"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

terça-feira, 8 de março de 2011

AUTO-ILUSÃO CONTRA A AIDS

As pessoas tem uma capacidade muito grande para inventar histórias e explicações fantásticas. Muitas usam esta capacidade para criar visões distorcidas da realidade na esperança de construirem para si mesmas um universo mais feliz e justo. Uma coisa que frustra muitos seres humanos é a sua impotência diante do universo e das leis naturais e é isso que deixa muitos mais propensos a acreditarem em magia, bruxaria, vidência, paranormalidade e coisas do tipo. A pseudo-medicina tem um apelo tão grande justamente por criar um mundo ilusório no qual a panacéia não é um mito - mas algo real. Você só precisa ignorar tudo o que dizem os cientistas e médicos materialistas, positivistas e malvados. Eles participam de uma conspiração secreta para esconder a existência da panacéia das pessoas comuns. Também existe um outro tipo de auto-ilusão ainda mais irracional. Aquela que ao invés de afirmar a existência de algo inexistente nega a existência de algo que existe. Essas pessoas simplismente ignoram todas as provas de existência de algo. Os criacionistas e os neo-nazistas que negam o holocausto são um bom exemplo. Eles demonstram um pseudo-ceticismo profundo contra qualquer evidência que vá contra o que eles acreditam. Recentemente, descobri um outro exemplo muito triste de pessoas que rejeitam a existência de algo evidente. Eles formam um grupo conhecido como CURA, ou Centro pela Urgência da Reavaliação da AIDS. Apesar da sigla, as idéias que este grupo defende não tem absolutamente nada de benéficas para a saúde das pessoas. O que essa gente afirma é que o HIV não causa AIDS. Ou seja, não tem problema algum em fazer transplantes de sangue em pessoas que são portadoras do vírus e também o uso de camisinha não em efeito nenhum na prevenção da doença. Dizem também que se você foi diagnosticado como soropositivo, não deve tomar o coquetel de medicamentos contra a AIDS, pois é esse medicamento que vai fazer você ficar com AIDS. Este movimento de dissidência é quase tão antigo como o descobrimento do HIV. Tudo isso começou com os questionamentos do professor de biologia molecular e celular Peter Duesberg que acusava os estudos que indicavam que o HIV causa AIDS de serem inconclusivos. Não demorou muito para que outros pesquisadores passassem a concordar com as opiniões de Duesberg. Em princípio, não havia nada de errado neste questionamento, pois uma das principais vantagens da ciência é a inexistência de dogmas. Qualquer dissidência no meio científico deve ser visto como algo positivo, pois elas podem fazer com que teorias sejam refinadas e melhoradas. O problema acontece quando pessoas com uma posição minoritária começam a escrever artigos para a mídia e para pessoas comuns dizendo que a sua opinião dissidente é uma verdade e que já foi comprovada. Não demorou muito para que pessoas comuns que estavam contaminadas pelo vírus tomassem conhecimento das idéias defendidas pelos cientistas dissidentes. Eles diziam que os portadores da doença não estavam condenados a morrer e que podiam levar uma vida sexual normal. Não é muito difícil entender porque muitos preferiram acreditar em uma minoria dissidente do que na opinião da esmagadora maioria de especialistas. Embora no começo existissem muitos pesquisadores que tinham esta opinião, a maior parte deles acabou abandonando o movimento dissidente justamente porque as evidências de que HIV causa AIDS eram tantas que não podiam mais ser ignoradas. É o caso dos pesquisadores Robert Root-Bernstein e Joseph Sonnabend, que depois de apoiarem muito a dissidência, acabaram reconhecendo que estavam errados. Mas infelizmente, existem pessoas que são teimosas demais para mudarem de idéia. É o caso do próprio Duesberg e de milhares de pessoas que mantém o Movimento de Reavaliação da AIDS vivo. Existiu até o caso de um médico chamado Robert Wilner que injetou o vírus HIV em si mesmo em um programa de televisão. Pena que o infeliz acabou morrendo algum tempo depois devido à um acidente de carro antes de desenvlver a doença. Se ele não tivesse morrido desta forma estúpida, ao menos outras pessoas poderiam aprender com o erro que ele cometeu. Quando tentei entender o que fazia tanta gente acreditar que o vírus HIV era inofensivo, me deparei com várias explicações e argumentos clássicos de pseudo-ciências. Haviam pessoas dizendo que havia uma conspiração mantida pela indústria farmacêutica para encobrir o movimento justamente porque isso iria diminuir a venda de remédios. É claro, isso é um absurdo. A existência de coquetéis de remédios para tratar a AIDS é recente e durante a maior parte do tempo não havia medicamento capaz de melhorar a vida de pessoas contaminadas. Porque então a indústria farmacêutica iria encobrir isso muito tempo antes de surgirem os primeiros remédios? Também encontrei pérolas como: "Cada pessoa é um emaranhado de relações muito complexas (corpo, mente, espirito). Todas estas partes necessitam estar em harmonia para funciomar bem.Existe um ramo da psicologia/psiquiatria, a imunoneuropsicologia, que diz que apenas pelo fato de um indivíduo saber que supostamente tem um vírus mortal, morre! (É famoso o caso de dois caras na Europa, que ficaram presos dentro do bau de um caminhão frigorífico e morreram de frio. Acontece que o o resfriador do caminhão estava desligado!).". Bem, vou ignorar todas as teorias da conspiração, lendas urbanas e falácias que estes negacionistas tanto defendem e me aterei a analizar alguns de seus argumentos mais lógicos. O primeiro deles é: * Existem pessoas sem HIV que possuem AIDS. Errado. O que existem são casos de distúrbios de imunodeficiência que aparecem em pessoas que não estão contaminadas por HIV. Estes distúrbios podem ser causados por bactérias, fungos ou podem ser hereditários. Assim como uma pessoa com AIDS, as defesas do organismo de uma pessoa com o distúrbio não funcionam e o organismo fica vulnerável ao ataque de microorganismos. Na verdade, qualquer tipo de doença debilita um pouco o sistema imune de uma pessoa. Mas o fato de existirem problemas de saúde semelhantes aos causados pela AIDS não significa que a AIDS não exista. Toda AIDS é uma imunodeficiência, mas nem toda imunodeficiência é AIDS. * O HIV não atende aos postulados de Koch , que são critérios que precisam ser rigorosamente atendidos a fim de provar que um determinado micróbio causa uma doença. Não há dúvidas de que o HIV causa AIDS em meio à comunidade científica. As origens do vírus já foram traçadas e o mecanismo pelo qual ele atua é conhecido. Já sabemos que qualquer pessoa que tenha o vírus injetado acidentalmente ou que o obtenha através de relações sexuais, irá sim desenvolver a doença. Virtualmente todos os testes com pacientes que possuem AIDS mostraram que eles são HIV soropositivo. E o HIV já foi isolado de pacientes com AIDS. O que acontece é que muitos dos negacionistas simplismente não lêem estudos mais modernos sobre AIDS e se atêm apenas a argumentos e estudos da década passada. Já aqueles que estão mais bem informados, simplismente usam uma interpretação própria do que seriam os "Postulados de Koch" tudo para que teimosamente possam continuar a defender suas idéias insensatas. Eu realmente tentei encontrar outros argumentos com um pouco mais de lógica, mas tudo o que encontrei foram mais teorias da conspiração e também um questionamento sobre as metodologias usadas por pesquisadores. O problema é que as pessoas que faziam tais críticas metodológicas não estavam nem um pouco qualificadas para falar sobre isso. Outro argumento que os dissidentes gostam bastante é um extremamente absurdo que diz que a AIDS tem origem psicossomática (é psicológica). É bastante triste ver como tem tanta gente se iludindo e preferindo acreditar em uma fantasia para não ter que conviver com o fato de que está com uma doença incurável. O problema é que por causa desta ilusão, elas deixam de buscar tratamento, fazem com que outras pessoas não se tratem e contribuem para a proliferação do vírus HIV. Para podermos ver quantos problemas esta gente está causando, basta lembrarmos que na África a existência deses dissidentes está sendo usada como desculpa por alguns governos para não fornecer tratamento contra a AIDS para o seu povo. Também existem palestras nas quais a desinformação e mentiras sobre o tema são espalhadas livremente e já vi recomendarem o uso de suco de couve, espinafre e limão para tratar AIDS . Não é difícil perceber as conseqüências desastrosas de toda esta campanha de desinformação e mentira. O Brasil é o país que fornece o melhor tratamento gratuito do mundo para a AIDS. Possuir esta doença não é mais o fim do mundo como era a 10 anos atrás. É perfeitamente possível controlar o avanço da doença através de coquetéis de medicamentos fornecidos pelo SUS. A única coisa que parece ser muito difícil de controlar é a estupidez de pessoas como os membros do CURA. Para isso, parece que nenhum remédio ou argumentação surte efeito.

Um comentário:

  1. Muito bem professor, o senhor acha que Peter Duesberg, Kary Mullins e alguns outros cientistas são gênios, loucos ou mentirosos? Todos eles dizem que a hipótise HIV=AIDS é uma grande jogada das multis. O que o senhor diria?

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