Estavamos praticamente chegando ao final de uma viagem que fazíamos, meus pais, meus irmãos e eu, quando fomos parados por um policial rodoviário federal. Como solicitado, meu pai entregou a ele os documentos pessoais e os do veículo.
Depois da vistoria geral do veículo o policial, ainda com os documentos em mãos, perguntou de onde vínhamos. Respondeu: de longe. Ele então insistiu, para onde vai? Respondeu: Para mais longe ainda. Minha mãe ficou assustada e cutucou-o para que ele respondesse as perguntas corretamente.
Ele então disse a ela, em tom alto o suficiente para que o policial também ouvisse, que ele o estava respeitando em toda a plenitude de seus direitos, entregando-lhe os documentos solicitados e acatando qualquer decisão dele em relação ao seu trabalho, inclusive de multá-lo se ele tivesse feito algo ilegal, mas que ele não tinha a obrigação de informar de onde vinha ou para onde iria, pois aquele não era mais o papel e nem o direito dele.
A intenção de meu pai, naquele momento, jamais foi a de desacatar o policial, mas ensinar aos seus filhos que, em qualquer situação, nunca deveriam abrir mão de seus direitos. Já se passaram aproximadamente 45 anos do ocorrido e este ensinamento ainda me acompanha. Não podemos invadir o direito de nenhuma pessoa, independentemente de sua posição religiosa, educacional, cultural ou profissional e nem permitir que nenhum espaço do nosso direito seja invadido.
Respeitar direitos muitas vezes significa abrir mão, se desprender de algo que julgamos ser nosso- como os filhos-, quando na realidade só o que podemos fazer é educá-los enquanto pequenos, encaminhar seus estudos e acompanhá-los até que possam alçar vôo próprio.
Já na juventude ou até antes dela eles já nos mostram que possuem vontade própria, desejos e objetivos diferentes dos nossos. Por sua imaturidade muitas coisas precisam ser controladas, contrariando-os, encaminhando-os por mais um período, para que possam amadurecer mais e aí sim, cobrar seus direitos.
Nessa fase já precisam estar preparados para, na vida em sociedade, exigir o respeito por seus direitos, mas também, claro, respeitar o das outras pessoas. E, se muitos deles tomarem para si esse princípio e continuarem, com a educação dos próprios filhos, certamente em algumas décadas teremos um país bem melhor.
Certa vez ouvi de uma pessoa já bem mais idosa, muito experiente, sábia e com quem aprendi muito, que as ações individuais são propagadas como as ondas criadas na água quando atingida por uma pedra. Na primeira propagação é um círculo pequeno, empurrado para mais longe pelo segundo, que é empurrado pelo terceiro e assim sucessivamente até que o efeito do impacto da pedra na água deixe de tumultuar o local do impacto.
O choque inicial diminui à medida que a pedra se distancia, aprofunda na água e nenhuma onda será provocada depois de certa profundidade. Sem a geração de novas ondas a tranquilidade da água vai voltando desde o local inicial até atingir a margem que havia recebido todas as ondas.
Como no lago, a paz volta quando toda a propagação de uma nova idéia, regra, ação, ou atitude política foi totalmente absorvida pela sociedade. A exigência do respeito a seus direitos e a observância dos direitos alheios deveria ser posta em prática do mesmo modo, partindo da educação dos jovens em casa, que criaria uma onda na escola, no bairro, na cidade, município e assim por diante.
A cobrança por seus direitos e o respeito pelo dos outros é um exercício diário, difícil, mas se todos sempre o exigissem, em quaisquer situações, certamente teríamos convivências muito mais pacíficas e harmoniosas entre as pessoas, os países e os continentes.
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