"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

domingo, 19 de junho de 2011

ESPERTEZA E CORRUPÇÃO - Redação para o Vestibular de História.

Ontem prestei Exame Vestibular para o Curso de História. Na questão da Redação, foi-nos apresentado interessante desafio para escrevermos sobre a importância de levar vantagem em tudo, no dizer da famosa "Lei de Gérson". Discorri sobre o tema, e agora coloco neste espaço, para análise, conceitual, estilística, pedagógica, crítica, etc., de quem quiser. Evidentemente, o texto foi extremamente limitado pelo tempo disponível, pelo espaço destinado (máximo de vinte e cinco linhas) e pela impossibilidade de pesquisa. Aproveitem. O tema tenta estabelecer uma relação direta entre a esperteza, a arguicidade, o “ser vivaz e ladino”, e a corrupção, a inobservância dos preceitos éticos, ou etimologicamente, deterioração, quebra de um estado funcional e organizado, que devem pautar a vida do homem dito “civilizado”. Com efeito, seria desejável que o homem, a par de ser um indivíduo dotado de alto grau de discernimento, o fosse, no mesmo nivel, dotado de grandeza de caráter e ética. Tal não ocorre, no entanto. E é ledo engano pensar que tal somente ocorre no Brasil, ou na atualidade. Hobbes, no Leviatã, já dizia, há quase quatro séculos, que “o homem é o lobo do homem” (homo homini lupus), identificando na fonte de todos os nossos valores, o que denomina endeavour, em inglês, e conatus, em latim, isto é, o instinto de conservação ou, mais exatamente, de afirmação e de crescimento de si próprio, esforço próprio a todos os seres para unir-se ao que lhes agrada e fugir do que lhes desagrada (tema esse que será retomado por Spinoza), a querer com isso, dizer que o homem não conhece limites em seu ímpeto de crescer, de progredir, de enriquecer, mesmo às custas de seus semelhantes. Infelizmente, tal máxima sociológica vem crescendo em proporções geométricas nos últimos tempos. Não, não mudou o homem. Mudou a possibilidade de se conhecer o homem. A mídia, hoje, atinge milhões em segundos; segredos não permanecem como tal mais do que dias, e assim tomamos, com mais rapidez, a consciência de que, para que possamos crescer, obter nossos “quinze minutos de fama”, no dizer de Andy Warhol, precisamos lançar mão de tudo, absolutamente tudo, para tal e, como disse o general Jarbas Passarinho, em 1968, na sessão do Conselho de Segurança Nacional de que resultou o Ato Institucional nº 5, “às favas os escrúpulos de consciência!”. Então não há remédio, ou solução? Sim, há. A consciência social, a noção de que fazemos parte de um conjunto, com objetivos claros e definidos, a implantação do império da lei, a valorização da educação, do homem e da cidadania, a formação da consciência cidadã na sociedade, por fim, são alguns dos caminhos que nos levam ao progresso e ao desenvolvimento, com justiça social, sem necessidade de mecanismos toscos e tacanhos, como a famigerada “lei de Gerson”.

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