"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

segunda-feira, 6 de junho de 2011

APRENDI...

Já me falaram que pra ser interessante tem que ser bonito, que pra ser bonito tem que ser magro, que pra ser magro tem que passar fome. Já me falaram que para ganhar dinheiro tem que trabalhar, mas que pra conseguir um bom trabalho tem que ter sorte e que sorte não se compra no mercadinho da esquina. Já me falaram que ter sonhos é bobagem, que sonhar muito é ocupação de preguiçoso e que preguiça faz mal. Que Papai Noel não existe e que só acredita nele quem é criança e que ser criança é tempo finito. Já me falaram que o bom é o preto no branco, que usar preto emagrece e que roupa branca se lava com água sanitária. Que dormir oito horas é o certo, desde que se deite às 10h e se levante às 6h, passando disso te chamam de desocupado. Já me falaram que ler é importante, mas que leitura boa é aquela de gente inteligente e que parecer inteligente ta na moda. Que ser educado é falar baixo, cruzar as pernas quando se senta e que permanecer sentado muito tempo interfere na circulação. Já me falaram que escrever é terapia e que terapia é coisa de maluco. Que a vida de solteiro é vazia e que a vida de casado enche. Que romantismo é coisa do passado, que pra se dar bem a gente tem que jogar. Fingir ser. Fingir sentir. Fingir sorrir. Fingir mentir. Fingir fingir. Mas, falaram-me também da importância de ser fiel a mim, de fazer crescer a crença em minhas convicções. Falaram-me: BALBI, seja o senhor das suas opiniões! Que não existem verdades inexoráveis. Então, descobri que beleza de verdade é que está do lado de dentro, que pra ser bonito basta se sentir assim. Descobri que comer além da conta às vezes não faz mal a ninguém e que dinheiro não é o mais importante. Aprendi que sorte é materialização do esforço e que o trabalho dignifica qualquer conquista. Descobri que sonho é como o sangue que corre nas veias e que ter preguiça é natural. Que permanecer criança é tão importante quanto se tornar adulto. Aprendi que ao preto e ao branco podemos misturar cores e fazer do mundo um arco-íris. Aprendi que não importa dormir 8 min, 8 horas ou 80 anos, se o que vale é estar acordado para os sinais que a vida nos dá. Aprendi que ser desocupado é um tipo de ocupação que estabelecemos com o nada e que fazer nada também cansa. Que todo tipo de leitura alimenta desde que nos remexa por dentro. Que a inteligência da moda é aquela que nos permite entender e aceitar o outro como nosso irmão. Aprendi que ser educado é demonstrar respeito. Que gritar limpa o espírito. Que pra circulação é bom fazer caminhada e que é pra frente que se anda. Aprendi que caneta e papel em mãos é arma contra a melancolia e que todo mundo precisa de terapia. Que de médico e louco também tenho um pouco. Aprendi que felizes são os malucos, pois eles são livres. Aprendi que o que irrita é necessário e que até o necessário é prescindível. Aprendi que o que preenche a vida não é seu estado civil, mas o recheio que escolhemos para colocar dentro dela. Aprendi que ser antiquado é bacana e que também posso ser ator de novela mexicana. Aprendi que ser mau jogador não me torna necessariamente um perdedor. Aprendi que o amor também pode vir de mãos dadas com a dor. Aprendi que não adianta forjar sentimentos, ensaiar sorrisos, maquinar mentiras ou fingir ser fantoche dos acontecimentos. Aprendi ser EU, com todas as cargas, todos os pesos, todas as dores, amores e dissabores que ser EU me traz. Mas, ser EU, é divertido. Isso, ninguém me falou. Aprendi sozinho...

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