"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

domingo, 31 de julho de 2011

Lei Moral, Liberdade e História – Tripé da Grandeza

O respeito a um código de valores morais e éticos é um dos alicerces da grandeza das nações. Riqueza, progresso e poder não bastam nos desafios cujo enfrentamento exija coesão, auto-estima e auto-respeito, atributos de nações que se impõem pelo próprio valor. O código é a Lei Moral, amálgama dos cidadãos entre si, elo do povo com sua liderança e base da grandeza das nações. A sociedade brasileira padece de grave enfermidade moral que contamina a liderança nacional e compromete a coesão imprescindível ao País para enfrentar os conflitos que virão, por sua crescente inserção como ator de peso nas relações internacionais. A liderança é patrimonialista e amplamente corrompida nos Poderes da União e em diversos setores do País. Apodera-se dos bens públicos como se fossem de sua propriedade e escarnece da Nação com mentirosas explicações para as manobras imorais que promove, usurpando o tesouro nacional em benefício próprio. Apóia-se na impunidade e na omissão de uma sociedade anestesiada e lamentavelmente acomodada, que perdeu a confiança na justiça, assumiu a falta de ética e sepultou valores imortais. O cidadão contenta-se com a satisfação de necessidades básicas e a falsa noção de liberdade, que usa sem responsabilidade e disciplina, tornando-a um bem ilusório. Agoniza a Lei Moral, condição de grandeza. Vão-se as referências e vem a anomia, dando margem a desvios de conduta emblemáticos como o do atleta que vira cambalhotas em solenidade na rampa do Palácio do Planalto; o do aluno que se dirige ao mestre pelo apelido, quando não o agride; o de autoridades que, literalmente, usam o boné de movimentos radicais violentos, ditos sociais, como o MST, parecendo respaldar suas ações criminosas; e o de líderes que não se envergonham de buscar o apoio de poderosos políticos corruptos e prestigiar mensaleiros denunciados na justiça como uma quadrilha. A liderança nacional, carente de valores para se afirmar pelo exemplo, na ânsia de agradar para aparecer bem na foto e ávida de poder, despreza protocolos, normas e ética, debilitando o princípio da autoridade e a dignidade de cargos públicos. Leva a Nação a confundir intimidade permissiva e leniência com espírito democrático e falta de ética com tino político. Essa doença moral não será curada por partidos políticos desmoralizados ou por eleições incapazes de aperfeiçoar, por si só, a democracia como se tenta iludir a Nação. Um choque de valores teria de vir da sociedade, ser aplicado nela própria, assimilado pelas famílias e por um sistema educacional moral e profissionalmente recuperado, capaz de gerar cidadãos íntegros e cientes de que liberdade sem disciplina esgarça o sistema social. Hoje, a mídia é o setor com maior poder de contribuir para recuperar os valores tradicionais e limitar a ganância e abusos dos donos do poder, desde que resista às tentativas de mordaça política, financeira e ideológica e permaneça imparcial e vigilante. Liberdade é um bem inestimável e uma das aspirações mais valorizadas pela sociedade brasileira, mas não é passe livre para o cidadão fazer o que bem entende. O exercício desse direito requer civismo, disciplina e respeito ao próximo. A crença na liberdade fica comprometida quando as instituições não impõem o império da lei e justiça e as lideranças usam o poder para usurpar, impunemente, bens por direito pertencentes à nação. Por outro lado, a ausência de liberdade já fez ruir muitos impérios. A União Soviética condenou-se ao atraso, exceto nos campos militar e científico-tecnológico, ao submeter suas nações a uma ideologia totalitária liberticida, colocando o Partido Comunista acima de liberdade, justiça, vida e família. História e tradição foram deturpadas pela ideologia; heróis de verdade denegridos e substituídos por ídolos feitos pela propaganda estatal; disciplina e dever, impostos por ameaças, eram voltados ao Partido e não à nação. Foi um Estado déspota que tentou, mas não conseguiu apagar a história e as tradições das nações que tornou escravas. A história também é fiadora do projeto de uma nação que se pretende grande, perene e respeitada. É o selo desse compromisso transmitido de geração a geração e fortalece a fraternidade entre os cidadãos de um país. Se a história mantém unida a nação, os heróis que conduziram o país em momentos decisivos são os seus protagonistas. Eles se tornam merecedores da gratidão e respeito do povo por tomarem atitudes corajosas e decisivas e assumirem responsabilidades com sacrifício pessoal, em prol da nação, diante de situações extremas. Heróis não foram e nem poderiam ser pessoas perfeitas, mas são cidadãos especiais como poucos serão. Pátria, história e heróis são símbolos, sínteses e imagens de princípios e valores morais e éticos inspiradores de nobres ideais. Ao enaltecê-los, uma nação com vocação de grandeza propõe referenciais de excelência que motivam a busca da perfeição e tornam o povo combativo, disciplinado, altivo, empreendedor e unido. Ou seja, constrói a própria grandeza. Há décadas que a esquerda radical brasileira, herdeira da infausta ideologia comunista, desenvolve permanente campanha no sentido de denegrir a História e os heróis do País e, também, promover a quebra de valores tradicionais, a fim de enfraquecer a coesão nacional e debilitar moralmente a sociedade e a família. Conta com a parceria, consciente ou não, de vários segmentos da Nação, que se tornaram instrumentos da via gramcista de tomada do poder, estratégia contemporânea para a implantação de um regime socialista totalitário e liberticida. As vulnerabilidades advindas desse contexto, e que fragilizam a Nação, não poderiam deixar de ser aproveitadas pelos inimigos da democracia. Ou o Brasil revigora a Lei Moral, consolida a liberdade, neutralizando seus inimigos, e resgata sua História e heróis ou será um gigante de pés de barro, uma Nação sem o respeito do mundo e, pior ainda, do seu próprio povo.

sábado, 30 de julho de 2011

AS ORIGENS DO MAL

Os frequentes atos extremistas que assolam o Oriente Médio remetem à pergunta: hoje palco de tamanha violência, por que Jerusalém foi há pouco mais de um século lugar de convivência respeitosa entre judeus, muçulmanos e cristãos? Devemos considerar que até então a cidade encontrava-se sob a tutela do império turco-otomano, cujo califa de outrora, o sultão Osman III, através de um edito de 1757, delimitou muito bem os direitos e competências de cada religião que entendia ser sua a sagrada Jerusalém. As maiores confusões ficavam por conta dos cristãos, particularmente durante a Páscoa, quando a boa convivência dava lugar a vergonhosos acirramentos entre gregos ortodoxos, católicos armênios, coptas egípcios, maronitas sírios e outras comunidades cristãs. Mas, no geral, a convivência era boa e pautada pela tolerância, salvo excessos eventuais. Certa vez, entrevistei um octogenário palestino que me disse ser um judeu o melhor amigo de seu pai. Vizinhos, era comum caminharem juntos pelas ruas da Palestina; seu pai virava à esquerda e entrava na mesquita, o amigo à direita para a sinagoga. Finalizadas as orações, encontravam-se na saída e continuavam o passeio. Essa utópica cena para os dias de hoje foi fato um dia na Terra Santa. Não obstante celeumas ideológicas, é quase impossível não atribuir ao imperialismo europeu (logo, ao capitalismo), o barril de pólvora em que se transformou o Oriente Médio. O desarranjo lógico do território forjou ali as mais es-drúxulas unidades sem o mínimo lastro histórico-geográfico que justificasse a existência de certos países, em particular às margens do Golfo Pérsico, mas também nas areias do deserto. Fronteiras mal formuladas construíram gradativamente o clima de tensão que hoje se abate na região. A tensão evoluiu para violência na segunda metade do século XX, cujas três últimas décadas assistiram ao surgimento de um novo fenômeno: o fundamentalismo. INTOLERÂNCIA: FENÔMENO DO SÉCULO XX Quem matou o Mahatma Gandhi? Quem matou Yitzhak Rabin? Quem matou Anwar Sadat? Cada um desses líderes foi morto pelo fundamentalismo intrínseco à sua própria religião. Apesar de litígios religiosos serem antiquíssimos, é no século XX que o extremismo torna-se fenômeno comum. Temos notícias de atentados religiosos desde o fim do século XIX, quando a Irmandade Muçulmana lutava contra o domínio britânico no Egito. Mas o parâmetro contemporâneo para aquilo que se convencionou designar como “fundamentalismo” podemos encontrar na Revolução Islâmica de 1979, quando o Irã converteu-se em uma teocracia xiita. Contudo, é no cristianismo que residem os primórdios do fundamentalismo. Suas raízes estão ligadas ao protestantismo cristão norte-americano do século XIX, cuja leitura literal e dogmática da Bíblia difundia a crença de uma supremacia cristã e a não aceitação de outras verdades religiosas, fundamentos que tanto contribuíram para a formação da cultura Wasp (White, Anglo-Saxon and Protestant ou Branco, Anglo-Saxão e Protestante). Líderes norte-americanos passaram a se inspirar nesses preceitos para a orientação do modo de vida, num claro enfrentamento com a modernização da sociedade. Nessa linha, o homem deve pautar-se numa leitura ortodoxa da palavra de Deus, o Ser infalível que orienta todo o modus vivendi da sociedade. Para os fundamentalistas, qualquer interpretação da vida que não encontre uma justificativa bíblica deve ser refutada. A Bíblia não deve ser interpretada, como fazem os teólogos mais progressistas, mas simplesmente obedecida, p ois é a verdadeira palavra de Deus: basta segui-la. A História, a Geografia e, principalmente, a Biologia nada acrescentam ao conhecimento. O evolucionismo deve ser banido como teoria e ser substituído plenamente pelo criacionismo – esta, sim, uma teoria embasada na palavra divina. O fundamentalismo consiste nesse comportamento de obediência extrema a um credo religioso, que não aceita conviver com outra perspectiva ou forma de explicação da vida. Há uma única verdade: Deus. Na perspectiva fanática, portanto, a crença do outro está equivocada. Acontece que, quando o outro pensa da mesma forma, aflora a intolerância e a coexistência torna-se impossível. Resultado: conflitos e mortes. A origem disso é cristã, mas, nos dias de hoje, é o fundamentalismo islâmico o mais atuante de todos e seus feitos, os mais impressionantes. O fundamentalismo é um movimento reacionário, pois pretende um retorno- aos valores tradicionais que fundamentam sua crença, numa clara oposição ao secularismo e à modernidade. A emergente Índia, por exemplo, candidata à condição de potência econômica nos anos vindouros, tem no combate ao extremismo religioso interno seu maior desafio. O Partido do Congresso, laico, tenta, a duras penas, construir uma nação secular, mas o oposicionista Barhatya Janart Party (BJP), de orientação fundamentalista hindu e que já governou nos anos 1990, luta por uma Índia teocrática, caminhando no sentido contrário e investindo na supremacia bramanista perante uma minoria muçulmana de mais de 150 milhões de habitantes. A atmosfera indiana é de pura tensão. Tendo como grande ícone a Revolução Islâmica, a opção fundamentalista não ficou restrita ao xiismo; inclusive, nos dias de hoje, é na vertente do sunismo que temos os principais grupos atuando. A falta de atenção, no entanto, pode levar muitos a incorrer no mais comum dos erros: a confusão entre islamismo e fundamentalismo, visto que o noticiário pouco contribui ao discernimento das diferenças, podendo levar a entender o extremismo religioso como circunscrito ao islamismo. Sobre o significado da palavra Islã, o xeque Jihad Hassan Hammadeh, vice-presidente da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, informa que “islã”, na língua árabe, deriva da palavra “salam”, que significa paz, portanto, a essência da religião islâmica é a paz, seu alicerce é a paz, por isso é que a definição de islam é: submissão total e voluntária a Deus Único, então quem é voluntário a Deus deve praticar o qu e Ele ordena, que é a justiça, a paz, o amor, a solidariedade etc. Quanto à violência, a religião islâmica proíbe qualquer ato de injustiça contra qualquer ser e inclui também a agressão contra o meio ambiente. Deus disse no Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos): “E quem tirar uma vida inocente é como se tivesse assassinado toda a Humanidade, e quem salvá-la é como se tivesse salvado toda a Humanidade”, portanto, o muçulmano é proibido de cometer qualquer ato de agressão injusta, dando-lhe, somente, o direito à legítima defesa, que é direito de qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo e em todas as religiões. Deus disse no Alcorão Sagrado: “E se punirem,- que punam da mesma forma como foram punidos,- e quem tiver paciência, é melhor para os pacientes”. Alguns estudiosos do Islã afirmam ser equivocada a expressão “fundamentalismo” para designar os atos extremistas que marcaram o fim do século XX. Em sua concepção, o termo é totalmente infeliz, uma vez que se faz uma adaptação da realidade cristã à islâmica. Tal analogia é então descabida, pois as escolas de filiação religiosa são distintas. Enquanto no cristianismo a interpretação do fundamentalismo é visceralmente conservadora, antimodernista e arraigada aos valores tradicionais da Bíblia, no Islã, dá-se o contrário. Logo, o que vemos e classificamos hoje como fundamentalismo islâmico é exatamente o oposto daquilo que pregam os verdadeiros estudos dos fundamentos do Islã. Regimes como o iraniano ou o que era vigente até há pouco tempo no Afeganistão seguem o oposto daquilo que seriam os “fundamentos do Islã.”

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Commodities - As Raízes da Crise

(ESPECIAL PARA OS ALUNOS DE AGRONOMIA) Longe de representar apenas os efeitos da oferta e da demanda, a alta dos preços das commodities agrícolas mostra que a especulação e a estrutura do comércio mundial precisam ser repensadas. Em fevereiro deste ano, os preços mundiais dos alimentos atingiram o maior nível de uma série histórica, iniciada em 1990 e apurada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Aquele foi o oitavo mês consecutivo de alta e o índice superou o de junho de 2008, quando o planeta vivia uma crise alimentar com impressionantes elevações de preços: em três meses, o arroz, por exemplo, chegou a subir 50% e em um período menor que dois anos, o aumento chegou a 180%. Os grãos de primeira necessidade, entre março de 2007 e abril de 2008, tiveram seus preços elevados em 88%. Nem mesmo a interrupção de uma sequência de oito elevações mensais, com o recuo de preços em março e o índice praticamente estável de abril, fez o cenário se tornar mais favorável. Hoje, estima-se que 925 milhões de pessoas em todo o mundo estão em situação de fome crônica. Como a organização calcula que 40 milhões de pessoas teriam passado a essa condição no período crítico de 2007-2008, os resultados dessa nova elevação de preços podem fazer com que um outro grande contingente de pessoas passe à subnutrição. Mas, afinal, o que está por trás da recente alta? São diversos os fatores que podem explicá-la. Dois que são bastante difundidos atribuem a elevação a quebras de safras e ao aumento do consumo de alimentos no planeta. O escritor Vincent Boix, autor do livro O parque das redes e responsável pela área de Ecologia Social do site www.belianis.es, em um artigo da série “Crise agroalimentícia”, usa alguns dados que desmitificam essa explicação. A FAO prevê, para o ciclo 2010-2011, que o balanço mundial entre a produção e o consumo de cereais apresente um déficit de 43,1 milhões de toneladas. No entanto, as reservas, que estariam próximas de 483 milhões, correspondem a quase 11 vezes essa diferença. No biênio 2003-2004, essa relação era de seis vezes, mesmo assim, os preços não chegavam à metade do que se apresentam agora. “Essa crise é sistêmica, não conjuntural, e não é mera expressão de um desajuste de oferta e demanda. Há pressões de demanda, sem dúvida, tem havido também problemas de disponibilidade de alimentos em razão de insucesso de safras, mas a questão não se esgota nisso”, analisa Renato Maluf, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). “Há um componente especulativo muito forte, sobretudo pela extrema mercantilização do comércio de commodities no mundo a partir de instrumentos como o mercado futuro, que extrapolaram a sua função e se tornaram um elo entre as commodities e a especulação financeira em geral”, explica. “Há novos atores incidindo nesse mercado, que não são os tradicionais.” Segundo Maluf, os objetivos da criação do mercado futuro eram justamente garantir liquidez e promover uma proteção contra a flutuação de preços, já que os preços dos produtos agrícolas estão sujeitos a sazonalidades e condições muito específicas. No entanto, hoje esse sistema funciona de forma bem distinta. Não é à toa que o estouro da crise dos subprimes e a alta de preços aconteceram na mesma época. “À medida que outras bolhas foram ‘secando’ ou rebentando (novas tecnologias, mercado imobiliário, subprime), os especuladores (fundos de investimento, hedge funds, fundos de pensões, grandes bancos) se concentraram nas commodities, incluindo os produtos alimentares. Aos olhos dos especuladores, trata-se de uma bolha difícil de “secar”, já que, ao contrário do que sucede com outras mercadorias mais ou menos dispensáveis, as pessoas terão sempre que comer”, pondera o biólogo português e eurodeputado João Ferreira, em artigo publicado em Odiario.info. “Muitos dos que ganham milhões especulando com os produtos alimentares não tocam sequer num único grão de milho ou bago de arroz. A FAO estima que apenas 2% de todos os contratos de futuros resultem na entrega da mercadoria física subjacente”, aponta. Conforme Vincent Boix, há fundamentalmente dois tipos de agentes nessa cadeia especulativa. “Os fundos de investimento, de pensões, de cobertura etc., que, segundo o Observatório da Dívida na Globalização, ‘...compram e vendem contratos de futuros esperando tirar benefícios em qualquer uma das transações, independentemente de estes contratos se materializarem.’ Depois estão os intermediários (destacando as transnacionais agroexportadoras como Cargill e Monsanto), que manejam grandes quantidades de produtos como o cacau, cereais etc., o que lhes confere influência na oferta de alimentos, não hesitando em armazenar grandes quantidades para desabastecer o mercado e forçar uma subida de preços. Esses intermediários também especulam com contratos de futuros.” Na mesma linha, Renato Maluf também observa que o enorme poder das corporações, em todas as etapas da cadeia que leva os alimentos à mesa das pessoas, lhes dá um grande poder na definição de preços, já que permite que se apropriem do controle de parte do processo especulativo. Desigualdade no campo Uma outra questão que merece reflexão diante do cenário de crise alimentar é a do modelo agrícola adotado por cada país. Boix lembra uma declaração de Olivier De Schutter, relator da ONU para o Direito à Alimentação. “Os países africanos se beneficiaram de colheitas relativamente boas em 2010 e não enfrentam risco imediato [...] Os países que importam a maior parte da comida que necessitam são mais vulneráveis. Os menos desenvolvidos compram 20% de seus alimentos, e sua conta se multiplicou por cinco ou seis desde os anos 1990. Esta dependência dos mercados internacionais é muito perigosa.” O depoimento de De Schutter mostra algo que parece bastante óbvio: para assegurar a soberania alimentar de suas populações, os países deveriam produzir a maior parte daquilo que consomem. Mas não é isso que acontece em muitos lugares. “Vale destacar que muitos organismos como o Banco Mundial pressionaram e estimularam nações pobres para que apostassem na agroexportação, afogando sua própria agricultura campesina. Também o desaparecimento das tarifas sob a ‘lógica do mercado’ facilitou que excedentes subsidiados pelos Estados Unidos penetrassem em países pobres, aniquilando a produção local, o que gerou uma dependência das importações.” Em meio à crise de 2007-2008, o Brasil sofreu menos o impacto da alta do que outros países, justamente por ter instrumentos domésticos para se proteger, embora tenha havido alteração de preços, como agora. Mas o papel desempenhado pela agricultura familiar, responsável por aproximadamente 70% da alimentação do brasileiro, foi fundamental para que a situação não fosse pior. “Muitos países asiáticos e latino-americanos em que a agricultura familiar tem baixa capacidade de produção foram mais afetados”, pontua Maluf. Mas o cenário pode se alterar em um futuro próximo, já que o modelo do agronegócio, voltado para exportação, cresce em ritmo mais rápido que a agricultura familiar. De acordo com o relatório do Consea, divulgado em novembro de 2010, “a expansão do agronegócio e das formas privadas de apropriação dos recursos naturais a ele associadas contribuíram para acentuar a já elevada concentração da propriedade da terra no Brasil e para limitar o avanço das políticas de reforma agrária. A concentração fundiária e a morosidade na implantação da reforma agrária constituem, hoje, um dos principais obstáculos ao desenvolvimento e à consolidação dos sistemas familiares de produção rural no Brasil. O desenvolvimento da agricultura familiar e do agroextrativismo é estratégico para a soberania e a segurança alimentar e nutricional das populações do campo e da cidade”. “A expansão do agronegócio vem sendo viabilizada com a atuação do que chamo de tríplice aliança: latifúndio-Estado-agronegócio. Nesse sentido, o agronegócio reúne o que há de mais moderno em termos tecnológicos com o que há de mais arcaico em termos de estrutura fundiária e de relações de trabalho”, avalia Christiane S.S. Campos, doutora em Geografia e professora da Universidade Federal de Santa Maria. Além de não assegurar o abastecimento interno, parte das vantagens propaladas pelo agronegócio, como a geração de empregos, deve ser relativizada. Além de gerar menos empregos – pesquisa realizada por Rosemeire Aparecida de Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, constata que, no estado, as áreas de menos de 50 hectares geram uma ocupação a cada 6,7 ha, enquanto aquelas acima de mil hectares geram uma ocupação a cada 411,56 ha –, a qualidade dos postos também não é elevada. “Em relação especificamente às condições de trabalho, observa-se que onde se expande o agronegócio se intensifica a precarização, uma vez que se reduzem os empregos fixos, se ampliam empregos temporários e se intensifica muito o ritmo de trabalho, o que amplia a quantidade e a gravidade das doenças que atingem a população trabalhadora”, explica Christiane. “Isso sem falar do contato direto dos trabalhadores com os agrotóxicos, pois à medida que cresce a produção e a produtividade agrícola, cresce o consumo dos agrotóxicos no país.” A geógrafa realizou uma pesquisa sobre a pobreza feminina em meio à riqueza do agronegócio, baseada em um estudo de caso da cidade de Cruz Alta, interior do Rio Grande do Sul. Ela entrevistou empregadores de diferentes segmentos da cadeia produtiva da soja no município, e os resultados mostraram que as desigualdades geradas por esse tipo de monocultura em larga escala se dão em diferentes níveis. “O perfil do emprego gerado pelo agronegócio pode ser sintetizado em quatro palavras: masculino, formal, temporário e precário. É masculino porque 78% dos postos de trabalho gerados pelos empregadores entrevistados eram ocupados por homens. É formal porque 97% dos empregos tinham contrato de trabalho. É temporário porque 66% dos empregos são oferecidos por um período predeterminado, geralmente de três meses. É precário devido ao curto período de tempo da maioria das vagas e à baixa remuneração para a maior parte das funções, especialmente no caso das mulheres.” Os dados colhidos por Christiane levaram à constatação de que, em Cruz Alta, o agronegócio contribui decisivamente para retroalimentar a pobreza, mas não de forma homogênea. As mulheres têm muito mais dificuldade de se inserir no mundo do trabalho em um território do agronegócio como a cidade gaúcha. A justificativa dos empregadores é que os postos gerados são de “serviço pesado”. Entretanto, mesmo os cargos de vendedores, gerentes, entre outros que não exigem força muscular, são, na sua quase totalidade, ocupados por homens. “Ironicamente, entre os postos que as mulheres conseguem vaga estão o trabalho agrícola temporário e os serviços de limpeza nas empresas, que não podem de maneira alguma ser caracterizados como ‘serviço leve’”, explica. A pesquisa mostra também que há uma segregação ocupacional por gênero, já que as mulheres se concentram em funções sem poder de tomada de decisão, além da desigualdade salarial, apesar de elas terem melhor escolaridade. “Nos locais pesquisados, a maior parte dos homens recebe entre dois e cinco salários mínimos. No caso das mulheres, a maioria dos estabelecimentos paga entre um e dois salários mínimos. Há inclusive empresas em que o salário das trabalhadoras não chega ao mínimo nacional”, conta Campos. “Com base nesses dados e em estudos realizados por pesquisadoras em outras cadeias do agronegócio, como a cana em São Paulo e a fruticultura irrigada em estados do Nordeste do País, concluímos que onde se territorializa o agronegócio se intensifica a desigualdade social, em geral, e, em particular, a desigualdade de gênero no mundo do trabalho.” E esse cenário se torna mais preocupante quando se considera que, em um número crescente de famílias, o trabalho feminino é a principal ou até a única fonte de rendimento. Em Cruz Alta, a mulher é a principal responsável pela renda em 40% dos domicílios. Rosa Maria Vieira Medeiros, do Núcleo de Estudos Agrários da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que o agronegócio, por ser altamente mecanizado, não faz uso de tanta mão de obra e, conforme a região em que ele se instala, há problemas de elevação do desemprego. “No Rio Grande do Sul, tanto a soja como o arroz, ao terem sua produção mecanizada, liberaram um enorme contingente de mão de obra, que foi engrossar a população de outros locais, como a região calçadista do estado. Nos anos 1980, havia linhas diretas de ônibus que saíam do norte do Rio Grande do Sul”, relembra a professora. Agronegócio x Agricultura familiar Além de alterar as relações sociais, o agronegócio interfere espacialmente nos locais onde se insere. “Se você olhar o mapa do Brasil, vai visualizar um processo que não está baseado na diversidade de produção ou na preocupação de se ter uma estrutura descentralizada, com aproximação dos centros de produção e de consumo. Não tem o menor sentido, por exemplo, que o arroz, sendo consumido no Brasil todo, tenha sua produção tão concentrada no Sul”, observa Renato Maluf. Efeito óbvio desse modelo é a concentração de terras. “O último censo agropecuário, realizado em 2006, cujos resultados foram publicados em 2009, mostra que houve um aumento do índice de Gini quando comparado com a década de 1980. Em 1985, o índice de Gini da área total dos estabelecimentos agropecuários do Brasil era de 0,857 e, em 2006, passou para 0,872 (quanto mais próximo de 1 fica o índice, maior a concentração)”, explica Christiane Campos. “Isso significa que nossa estrutura fundiária, que já era extremamente concentrada, ficou ainda pior com a expansão do agronegócio.” A professora Rosa Medeiros remete novamente ao exemplo do Rio Grande do Sul para mostrar os efeitos da expansão da monocultura de soja. “O início da cultura de soja no estado data dos anos 1960 e se fortalece nos anos 1970, e essas áreas já foram redesenhadas. Antes, elas tinham policultura, criação de aves, porcos e o processo de modernização da agricultura, que fez parte de um grande projeto que trouxe uma quantidade enorme de subsídios, com créditos a juros baixíssimos, modificou esse cenário”, analisa. “Os muito pequenos acabaram absorvidos pelos grandes.” Outra consequência do domínio do agronegócio é que a agricultura familiar passa a tentar se integrar na cadeia produtiva de acordo com os interesses dos grandes. “Em Cruz Alta, por exemplo, não se percebe mudança na paisagem rural quando se está numa área da agricultura familiar e em uma lavoura de um grupo do agronegócio, porque em ambas predomina a soja, e nas lavouras se usa sementes transgênicas e o plantio direto”, destaca Christiane. “Até porque os grupos do agronegócio controlam as estruturas de armazenagem e de insumos, encarecendo o custo de produção de produtos diferentes daqueles que consideram prioritários.” Rosa Medeiros realizou uma pesquisa no município de Tupanciretã, interior gaúcho, e constatou que muitos assentamentos no local já produzem soja transgênica, o que vai contra os princípios da sustentabilidade e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que tem forte presença na região. Segundo ela, há três hipóteses possíveis para que assentados repitam tais práticas: a boa qualidade da terra, que atrai os interesses do capital para o cultivo da soja; a disponibilidade de linhas de crédito incentivando a produção do grão e a necessidade de menos mão de obra com a utilização de agrotóxicos e máquinas. “Muitos estão inseridos nessa lógica, eles se organizam em cooperativas e associações e entram no sistema de competição para aluguel de máquinas. Não existe uma prática ecológica.” No entanto, alguns assentados estão optando por uma prática sustentável: a produção do arroz ecológico, que dispensa a utilização de agrotóxicos ou adubos químicos. “É muito difícil para quem planta. O arroz ecológico requer um outro tipo de envolvimento, todo um desejo e uma filosofia de vida. Se essas pessoas pensarem só no rendimento, na primeira quebra de safra acabam largando”, pondera. Mesmo assim, a cada ano mais agricultores assentados estão optando por produzir esse tipo de arroz, que, segundo dados do MST, envolve aproximadamente 400 famílias no estado e deve produzir 344 mil sacas na safra 2010/2011, ante 170 mil, da safra 2009/2010. Nesse contexto, a contraposição entre a agricultura familiar e o agronegócio, no que diz respeito à soberania alimentar, invoca o debate sobre o papel exercido pelo poder público. A primeira, como já dito anteriormente, é fundamental para a alimentação da população, mas o peso econômico do agronegócio é significativo. Desde a década de 1990, a participação das commodities na pauta de exportações brasileira ficava em torno dos 40%, mas, entre 2007 e 2010, ela passou para 51%. E é bom lembrar que o fenômeno não se deve exclusivamente à valorização das commodities. “Trata-se de uma questão de políticas públicas, temos dois Ministérios, um da Agricultura e outro do Desenvolvimento Agrário. A ideia é a coexistência do agronegócio e do desenvolvimento da agricultura familiar, mas a menina dos olhos é o agronegócio, porque representa muito na balança comercial do País”, acredita Rosa Medeiros. “A dinâmica do agronegócio é muito poderosa e conta com o beneplácito da história brasileira, na qual uma das características mais marcantes em todos os regimes que tivemos é essa presença importante e poderosa da grande produção e da estrutura agrárias concentradas, e que são uma reprodução da raiz da nossa desigualdade social”, avalia Renato Maluf, que reconhece o importante papel do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), mas alerta sobre a necessidade de aprimorar o sistema de financiamento. “O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é inovador e percorre o mundo, mas tem que ganhar mais amplitude do que tem hoje, é preciso decisão política e um tempo para que essa produção seja organizada.” E a proteção contra os movimentos especulativos também já pauta as ações governamentais. A secretária de Segurança Alimentar, Maya Takagi, conta que já há uma discussão sobre a elaboração de um sistema de monitoramento dos preços, tanto dos insumos quanto dos preços dos produtores e os que chegam aos consumidores. “Ainda em fase inicial, a ideia é juntar os diversos índices de preço que existem e elaborar um sistema para acompanhar as oscilações e comparar com anos anteriores. Assim, é possível planejar várias formas de intervenção, verificando onde a elevação se concentra, no atacado ou no varejo, ou se é no nível dos insumos, por exemplo”, explica Maya. “Um segundo ponto é fortalecer a armazenagem, já que, com ela, é possível atuar para enfrentar uma eventual elevação de preços.” Maluf atenta para a necessidade de um diálogo global e ressalta que é preciso agir no cerne do problema: a especulação. “A rodada de Doha caiu, e hoje a regulação financeira é fundamental, mas nem todos querem implementá-la. O Brasil tem regulação, mas os EUA, o principal mercado do mundo, resistem a ela, e o que acontece ali em Chicago repercute no mundo todo”, aponta. “Mas a regulação da especulação financeira depende de um acordo entre as nações e, sobretudo, dos principais países.” Não será fácil.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

UM BANDIDO CHAMADO ANDERS BEHRING BREIVIK

Hora de falar sobre Anders Behring Breivik, o tal norueguês que assumiu a autoria dos atentados terroristas em seu país. Quem ou o que é ele mesmo? Extremista de direita, antimarxista, antimulticulturalista, xenófobo, antiislâmico, cristão fundamentalista, reacionário? Alertado por um amigo, li trechos daquela maçaroca que traz os princípios da sua, digamos assim, “luta”. O Brasil é lembrado. Segundo diz o rapaz, a “mistura de raças” responde pelas dificuldades que o país enfrenta, inclusive a desigualdade social. As convicções de Anders podem até ter sido de direita um dia; hoje, ele é um sociopata, que defende o terrorismo como instrumento de conscientização das massas. O arquivo está aí. Os leitores sabem muito bem o tratamento que defendo para os terroristas — identifiquem-se eles como “fundamentalistas cristãos” ou “fundamentalistas islâmicos”. Aliás, os leitores conhecem o que penso sobre qualquer pensamento que flerte com o terrorismo como instrumento de luta política. Recentemente, quem transformou essa tese num norte conceitual foi o filósofo marxista esloveno Slavoj Zizek, que é tratado como uma pessoa séria por boa parte da esquerda e da imprensa brasileiras. Numa coletânea de textos de Robespierre, intitulada, muito apropriadamente, “Virtude e Terror”, Zizek faz a defesa aberta do terrorismo. O trabalho mereceu no Brasil uma resenha elogiosa do uspiano Vladimir Safatle. Interpretando e explicando o pensamento de Zizek, escreveu o professor: “a partir da Revolução Francesa, sobe à cena do político uma subjetividade ‘inumana’ por recusar toda e qualquer figura normativa e pedagógica do homem, por recusar de maneira ‘terrorista’ os hábitos e costumes, por não se reconhecer mais em natureza e em determinação substancial alguma.” Entenderam? Zizek, Safatle e Breivik — os dois primeiros como pensadores de extrema esquerda e o último como um ativista de extrema direita — nutrem simpatias por uma política que recusa certas balizas normativas. Tanto é assim que Safatle, estimulado pelo mestre, enxergou uma necessidade no mundo moderno: “Construir estruturas institucionais universalizantes capazes de dar conta de exigências de reconhecimento de sujeitos não-substanciais que tendem a se manifestar como pura potência disruptiva e negativa”. Ora, dêem-me exemplos de “seres não-substanciais”, que se manifestam como “potência disruptiva e negativa”… Huuummm… A Al Qaeda? O Hamas (em relação a Israel ao menos)? As Farc? As milícias chavistas? Ocorre que um delinqüente como Anders Behring Breivik, brincando de Hitler norueguês, também entende que existe uma nova “subjetividade”, que se expressa de modo não-subordinado aos limites dado pelo humanismo, com intuito de romper a ordem e criar um novo movimento… Qual é o lugar adequado para um vagabundo dessa espécie e seus eventuais seguidores ou líderes? A cadeia. Ele mata mais de 70 pessoas para combater o marxismo? Querem melhor propaganda do marxismo do que isso? Não há nada que um Hobsbawm consiga fazer em favor de uma teoria moribunda, no que concerne ao proselitismo, que dezenas de cadáveres não façam com mais eficiência. Ele mata mais de 70 pessoas contra a expansão do Islã na Europa? Querem melhor propaganda do islamismo extremista do que dezenas de corpos de jovens alvejados, sem qualquer chance de defesa, em nome do combate ao islamismo? Se alguém escolhe o caminho da morte e do massacre para combater uma religião, reforça o horizonte escatológico dessa crença. Ele mata mais de 70 pessoas contra o multiculturalismo? Querem melhor propaganda do multiculturalismo do que essa manifestação irracional de intolerância, como se o mundo se dividisse entre multiculturalistas, que aceitam a diversidade, e seus oponentes, que a repudiam? Até onde se sabe, a violência autóctone é uma das flores do mal do… multiculturalismo, hoje certamente mais defendido por Ahmadinejad do que por democratas de direita ou de esquerda da Europa. Anders Behring Breivik é um criminoso, e não há um só conservador, respeitado entre conservadores, que se atreva a defendê-lo. Mas há, não obstante, esquerdistas respeitados por seus pares que defendem, por exemplo, os traficantes comuno-fascistas das Farc, cujos métodos não se distinguem dos daquele vagabundo. Os bobões diriam: “Veja o Balbi tentando demonstrar que todas as correntes têm seus extremistas incômodos”. Uma ova! A clivagem, nesse caso, não obedece à conhecida nomenclatura “direita-esquerda”; Breivik não é um direitista incômodo. De jeito nenhum! A divisão que interessa nesse caso se dá entre os que admitem o terrorismo como expressão da luta política e os que não admitem, pouco importa o conteúdo de sua proposição. O intelectual marxista e petista Octavio Ianni, por exemplo, escreveu, pouco antes de morrer, um texto em que afirmava o caráter revolucionário da… Al Qaeda! Eu não reconheço Breivik como um “fundamentalista” do cristianismo porque não há princípio a ser evocado que justifique a morte; aliás, o cristianismo é a religião mais perseguida do mundo; hoje em dia, praticamente só cristãos morrem em razão de sua fé — morrem, não matam. Eu sou um antimulticulturalista convicto porque acredito nos valores universais da democracia ocidental, que reconhecem no indivíduo, e em suas escolhas, a matriz da liberdade; Breivik, um fascista, sonha com uma identidade coletiva. Ele não combate o multiculturalismo coisa nenhuma! Ele combate é a liberdade. Eu sou um crítico do extremismo islâmico e cobro, então, do Islã não-extremista uma clara mensagem de combate ao que seria o desvio da fé. Onde está a mensagem de repúdio ao ódio e de aceitação das outras crenças? Qualquer um que recorra à morte de inocentes ou à imposição de um ponto de vista por intermédio da violência para impor a sua vontade e para anunciar o seu horizonte utópico é um ser desprezível, que tem de ser afastado do convívio social, pouco importa se professa convicções de direita ou de esquerda, cristãs ou muçulmanas, multiculturalistas ou não, ecológicas ou não (já que existe o terrorismo verde). Numa democracia, o flerte com a ilegalidade, ainda que em nome da justiça, só produz mais injustiças. Digam-me um só esquerdista que abraçaria essa minha divisa. Por que não? Afinal, o que há de errado com ela? Defende a democracia e a lei. É que democracia e leis não são valores de… esquerda! E não! Não vou me intimidar com o lixo intelectual e moral dos cretinos segundo os quais um Breivik, com a sua violência, encarnaria a verdadeira face da direita; já as Farc e seus métodos seriam apenas a falsa face da esquerda. Assim, idealmente, a direita encarnaria o mal, como prova… Churchill, e a esquerda, o bem, como prova… Stálin. Que aquele canalha e seus eventuais apoiadores apodreçam na cadeia! E, já que estamos aqui, vamos lá: abaixo o multiculturalismo, vivam as liberdades individuais!
PS - E já que cumpre dizer tudo, espero que Anders não fuja da cadeia e não peça refúgio no Brasil, certo? Ou o PT só aceita homicidas “de esquerda”?

terça-feira, 26 de julho de 2011

Nau sem rumo

É com tristeza e preocupação que presenciamos a trajetória atual do nosso Brasil. A Nação do futuro sofre problemas atrozes, capazes de levá-la a um desastre nunca imaginado nos piores cenários traçados pelos especialistas do ramo. Se não, vejamos. Há quarenta anos nosso país encontrava-se em situação muito melhor do que a China, atual segunda economia mundial, caminhando para ser a primeira em 2030. Eles possuem um sistema econômico pujante, que poupa e investe cerca de 50% do seu PIB. Lá os corruptos são punidos com um tiro na nuca e a família do meliante ainda deve pagar o custo da bala. Possuem o domínio da tecnologia nuclear e espacial, tendo artefatos nucleares em condições de ser empregado na defesa de seus interesses. Seu planejamento estratégico abrange gerações. E nós, ficamos para trás. Os fatos são avassaladores. De início, não possuímos um Plano Nacional de Desenvolvimento. Ora, para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve. E quem não traça seu destino o terá traçado por outro. A corrupção atingiu um caráter endêmico, abrangendo os três Poderes, em especial o Executivo em seus três níveis. Existe já a expectativa de qual será o escândalo da semana, pois a série é interminável. A cada momento, surge um mais escabroso do que os outros. E o pior é a garantia da impunidade. Os delitos são cometidos, a imprensa apura, denuncia, exercendo o papel que deveria caber aos órgãos de controle das respectivas administrações, mas ninguém é punido de fato. O máximo que ocorre é sair, a pedido, do atual cargo para, no futuro, ocupar outra posição ou comandar o processo de indicação do substituto. Consideramos como principais crimes cometidos pelos atuais detentores do poder político no Brasil a abertura para a perda da Integridade do Patrimônio Nacional e o abandono da educação da nossa juventude. O crime de lesa-pátria cometido pelas sucessivas administrações federais e demais “autoridades” no processo de demarcação de áreas indígenas e do reconhecimento do direito de propriedade de “quilombolas” é imperdoável. Seus autores terão seus nomes inscritos na galeria de traidores da Pátria, ao lado de Joaquim Silvério dos Reis e outros. A rede Bandeirantes mostrou, na semana passada, em várias reportagens as barbaridades cometidas contra o país e cidadãos brasileiros, bem como suas trágicas consequências, no relativo à demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol. E o mesmo está em vias de acontecer no Mato Grosso do Sul. De início, o modo cruel e violento, digno das piores ditaduras, com que uma verdadeira “gestapo” invadiu propriedades privadas, sem ordem judicial, para expulsar seus legítimos proprietários, há décadas, jogando-os na miséria. E tudo isto para cumprir orientação oriunda de pressões externas de países e ONGs interessadas nas riquezas lá existentes. Para culminar, a falta de visão dos irresponsáveis que perpetraram tal crime, ignorando o que aconteceu e está acontecendo no mundo (esquartejamento da Iugoslávia, ocupação do Iraque, Afeganistão, agressão à Líbia etc.).A questão “quilombola”, inventada de fora para dentro representa igual risco para a Soberania Nacional. Criaram as condições, por omissão, covardia, cumplicidade, leniência ou razão pior, para a balcanização do território brasileiro, com perda de nossas principais riquezas. Outro desatino grave refere-se ao desprezo como é tratada nossa juventude, em especial no tocante ao processo educacional. Os pais, cada vez mais exigidos pelo consumismo criado artificialmente, passaram a não ter condições reais de educar seus filhos, transferindo a responsabilidade para as escolas. Ora, a função delas é ensinar e complementar a educação que as crianças deveriam receber no Lar. Não a de substituí-lo. Neste danoso processo, o futuro de nosso país, representado pela juventude, está seriamente comprometido. Qual a família responsável que não está seriamente preocupada com a integridade física, moral e intelectual de seus descendentes? Os meios de comunicação, ao invés de atuar positivamente, deseducam, transmitindo programação de baixo nível, com inteira subversão dos valores e princípios morais e éticos do povo brasileiro. O homossexualismo é glorificado e a descriminalização das drogas pregada até por ex-presidentes da República. Querem atingir quais objetivos com a propagação destas anomalias? Qual o pai que deseja ver seus filhos atingidos pelas drogas ou por outros vícios terríveis? O que o MEC pretende pagando edições de milhares de livros, onde a língua portuguesa é agredida e a matemática subvertida, bem como tentando patrocinar a divulgação de “kit gay”? Por que não investir estes recursos na melhoria da qualidade do precário ensino público oferecido aos nossos jovens? Afinal, não adianta ser a sétima ou sexta economia do mundo sem a existência de um povo capaz de usufruir os benefícios desta situação. Serão servos dos “donos do mundo”, meros extratores de matérias primas, eternamente dependentes, sem condições de autonomia e auto-suficiência. O desastre é total. Até nos esportes, passamos a perder todas, ao contrário do passado quando ganhavamos quase todas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A MARCHA DOS VAGABUNDOS

De uns tempos para cá, virou moda a realização de marchas e manifestações de protesto no Brasil. Há marchas para tudo, para todos os gostos. Tem uma marcha da maconha, uma marcha das vadias, uma parada gay (a maior do mundo, e um desfile de bizarrices)... Só não há marchas contra ou a favor do que realmente importa. Convenhamos, há mais e melhores razões para sair de casa e carregar cartazes nas ruas. Há motivos de sobra para se indignar e organizar marchas de protesto no Brasil. Só não há quem as realize. Onde está uma marcha contra a corrupção no governo dos petralhas, que somente este ano já custou o cargo de dois ministros (um deles, pela SEGUNDA vez)? Ou uma marcha contra a empulhação das obras do PAC, que, apesar de toda a fanfarra, não saem do papel? Ou contra a lerdeza nas obras da Copa do Mundo, que, pelo visto, será um festival de ladroeira como foi o Pan do Rio em 2007? Ou pela divulgação dos documentos sigilosos do governo? Ou contra o abrigo a terroristas estrangeiros, que mancha a imagem do País no exterior? Ou por mais segurança, mais saúde, mais educação, mais esgotos etc.? Motivo é o que não falta. Enfim, cadê a “sociedade civil”, os sindicatos, a CUT, a UNE, numa hora dessas? (Só para constar: é claro que eu sei onde estão, e por que não protestam; por que iriam protestar contra aquilo de que fazem parte e de que se beneficiam?) Até parece que, em vez de se indignarem e saírem às ruas cobrando seus direitos e exigindo punição aos corruptos, os brasileiros têm outras prioridades. Em vez de luta contra a roubalheira e a sem-vergonhice, a marcha das vadias... Se eu não fosse tão caridoso, eu poderia até pensar que os brasileiros já estão todos anestesiados e dominados por um discurso vigarista que inverteu o senso de prioridades, ou que foram comprados por um prato de lentilhas. Acharia até que quem marcha por aí nos dias de hoje não passa de um bando de pelegos e vagabundos sustentados pelo dinheiro estatal. (Mas não, é claro que não pode ser nada disso, imagina; pensar assim é coisa da elite...) Por que, em vez de uma marcha da maconha, não organizam uma marcha contra a vadiagem e a cafajestagem na política? Por que não uma marcha em defesa da ética e da inteligência? No Egito, na Síria, na Espanha, na Grécia, a população indignada sai às ruas exigindo mudanças e reformas. Nesses países, a revolta popular já derrubou governos. Só no Brasil causas como a liberação da maconha e a parada gay são mais importantes. Uma verdadeira marcha à ré.

sábado, 23 de julho de 2011

QUANDO A ESCOLA É O ESPAÇO DO INFERNO

Quase 1.000 alunos são punidos, suspensos ou expulsos por dia nas escolas. Quase 1.000 por dia, alguns com 5 anos de idade! Por abusos verbais e físicos. No ano passado, 44 professores foram internados em hospitais com graves ferimentos. Diante do quadro-negro, o governo decidiu que professores poderão “usar força” para se defender e apartar brigas. E poderão revistar estudantes em busca de pornografia, celulares, câmeras de vídeo, álcool, drogas, material furtado ou armas. Achou que era no Brasil? É na Grã-Bretanha. Os dados são de um relatório governamental. “O sistema escolar entrou em colapso”, diz Katharine Birbalsingh, demitida do Departamento de Educação depois de criticar a violência nas escolas públicas inglesas. “Os professores acabam sendo culpados pela indisciplina. A diretoria da escola estimula essa teoria, os alunos a usam como desculpa e até os professores começam a acreditar nisso. Eles não pedem ajuda com medo de parecer incompetentes.” Os alunos jogam a cadeira no mestre, chutam a perna do mestre, empurram, xingam. Ou furam o mestre com o lápis, fazem comentários obscenos, estupram, ameaçam com facas. Alguns são casos extremos pinçados pela imprensa. Os números na Grã-Bretanha preocupam. Mostram que as escolas precisam restaurar a autoridade perdida. Muitos professores abandonaram a profissão por se sentir impotentes. Educadores mais rigorosos pregam tolerância zero com alunos bagunceiros e que não fazem seu dever de casa. As reflexões de lá são iguais às de cá. A violência nas escolas seria uma continuação do lado de fora, na rua e nos lares. A hierarquia cai em desuso. Valores e limites, que quer dizer isso mesmo? Crianças e adolescentes não respeitam ninguém. Nem os pais, nem as autoridades, nem os vizinhos, os porteiros, os pedestres, os colegas, as namoradas. Há uma falta de cerimônia, pudor e educação no sentido mais amplo. E aí a culpa é jogada nos pais. Por não mostrarem o certo e o errado. Não abrirem um tempo de qualidade com os filhos. Esquecê-los em frente a um computador ou televisão. O de sempre. O aluno que peita o professor também xinga os pais. Aric Sigman, da Royal Society of Medicine, em Londres, autor do livro The spoilt generation (A geração mimada) , afirma que, hoje, até criancinhas nas creches jogam objetos e cadeiras umas nas outras. “Há uma inversão da autoridade. Seus impulsos não são controlados em casa. É uma geração mimada que ataca especialmente as mães”, diz ele. Muitos professores abandonam o ensino por se sentir impotentes diante da violência dos alunos E o que o governo britânico faz? Manda o professor revidar. Até agora, ele era proibido de tocar no aluno, mesmo ao ensinar um instrumento numa aula de música. A nova cartilha promete superpoderes aos professores. Mestres, usem “força razoável”, vocês agora têm a última palavra para expulsar um aluno agressivo, revistem mochilas suspeitas. Dará certo? Não acredito. Sem diálogo e consenso entre famílias, escolas, educadores e psicólogos, esse pesadelo não tem fim. No Brasil, a socióloga Miriam Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), admite que os professores passaram a ter medo. Numa pesquisa para a Unesco em Brasília, em 2002, um depoimento a chocou: “Um professor me disse que ia armado para a escola. Como se fosse uma selva. Isso mostra total descrença no sistema”. Ela acha que o Brasil está investindo dinheiro demais em bullying, mas esquece todo o resto: “Nossa escola é de dois séculos atrás”. Os ataques aos professores não se limitam à sala de aula. Carros dos mestres são arranhados, pneus são furados. Eles não têm apoio nem ideia de como reagir. Muitos trocam de escola ou abandonam a profissão. Quando Cristovam Buarque era ministro de Lula, tinha, com Miriam, um projeto nacional de “mediação escolar” para prevenir conflitos, melhorar o ambiente e estimular o aprendizado. “Paulo Freire dizia que a escola era o espaço da alegria, do prazer, mas assim ela se torna o espaço do inferno”, diz Miriam. O projeto não vingou. Cristovam abandonou o barco por sentir que Educação não era prioridade nos investimentos. E continua não sendo. Deveria ser nossa obsessão.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A MORTE DO PSICÓLOGO

A Psicologia no Brasil tem sido cada vez mais necessária para a sociedade e, apesar disso, cada vez menos valorizada. Infelizmente, é frequente a notícia de psicólogos bem qualificados que deixam o consultório para se dedicar a concursos públicos. Por isso, é difícil encontrar estes profissionais, no mercado de trabalho, pois muitos deles trocaram o consultório pela sala de cursinho. Se a situação permanecer assim, não descarto esse caminho para minha esposa, ela própria psicóloga, até porque os psicólogos que restam na iniciativa privada, sem exceção entre aqueles que conheço, também levam em consideração essa alternativa, apesar dos valores que estão sendo ofertados a estes profissionais, em termos de remuneração.. Os honorários dos psicólogos estão ficando para trás em relação aos de outras categorias. Como a Psicologia não tem uma representação séria que se preste a lutar pelos direitos dos profissionais, os consultórios estão menos viáveis com o transcorrer do tempo. Além de ganhar pouco, estes profissionais lidam com repetidos atrasos nos pagamentos realizados por planos de saúde, inclusive de alguns que são considerados – e se consideram – verdadeiras “mães” para os beneficiários. Com que ânimo trabalha um psicólogo nessas condições? Vários psicólogos não toleram trabalhar com tanto estorvo e deixam em pouco tempo a carreira clínica. Uma boa quantia de dinheiro é jogada fora nestes casos, uma vez que a qualificação do profissional é desperdiçada. Com isso, geralmente os pais de psicólogos recém-formados não incentivam mais os filhos a gastar dinheiro com qualificação se, no fim das contas, estes vão percorrer todo o caminho em vão e acabar estudando para concursos. Esses mesmos pais se sentem no direito de alegar: “Já que vou investir meu dinheiro no meu filho, que seja logo com o cursinho!”. Há um grupo de psicólogos que toma um caminho mais comprido para fazer sucesso na clínica. Eles optam pela carreira acadêmica, que lhes serve de vitrine para receber pacientes. Esses não precisam trabalhar com convênios e têm no consultório um complemento das suas atividades docentes. Contudo, sabemos bem que os professores “clínicos” não podem dedicar tanto da sua energia e do seu tempo ao consultório. Embora eu não acredite que a sociedade vá se sensibilizar com o panorama dos psicólogos, as consequências são preocupantes: aumento expressivo no uso de medicação psiquiátrica pela redução de psicólogos capacitados no mercado; aumento de doenças ocupacionais, considerando que nem todos os servidores psicólogos tem motivação/aptidão para o funcionalismo público; queda da qualidade dos serviços psicológicos e consequente prejuízo à imagem do psicólogo; aumento do número de psicólogos que sofrem de depressão e outros transtornos mentais. Por mais que eu queira que minha esposa seja uma heroína da resistência, fico por vezes cansado com todo o descaso com os psicólogos. Hoje ainda não concebo que ela saia do consultório, porque avalio que ela tem ainda uma boa dose de energia para lutar pelo seu trabalho. Mas aviso que a sociedade deve se preparar para viver sem psicólogo, pois eles serão cada vez mais raros se seguirem nessa toada. Talvez o nosso mundo, engenhoso em fabricar ilusões e produtos de consumo, esteja mesmo se preparando para viver sem o pensamento profundo.

HOMENS MADUROS!

Dando uma passada, como sempre, nos blogs, vi uma menção no blog da Regina Laura, http://nobalancodashoras.blogspot.com/, sobre o blog da sua amiga e xará, a Regina Rozembaun http://toforatodentro.blogspot.com, Curioso, também como sempre, fui lá e achei esse texto da Zelia Gattai, que ela gentilmente cedeu e eu posto aqui pra vocês. “Há uma indisfarçável e sedutora beleza na personalidade de muitos Homens que hoje estão na idade madura. É claro que toda regra tem suas exceções, e cada idade tem o seu próprio valor. Porém, com toda a consideração e respeito às demais idades, destacarei aqui uma classe de Homem que são companhias agradabilíssimas: Os que hoje são quarentões, cinqüentões e sessentões. Percebe-se com uma certa facilidade, a sensibilidade de seus corações, a devoção que eles têm pelo que há de mais belo: O SENTIMENTO. Eles são mais inteligentes, vividos, charmosos, eloqüentes. Sabem o que falam e sabem falar na hora certa. São cativantes, sabem fazer-se presentes sem incomodar. Sabem conquistar uma boa amizade. Em termos de relacionamentos, trocam a quantidade pela qualidade, visão aguçada sobre os valores da vida, sabem tratar uma mulher com respeito e carinho. São Homens especiais, românticos, interessantes e atraentes pelo que possuem na sua forma de ser, de pensar e de viver. Na forma de encarar a vida, são mais poéticos, mais sentimentais, mais emocionais e mais emocionantes. Homens mais amadurecidos têm maior desenvoltura no trato com as mulheres, sabem reconhecer as suas qualidades, são mais espirituosos, discretos, compreensivos e mais educados. A razão pela qual muitos Homens maduros possuem estas qualidades maravilhosas deve-se a vários fatores: a opção de ser e de viver de cada um, suas personalidades, formação própria e familiar, suas raízes, sabedoria, gostos individuais, etc... Mas eu creio que em parte, há uma boa parcela de influência nos modos de viver de uma época, filmes e músicas ouvidas e curtidas deixaram boas recordações da sua juventude, um tempo não tão remoto, mas que com certeza, não volta mais. Viveram a sua mocidade (época que marca a vida de todos nós) em um dos melhores períodos de nosso tempo: Os anos 60 e 70. Considerados as “décadas de ouro” da juventude, quando o romantismo foi cantado em verso e prosa. A saudável influência de uma época, provocada por tantos acontecimentos importantes, que hoje permanecem na memória, e que mudaram a vida de muitos. Uma época em que o melhor da festa era dançar agarradinho e namorar ao ritmo suave das baladas românticas. O luar era inspirador, os domingos de sol eram só alegria. Ouviam Beatles, Johnny Mathis, Roberto Carlos, Antonio Marcos, The Fevers, Golden Boys, Bossa Nova, Marres Albert, Jovem Guarda e muitos outros que embalaram suas “Jovens tardes de domingo, quantas alegrias! Velhos tempos, belos dias.” Foram e ainda são os Homens que mais souberam namorar: Namoro no portão, aperto de mão, abraços apertadinhos, com respeito e com carinho, olhos nos olhos tinham mais valor... A moda era amar ou sofrer de amor. Muitos viveram de amor... Outros morreram de amor... Estes Homens maduros de hoje, nunca foram homens de “ficar”. Ou eles estavam a namorar pela certa, ou estavam na “fossa”, ou estavam sozinhos. Se eles “ficassem”, ficariam para sempre... ao trocar alianças com suas amadas. Junto com Benito de Paula, eles cantaram a “Mulher Brasileira, em primeiro lugar!” A paixão pelo nosso país era evidente quando cantavam: “As praias do Brasil, ensolaradas No céu do meu Brasil, mais esplendor.. A mão de deus, abençoou, Mulher que nasce aqui, tem muito mais amor... Eu te amo, meu Brasil, eu te amo... Ninguém segura a juventude do Brasil... sil... sil... sil...” A juventude passou, mais deixou “gravado” neles, a forma mais sublime e romântica de viver. Hoje eles possuem uma “bagagem” de conhecimentos, experiências, maturidade e inteligência, que foram acumulando com o passar dos anos. O tempo se encarregou de distingui-los dos demais: Deixando os seus cabelos cor-de-prata, os movimentos mais suaves, a voz pausada, porém mais sonora. Hoje eles são Homens que marcaram uma época. Eu tenho a felicidade de ter alguns deles como amigos virtuais, mesmo não os vendo pessoalmente, percebo estas características através de suas palavras e gestos. Muitos deles hoje, “dominam” com habilidade e destreza essas máquinas virtuais, comprovando que nem o avanço da tecnologia lhes esfriou os sentimentos pois ainda se encontram com versos, rimas, músicas e palavras de amor. Nem lhes diminuiu a grande capacidade de amar, sentir e expressar seus sentimentos. Muitos tornaram-se poetas, outros amam a poesia. Porque o mais importante não é a idade denunciada nos detalhes de suas fisionomias e sim os raros valores de suas personalidades. O importante é perceber que os seus corações permanecem jovens... São Homens maduros, e que nós, mulheres de hoje, temos o privilégio de poder admirá-los.” Confesso que me senti lisonjeado pelo texto, pois raramente a gente encontra palavras tão gentis e uma avaliação tão favoravel. Agradeço a ela pela parte que me toca! Será que nós estamos com essa bola toda? Eita!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Presidenta?!?!

Tenho notado, assim como aqueles mais atentos também devem tê-lo feito, que a Presidente Dilma Roussef e seus apoiadores, pretendem que ela venha a ser a primeira “Presidenta” do Brasil, tal como atesta toda a propaganda política veiculada pelo PT na mídia. Presidenta? Mas, afinal, que palavra é essa? Bem, vejamos: No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante... Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade. Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não “presidenta”, independentemente do gênero, masculino ou feminino O mesmo cabe para quem governa, o GOVERNANTE, e não a “governanta”. Se diz capela ardente, e não capela “ardenta”; se diz estudante, e não “estudanta”; se diz adolescente, e não “adolescenta”; se diz paciente, e não “pacienta”. Um exemplo (negativo) seria: “A presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta. “

quarta-feira, 20 de julho de 2011

CAPITALISMO, HISTÓRIA DE HUMORES

OS ESTADOS Unidos podem falir dia 2 de agosto se democratas e republicanos não chegarem a acordo sobre a subida do teto da dívida. A União Europeia, com três Estados insolventes (Grécia, Irlanda e Portugal) e mais dois a caminho (Espanha e Itália), vive a pior crise financeira da sua história. De quem é a culpa? Primeira hipótese: a culpa é do endividamento irresponsável a que os dois lados do Atlântico se entregaram nos últimos anos -uma vertigem suicida a que a crise financeira global deu a estocada. Segunda hipótese: a culpa é do próprio sistema capitalista, que só pode gerar destruição e pobreza. Não sei qual das duas hipóteses o digníssimo leitor escolhe. Mas, enquanto pensa, posso sugerir um livro luminoso sobre a matéria? Foi escrito por Jerry Z. Muller e se intitula The Mind and the Market: Capitalism in Western Thought (a mente e o mercado: o capitalismo no pensamento ocidental). O conteúdo da obra está expresso no título: a nossa relação problemática com o capitalismo é mais velha que o mundo. Muller concentra-se no século 18 para começar essa história de amor e desamor. Razão prosaica: terá sido com os inícios da modernidade que o Ocidente passou de um sistema de produção centrado na subsistência dos Estados para um sistema mais vasto de produção centrado na troca. Mas o interesse do livro de Muller está na forma rigorosa, por vezes bem-humorada, como ele faz a ponte entre esses debates modernos e os debates dos nossos ilustres antepassados. Conclusão melancólica: o capitalismo nunca teve grandes amigos. Entre os filósofos gregos, a pleonexia, que podemos traduzir por ganância, era o oposto das virtudes fundamentais que se esperavam do verdadeiro cidadão. E o verdadeiro cidadão é aquele que nutre um amor pelo bem comum, e não apenas pelo bem próprio; esse egoísmo só contribui para arruinar a firmeza e a coesão dos Estados. Essa postura de hostilidade não foi amaciada pelo cristianismo emergente. Pelo contrário: a avaritia e a "luxuria", intimamente ligadas à perseguição dos bens materiais, foram prontamente condenadas pelos doutores da igreja. Um amor desmedido pelas coisas terrenas era uma forma herética de desviar atenções do fim supremo e celestial. Pior ainda: para retomarmos a formulação de Santo Agostinho, “se nós não perdemos, os outros não adquirem”. Ou, inversamente, e adaptando a máxima ao nosso linguajar ressentido e contemporâneo, a existência da riqueza só se faz à custa da pobreza. E, sobre a “usura”, as leis canônicas e civis dos países católicos continuaram a proibi-la até finais do século 18. Os judeus que se encarregassem dessas práticas imundas. Não é de admirar, perante todo esse patrimônio, que a partir do século 18 os intelectuais “modernos” tenham repetido, consciente ou inconscientemente, os argumentos anticapitalistas centrais da tradição greco-latina e judaico-cristã. Uma postura mimética que suplanta ideologias e que é possível encontrar quer à esquerda, quer à direita. À direita, temos um conservador reacionário como o alemão Justus Möser (1720-1794), que via no “livre-mercado” uma ameaça à sociedade tradicional (e hierárquica) da sua Osnabrück natal. À esquerda, encontramos um igualitário como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que na sua crítica ao “luxo” das sociedades comerciais apenas repetia o que vários pregadores medievos tinham dito antes dele. O livro de Muller recorda-nos velhos argumentos contra o capitalismo que são repetidos, no século 21, como se fossem a última moda. Esses argumentos têm a dupla vantagem de fazer esquecer os horrores comprovados das “economias planificadas” e de desculpar os comportamentos irracionais dos indivíduos com a suposta irracionalidade de todo o sistema. Lendo Muller, e relendo através dele os textos de autores tão distintos como Voltaire ou o escocês Adam Smith, entendemos que o capitalismo não é anjo nem demônio. Para retomar as palavras do famoso escocês, o mercado é apenas o mecanismo que permite aos homens perseguir livremente esse desejo universal de melhorarem a sua condição. Com regras e, já agora, com boas maneiras.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Deveres Humanos

A gente nasce devendo a vida aos progenitores e mais acima à organização da inteligência universal que se convencionou denominar Deus, cuja existência (sob desconfiança de parte de cientistas e políticos, ateus e agnósticos, é sentida e abraçada pela maioria das gentes em todos os tempos, sob várias denominações e máscaras, para uma única potência infinita, eterna, cuja magnitude é imensurável para a medida das nossas mentes estreitas e viciadas). Qualquer “direito humano” perde o significado, quando refletimos sobre o dever de cuidar bem da própria vida que cada um recebeu, da responsabilidade com a preservação do constituição física que carrega a essência. Dever de preservar e respeitar todas as formas de vida natural. Dever de fazer escolhas coerentes e afirmativas. Dever de priorizar o bem comum afirmando a individualidade, mesmo nas situações em que é preciso abrir mão de comodidades e tendências, muitas vezes para atender ao poder impositivo do ambiente material. Pensando bem, esta coisa de “direitos”, opostos ao dever de cada indivíduo, vem a ser uma alucinação dos que se opõem a cumprir deveres transcendentais, dos que se rebelam contra a natureza que cada ser humano traz do berço. É moda barulhenta exigir direitos pra este ou para aquele grupo de pessoas que temem reconhecer e enfrentar suas próprias peculiaridades naturais necessitando aprovação externa da lei. Tudo acaba em imposição de preguiçosos e aéticos, contrários ao esforço pessoal necessário para viver, sobreviver, produzir e conquistar méritos, agradecendo o milagre de ser parte de um todo humano e universal em sua eternidade. Professores, padres e pastores bem poderiam inverter esta coisa de ensinar sobre direitos e começar a inquirir os menores e jovens sobre os deveres para com os pais, para com os mais velhos, para com outras crianças, para consigo mesmos diante da sociedade e a cultura nacional. Deveres diante da vida, como parte do gênero humano. No reino da criação, fomos privilegiado. Cada humano carrega suas debilidades e na interação natural “quem não tiver culpas atire a primeira pedra”. Os homens enfrentam a prepotência e a força de uns poucos contra todos não obstante as luzes disponíveis para a convivência contributiva, diferente da convivência competitiva, destrutiva e dedicada ao controle mental e material, abusivo e discricionário que gera a intolerância e o medo. Como o cachimbo entorta a boca, vamos refletir com uma analogia sobre as colméias, que existem há mais tempo que o que se tem documentado sobre as hordas humanas. A abelha rainha, a mãe da colméia é cercada de todos os cuidados e segurança pela família. Só se afasta da casa no momento de ser fertilizada, um único vôo, conhecido como “vôo nupcial”. Volta à casa com o dever de multiplicar e fortalecer seu ninho durante seus três ou pouco mais anos de vida. A população nascente vai cumprindo seu ciclo de vida praticando todas as tarefas, conhecendo todo o funcionamento de sua missão de preservar a vida polinizando a natureza vegetal, multiplicando a vida de onde retiram os alimentos: pólen, néctar, própolis e água. No inicio conhecem todas as tarefas da organização interna: limpar a casa, alimentar a rainha, armazenar os alimentos, produzir a cera para construir e vedar os pequenos silos, alimentar as larvas, guardar a entrada da casa contra predadores, revestir as paredes do ninho com a própolis que protege contra a umidade. Naturalmente preparam-se para o tempo de rigores do inverno, naturalmente implacável. Uma estratégia invejável para muitos povos e governantes que agem como as cigarras da fábula. Somente depois de adultas, voam para conhecer o mundo exterior coletando alimentos e cumprir sua missão de preservar a vida botânica da qual dependem todas as criaturas. No momento em que a rainha mostra fraqueza no exercício de seu dever de postura, é naturalmente substituída. As abelhas conhecem apenas deveres. O direito à vida, o direito de todas as formas de vida vegetal e animal, depende dos deveres que elas cumprem como missão única, persistente, dedicada e eterna. A analogia leva a pensar no que impede os humanos a agir em suas nações, em seus lares na educação dos filhos, como as abelhas agem, obedientes à natureza. O mais que o espírito e o cérebro humano aportam em comodidades, é sempre acréscimo meritório para os deveres cumpridos. Nenhum direito se pode superpor ao dever de preservar a vida em todos os seus aspectos. E os nossos governantes, ao longo da história, têm negado sistematicamente este direito aos homens, conduzindo-os pelos caminhos da auto destruição. O poder que exercem com os recursos gerados pelo trabalho das nações, se fundamenta na organização, mas tem sido deturpado pela persuasão que exercem, com a propaganda maliciosa, venal, que confunde as mentes das gentes, afastando-as dos valores essenciais, da racionalidade e da generosidade que distingue os homens dos outros animais. Nosso dever é buscar e difundir verdades afirmativas e conseqüentes.

domingo, 17 de julho de 2011

O Holocausto na Ucrânia (1930 e 1937)

Normalmente é dito que o número de ucranianos mortos na fome de 1932-33 foi de cinco milhões. De acordo com Robert Conquest, se acrescentarmos outras catástrofes ocorridas com camponeses entre 1930 e 1937, incluindo-se aí um enorme número de deportações de supostos “kulaks”, o grande total é elevado para entorpecentes 14,5 milhões de mortes. E, mesmo assim, se apenas 1% dos alunos do ensino médio já tiver ouvido falar sobre esses eventos, isso já seria um pequeno milagre. Como ocorre em todos os regimes totalitários, a Rússia bolchevista temia toda e qualquer manifestação de sentimento nacionalista entre aqueles povos que eram reféns do regime. A propaganda bolchevique relativa aos direitos das várias nacionalidades dentro da esfera de influência da Rússia mascarava o temor do regime em relação ao poder do nacionalismo. No início de 1918, o líder russo Vladimir Ilitch Lênin tentou impor um governo soviético sobre o povo da Ucrânia, o qual, apenas um mês antes, em janeiro, havia declarado sua independência. De início, o objetivo de Lênin havia sido aparentemente alcançado. Esse governo soviético imposto à Ucrânia tentou de imediato suprimir as instituições educacionais e sociais ucranianas; há até relatos sobre a Cheka, uma precursora da KGB, matando pessoas pelo crime de falar ucraniano nas ruas. Embora o povo ucraniano tenha, ao final de 1918, conseguido restabelecer sua república, essa vitória foi efêmera. Lênin, sem dúvida, iria querer incorporar a Ucrânia ao sistema soviético de qualquer jeito, porém seu real desejo de assegurar o controle da Ucrânia era por causa de seus grandes recursos naturais. Em particular, a Ucrânia ostentava o solo mais fértil da Europa — daí o seu apelido de “o manancial da Europa”. Já no início de 1919, um governo soviético havia novamente sido estabelecido na Ucrânia. Porém, esse novo governo soviético acabou se tornando mais um fracasso. Todos esses eventos estavam ocorrendo durante a Guerra Civil Russa, e a ajuda de facções rivais contribui para um segundo triunfo da independência ucraniana. Com esses dois fracassos, o regime de Lênin aprendeu uma valiosa lição. De acordo com Robert Conquest, autor do livro The Harvest of Sorrow (A colheita do sofrimento), “Concluiu-se que a nacionalidade e a língua ucraniana eram de fato um elemento de grande peso, e que o regime que ignorasse isso de maneira ostentosa estaria fadado a ser considerado pela população como uma mera imposição usurpadora.” Quando os soviéticos adquiriram o controle da Ucrânia pela terceira e última vez em 1920, eles constataram que iriam enfrentar uma contínua resistência e incessantes insurreições a menos que fizessem grandes concessões à autonomia cultural ucraniana. E assim, pela década seguinte, os ucranianos basicamente não foram incomodados em seu idioma e em sua cultura. Porém, uma facção dos comunistas russos se mostrou incomodada com isso, e seguidamente alertava que o nacionalismo ucraniano era uma fonte de intolerável divisão dentro do quadro militar soviético, e que, mais cedo ou mais tarde, a situação teria de ser confrontada de alguma maneira. Avancemos agora oito anos no tempo. Em 1928, com Josef Stalin firmemente no poder, a União Soviética decidiu implantar uma política de requisição compulsória de cereais — uma maneira polida de dizer que o governo iria tomar à força todo o cereal cultivado pelos camponeses, pagando em troca um preço fixado arbitrariamente pelo governo, muito abaixo dos custos de produção. A liderança soviética, em decorrência tanto de informações equivocadas quanto de sua típica ignorância dos princípios de mercado, havia se convencido de que o país estava no limiar de uma crise de escassez de cereais. A requisição compulsória funcionou, mas apenas no limitado sentido de que forneceu ao regime todo o volume de cereais que ele julgava ser necessário. Porém, tal política solapou fatalmente a confiança futura dos camponeses no sistema. Durante a Guerra Civil Russa, em 1919, para tentar combater a fome da população urbana, Lênin havia confiscado em escala maciça os cereais de várias camponeses, que foram chamados de especuladores e sabotadores. Agora em 1928, a possibilidade de novos confiscos, algo que os camponeses imaginavam ser apenas uma aberração bárbara da época da Guerra Civil, passaria a ser uma constante ameaça no horizonte. Os camponeses, naturalmente, passaram a ter menos incentivos para produzir, pois sabiam perfeitamente bem que, dali em diante, os frutos de seu trabalho árduo poderiam ser facilmente confiscados por um regime sem lei — o mesmo regime que havia prometido aos camponeses, quando da promulgação da NEP em 1921, que eles poderiam produzir e vender livremente. Foi apenas uma questão de tempo para que o regime decidisse embarcar em um amplo programa de coletivização forçada das propriedades agrícolas, uma vez que a abolição da propriedade privada da terra era um importante aspecto do programa marxista. Os camponeses despejados foram enviados bovinamente para enormes fazendas estatais. Essas fazendas iriam não apenas satisfazer as demandas da ideologia marxista, como também iriam resolver o grande problema prático do regime: garantir que uma quantidade adequada de cereais fosse ofertada às cidades, onde o proletariado soviético trabalhava duramente para expandir a indústria pesada. Fazendas coletivas estatais significavam cereais estatizados. Alguns especialistas tentaram alertar Stalin de que seus objetivos, tanto industriais quanto agrícolas, eram excessivamente ambiciosos e estavam em total desacordo com a realidade. Mas Stalin nem queria ouvir. Um de seus economistas, diga-se de passagem, chegou a afirmar que “Nossa tarefa não é estudar a ciência econômica, mas sim mudá-la. Não estamos restringidos por nenhuma lei. Não reconhecemos leis. Não há uma só fortaleza que os bolcheviques não possam atacar e destruir.” Paralelamente à política de coletivização forçada implantada por Stalin, ocorreu também uma brutal campanha contra os grandes proprietários de terras, fazendeiros ricos conhecidos como “kulaks”, os quais o governo temia liderarem movimentos de resistência contra a coletivização. Mas era uma fantasia de Stalin imaginar que apenas os kulaks se opunham à coletivização; toda a zona rural estava unida contra o governo. (Até mesmo o Pravda noticiou um incidente no qual uma mulher ucraniana tentou bloquear a passagem de tratores que estavam chegando para começar a trabalhar nas fazendas coletivizadas; a mulher gritara “O governo soviético está recriando a escravidão!”). Stalin falava abertamente de sua política de “liquidar toda a classe dos kulaks”; eles eram a classe inimiga da zona rural. Com o passar do tempo, como era de se esperar, a definição padrão de o que constituía um kulak foi se tornando bastante ampla, até finalmente chegar ao ponto em que o termo — e as terríveis penalidades que eram aplicadas a todos aqueles infelizes a quem o termo era aplicado — podia ser aplicado a praticamente qualquer camponês. Uma historiografia sobre o Partido Comunista, autorizada pelo próprio, relatou que “os camponeses caçaram impiedosamente os kulaks por toda a terra, tomaram todos os seus animais e todo o seu maquinário, e então pediram ao regime soviético para aprisionar e deportar os kulaks.” Como descrição do reino de terror imposto aos kulaks, esse relato não pode nem sequer ser classificado como uma piada sem graça. O regime, e não os camponeses, é quem perseguiu os kulaks. No final, de acordo com uma testemunha ocular, para que um homem fosse condenado a um destino cruel, bastava que “ele tivesse pagado algumas pessoas para trabalhar para ele como empregados, ou que ele tivesse sido o proprietário de três vacas.” As quase 20 milhões de propriedades agrícolas familiares que existiam na Rússia em 1929 estariam, cinco anos depois, concentradas em apenas 240.000 fazendas coletivas. Ao longo de grande parte de toda a história soviética, não era incomum algumas pessoas obterem a permissão para ser donas, em locais distintos, de alguns poucos acres de terra para uso privado. Quando Mikhail Gorbachev assumiu o poder em 1985, os 2% de terra agrícola que eram propriedade privada produziam nada menos que 30% de todos os cereais do país — uma resposta humilhante para todos aqueles que ignorantemente afirmavam que a agricultura socializada seria mais eficiente que a agricultura capitalista, ou que eles poderiam alterar a natureza humana ou reescrever as leis da economia. Na mesma época em que Stalin começou a coletivização forçada, em 1929, ele também recriou a campanha contra a cultura nacional ucraniana, campanha essa que estava dormente desde o início da década de 1920. Foi na Ucrânia que a política de coletivização stalinista deparou-se com a mais ardorosa e violenta resistência — o que não impediu, entretanto, que o processo já estivesse praticamente completo por volta de 1932. Stalin ainda considerava a contínua e inabalável presença do sentimento nacionalista ucraniano uma permanente ameaça ao regime, e decidiu lidar de uma vez por todas com aquilo que ele via como o problema da ‘lealdade dividida’ na Ucrânia. A primeira etapa de sua política foi direcionada aos intelectuais e personalidades culturais da Ucrânia, milhares dos quais foram presos e submetidos a julgamentos ridículos e escarnecedores. Após isso, tendo retirado de circulação aquelas pessoas que poderiam se transformar em líderes naturais de qualquer movimento de resistência, Stalin passou então a atacar o próprio campesinato, que era onde estava o real núcleo das tradições ucranianas. Mesmo com o processo de coletivização já praticamente completo na Ucrânia, Stalin anunciou que a batalha contra os perversos kulaks ainda não estava ganha — os kulaks haviam sido “derrotados, mas ainda não exterminados.” Stalin começaria agora uma guerra — supostamente contra os kulaks — direcionada aos poucos fazendeiros que ainda restavam e dentro das próprias fazendas coletivas. Dado que, a essa altura, qualquer pessoa que por qualquer definição cabível pudesse ser classificada como um kulak já havia sido expulsa, morta ou enviada para campos de trabalho forçado, essa nova etapa da campanha soviética na Ucrânia teria o objetivo de aterrorizar os camponeses comuns. Estes deveriam ser física e espiritualmente quebrados, e sua identidade de seres humanos seria drenada deles à força. Stalin começou estipulando metas de produção e entrega de cereais, as quais os ucranianos só conseguiriam cumprir caso parassem de se alimentar, o que os faria morrer de fome. O não cumprimento das exigências era considerado um ato de deliberada sabotagem. Após algum tempo, e com a produção e entrega inevitavelmente abaixo da meta, Stalin determinou que seus ativistas confiscassem dos camponeses todo o volume de cereais necessário para o governo ficar dentro da meta estipulada. Como a produção era baixa, os camponeses frequentemente ficavam sem nada. O desespero se instalou. Um historiador conta que uma mulher, por simplesmente ter tentado cortar para si um pouco do seu próprio centeio, foi levada presa junto a um de seus filhos. Após conseguir fugir da prisão, ela coletou, com a ajuda do seu filho, alguns poucos itens comestíveis e foram viver na floresta. Morreram após um mês e meio. As pessoas eram sentenciadas a dez anos de prisão e a trabalhos forçados pelo simples fato de colherem batatas, ou até mesmo por colher espigas de milho nos pedaços de terra privada que elas podiam gerir. Tudo tinha de ser do governo. Os ativistas comunistas afirmavam que os sabotadores estavam por todos os lados, sistematicamente retendo e escondendo comida, impedindo o abastecimento das cidades, e desafiando as ordens de Stalin. Esses ativistas invadiam de surpresa as casas dos camponeses e faziam uma varredura no local em busca de alguma comida escondida. Aqueles ativistas mais bondosos ainda deixavam algum resquício de comida para as famílias, porém os mais cruéis saíam levando absolutamente tudo o que encontravam. O resultado foi totalmente previsível: as pessoas começaram a passar fome, em números cada vez maiores. Um camponês que não tivesse a aparência de alguém que esteja esfomeado era imediatamente considerado suspeito pelas autoridades soviéticas de estar estocando comida. Como relata um historiador, “Um ativista comunista, após fazer uma busca minuciosa pela casa de um camponês que não aparentava a mesma fome dos demais, finalmente encontrou um pequeno saco de farinha misturada com casca de árvore e folhas. O material foi confiscado e despejado em um lago do vilarejo.” Robert Conquest cita o testemunho de outro ativista: Eu ouvi as crianças... engasgando sufocadas, tossindo e gritando de dor e de fome. Era doloroso ver e ouvir tudo aquilo. E ainda pior era participar de tudo aquilo.... Mas eu consegui me persuadir, me convencer e explicar a mim mesmo que aquilo era necessário. Eu não poderia ceder; não poderia me entregar a uma compaixão debilitante .... Estávamos efetuando nosso dever revolucionário. Estávamos obtendo cereais para a nossa pátria socialista.... Nosso objetivo maior era o triunfo universal do comunismo, e, em prol desse objetivo, tudo era permissível — mentir, enganar, roubar, destruir centenas de milhares e até mesmo milhões de pessoas... Era assim que eu e meus companheiros raciocinávamos, mesmo quando... eu vi o real significado da “coletivização total” — como eles aniquilaram os kulaks, como eles impiedosamente arrancaram as roupas dos camponeses no inverno de 1932-33. Eu mesmo participei disso, percorrendo a zona rural, procurando por cereais escondidos.... Junto com meus companheiros, esvaziei as caixas e os baús onde as pessoas guardavam seus alimentos, tampando meus ouvidos para não ouvir o choro das crianças e a lamúria suplicante das mulheres. Eu estava convencido de que estava realizando a grande e necessária transformação da zona rural; e que nos dias vindouros as pessoas que viveriam ali estariam em melhor situação por minha causa. Na terrível primavera de 1933, vi pessoas literalmente morrendo de fome. Vi mulheres e crianças com barrigas inchadas, ficando azuis, ainda respirando mas com um olhar vago e sem vida.... Eu não perdi a minha fé. Assim como antes, eu acreditava porque eu queria acreditar. Em 1933, Stalin estipulou uma nova meta de produção e coleta, a qual deveria ser executada por uma Ucrânia que estava agora à beira da mortandade em massa por causa da fome, que havia começado em março daquele ano. Vou poupar o leitor das descrições mais gráficas do que aconteceu a partir daqui. Mas os cadáveres estavam por todos os lados, e o forte odor da morte pairava pesadamente sobre o ar. Casos de insanidade, e até mesmo de canibalismo, estão bem documentados. As diferentes famílias camponesas reagiam de maneiras distintas à medida que lentamente iam morrendo de fome: Em uma choupana, era comum haver algum tipo de guerra entre a família. Todos vigiavam estritamente todos os outros. As pessoas brigavam por migalhas, tomando restos de comida umas das outras. A esposa se voltava contra o marido e o marido, contra ela. A mãe odiava os filhos. Já em outra choupana, o amor permaneceria inviolável até o último suspiro da família. Eu conheci uma mulher que tinha quatro filhos. Ela costumava lhes contar lendas e contos de fadas com a intenção de fazê-los esquecer a fome. Sua própria língua mal podia se mover, mas mesmo assim ela se esforçava para colocá-los em seus braços, ainda que ela mal tivesse forças para levantar seus braços quando eles estavam vazios. O amor vivia dentro dela. E as pessoas notaram que, onde havia ódio, as pessoas morriam mais rapidamente. Entretanto, o amor não salvou ninguém. Todo o vilarejo sucumbiu; todos juntos, sem exceção. Não restou uma só vida. Durante este trabalho, referi-me várias vezes a Robert Conquest, um excelente historiador da União Soviética. Conclamo, insisto e exorto qualquer pessoa com interesse nesses eventos a lerem seu extraordinário livro The Harvest of Sorrow. A leitura flui como se fosse um romance — mas a história relatada é excessivamente real.

sábado, 16 de julho de 2011

Honra e glória à primeira mulher Chefe de Estado no Brasil

Em três de setembro de 1843, a nau Constituição singrou as águas da Guanabara e aportou no Rio de Janeiro. Trazia ao Brasil Teresa Cristina de Bourbon, esposa de D.Pedro II, de cujo casamento nasceu, em 1846, no Paço de São Cristóvão, a carioca Isabel, aquela a quem o futuro consagraria como “A Redentora. A Princesa Leopoldina, irmã mais nova de Isabel, faleceu em Viena em 1871, o que muito abalou o Imperador e levou-o à Europa. Havia dito que “se não lhe dessem a lei que libertaria os escravos, preferia não voltar”. Eis o porquê de ter a Princesa Isabel assumido a Regência e prestado o respectivo juramento no Senado, em 20 de maio daquele ano. Sua Alteza Imperial Regente tornara-se, naquele memorável dia, a primeira mulher Chefe de Estado no Brasil. Éramos uma monarquia parlamentar, com a Chefia de Governo exercida, então, pelo Visconde do Rio Branco, Presidente do Conselho de Ministros. A História havia reservado à nossa primeira Chefe de Estado a honra e a glória de sancionar, em 28 de setembro de 1871, a Lei do Ventre Livre. Após sua assinatura, não nasceriam mais escravos no Brasil. Pedro Calmon registra: “a última das sessões em que se debateu o projeto ficou histórica, porque das galerias caíam flores e o ministro dos Estados Unidos recolheu algumas, dizendo que as mandaria para o seu país, a fim de que vissem acolá que fazíamos sob chuva de pétalas o que tanto sangue lhes custara...” Vicente Tapajós esclarece: “após a luta mais encarniçada de que se tem notícia nos anais parlamentares do Brasil, depois de haver feito nada menos de vinte e um discursos, Silva Paranhos conseguiu apresentar à Princesa Isabel... a lei... que libertou todos os filhos de escravos que nascessem daquele dia em diante.” Por dois outros períodos a Princesa voltaria a ser Regente, sem jamais inventar ser “regenta!” ou tentar impor-se por palavra extravagante na última flor do Lácio. Assumiu a responsabilidade de Chefe de Estado de 1876 a 1877, em virtude de viagem do Imperador aos Estados Unidos; e de 1887 a 1889, quando D.Pedro II, enfermo, buscou curar-se na Europa. Em sua terceira regência seria definitivamente consagrada e entronizada nos corações dos brasileiros educados em famílias sadias, sem preconceitos em face do mérito, estudiosos e ciosos dos valores cristãos. O abolicionismo encontrou em Sua Alteza Imperial o que Pedro Calmon chamou de suprema esperança. Severa senhora exultantemente católica, externava coragem ante o tenso desafio enfrentado pela Nação e pelo Trono. Exemplos não faltam: em 12 de fevereiro de 1888 pôs-se à frente de uma batalha de flores, em Petrópolis, em prol da abolição; em 1886, impedira que a polícia atacasse um quilombo de negros fugidos, mantido pelo comerciante José de Seixas Magalhães, ato que ficou conhecido como episódio das camélias do Leblon. A Lei 3.353, de 13 de maio de 1888, é o ápice de sua glória de Chefe de Estado. Trata-se do diploma consagrado como a Lei Áurea, que a Princesa Imperial Regente assinou com uma pena de ouro, cravejada de pedras preciosas, adquirida pelo povo, a Cr$ 0,50 por pessoa, por proposta do Professor Luís Pedro Drago. “A cerimônia de assinatura, no Paço da Cidade, foi indescritível nos seus tons emocionantes, oradores deslumbrados, o povo a vitoriar a “Redentora”; Patrocínio, de joelhos, a querer beijar os pés da Regente, e retórico, transfigurado: ‘Minha alma sobe de joelhos nestes Paços! ’”. O Papa Leão XIII concedeu-lhe a “Rosa de Ouro”, condecoração oferecida pelo Sumo Pontífice como símbolo permanente de reverência, estima e afeição paterna a personalidades que tenham demonstrado espírito de lealdade para com a Santa Sé. Que demonstração superior poderia ter sido dada por alguma brasileira até hoje? Nossa primeira Chefe de Estado é também, a bem da verdade, a segunda e a terceira mulher brasileira Chefe de Estado, posto que por três vezes distintas dirigiu os destinos da Nação e, em duas delas, tomou decisões que se perpetuaram na História da Pátria. Na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, repousam, desde 1971, Sua Alteza Imperial, Isabel, seu consorte, o Conde D’Eu, marechal do Exército, D.Pedro de Alcântara, Príncipe do Grão Pará, e sua esposa. Repousam naquele templo, desde 1939, seus pais D. Pedro II e Dª Teresa Cristina. Lembremos e honremos sempre todos eles, nós brasileiros muito lhes devemos. Lembremos, em especial, da “Redentora”, todos nós brasileiros brancos e negros, mulatos e índios, amarelos e mamelucos. Honremos sempre cada 13 de maio, para sua memória seja condignamente louvada e exaltada. Lembremos continuamente para que ela, velando pela paz e harmonia da Nação Brasileira, a nós e a nossos descendentes nos livre do venenoso ódio racial que nos querem inocular. Lembremos de que, em homenagem à Princesa, um monumento ergue-se frente à Princesinha do Mar, na avenida que leva seu nome, no Rio de Janeiro. Lembremos, também, que na mesma metrópole, a “Avenida 28 de Setembro” celebra a assinatura das leis do “Ventre Livre” e dos “Sexagenários”. Honremos e glorifiquemos a Princesa Isabel, a Regente, a Redentora, primeira Chefe de Estado do Brasil.
Referências: CALMON, Pedro. História do Brasil, Vol. V, p.1649. Rio de Janeiro. Livraria José Olympio Editora, 1959.. TAPAJÓS, Vicente. Manual de História do Brasil. Rio de Janeiro. Organizações Simões Editora, 1957.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Os Militares, a Greve e a Constituição

Nós, brasileiros, talvez nunca tenhamos entendido o significado da Constituição. Exceção feita à de 1891, cuja vigência se prolongou até a Revolução de 1930, as demais tiveram vida breve, e passaram por numerosas transformações, provocadas por sucessivas emendas. A Constituição de 1988, denominada por Ulysses Guimarães “Constituição Coragem”, entre todas é a mais democrática. Como escreveu o doutor Ulysses, no preâmbulo introduzido à revelia da Assembléia Nacional Constituinte, e que figura na primeira edição do Senado: “Diferentemente das sete Constituições anteriores, começa com o homem. (...). É a Constituição cidadã”. Pois bem, nem ela deixou de estabelecer limites, na defesa do regime democrático. Veja-se o inciso II, do Art. 5: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. O dispositivo, ao mesmo tempo em que liberta, obriga. Obriga o cidadão ao alistamento eleitoral e a votar (Art. 14, I); a prestar serviço militar (Art. 143); e até ao recolhimento de contribuições sindicais (Art. 8º, IV), matéria indigna de figurar em lei de tal importância. Trata-se de Constituição pródiga em direitos, e econômica nas obrigações. Nem por isso, todavia, deixou de impor normas limitativas de conduta, cuja violação ponha em perigo o Estado de Direito. Um dos aspectos mais delicados da legislação constitucional consiste no tratamento dispensado à greve. Para os trabalhadores da iniciativa privada o direito é amplo, mas não irrestrito. Sujeita-se à Lei nº 7.783/89. A garantia de paralisação coletiva se reduz frente à necessidade de “atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade”, hipótese na qual os responsáveis por abusos ficarão sujeitos às penas da lei (Constituição, Art. 9º, §§ 1º e 2º). Relativamente aos servidores públicos civis, a Lei Superior foi mais restritiva. Não obstante tenha reconhecido o direito “à livre associação sindical”, no tocante à greve autoriza o exercício desde que “nos termos e nos limites de lei específica”. Disto segue-se que até a lei exigida converter-se em realidade o direito permanecerá em estado latente. Paralisar serviço público mediante mobilização coletiva afronta a Constituição, e por dois motivos: (1) falta da lei específica; (2) serviço público, mantido pelo contribuinte, é, por natureza, essencial. Por fim, a lei colocada na cúpula do sistema jurídico, e à qual devemos respeito, determina, no Título V, que trata “Da defesa do Estado e das Instituições Democráticas - Capítulo II, Das Forças Armadas”, que “ao militar são proibidas a sindicalização e a greve” (Art. 142, V). A norma, cuja objetividade dispensa comentários, não é apenas limitativa, mas impeditiva. Segundo a mesma legislação constitucional, as Forças Armadas, constituídas por Exército, Marinha e Aeronáutica, compreendem as Polícias Militares dos Estados e os Corpos de Bombeiros militares, considerados forças reservas do Exército (Art. 144, § 6º). Regra idêntica está inserida no Título III, que cuida “Da Organização do Estado, Seção III, Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”. Por fortes que sejam os motivos determinantes da paralisação e da ocupação de instalações militares, os bombeiros do Rio de Janeiro violaram a Constituição da República, e o Código Penal Militar. Quebraram os princípios de disciplina e hierarquia. Militar não faz greve: promove motim. Da mesma maneira que discordamos de greves na Previdência Social, no Poder Judiciário, em hospitais e escolas, não podemos admitir que militares se amotinem contra os superiores e coloquem em risco o Poder Civil. Se os vencimentos estão aquém do mínimo de subsistência, a responsabilidade cabe a comandantes que não levaram o pedido de reajustamento ao Secretário de Segurança, e a este, que não soube transmitir ao governador do estado a situação de intranquilidade da tropa. A história recente da República encerra episódios trágicos de amotinação. Lembremo-nos da ocupação do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio por fuzileiros navais em março de 64, e de tudo que sucedeu depois, culminando na deposição do presidente João Goulart. Se o estado de insubordinação se manifestasse em batalhão do Exército, aquartelado no centro da cidade, como reagiria o governo?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Vigotski e o conceito de zona de desenvolvimento proximal

Todo professor pode escolher: olhar para trás, avaliando as deficiências do aluno e o que já foi aprendido por ele, ou olhar para a frente, tentando estimar seu potencial. Qual das opções é a melhor? Para a pesquisadora Cláudia Davis, professora de Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sem a segunda fica difícil colocar o estudante no caminho do melhor aprendizado possível. “Esse conceito é promissor porque sinaliza novas estratégias em sala de aula”, diz Cláudia. O que interessa, na opinião da especialista, não é avaliar as dificuldades das crianças, mas suas diferenças. “Elas são ricas, muito mais importantes para o aprendizado do que as semelhanças.” Não há um estudante igual a outro. As habilidades individuais são distintas, o que significa também que cada criança avança em seu próprio ritmo. À primeira vista, ter como missão lidar com tantas individualidades pode parecer um pesadelo. Mas a pesquisadora garante: o que realmente existe aí, ao alcance de qualquer professor, é uma excelente oportunidade de promover a troca de experiências. Essa ode à interação e à valorização das diferenças é antiga. Nas primeiras décadas do século 20, o psicólogo bielorrusso Lev Vigotski (1896-1934) já defendia o convívio em sala de aula de crianças mais adiantadas com aquelas que ainda precisam de apoio para dar seus primeiros passos. Autor de mais de 200 trabalhos sobre Psicologia, Educação e Ciências Sociais, ele propõe a existência de dois níveis de desenvolvimento infantil. O primeiro é chamado de real e engloba as funções mentais que já estão completamente desenvolvidas (resultado de habilidades e conhecimentos adquiridos pela criança). Geralmente, esse nível é estimado pelo que uma criança realiza sozinha. Essa avaliação, entretanto, não leva em conta o que ela conseguiria fazer ou alcançar com a ajuda de um colega ou do próprio professor. É justamente aí - na distância entre o que já se sabe e o que se pode saber com alguma assistência - que reside o segundo nível de desenvolvimento apregoado por Vigotski e batizado por ele de proximal. Nas palavras do próprio psicólogo, “a zona proximal de hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã”. Ou seja: aquilo que nesse momento uma criança só consegue fazer com a ajuda de alguém, um pouco mais adiante ela certamente conseguirá fazer sozinha (leia um trecho de livro na terceira página). Depois que Vigotski elaborou o conceito, há mais de 80 anos, a integração de crianças em diferentes níveis de desenvolvimento passou a ser encarada como um fator determinante no processo de aprendizado.
Trocas positivas numa via de mão dupla
Com a troca de experiências proposta por Vigotski, o professor naturalmente deixa de ser encarado como a única fonte de saber na sala de aula. Mas nem por isso tem seu papel diminuído. Ele continua sendo um mediador decisivo, por exemplo, na hora de formar equipes mistas - com alunos em diferentes níveis de conhecimento - para uma atividade em grupo. A principal vantagem de promover essa mescla, na concepção vigotskiana, é que todos saem ganhando. Por um lado, o aluno menos experiente se sente desafiado pelo que sabe mais e, com a sua assistência, consegue realizar tarefas que não conseguiria sozinho. Por outro, o mais experiente ganha discernimento e aperfeiçoa suas habilidades ao ajudar o colega. “Em algumas atividades, formar grupos onde exista alguém que faça a vez do professor permite que o docente trabalhe mais diretamente com quem não conseguiria aprender de outra forma”, afirma Cláudia. “Deve-se adotar uma estratégia diferente com cada tipo de aluno: o que apresenta desenvolvimento dentro da média, o mais adiantado e o que avança mais lentamente.” Não se deve, porém, escolher sempre as mesmas crianças como “ajudantes”, deixando as demais sempre em aparente condição de inferioridade. “É importante variar e montar os grupos de acordo com os diferentes saberes que os alunos precisam dominar”, complementa a psicóloga Maria Suzana de Stefano Menin, professora da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). O educador também não pode se esquecer de outro ponto crucial na teoria de Vigotski: a zona de desenvolvimento proximal tem limite, além do qual a criança não consegue realizar tarefa alguma, nem com ajuda ou supervisão de quem quer que seja. É papel do professor determinar o que os alunos podem fazer sozinhos ou o que devem trabalhar em grupos, avaliar quais atividades precisam de acompanhamento e decidir quais exercícios ainda são inviáveis mesmo com assistência (por exigir saberes prévios que ainda não estão consolidados ou acessíveis).