"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ABRAÃO LINCOLN, BARACK OBAMA E A CASA DIVIDIDA

“Uma casa dividida não pode parar em pé. Eu acredito que este governo não pode manter-se, permanentemente, meio escravo e meio livre. Eu não espero que a União se dissolva – eu não espero que a casa caia – mas eu espero é que ela cesse de ficar dividida.”A. Lincoln – Discurso da Casa Dividida (Springfield, Illinois, 18 de junho de 1858 O presidente Barack Obama em reiteradas ocasiões manifestou-se admirador de Abrão Lincoln, o líder abolicionista, assassinado em 1865. O motivo disto, todavia, não é relembrar a questão já superada da escravidão nem as cicatrizes da Guerra de Secessão, mas sim a obsessão do presidente-herói pela manutenção da união política dos norte-americanos. O adversário de Abraão Lincoln ao senado de Illinois era um tipo formidável. Stephen Douglas, ‘ o pequeno gigante’, era um orador brilhante e um polemista de primeira. Lincoln, quase um recém chegado à política, mostrou, há 150 anos atrás, enorme coragem em desafiá-lo para uma série de debates públicos a serem travados em várias cidades do estado (Ottawa, Freeport, Jonesboro, Charleston, Galesburg, Quincy e Alton, entre 21 de agosto a 15 de outubro de 1858). Stephen acusava Lincoln de interpretar de modo incorreto a Declaração de Independência que afirmava a igualdade de todos. Para ele os negros não eram iguais, não mereciam ter direitos humanos. Lincoln, ao contrário, enfatizou que a questão da escravidão não era apenas um problema dos americanos, muito menos de Illinois, mas sim uma desgraça universal a ser varrida da América. O que não cessou de destacar era o estrago que a permanência do sistema servil provocava na vida dos Estados Unidos. Foi na largada da campanha de 1858 que ele pronunciou o famoso discurso da ‘Casa Dividida’ prevendo que aquela situação do país, ter uma parte livre e outra escrava, não poderia perdurar. Bastava ver o que estava se passando no território do Kansas, o ‘Kansas ensangüentado’ de Horace Greely, onde bandos de pistoleiros pró e contra a escravidão se tiroteavam há quatros anos. Tudo pela União Eleito presidente em 1860, Lincoln não hesitou em aceitar a guerra que lhe fora imposta pelos estados do sul escravista quase que em seguida a sua posse. Não podia concordar que a casa ruísse inteiramente. A União da América tinha que ser preservada. E o foi depois de 618 mil americanos mortos! Num encontro que Lincoln teve na Casa Branca com Frederick Douglas e algumas lideranças negras após ter feito aprovar a 13ª emenda, a que aboliu com a servidão nos Estados Unidos, se manifestou pessimista quanto ao destino da gente de cor. Não acreditava que eles fossem algum dia integrados à sociedade dominada pelos brancos. Chegou até a recomendar que arrumassem um modo de voltarem para a África agora que os havia libertado. Mas nenhum deles mostrou entusiasmo com a idéia. Lincoln estava errado. Barack Obama é o resultado disto. Um foi fruto do Movimento Abolicionista, o outro do Movimento pelos Direitos Civis. O jovem presidente negro que assumiu o mais alto cargo do país, tal como Lincoln, herdou uma casa dividida. Pela guerra no oriente e pela crise econômica. Está falida e endividada.Terá pela frente uma tarefa digna de um Hércules para fazer com que ela não estremeça e se transforme numa ruína. Daí o simbolismo de começar sua posse em Washington pronunciando-se no Memorial Lincoln, o homem que lutou pela união e evitou que a casa desabasse.

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