"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

sábado, 16 de abril de 2011

AINDA A PROPÓSITO DE JAIR BOLSONARO

Imaginem a seguinte cena: em campanha eleitoral, o deputado Jair Bolsonaro está no estúdio de uma emissora de televisão na cidade de Pelotas. Enquanto espera a vez de entrar no ar, ajeita a gravata de um amigo. Eles não sabem que estão sendo filmados. Bolsonaro diz: "Pelotas é um pólo exportador, não é? Pólo exportador de veados..." E ri.
A cena existiu, mas com outros personagens. O autor da piada boçal foi Lula, e o amigo da gravata torta, Fernando Marroni, ex-prefeito de Pelotas. Agora, imaginem a gritaria dos linchadores "do bem", da patrulha dos "progressistas", da turma dos que recortam a liberdade em nome de outro mundo possível... Mas era Lula!
Então muita gente o defendeu para negar munição à direita. Assim estamos: não importa o que se pensa, o que se diz e o que se faz, mas quem pensa, quem diz e quem faz. Décadas de ditaduras e governos autoritários atrasaram o enraizamento de uma genuína cultura de liberdade e democracia entre nós.
Nosso apego à liberdade e à democracia e nosso entendimento sobre o que significam liberdade e democracia são duramente postos à prova quando nos deparamos com a intolerância. Nossa capacidade de tolerar os intolerantes é que dá a medida do nosso comprometimento para valer com a liberdade e a democracia.
Linchar Bolsonaro é fácil. Ele é um símbolo, uma síntese do mal e do feio. É um Judas para ser malhado. Difícil é, discordando radicalmente de cada palavra dele, defender seu direito de pensar e de dizer as maiores barbaridades.
A patrulha estridente do politicamente correto é opressiva, autoritária, antidemocrática. Em nome da liberdade, da igualdade e da tolerância, recorta a liberdade, afirma a desigualdade e incita a intolerância. Bolsonaro é contra cotas raciais, o projeto de lei da homofobia, a união civil de homossexuais e a adoção de crianças por casais gays.
Ora, sou a favor de quase tudo isso - e para defender meu direito de ser a favor é que defendo o direito dele de ser contra. Porque se o direito de ser contra for negado a Bolsonaro hoje, o direito de ser a favor pode ser negado a mim amanhã de acordo com a ideologia dos que estiverem no poder.
Se minha reação a Bolsonaro for igual e contrária à dele me torno igual a ele - eu, um intolerante "do bem"; ele, um intolerante "do mal". Dois intolerantes, no fim das contas. Quanto mais intolerante for Bolsonaro, mais tolerante devo ser, porque penso o contrário dele, mas também quero ser o contrário dele.
O mais curioso é que muitos dos líderes do "Cassa e cala Bolsonaro" se insurgiram contra a censura, a falta de liberdade e de democracia durante o regime militar. Nós que sentimos na pele a mão pesada da opressão não deveríamos ser os mais convictamente libertários? Ou processar, cassar, calar em nome do “bem” pode?
Quando Lula apontou os "louros de olhos azuis" como responsáveis pela crise econômica mundial não estava manifestando um preconceito? Sempre que se associam malfeitorias a um grupo a partir de suas características físicas, de cor ou de origem, é claro que se está disseminando preconceito, racismo, xenofobia.
Bolsonaro deve ser criticado tanto quanto qualquer um que pense e diga o contrário dele. Se alguém ou algum grupo sentir-se ofendido, que o processe por injúria, calúnia, difamação. E que peça na justiça indenização por danos morais. Mas daí a querer cassar o mandato de Bolsonaro vai uma grande distância.
Se a questão for de falta de decoro, sugiro revermos nossa capacidade seletiva de tolerância. Falta de decoro maior é roubar, corromper ou dilapidar o patrimônio público. No entanto, somos um dos povos mais tolerantes com ladrões e corruptos. Preferimos exercitar nossa intolerância contra quem pensa e diz coisas execráveis.
E tudo em nome da liberdade e da democracia...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quantos anos tenho

Diz uma lenda, que certa vez um jovem perguntou a Galileu Galilei quantos anos ele tinha, e a resposta foi: oito ou dez anos, o que contrastava com suas barbas brancas, e deixou o jovem bastante intrigado. Galileu teria então explicado, que os anos que ele tinha eram os que provavelmente lhe restavam de vida, pois os que já viveu, não os tinha mais, assim como também já não possuía as moedas que gastara. A inteligência, o amadurecimento e o conhecimento de Galileo o fizeram assim responder. Confesso que nunca havia pensado dessa maneira, muito mais lógica, racional, e, com esse ensinamento de Galileo, acabo de entender que minha idade é de 20 ou 30 anos, pois já próximo dos 57, imagino que, se tudo correr bem, viverei mais uns 20. Positivamente pensando, 30. Com os avanços da medicina, que aumentam constantemente, quem sabe, poderei viver até mais uns 40 anos, mas com o aprendizado por mim já obtido, acredito que seria muito cansativo, tanto para mim, como para os meus, se ainda vivesse mais do que 30 anos. Com mais 30 já teria uma vida de bom tamanho. Certamente teria tido tempo suficiente para tentar alcançar meus projetos, conviver com filhos, netos e talvez até bisnetos, de modo a ter certeza de haver fincado raízes, o que penso ser fundamental para o ser humano. Como qualquer espécie, animal ou vegetal, a vida não teria sentido se, antes de partirmos, não pudéssemos deixar novas sementes plantadas, recém nascidas, em crescimento, adultas e outras já maduras. Com a resposta de Galileo, reafirmei meu pensamento de que cada dia, mês ou ano que ainda temos, deve ser usado para fortalecer essas sementes, irrigando as agora já brotadas e em crescimento, com as experiências pelas quais já passamos, boas e ruins, de modo a permitir-lhes um crescimento e um amadurecimento mais fácil, constante, sem tropeços desnecessários. Com o que já vivemos e, consequentemente aprendemos, podemos mostrar aos outros onde estão as pedras que nos fizeram tropeçar, e onde estão as nascentes, para que não lhes falte água em seu crescimento, o que só ocorrerá se encontrarmos alguém interessado em nos questionar, ouvir. Podemos falar inclusive sobre nossos erros, perdas de tempo e energia gastos com pequenas coisas, que nada nos acrescentaram e em nada nos ajudaram. Com o tempo diminuindo a cada dia, é normal deixarmos de dar importância para coisas que antes nos eram caras. Palavras proferidas ou mesmo atitudes de outros que nos incomodavam deixam de ser importantes. E tentar mostrar ou provar algo para alguém que pensa diferente é uma coisa que aprendi não valer a pena. Algumas de nossas palavras e atitudes certamente podem ter causado algum mal estar, ou talvez irritação em algumas pessoas, que não pensam ou não agiriam da mesma forma. Sobre isso certamente me desculparia, com todas aquelas com que hoje eu reconheço haver errado. Com outras não me desculparia, por continuar pensando do mesmo modo, porque nunca agradaremos a todos, e não devemos nos agredir, destruir, indo contra nossos princípios morais e éticos, ou contra o que pensamos, só para agradar alguém. Nos anos que penso que tenho, tentarei mostrar aos que quero bem, às minhas sementes, o porque, em determinadas situações, penso ou ajo diferente deles, e não poderia me anular somente para agradá-los.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

BOLSONARO, TAPETES E ARMÁRIOS

“Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo.” Voltaire – escritor, historiador e filósofo francês.
Estamos diante de um impasse: Deixar ou não um ignorante falar? Jair Bolsonaro, deputado federal pelo Rio de Janeiro, vociferou algumas bobagens no CQC do dia 04 de abril e está sendo processado por suas declarações, que têm um pano de fundo racista e homofóbico, apesar de não terem sido injúrias explícitas. Que ele é preconceituoso, radical e sonha com um novo golpe militar não tenho a menor dúvida (aliás, antes de prosseguir, deixe-me esclarecer que não endosso nenhuma de suas opiniões), porém, estamos perante questões maiores: a liberdade de expressão e a hipocrisia.
Até onde o que ele disse fere a lei e até onde seu direito constitucional à livre expressão deve ser protegido? O Art. 5 º da Constituição Federal diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade (…) é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.” Por melhores que sejam as intenções em calar as ideias preconceituosas do deputado, ignorar um princípio constitucional em nome disso é (mais um) precedente perigoso em uma democracia frágil como a brasileira. Com tantas leis e projetos de lei visando minar opiniões, cercear a liberdade de imprensa e até mesmo monitorar a internet, podemos estar caminhando lentamente rumo a uma nova ditadura, desta vez de uma esquerda equivocada e igualmente extremista. Cada decisão judicial que censura alguém é mais um pequeno passo nessa direção.
A aplicação retroativa da Lei Ficha Limpa foi barrada pelo Supremo Tribunal Federal sob o argumento de desrespeitar um princípio constitucional. A integridade da Constituição foi considerada pelos desembargadores mais importante do que o combate à corrupção. É um tanto conveniente sacar a Constituição para manter a impunidade e esquecê-la na hora de proteger a liberdade de expressão. Estamos em um Brasil onde tudo dá processo, qualquer um se vê no direito de reprimir a divulgação de fatos e opiniões inconvenientes. No caso dos que processam Bolsonaro, é por um motivo nobre, mas muitos outros se valem dos precedentes abertos em nome de seus interesses pessoais, como Xuxa, ao censurar os resultados do Google, e Sarney, ao amordaçar o Estadão.
O texto do Art. 5 º da Constituição Brasileira tem o mesmo espírito da Primeira Emenda da Constituição Americana. A diferença é que os EUA prezam por esse princípio a ponto de tolerar grupos como o Ku Klux Klan ou o Tea Party Movement, a liberdade de toda a nação vem antes do repúdio a esses grupos, mas o Brasil não está conseguindo enxergar o objetivo maior. Isso significa que devemos tolerar os Bolsonaros? Desde que não haja apologia ou violência em seus discursos, sim. E o motivo é muito simples: É bom que esses ignorantes falem para que saibamos quem eles são, onde estão e quem influenciam. Só assim vamos sacudir os tapetes que encobrem o racismo, a homofobia e a misoginia no Brasil.
Jair Bolsonaro não está só. Ao seu lado, existem muitos outros filhotes da ditadura, além da bancada evangélica. Esses extremistas se colocam na posição de perseguidos políticos e religiosos e influenciam milhares de eleitores e fiéis. Na esteira da polêmica envolvendo Bolsonaro, o pastor Marco Feliciano, deputado federal por São Paulo, deu declarações ainda mais estúpidas, citando a Bíblia para afirmar que africanos são amaldiçoados. Recentemente, Silas Malafaia comparou homossexualidade a distúrbios como necrofilia e zoofilia. Por mais que eu repudie todos eles, prefiro suas manifestações públicas à máscara da hipocrisia.
Vivemos em um Brasil de tapetes e armários. Todo preconceito é velado e os gays das famílias de militares, machões e evangélicos são constrangidos a reprimir sua condição ou “converter-se” à heterossexualidade. Essa hipocrisia tem que acabar. A lei não deve ser voltada a punir ideias, porque isso não fará com que elas deixem de existir, só as varrerá para debaixo de um enorme tapate. Temos visto espancamentos de homossexuais por grupos de jovens, inclusive menores de idade. Onde esses jovens estão aprendendo isso? Por que estão se organizando em grupos neonazistas? Será que o preconceito não está sendo fomentado nas famílias e escolas de forma quase indetectável?
Está sim. Em muitas escolas particulares que ensinam os filhos da classe média e alta (eu disse muitas, não todas), existem uns 30 alunos brancos para cada negro. Os brancos são ensinados a não proferir injúrias contra os poucos colegas negros, mas não são ensinados, tanto pelos pais quanto pela própria escola, sobre igualdade de fato. Excluir e constranger os colegas tudo bem, desde que não seja chamando-os de macacos e afins, porque é contra a lei. Acaba acontecendo que alguns negros se sentem inadequados a ponto de sair dessas escolas e o preconceito marca mais um ponto sem que ninguém tenha praticado deliberadamente nenhum ato racista.
Vou relatar um caso emblemático de como é a mecânica do preconceito hipócrita no Brasil: Uma moça que conheço, que é bonita, educada e negra, arrumou um emprego como vendedora em uma loja de roupas de grife no centro da cidade. Ponto para a loja, que não foi preconceituosa ao fazer a contratação. Ela começou a trabalhar animada com as comissões que viria a receber, já que o shopping é frequentado por pessoas distintas de boa condição social. Mas a animação durou pouco, pois, com o passar dos dias, ela foi percebendo que era ignorada pelas clientes. Sem nenhum motivo, as elegantes frequentadoras da loja de roupas caras preferiam ser atendidas por suas colegas brancas, sempre com um pretexto na ponta da língua: “já sou cliente da loirinha”, “ela veio me atender primeiro”, enfim, nenhuma jamais disse que não queria ser atendida por ela pelo fato dela ser negra, mas o racismo estava estampado na testa de cada uma daquelas clientes. É assim que funciona o Brasil politicamente correto: As pessoas não falam, fazem.
Temos que defender o direito à liberdade de expressão desses infelizes. Pela preservação da nossa Constituição e dos nossos próprio direitos, mas também porque é ótimo que eles falem, pois só a partir dessas declarações públicas é que podemos combater o preconceito com informação. É muito melhor que digam o que pensam para a sociedade do que para seus filhos, seus amigos, seus eleitores ou seus fiéis. Eles dizem que negros e nordestinos são inferiores? Mostremos o papel da população negra e nordestina no crescimento do Brasil. Eles dizem que homossexualismo é desvio de conduta? Mostremos dados científicos que provam que é uma característica biológica, uma condição. Se os ignorantes forem amordaçados pela lei, não deixarão de ter suas opiniões, mas as expressarão somente entre seus simpatizantes, o que é muito perigoso, pois esses seguidores serão ensinados a não falar, mas AGIR contra os grupos pelos quais nutrem ódio. A prova de como essas declarações ridículas acabam tendo um resultado positivo é o debate que se estabeleceu em torno de homofobia e racismo semana passada.
Valeu, Bolsonaro! Se não fosse você, não teríamos esta excelente oportunidade de abrir algumas mentes.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O líder que pensa

Se liderança já é um tema difícil de escrever, imagine exercê-la. O trabalho de um líder é semelhante ao de um pai, que deseja que seu filho estude, se desenvolva, aprenda a vencer obstáculos, que se mantenha motivado e cheio de energia. E, assim como o comportamento do filho sofre constantes mudanças, a do liderado, ou da equipe, também. Poderíamos falar horas e horas sobre liderança, porém, neste artigo, vou tratar de um aspecto objetivo e simples da liderança: as atitudes do líder. O título do artigo tem um motivo especial. Muitos líderes pensam que há duas partes bem definidas na organização: o líder e os liderados. Engano puro. Um está constantemente influenciando o outro por meio de gestos e ideias. Podemos dizer que os dois se misturam, querendo ou não. Já ouviu dizer que a empresa tem a cara do chefe? Motivo este que a probabilidade de um filho se tornar fumante quando o pai é, torna-se muito maior do que se o pai não for adepto do tabaco - mesmo quando o filho é adotivo, deixando de lado os aspectos genéticos. O 'líder que pensa' é aquele que não age apenas por instinto. Todo o tempo ele envia estímulos para a equipe. É aquele que sabe que a prática do exemplo é muito mais eficaz que a teoria. Não faz nenhum sentido pedir que a equipe chegue às 9h, se o líder chega às 10h30. O psicólogo americano Frederick Herzberg fez uma pesquisa para descobrir o que motiva e o que desmotiva uma pessoa. Neste estudo, que resultou em sua teoria motivação-higiene, o termo "reconhecimento" ficou em segundo lugar nos fatores que levam à extrema satisfação. Infelizmente o que mais vemos nas organizações são líderes que só param o que estão fazendo para punir um membro da equipe, e só se lembram de reconhecê-los na reunião de metas do fim do mês. O 'líder que pensa' premia e elogia a equipe sempre que se fazem merecedores. No começo, no meio ou no fim do dia. Quantas vezes forem necessárias. Quando reforçamos um bom comportamento, aumentamos a probabilidade do mesmo ocorrer. Lembre-se: o que é dito é facilmente esquecido. O que é feito é aprendido. O 'líder que pensa' age de forma consciente, produz estímulos deliberados e se preocupa muito mais com o bem-estar e a satisfação da equipe, do que com a punição. Um 'líder que pensa' ganha autoridade por mérito e não por imposição e, assim, é tratado como todo pai gostaria: com admiração e respeito

Tecnologia Educacional Humana

Muito se ouve a respeito das tecnologias educacionais. No entanto, a maior tecnologia educacional já existe há muitos anos: o ser humano. Com isso afirmo que as tecnologias educacionais são subservientes aos interesses de cada um. Cabe ao educador, pessoa interessada e habilitada no ensino do próximo, capacitar-se. Eis o grande "bug" do milênio. O Século XXI chegou para alguns poucos docentes. Então paramos para refletir: em que reside o problema, afinal? "O sistema não funciona! Nunca funciona! É complexo demais". As reclamações não param por aí. E continuamos a ‘empurrar com a barriga', esperando que as tecnologias educacionais, sem o nosso domínio ou consenso, se convertam em tradutores de pensamentos com ação própria para a execução das atividades educacionais afins. A práxis do educador já não é mais a mesma, aliás, nunca foi. O processo evolutivo humano, capacidade própria de aprender e de se desenvolver de cada indivíduo, é um processo interno, tal qual a motivação para ensinar. Transpõe o mundo pessoal do professor antes de chegar até o real dos que assim se predispõem a aprender. Tecnologia Educacional Humana é uma competência imprescindível para o educador que não tem mais a tutela do ensino. O conhecimento é universal. Está em todos os lugares e possui muitas direções. É chegado o momento de entendermos o verdadeiro sentido da tecnologia educacional. Ela é subserviente aos interesses humanos. Suas afinidades com esses interesses são incessantes e tornam-se, a cada dia, o maior apoiador do processo de ensino e aprendizagem. Trata-se de um aperfeiçoamento contínuo, que evolui ao passo que nosso conhecimento nas tecnologias também evolui. Alguns termos como usabilidade, navegabilidade, convergência, qualidade, entre outros, fazem parte desse processo. Não são somente as funcionalidades das tecnologias que as tornam usáveis. Essa evolução é assustadora. Sim, também fico espantado com o enorme avanço das tecnologias. Mas, por favor, não se deixe enganar pelas propagandas subliminares da "última tecnologia", tal qual o esteticismo ou a videotice e suas finalidades comerciais nada implícitas. Não é a escolha da melhor tecnologia, se física ou lógica, que irá nos deixar confiante quanto ao seu uso. A maior opção é a nossa escolha. É dela que se depende. Pode-se interagir com ela, e de todas as formas possíveis, estaremos interagindo com nós mesmos. Já ouviram falar do processo de aprendizagem homem-máquina? Pois bem, explico. Enquanto para uns isso é quase uma robotização ou mesmo nossa submissão à máquina e seu sistema, para outros, e na grande maioria, é um processo de autorreflexão. Experimente sentar em frente ao computador e realizar uma pesquisa na internet ou mesmo em um curso online. O processo de interiorização é muito grande, principalmente quando se interage nas comunidades virtuais de aprendizagem, pois ora se é professor, ora se é aluno, o que leva a uma ação contínua de ensino e de aprendizagem. Isso parece reflexivo? Tome como referência educacional aquela de uns 5 ou 10 anos atrás. As pessoas buscavam no professor o conhecimento que precisavam. Os educadores tinham a grande responsabilidade de ensinar para o bem-comum, servindo a todos os gostos e aptidões. O professor era o único centro do processo educacional. E, deixamos de ser a referência? Não, aquela velha busca ainda existe. No entanto, a humanidade em seu todo, enfrenta a maior mudança de paradigmas de todos os tempos. Nossos pais, avós, bisavós, tataravôs - até os dinossauros - sem nenhuma analogia, deixaram-nos de herança essa referência educacional - imprevisíveis quanto às novas metodologias e tecnologias educacionais hoje existentes. Podemos sair em alto mar e passearmos pelos quatro cantos do mundo. A globalização é um convite aberto em cada porto, e a informação sopra para todos os lados tal qual o vento. Dizer que o barco deve ficar ancorado, parado no tempo, é retrógrado. Somos inseridos em novo processo educativo mediado pelas tecnologias. Navegamos em um mar de informações, muitas das quais sem precedentes, e corremos o sério risco de virarmos náufragos. É nesse exato momento que surgem as tecnologias educacionais humanas e seu comandante maior: o professor. Tecnologia Educacional Humana não se trata da melhor escolha tecnológica e sim do interesse do profissional-educador em desenvolver-se, assim como sua práxis educativa, exercendo a função de facilitador no processo de ensino e de aprendizagem. Qualquer que seja a tecnologia encontrará sempre o potencial que existe dentro de si mesmo, pois disso dependem muitos outros aspirantes ao conhecimento.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas outra metade é silencio… Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste. Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante. Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, Apenas respeitadas como única coisa que resta a um homem inundado de sentimento. Porque metade de mim é o que ouço, mas outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que mereço. Que essa tensão que me ocorre por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu lembro de ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silencio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, E que ninguém tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer. Porque metade de mim é a plateia e a outra metade a canção. E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor e a outra metade… Também.