"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Por que esperar para desarmar o Irã?

A contradição deve ser encarada por aqueles de nós que não gostam do nome "neoconservador", mas que gostariam que houvesse um termo para designar aqueles que são a favor de uma atitude mais ostensiva dos Estados Unidos em relação aos estados totalitários e agressivos. Essa contradição normalmente é expressa pelo desejo de enfatizar uma ameaça sem causar pânico. Há quem veja esse argumento do seu lado oposto. Recentemente, alguns perigosos regimes unipartidários ou totalitários na Sérvia e no Iraque causaram sérios problemas a seus vizinhos e tornaram-se um pesadelo para o seu "próprio" povo. Eles desprezaram todos os princípios de leis internacionais e ainda assim foram considerados por muitos comentaristas políticos como muito perigosos para serem confrontados. Basta pesquisar e você irá descobrir que aquelas pessoas contra o confronto com Slobodan Milosevic ou Saddam Hussein sempre enfatizavam a quantidade enorme de poder e potencial para violência que esses homens possuíam. Digamos que a OTAN tivesse bombardeado as bases sérvias em Sarajevo, isso iria causar uma reação monstruosa que causaria uma intervenção russa junto à Belgrado, ocasionando uma reação em cadeia pelos Bálcãs, lavando a região de sangue e guerra. Da mesma forma, uma investida militar contra Saddam Hussein iria incitá-lo a saturar nossas tropas com armas químicas, explodir campos de petróleo, destruir Israel, inflamar a "rua árabe" e depor todos os governos amigáveis do Oriente Médio. Aqueles que ousaram tentar se livrar desses governos ameaçadores foram bombardeados com argumentos que diziam no fundo que eles não são apenas uma ameaça comum, mas uma ameaça mortal, com exércitos invencíveis. Em outras palavras, a contradição é uma faca de dois gumes. Então, parabéns a David Ignatius do Washington Post por sua coluna de sexta-feira, na qual ele reproduz dados coletados por uma publicação desconhecida de nome Nucleonics Week. O artigo conta que pode haver motivos para se pensar que "o estoque de urânio não enriquecido do Irã - matéria prima das bombas nucleares - parece ter certas 'impurezas' que 'poderiam causar falhas nas centrífugas' se os iranianos tentassem transformá-lo em armas". Entre outras coisas, isso deve explicar porque o Irã está negociando enviar seu urânio não enriquecido para outros países, como França e Rússia, para que ele seja enriquecido. Esta jogada, claro, seria compatível com o programa "pacífico", se alguém ainda acredita que é isso que a Republica Islâmica realmente quer. A teocracia fez de seu país tão retrógrado que o tornou inclusive vulnerável a sanções ao petróleo refinado. Diferente da vizinha e secular Turquia, que quase não tem petróleo, mas está à beira da qualificação, pelo menos econômica, para entrar na União Européia, o Irã está atrasado financeiramente, como se o país tivesse sido tomado por sádicos medievais. Então não me surpreenderia em nada se o regime que não tem qualquer respeito pela ciência nem qualquer senso crítico tivesse de fato arruinado sua possibilidade de adquirir armamento moderno. Um sistema em que quase nada funciona, exceto pelas forçar armadas e a polícia, está fadado, como a Coréia do Norte, a produzir um míssil aqui outro lá e algumas armas nucleares de menor poderio. Mas esses mísseis e armas nucleares supostamente menores ainda podem causar um grande estrago em alguns dos países vizinhos, além de desmoralizar o Tratado de Não Proliferação Nuclear e suas leis e tratados equivalentes. Portanto, se for verdade que o Irã não está próximo de uma "grande descoberta" como alguns de nós temiam, não seria este o momento de fazermos nossas deliberações serem ouvidas? Não seria este o melhor momento de desarmar os mulás? Não esqueça que o Irã adquiriu grande parte de sua matéria prima no mercado negro, comprando através de atravessadores e outras formas de fraude, às escondidas do mundo. Isso significa que seria muito mais difícil repor essas matérias primas, devido ao monitoramento das Nações Unidas, da Agência de Energia Atômica e vários serviços de inteligência. Parece lógico, então, que qualquer ruptura ou deslocamento que haja em alguma das plantas Iranianas já pode causar um atraso em todo o programa por bastante tempo. Enquanto isso, o tic tac do relógio interno da sociedade iraniana anuncia a chegada do fim da ditadura. Então de quem devemos ter medo? Eu nunca soube de qualquer discussão que envolvesse possíveis medidas contra o Teerã que não focassem obsessivamente nos resultados potencialmente calamitosos dessas ações. Israel ataca o Irã... bem, o resto você sabe. Os alvos estão muito dispersos e escondidos mesmo. Sabe como é... Aparentemente, nada pode ser feito sem piorar a situação. Mas nada pode ser pior do que o armamento nuclear de um estado messiânico e sem lei que quebrou todos os acordos que assinou, e só o fez para ganhar tempo. Neste caso, os presidentes George W. Bush, Barack Obama e muitos outros nunca deveriam ter dito que esse tipo de coisa era aceitável. Eles deveriam ter dito que havia algumas condições que as tornavam aceitáveis e dizer que condições eram essas. Quando se afirma uma coisa publicamente é bom poder provar. Deveríamos pelo menos pensar na idéia de, com o regime blefando e ganhando (talvez até roubando) tempo com as armas de destruição em massa, agora é o melhor momento de aumentar o custo desse tipo de infração, inibindo ou até sabotando sua preparação. Ou será que devemos esperar e lutar contra um inimigo com armas nucleares? Perguntar não ofende.

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