção do alfabeto grego, derivado do fenício, ao qual os seguidores de Zeus apenas tiveram o trabalho de acrescentar as vogais (‘alfa’, ‘épsilon’, ‘iota’. ‘ômicron’, ‘upsilon’, num total de 27 letras). O segundo destes elementos pode ser atribuído à arquitetura cretense, mais precisamente ao Palácio de Cnossos, do mitológico rei Minos de Creta, erguido ao redor do século XIX a.C., que teria servido como parâmetro para a maioria das construções palacianas feitas pelos gregos ao longo da sua história. As escavações em Micenas mostraram que o reino de Agamemnon seguia as mesmas diretrizes estilísticas do fabuloso Minos, não se duvidando que a influência cretense tenha se estendido por grande parte da Grécia continental. Creta também foi a principal usina dos mitos gregos, a começar pela lenda do rei Minos (filho de Zeus e de Europa, princesa fenícia raptada pelo deus grego), que engendrou o Minotauro e a tauromaquia, que séculos depois iria ressurgir nas touradas da península Ibérica. A façanha do fortíssimo Teseu, príncipe de Atenas, percorrendo o labirinto palaciano de Cnossos com o auxílio do fio de Ariadne para matar o feroz touro, já foi indicativa de que a cultura da Grécia continental começava a superar à da Grécia insular. O terceiro em importância certamente foi o legado de Homero com seus dois enormes poemas épicos, com quase 28 mil versos, a ‘Ilíada’ e a ‘Odisseia’, que teriam sido escritos ao redor do século VIII a.C.. Inspirando-se nestas duas obras é que a maioria dos poetas ocidentais, direta ou indiretamente, formularam seus versos. Uma linhagem que vem desde Virgílio, passando por Dante, Tasso e Camões, chegando, quase três mil anos depois, ao Ulisses de James Joyce e ao ‘Omeros’ de Derek Walcott, poema publicado em 1990, no qual ressurgem, em pleno mar do Caribe, os personagens de Aquiles, Heitor, Filoctetes e Helena. Ramificações Da escrita grega original, a arcado-cipriota, subdividida entre o alfabeto calcídico, ou ocidental, e o alfabeto jônico, ou oriental, originaram-se duas outras escritas que fariam história: o latim e o russo. O alfabeto latino certamente derivou do grego ocidental por força da presença das colônias helênicas que se espalharam pelo sul da Itália (Magna Grécia) e pela ilha da Sicília, enquanto o russo derivou da ação do monge bizantino Cirilo, o introdutor do cristianismo na Rússia, no século IX (alfabeto, com 43 letras, que se difundiu para os povos como o mongol, o cazaque, o uzbeque, o quirguiz e o tadjique, entre outros da Europa Oriental, do Cáucaso e da Sibéria). O alfabeto latino, por sua vez, graças às conquistas do Império Romano, terminou sendo adotado tanto pelas nações celtas como pelos povos germânicos da Europa central que conheceram a ocupação direta das legiões, expandindo-se, daí, para a Inglaterra e Escandinávia. Como efeito direto disto, surgiram então os idiomas neolatinos (português, espanhol, italiano, francês, romeno e catalão). O sucesso do alfabeto grego e a facilidade do seu aprendizado e difusão deveram-se ao fato de ele derivar dos interesses comerciais (o fenício, seu criador, era o mais renomado negociante da Antiguidade) e não da casta sacerdotal ou da burocracia real, como foi o caso dos hieróglifos egípcios ou das antigas escritas cuneiformes dos sumérios. A simplificação e a funcionalidade dele impulsionaram a alfabetização de uma parte considerável da população grega, que muito fez pela ilustração geral da população da Hélade. O Palácio de Cnossos, com algumas alterações, prestou-se como arquétipo dos edifícios públicos da Grécia Antiga, todos sustentados por colunas, como a morada de Minos. O tipo de pintura mural interna por igual se viu repetida nos demais palácios e mesmo nos templos consagrados aos deuses olímpicos e outros edifícios públicos de relevo. A Geografia da Cultura Ocidental Partindo-se por primeiro da Bacia do Mar Egeu, dividido em sua formação insular (Creta) e outra continental (a Ática e o Peloponeso), gerando a cultura grega (subdividida em fase heroica, arcaica, clássica e helenística) – que se tornou a maior matriz inspiradora – alcança-se, em seguida, a Itália onde se desenvolveu a cultura romana (que herdou, entre outras coisas, o alfabeto, a mitologia, a filosofia e a estética grega). Num outro momento, devido à expansão do Império Romano por largas partes da Europa celta e germânica, entre os séculos II a.C. e IV, alargou-se o círculo da cultura ocidental, englobando as regiões da Ibéria (Espanha-Portugal), da Gália (França), da Germânia (Alemanha Ocidental) e da Bretanha (Inglaterra). Com as invasões germânicas dos séculos IV-VI, povos bárbaros, que viviam afastados da influência ocidental (Alamanos, Bávaros, Godos, Suevos, Vândalos, Burgúndios, Francos, Lombardos, Anglo-Saxões, Teutões) se converteram aos valores do Ocidente (o uso do latim ou do alfabeto latino e a adesão à religião cristã). Expansão pelo ultramar Esta situação se estendeu por mil anos até que se deram os Grandes Descobrimentos, a partir do final do século XV, ocasião em que a cultura ocidental (principalmente a ibérica e a anglo-saxã) lançou raízes no Novo Mundo, agregando a si as Américas numa primeira etapa da Globalização. O passo seguinte desta propagação ocorreu na época do Imperialismo Colonialista, quando extensas regiões da África, da Ásia e da Oceania caíram sob o controle de metrópoles ocidentais (Grã-Bretanha, França, Bélgica, Holanda, Itália). Métodos administrativos e organização do estado se somaram à adesão dos nativos aos idiomas ocidentais. A esta altura, a cultura ocidental se fazia presente nos três grandes países da Ásia (Índia, China e Japão). Com as duas Guerras Mundiais, a de 1914-18 e a de 1939-45, que abalaram profundamente a hegemonia europeia sobre o planeta, os Estados Unidos e a Rússia (semiconvertida ao ideário ocidental desde Pedro o Grande), assumiram a liderança mundial, ofuscando gradativamente a importância da Europa Ocidental. Na etapa em que se vive presentemente, o processo de Globalização se intensificou com a ampliação do capitalismo ocidental, que lançou uma rede ao redor do mundo, colhendo em suas mãos todos os oceanos e mares, assim como as principais terras habitáveis do planeta (tendo o dólar e o euro como seu lastro), seguida da conversão aos regimes políticos identificados com o Iluminismo (republicanos e democráticos), sob a hegemonia mundial do idioma inglês. Avançando neste processo de integração geral, cada vez mais acelerada da humanidade, é bem possível que algum dia alcancemos a ‘unidade das civilizações’. O que permitirá com que as 21 civilizações classificadas por A.Toynbee no seu famoso Estudo (compostas hoje por 192 estados, 5 grandes religiões e 6.700 línguas), se fundam definitivamente numa só em algum momento do porvir da história. Bibliografia Abbagnano, Nicola – História da Filosofia. Lisboa. Editorial Presença, 1969. 14 v. Carpeaux, Otto M. – História da Literatura Ocidental. 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