"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

domingo, 8 de novembro de 2009

LEMBRAI-VOS DA GUERRA (AUTOR DESCONHECIDO)

Imensa formação de brancas cruzes, Desfile mortuário de fantasmas, Exótico mercado de miasmas, Exposição de ossadas e de urzes... Calado e mudo queda-se o canhão, Apenas trevas cobrem a amplidão, Do que outrora foi um campo batalha... Calada e muda queda-se a metralha, É morta na garganta a voz do obus, O sabre traiçoeiro não mais reluz Dilacerando, ensanguentado a terra... A paz voltou, é terminada a guerra. Os heróis já tombaram das alturas, covardes, bravos jazem olvidados, Seus feitos aos livros relegados, Nada mais resta, apenas sepulturas. E eu? Quem sou? Perguntam... eu, quem sou? Pois bem, eu lhes direi: sou um soldado, Igual a qualquer outro que avançou, combateu, foi derrubado. Cruzes iguais... Terrivelmente iguais... Exército que cresce mais e mais, No festim diabólico da morte. Aqui jaz o covarde. Ali o forte. Aqui dorme um estranho. Ali estou eu... Mas ninguém sabe como ele morreu... Não se lembram do campo de batalha, Nunca ouviram o riso da metralha... Não sentiram tremer o corpo inteiro ao rugido terrível do morteiro... Não viram a cor dos olhos do inimigo. Não sentiram o medo do perigo, Que nos faz desejar a morte breve. Nunca sonharam. Nunca, nem de leve. Mas... Nem todos se esqueceram do soldado Que está longe, muito longe sepultado... oh minha mãe, se tu soubesses Que tua imagem adornei com flores, Que tuas flores foram minhas preces, Preces colhidas no jardim das dores... oh mãe, se te contasse O medo que senti sem teu carinho, Um medo horrivel de morrer sozinho. Medo mesmo que o medo me matasse... Mas deixei meu abrigo e avancei Julgando ver a morte a cada passo ouvindo o sibilar de um estilhaço... Parei... Pensei em ti... Continuei... Minha querida mãe, se te dissesse Que quando derrubou-me uma granada jogando-me por terra ensanguentado, Foi por ti que chamei desesperado. Por um momento deixei de ser soldado E fui novamente uma criança Sentindo na morte a esperança De ainda adormecer no teu regaço. Mamãe, matou-me um estilhaço... Minha querida noiva, por que choras? Relembras certamente as boas horas Que passamos juntos. Só nós dois... Íamos casar. Lembra? E depois... E depois uma casa retirada. Com cortinas nas janelas enfeitadas, Tu me esperando... eu vindo do quartel... A nossa casa um pequenino céu, Aberto para a vinda de um herdeiro... mas, meu sonho, foi meu sonho derradeiro, o de beijar-te antes de morrer. Mas ante o golpe frio da granada, Beijei apenas terra ensangüentada. Mamãe, minha noiva, aqui se encerra Uma história de sangue, esta é a Guerra. Não chorem. Tudo agora é terminado Rápido como coisa de soldado... Mas mamãe... Se novamente a pobre humanidade Mais uma vez em busca da verdade Rufar os seus tambores sobre a Terra Anunciando o sangue de outra guerra, e mais um filho a Pátria te exigir, Sem lágrimas mamãe, deixe-o ir... Embora te destrua o coração, Ainda que te alquebre a agonia Deixa-o ir mamãe, Mas peça a esse irmão, Para que seja também de INFANTARIA !!!!

Um comentário:

  1. Boa noite essa poesia foi escrita por meu pai quando era cadete da AMAN em homenagem a sua formtura e aos 10 anos do fim da segunda guerra mundial, a original encontra-se aqui em casa e posso mandar para você por scanner.

    Autoria: Cadete Affonso Claudio de Figueiredo

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