"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ESTADOS UNIDOS: GUERRA, PÃO E CIRCO

‘Não em vão dizia Frederico II da Prússia que se deve fazer a guerra de tal modo que a população civil não se de conta dela. A divisa das guerras do absolutismo era: ‘ a calma é o primeiro dever dos súditos’. (G.Lukács – O romance histórico, 1954) Ainda que a condução da política econômica norte-americana, de cunho neoliberal, tenha sido responsabilizada pelas culpas do desastre econômico que se abateu sobre os Estados Unidos, irradiando-se em seguida pelo mundo, é bom lembrar que a razão dele é a manutenção de uma custosa guerra travada do outro lado do planeta a um custo astronômico que se somou a mais absoluta irresponsabilidade em conter os gastos com o consumo interno. Medidas de contenção Quando o Brasil declarou guerra às potências fascistas em agosto de 1942 , as primeiras providências do governo de Getúlio Vargas não foram no sentido da convocação das tropas mas sim de impor severas medidas de contenção de gastos. Durante os três anos seguintes o fornecimento de energia foi condicionado por cortes de luz a partir de determinadas horas, o mesmo se dando com o combustível ao lado de um rigoroso sistema de racionamento geral. Não que o Brasil temesse uma invasão nazi-fascista mas simplesmente porque tais medidas são comuns a qualquer nação que esteja em guerra. Poupa-se para gastar com as tropas, é o jejum do civil quem mantém o soldado. Exatamente o oposto tem sido a política dos Estrados Unidos. Os governos americanos, tanto o dos democratas durante a Guerra do Vietnã, como o dos republicanos no Afeganistão e no Iraque, tocaram os conflitos sem exigir sacrifícios dos cidadãos. Ao contrário, estimularam ainda mais o consumo e o gasto conspícuo. O resultado disto, primeiro, foi a grande inflação da década de 1970, e, em segundo, a atual quebra do sistema financeiro que se alastra pelo mundo. E isto, essencialmente, tem mais a ver com a prática imperial e pouco a ver com o capitalismo. Pão e Circo Na Roma antiga, os generais vindos das campanhas de espoliação dos povos subjugados, desfilavam pela cidade jogando moedas para a plebe. Em seguida, promoviam um magnífico espetáculo circense para agradá-la ainda mais. Dividindo os ganhos com a multidão no Coliseu, eles corrompiam a população tornando-a cúmplice da rapinagem. Era esta a razão de até a conversão ao cristianismo, jamais haver em Roma quem fizesse restrições morais às conquistas de um César, de um Tibério ou de um Trajano. Ora, as moedas que o governo americano jogou ao seu povo em troca do apoio foram exatamente as de ordem hipotecária. Para manter-lhe a fidelidade à invasão do Afeganistão e do Iraque, que já dava os primeiros sinais do desastre, o Congresso norte-americano aprovou em 2004, no terceiro ano da guerra, com a designação de ‘empréstimos sociais’, a lei que permitiu aos agentes imobiliários - Fannie Mae e Freddie Mac - repassar recursos para aqueles que não tinham as garantias suficientes. Ao mesmo tempo, o FED (Federal Reserve), entre 2002 e 2004, desta feita com Bagdá em chamas, manteve as taxas de juros abaixo da inflação durante 31 meses, para dopar o povo com dinheiro fácil (o endividamento das famílias que andava ao redor de 60% da renda, saltou para 130%). E, evidentemente, seguindo o conselho de Frederico II, não tomou nenhuma medida restritiva ao consumo em larga escala para que ninguém criasse obstáculos à operação colonialista contra dois paises muçulmanos, pois ‘a calma é o primeiro dever do súdito’. Um gasto astronômico O resultado disto – liberação do consumo interno mais as fantásticas despesas com a guerra no exterior por cinco anos seguidos - é que os custos previstos para a aventura, segundo o Mitch Daniels o chefe do orçamento nacional, estimados inicialmente entre U$ 100 e 200 bilhões, provavelmente alcançarão a U$ 1 trilhão em 2010. Algo assim como U$ 300 milhões/dia, gerando um déficit anual de U$ 455 bilhões. O prêmio Nobel Joseph Stiglitz e Linda Blames ( in The Trillion Dollar War: the true cost of the Iraq conflict, 2008) , por sua vez, mais pessimistas, jogam as despesas para possíveis U$ 4,5 trilhões! Contribui mais do que tudo para o desabamento das coisas o fato da ocupação ir de mal a pior, de não haver uma perspectiva de uma paz produtiva que esteja ao alcance dos olhos. Isto tudo gerou a desconfiança universal com os papéis norte-americanos. Permitiram que os sem-renda participassem de um banquete sem terem dinheiro para cobrir sequer a sobremesa, ao tempo em que deixaram livre o pasto para os ganhos extraordinários dos lobos de Wall Street.

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