"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A MORTE DO PSICÓLOGO

A Psicologia no Brasil tem sido cada vez mais necessária para a sociedade e, apesar disso, cada vez menos valorizada. Infelizmente, é frequente a notícia de psicólogos bem qualificados que deixam o consultório para se dedicar a concursos públicos. Por isso, é difícil encontrar estes profissionais, no mercado de trabalho, pois muitos deles trocaram o consultório pela sala de cursinho. Se a situação permanecer assim, não descarto esse caminho para minha esposa, ela própria psicóloga, até porque os psicólogos que restam na iniciativa privada, sem exceção entre aqueles que conheço, também levam em consideração essa alternativa, apesar dos valores que estão sendo ofertados a estes profissionais, em termos de remuneração.. Os honorários dos psicólogos estão ficando para trás em relação aos de outras categorias. Como a Psicologia não tem uma representação séria que se preste a lutar pelos direitos dos profissionais, os consultórios estão menos viáveis com o transcorrer do tempo. Além de ganhar pouco, estes profissionais lidam com repetidos atrasos nos pagamentos realizados por planos de saúde, inclusive de alguns que são considerados – e se consideram – verdadeiras “mães” para os beneficiários. Com que ânimo trabalha um psicólogo nessas condições? Vários psicólogos não toleram trabalhar com tanto estorvo e deixam em pouco tempo a carreira clínica. Uma boa quantia de dinheiro é jogada fora nestes casos, uma vez que a qualificação do profissional é desperdiçada. Com isso, geralmente os pais de psicólogos recém-formados não incentivam mais os filhos a gastar dinheiro com qualificação se, no fim das contas, estes vão percorrer todo o caminho em vão e acabar estudando para concursos. Esses mesmos pais se sentem no direito de alegar: “Já que vou investir meu dinheiro no meu filho, que seja logo com o cursinho!”. Há um grupo de psicólogos que toma um caminho mais comprido para fazer sucesso na clínica. Eles optam pela carreira acadêmica, que lhes serve de vitrine para receber pacientes. Esses não precisam trabalhar com convênios e têm no consultório um complemento das suas atividades docentes. Contudo, sabemos bem que os professores “clínicos” não podem dedicar tanto da sua energia e do seu tempo ao consultório. Embora eu não acredite que a sociedade vá se sensibilizar com o panorama dos psicólogos, as consequências são preocupantes: aumento expressivo no uso de medicação psiquiátrica pela redução de psicólogos capacitados no mercado; aumento de doenças ocupacionais, considerando que nem todos os servidores psicólogos tem motivação/aptidão para o funcionalismo público; queda da qualidade dos serviços psicológicos e consequente prejuízo à imagem do psicólogo; aumento do número de psicólogos que sofrem de depressão e outros transtornos mentais. Por mais que eu queira que minha esposa seja uma heroína da resistência, fico por vezes cansado com todo o descaso com os psicólogos. Hoje ainda não concebo que ela saia do consultório, porque avalio que ela tem ainda uma boa dose de energia para lutar pelo seu trabalho. Mas aviso que a sociedade deve se preparar para viver sem psicólogo, pois eles serão cada vez mais raros se seguirem nessa toada. Talvez o nosso mundo, engenhoso em fabricar ilusões e produtos de consumo, esteja mesmo se preparando para viver sem o pensamento profundo.

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