"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Papel do Psicólogo na Busca de uma Relação Dinâmica entre Professor-Aluno

Introdução Só crescemos e nos desenvolvemos na medida em que estivermos abertos a novos conhecimentos, na medida em que estivermos dispostos a modificar nossas opiniões, nossas crenças e nossas convicções. Numa sala de aula, o professor exerce influência sobre os alunos e estes sobre o professor e os colegas. Nossos comportamentos são respostas constantes e contínuas ao ambiente físico e social. As pessoas despertam uma nas outras, comportamentos diferentes: uma pessoa nos provoca vontade de abraçar, outra pessoa pode ficar conversando conosco sem parar e etc.; sempre nos sentimos bem quando estamos junto das pessoas que nos agradam, por uma ou outra razão. Um aluno vai se aproximar do professor na medida em que essa aproximação for agradável para ele. Nós temos a tendência a rotular as pessoas: quando um professor acha que um aluno é incapaz, que não sabe nada, ele pode tender a tratar o aluno de acordo com essa percepção. Em conseqüência, se o aluno não é nada disso, o julgamento do professor pode levá-lo a apresentar sentimentos de incapacidade, de acordo com o que é esperado. A origem desse preconceito pode estar nas informações recebidas do professor que lecionava anteriormente ou nas conversas de colegas, etc. Os preconceituosos não permitem que conheçamos as pessoas como realmente são. Na verdade, toda pessoa tem um potencial muito grande de aprendizagem, cabe ao professor reconhecer o potencial de seus alunos e contribuir para sua realização. Se existem diversos e complexos fatores físicos, psicológicos, econômicos e sociais, responsáveis pelo desempenho de cada criança na escola, a causa básica do insucesso está no próprio processo escolar. O aluno não entra na escola fracassado; quando “fracassa”, são os métodos empregados pelos professores e administradores, individual e coletivamente, que estão falhando. Desenvolvimento Segundo MALUF, citado por ACHACAR (1994, p.157), a tarefa de educar não tem idade. Todas as civilizações educaram e continuam a educar aqueles que nascem e que serão adultos no seio do grupo que os acolheu, dando-lhes condições sociais de sobrevivência. São essas condições sociais que se complexificaram ao longo da história humana e se encontraram na origem dos sistemas educacionais. Ainda para essa autora, o objetivo da psicologia educacional é estudar o homem de natureza e o homem de cultura ao mesmo tempo. O psicólogo que busca atender às necessidades educacionais dos indivíduos e grupos precisa ir além do comportamento manifesto e das contingências imediatas de aprendizagem: cabe-lhe preocupar-se com a compreensão dos microsistemas em que o aluno se insere e suas mútuas relações e reconhecer o outro como sujeito, ou seja, como uma pessoa a ser escutada. Um dos objetivos dos serviços psicológicos é o de abrir um espaço para a circulação de discursos, nas instituições em que a ausência dessa circulação estiver comprometendo a realização dos objetivos institucionais. Ainda, de entender a dinâmica das relações e levantar questões. Não existe um modelo único para atuar, mas sim momentos que precisam se inovar, criar perante as situações que irão surgir. Promover a saúde e o bem-estar dos integrantes da instituição, com ênfase na prevenção do fracasso escolar através da promoção da aprendizagem e do desenvolvimento do aluno e de intervenções sobre a dimensão organizacional ou institucional da escola; bem como melhor adaptação do aluno aos programas e ao ambiente escolar, como também a criação de novos cenários e práticas educativas e de novas realidades sociais. Portanto, compreendendo as reais necessidades dos alunos, a equipe pedagógica se dispõe de melhores condições para proporcionar-lhes um melhor processo de aprendizagem. Os pressupostos básicos do psicólogo educacional têm implicações em sua visão de mundo, no papel que desempenha, em sua prática. Não é possível falar em psicologia escolar sem falar em educação, sem compreender a função da escola em seu contexto social. A partir dessa compreensão entende-se que mesmo aquilo que se considera como interno à escola, é na verdade uma expressão de determinações que estão fora da escola (fatores sócio-econômicos, culturais, psicológicos, etc, dos alunos). Ao se defrontar com a Psicologia Escolar e os problemas de aprendizagem que dele ocorre, constata-se que são vários os fatores e causas que levam a essa dificuldade que está presente no nosso dia - dia. O ensino público brasileiro vem sofrendo uma defasagem na atual conjuntura de subsídios do contexto escola - família devido ao fator sócio - cultural. Não se chega a um consenso entre família e escola (sociedade) devido ao fato de enxergarem só o erro do outro não prestando atenção no fato de poderem estar realizando um trabalho juntos para um melhor enriquecimento de ambas as partes. E quem se responsabiliza por essa defasagem é sempre a o aluno, sendo que existe toda uma equipe multidisciplinar que poderia assumir tais responsabilidades e estar junto ao aluno nessa responsabilidade. É preciso que os educadores tenham em mente que deve haver uma melhora dentro do campo escolar e que só será possível através de uma via de mão dupla entre escola e família e de certa forma, todos que estão envolvidos no contexto do processo - aprendizagem do aluno. A expressão referente "mão dupla" citada no parágrafo anterior, compete à família e à escola unirem-se de forma que os mesmos enxerguem e parem para refletir sobre o que acontece atualmente em relação à educação, e o que pode ser feito para mudar a visão da educação pública. Ex: preconceito social, racial, financeiro e cultural. O Psicólogo Escolar deve estar atento às integridades básicas dos alunos que são de suma importância no processo ensino - aprendizagem e perceber se o problema é em relação a alguma dificuldade que o aluno tenha, se é falta de estímulo dos professores ou pais. Também deve estar atento à dinâmica da instituição, vínculos e relações, ter uma visão social e política, trabalhar com espontaneidade, criatividade, visando um melhor desempenho dos professores no processo ensino - aprendizagem, lhes mostrando meios de se chegar a esses alunos lhes motivando a aprender e também apegarem-se às capacidades de estarem aprendendo mais informações relacionadas ao seu dia - dia, que são várias. Necessita-se criar relações sadias no contexto escolar, para que o processo de aprendizagem venha a ser dinâmico e organizado que veja o todo das/nas relações, favorecendo a inserção e permanência do aluno na escola de modo que este aprenda. BLEGER em Psicologia Institucional (1986), mostra várias mudanças de grande importância para a psicologia e uma delas é o fato de que se contrapõe à certa neutralidade na instituição. Para ele existem relações concretas que estão em constante movimentação. Por isso, o psicólogo deve ter um olhar amplo e perceber toda a totalidade da instituição. Segundo BLEGER, citado por GUIRADO (1986, p.17), as relações que se estabelecem é formada por pessoas que funcionam ao nível de ego sincrético e ao nível de ego organizado. Elas funcionam em um desses tipos de ego, embora possa ora estar em um, ora em outro. O ego sincrético é mais fragmentado, tem movimentos imaturos. Já o ego organizado tem um certo equilíbrio e consegue separar sujeito de objeto. Os vínculos na instituição são formados por pessoas que funcionam mais no ego sincrético e as relações são formadas por pessoas que funcionam mais no ego organizado. Este é mais sadio. Por isso, o psicólogo deve estar atento aos vínculos e relações na instituição e perceber quais são as pessoas independentes, as dependentes e as ditas normais ou neuróticas. BLEGER trouxe para a psicologia uma nova visão do psicólogo institucional causando várias mudanças. Ele viu a necessidade do atendimento psicológico sair das clínicas, consultórios e atuar ao nível de saúde mental. Assim, utiliza-se da psicanálise, psicologia, ciência, tendo uma visão social e política. Juntando todos esses conceitos, ele mostra a instituição que necessita ser trabalhada em sua totalidade através da psico-higiene que é uma prevenção, profilaxia da doença, visando a saúde que age em nível primário. A higiene mental visa à saúde, mas trabalha com a doença, e age a nível secundário e terciário. Para agir nessas instituições, o psicólogo deve ter uma visão social e política não se alienando, e trabalhar com espontaneidade, criatividade, visando o todo da instituição. Essas mudanças têm proporcionado ao psicólogo ter uma visão de investigação e intervenção nessas instituições, trabalhando a totalidade institucional. Uma instituição não funciona bem quando não há relações de troca entre os grupos. A instituição confusa, que caminha a passos lentos, deve, através da ajuda do psicólogo, encontrar passos firmes para o amadurecimento de todos da instituição, fazendo com que os funcionários, grupos, trabalhem o manifesto e o latente da dinâmica institucional, buscando funcionários que trabalhem ao nível de ego organizado, com relações sadias, a fim de criar uma instituição dinâmica e organizada que vê o todo das/nas relações. O perfil mais adequado para o psicólogo escolar é aquele em que poderá usar os papéis de consultor, orientador, pesquisador e educador. Sendo o seu objetivo: “promover a qualidade e eficiência dos processos educacionais através da aplicação dos conhecimentos psicológicos”. Estar na escola para ajudar a planejar programas educacionais para os alunos, fazendo uma transição entre o papel educador e acadêmico. Este é um trabalho interdisciplinar, onde juntos, o psicólogo e o educador atuam na realização de planos educacionais, visando o desenvolvimento e crescimento da escola. Atualmente tem sido comum considerar o psicólogo como auxiliar importante e norteador dos trabalhos pedagógicos nas escolas. O psicólogo deve orientar o educador sobre a importância da criatividade usando-o como um instrumento de ação transformadora na escola, buscando com isso realmente transformá-la em um lugar de mais alegrias. Quando estamos dizendo da práxis da psicologia escolar, estamos dizendo não só da psicologia que compreende o aluno, mas também das várias psicologias que abordam, não só ele, como também o professor, o corpo administrativo, a instituição escolar, enfim, tudo e todos envolvidos no processo educacional. Segundo ACHACAR (1994, p. 159), os psicólogos educacionais, trabalhando como agentes de mudanças, como catalisadores de processos de rompimentos do que já se encontra cristalizados nas escolas, podem fazer com que esse espaço considere não mais uma cisão entre as atividades de estudar e ter prazer, mas, sim, uma conjugação entre elas. Emoções, necessidades e interesses dos alunos devem ser paulatinamente assumidos por eles, além de levados em conta pelos educadores que com ela convivem, porque só a luz da compreensão dessas características poderão ser respeitadas suas diferenças individuais. É fundamental considerar que o ser humano é elástico e um mau início não o condena para o resto de seus dias: suas experiências subseqüentes são importantes. Esta afirmação sintetiza a crença no papel da educação e, conseqüentemente, na atuação do educador diante o processo de socialização desde a infância, além da convicção em relação ao papel ativo desenvolvido pelo aluno. Conclusão A prática psicológica e educacional dentro da escola necessita ter como base duas dimensões fundamentais. Uma é a dimensão ética que se compõem pela solidariedade ao outro e com o outro, onde reconhecemos o outro como uma pessoa com quem entramos em diálogo e que, na convivência, é essencial à nossa realização humana, e não como simples indivíduo que está ao nosso lado, com quem entramos em contato pelo simples motivo da sobrevivência em competição potencial conosco, ou seja, compreendendo o ser humano como um ser dialógico em sua singularidade e alteridade, cuja subjetividade é composta por milhões de relações que estabelece durante toda a sua existência. A outra é a dimensão política do compromisso com a transformação social. Com a criação de espaços para reflexões na escola, o psicólogo poderá colocar em prática, técnicas e métodos aprendidos no espaço acadêmico, tornando sua atuação de extrema importância para sua formação e um auxílio à escola e os demais envolvidos nesse contexto. Percebe-se que a atuação do psicólogo se diferencia de acordo com a demanda da instituição de ensino, cabendo ao educador se perceber como agente de transformação na vida dos educandos e para desencadear essa percepção deve haver um ambiente que possibilite a reflexão e discussão de sua prática, sendo assim, não deixando de omitir a importância dos fatores biopsicossociais e culturais onde a escola se insere. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHACAR, Rosimary. Psicólogo brasileiro: práticas emergentes para a formação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1994. GUIRADO, M.: Psicologia institucional. São Paulo: Atlas, 1986. v. 15 SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Maria Clarice. Aprendendo a ser e a conviver. 2. ed. São Paulo: FTD, 1999.

Um comentário:

  1. Muito bom esse artigo, vocabulário direto e fácil. Fica claro que ser um bom pesquisador, a gente pode comentar e escrever sobre diversos assuntos. Você tem gabarito para tal. bjus.

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