"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia.Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas.Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo
que mutilá-lo."Carl Jung

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Gigante Acordou

A baderna a serviço do crime

A Cidade Universitária da USP voltou a ser palco de confrontos entre estudantes e a Polícia Militar (PM). Os incidentes ocorreram na noite de quinta-feira e começaram depois que os policiais militares detiveram três alunos que fumavam maconha no estacionamento do prédio de História e de Geografia. Quando os levavam para o 91.º DP, a fim de registrar a ocorrência, os policiais militares foram atacados por cerca de 200 estudantes. Além de terem apedrejado seis viaturas policiais e ferido três soldados, os estudantes invadiram o prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde praticaram atos de vandalismo, e anunciaram que só sairão do local após a revogação do convênio que permite à PM garantir a segurança na Cidade Universitária. O convênio foi assinado após o primeiro caso de latrocínio no local, ocorrido em maio deste ano. A vítima foi um estudante de economia, assassinado ao reagir a uma tentativa de roubo. Entre janeiro e abril, os roubos na Cidade Universitária aumentaram 13 vezes e os atos de violência – tais como estupros e sequestros relâmpago – cresceram 300%. Até então, a Cidade Universitária – situada ao lado de uma favela – dispunha apenas de uma Guarda Universitária, que não pode portar armas e que conta com 130 agentes de segurança patrimonial, divididos em dois turnos, para proteger dezenas de prédios e fiscalizar seus estacionamentos, além das 100 mil pessoas que circulam diariamente pelo câmpus. Mas, apesar da crescente violência, minorias radicais constituídas por servidores, alunos e professores resistiam e continuam resistindo à presença da PM no câmpus. Militantes de micropartidos de esquerda, eles associam a PM à “repressão”, alegam que a presença de policiais militares fere a autonomia universitária e classificam o câmpus como "território livre". Alegando que a Cidade Universitária estava se convertendo em terra de ninguém, o Comitê Gestor da USP – apoiado pela maioria da comunidade acadêmica – superou as resistências políticas, elaborou um plano emergencial de segurança para a Cidade Universitária, definiu um modelo de policiamento aprovado por entidades de professores, alunos e funcionários e, em junho, fechou um acordo com a PM para colocá-lo em execução. É esse convênio que os invasores do prédio administrativo da FFLCH querem revogar. Para confirmar que se trata de movimento ideológico, eles apresentaram uma lista de reivindicações absurdas, impossíveis de serem atendidas, do ponto de vista jurídico. Além de aproveitar o incidente para fazer novas críticas ao reitor João Grandino Rodas e acusar a PM de agir como “o braço armado dos exploradores”, pedindo sua imediata retirada do câmpus, os invasores querem autonomia absoluta nos “espaços estudantis”. Reivindicam, ainda, a extinção de todos os processos administrativos e criminais contra estudantes, professores e funcionários. São centenas de sindicâncias e de ações judiciais instauradas pela reitoria para apurar desvios de conduta e punir quem depredou o patrimônio da USP e ameaçou a integridade física de colegas em assembleias, greves e piquetes. Em nota, o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) classificou a invasão da FFLCH e a oposição à presença da PM no câmpus como uma luta pelos “direitos civis”. Na realidade, o que está em jogo no câmpus da USP não são as liberdades públicas nem os direitos fundamentais de estudantes, professores e funcionários. Quando invocam o princípio da autonomia universitária e pedem que a PM seja expulsa do câmpus, os baderneiros fazem o jogo dos assaltantes, assassinos, estupradores e traficantes de drogas. É evidente que, desde o início do convênio firmado com a reitoria, a presença de policiais militares na Cidade Universitária vem prejudicando os negócios dos fornecedores de drogas, reduzindo seus lucros. Além de se colocarem – consciente ou inconscientemente – a serviço do crime organizado, os invasores cometem outro erro. Eles confundem “território livre”, expressão usada na academia para designar a livre troca de ideias, com uma república independente – como se a USP existisse à margem do Estado e da sociedade que a sustentam. O que ocorreu no embate com a PM e com a invasão da FFLCH não são atos de rebeldia intelectual – são apenas demonstrações de irresponsabilidade e de alienação ideológica.

O poder imaginário

No México mais do que em outros lugares da América Latina nota-se a repartição de poderes que é comum a todos, o poder dos descendentes de europeus sobre a economia e a política - ou seja, o poder real - e o poder dos nativos sobre a identidade cultural – ou seja, sobre o imaginário – do país. Isto talvez se deva ao fato de estar na cidade do México o maior de todos os monumentos às civilizações pré-colombianas, o seu magnífico Museu Antropológico, onde se comemora uma vitória nativa que nunca houve. E explica por que demorou 500 anos para que um descendente de indígenas fosse eleito presidente de um país com maioria indígena como a Bolívia. Esta invasão do poder real pelo poder imaginário rompeu um acordo tácito de anos e é um precedente ameaçador para as oligarquias americanas – a não ser, claro, que o representante do poder imaginário apenas imagine ter conquistado o poder real. Se você conseguir pensar no Lula como o primeiro índio brasileiro a chegar à presidência também pode se perguntar se o governo dele foi uma novidade ou uma concessão. Na África do Sul é clara essa divisão entre o poder real, que continua nas mesmas mãos brancas, e o domínio dos negros sobre os mitos, os ritos, as artes e até a memória do país. Na cidade de Durban estão fazendo uma espécie de higienização do passado, substituindo todos os nomes de ruas e praças que lembrem os tempos coloniais por nomes de lideres e guerreiros nativos e heróis da luta antiapartheid. Nesta ocupação do imaginário do país cometem alguma injustiças. Vi poucas referências lá a, por exemplo, Nadine Gordimer, cujo Prêmio Nobel de Literatura se deveu em boa parte à sua oposição corajosa ao apartheid. O próprio J. M. Coetzee, hoje o mais conhecido escritor sul-africano, outro ganhador do Nobel e crítico do regime racista, também não parece ter o reconhecimento que merece - ou então eu é que não procurei direito. E você não consegue evitar a impressão de que, na África do Sul como na América Latina, também existe um acordo tácito entre o real e o imaginário, e que a elite branca entrincheirada nos seus condomínios fechados cedeu tudo aos negros, inclusive a sua História, para preservar o poder verdadeiro.

domingo, 30 de outubro de 2011

A mentalidade da servidão

Caminharemos para a servidão, como dizia Tocqueville “até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o governo”? Um colóquio me fez refletir a respeito dos estereótipos mais comuns de várias opiniões deste país. Uma amiga minha muito inteligente, e, como ninguém é perfeito, crédula nos princípios socialistas, ficou particularmente furiosa com minha provocação. Eu fiz a seguinte pergunta: “ Sabe qual a diferença entre um coronel nordestino e Fidel Castro?” Resposta: “Fidel Castro tem muito mais poder!” Pronto! Minha doce a sábia criatura me fuzilou com aquele olhar inquisidor digno dos expurgos soviéticos. O curioso foi a justificativa de minha amiga, como, aliás, sempre ouço dos meus amigos socialistas, que é o cânone da mania cubana: o governo cubano “dá” educação, alimentação, saúde, segurança, entre outras maravilhas do Éden caribenho. E ela finalizou, entre o sereno e patético, tal como uma filha que fala de um pai: “Fidel sabe o que faz!”. Se os intelectuais do século XVIII inventaram o mito do “bom selvagem”, o século vinte inventou o mito do “bom ditador”. Essa última argumentação saída de sua boca lembrou-me um trecho de uma das obras de Alexis de Tocqueville, A Democracia na América. Eis o que para mim tornou-se profético: “Após ter agarrado cada membro da comunidade e tê-los moldado conforme a sua vontade, o poder supremo estende seus braços por sobre toda comunidade. Ele cobre a superfície da sociedade com uma teia de normas complicadas, diminutas e uniformes, através das quais as mentes mais brilhantes e as personalidades mais fortes não podem penetrar, para sobressaírem no meio da multidão. A vontade do homem não é destruída, mas amolecida, dobrada e guiada; os homens raramente são forçados a agir, mas constantemente impedidos de atuar; tal poder não destrói, mas previne a existência; ela não tiraniza, mas comprime, enerva, ofusca e estupefaz um povo, até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o governo”. Quando vejo pessoas afirmarem tais questões a respeito da ditadura cubana, ou de qualquer outro regime despótico, nada me impressiona tanto como a falta de autoestima daqueles que não valorizam algo tão sagrado como a liberdade. Como bem previra este grande visionário francês do século XIX, as pessoas são capazes de abdicar da liberdade por pequenas coisas. Se um reles ditador como Fidel Castro não passa de um velho coronel nordestino todo poderoso, seus admiradores não passam de reles camponeses e capangas, obedientes a um pai onipresente, ainda que com a pretensa pecha de “intelectuais”. Não vou longe. Uma coisa que ninguém se pergunta, quando repete a cantilena da “educação”, “saúde”. “segurança”, é o preço que um governo tirano cobra para oferecer o que não passa de farelos. Quase todos os regimes autoritários e totalitários do século XX, dos nazistas, fascistas aos comunistas, utilizaram-se dos chamados “direitos sociais” para reduzirem a população em uma nova casta de servos do governo. Em outras palavras, o Estado “dá” educação, mas ele decide o que o cidadão pensa. Ele “dá” saúde, como se fosse um deus que tivesse o poder de vida e morte sobre as pessoas. Ele “dá” alimentação, embora escolha o que o cidadão come. Ele “dá” segurança, apesar de ser o fator motriz da insegurança, visto que é um poder arbitrário e onipotente. De fato, o poder monopoliza tudo, inclusive o direito de violência. O que sobra de uma sociedade como esta nada mais é do que um rebanho de ovelhas tímidas e adestradas. Ela tem os elementos mais odiosos de um antigo autoritarismo, mesclados como novos métodos de poder, controle e coerção. O pior, todavia, é que tais ideais não são partilhados por pessoas tolas, e sim, por gente esclarecida, pretensamente culta e letrada. Talvez seja o sonho dessa turma alienada, avoada, ou mesmo inconseqüente, a falsa crença da segurança, numa suposta idéia de proteção onipresente de um ente superior. Parte-se de uma idéia ingênua da mitificação do poder, de uma autoridade moral paternal do Estado. Mais ingênuo ainda é afirmar que o Estado “dá” alguma coisa, mal sabendo que quando o Estado administra é justamente os bens alheios, que muitas vezes não lhe dizem respeito. Malgrado essa gritante tolice, é mais tolo ouvir de certas pessoas que o Estado oferece serviços “gratuitos”. Realmente, até parece que os “virtuosos” funcionários públicos trabalham de graça, por algum dever cívico. Claro, não ocorre nas cabeças desses mentecaptos estatólatras, algo como servidores fazerem greves, abandonarem a população ao “Deus dará”, criarem gastos supérfluos e privilégios obtusos e sufocantes com o dinheiro dos outros. Além das panelinhas e castas de eleitos pelo poder público, por regalias que um trabalhador privado nem sonha ter, porém, que paga pelos outros através dos impostos. Ademais, para certas pessoas, o Estado não vive do que a sociedade trabalha, é um fim em si mesmo, auto-gerador. E o mais cômico: ainda escuto essa história de “gratuidade” na boca de muitos economistas! O mais terrível dentro desta mentalidade servil é que tal pensamento não rouba somente o direito de escolha, em qualquer âmbito da vida social. Simplesmente rouba a alma das pessoas e a capacidade de terem vontade própria. Cada pessoa é reflexo de um grupo, de um rebanho domesticado, cada sujeito não age por si mesmo, e sim segue pelo instinto da massa, tal qual maria-vai-com-as-outras, sob a égide de um obtuso poder centralizado. A espiritualidade livre, independente, é substituída pela cultura do unanimismo, da uniformidade dos espíritos, pela esterilidade do discurso repetido do chavão. De fato, este país está sofrendo uma crise letárgica de espiritualidade servil, uma anti-espiritualidade, uma anti-pessoa. Malgrado os horrores do século XX, a tentação totalitária ainda domina certos espíritos. Caminharemos para a servidão, como dizia Tocqueville “até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o governo”?. Se as almas destes homens “cultos” desta nação são capazes de abdicar da liberdade pelo mito da proteção de um governo déspota, tudo leva a crer que sim. Que o digam os amantes da ilusória segurança dos “direitos sociais” da vida, do Pai Terrível Estado, acima dos direitos individuais sagrados da liberdade. Abdicam da liberdade pela segurança, porque antes que eles convençam a sociedade a renunciar a liberdade, eles mesmos já a renunciaram. Como diria um outro pai, não um pai terrível, porém, o grande pai da pátria norte-americana, o estadista Benjamim Franklin: “Aqueles que se dispõem a renunciar a liberdade essencial em troca de uma pequena segurança temporária não merecem liberdade nem segurança”.

sábado, 29 de outubro de 2011

MILITAR É INCOMPETENTE DEMAIS!!!!

Militares, nunca mais! - Ainda bem que hoje tudo é diferente, temos um PT sério, honesto e progressista. Cresce o grupo que não quer mais ver militares no poder, pelas razões abaixo. - Militar no poder, nunca mais. Só fizeram lambanças. - Tiraram o cenário bucólico que havia na Via Dutra de uma só pista, que foi duplicada e recebeu melhorias; acabaram aí com as emoções das curvas mal construídas e os solavancos estimulantes provocados pelos buracos na pista. - Não satisfeitos, fizeram o mesmo com a rodovia Rio-Juiz de Fora. - Com a construção da ponte Rio-Niterói, acabaram com o sonho de crescimento da pequena Magé, cidade nos fundos da Baía de Guanabara, que era caminho obrigatório dos que iam de um lado ao outro e não queriam sofrer na espera da barcaça que levava meia dúzia de carros. - Criaram esse maldito do Proálcool, com o medo infundado de que o petróleo vai acabar um dia. - Para apressar logo o fim do chamado "ouro negro", deram um impulso gigantesco à Petrobras, que passou a extrair petróleo 10 vezes mais (de 75 mil barris diários, passou a produzir 750 mil); sem contar o fedor de bêbado que os carros passaram a ter com o uso do álcool. - Enfiaram o Brasil numa disputa estressante, levando-o da posição de 45ª economia do mundo para a posição de 8ª, trazendo com isso uma nociva onda de inveja mundial. - Tiraram o sossego da vida ociosa de 13 milhões de brasileiros, que, com a gigantesca oferta de emprego, ficaram sem a desculpa do "estou desempregado". - Em 1971, no governo militar, o Brasil alcançou a posição de segundo maior construtor de navios no mundo. Uma desgraça completa. - Com gigantesca oferta de empregos, baixaram consideravelmente os índices de roubos e assaltos. Sem aquela emoção de estar na iminência de sofrer um assalto, os nossos passeios perderem completamente a graça. - Alteraram profundamente a topografia do território brasileiro com a construção de hidrelétricas gigantescas (Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipu), o que obrigou as nossas crianças a aprenderem sobre essas bobagens de nomes esquisitos. - O Brasil, que antes vivia o romantismo do jantar à luz de velas ou de lamparinas, teve que tolerar a instalação de milhares de torres de alta tensão espalhadas pelo seu território, para levar energia elétrica a quem nunca precisou disso. - Implementaram os metrôs de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, deixando tudo pronto para atazanar a vida dos cidadãos e o trânsito nestas cidades. - Esses militares baniram do Brasil pessoas bem intencionadas, que queriam implantar aqui um regime político que fazia a felicidade dos russos, cubanos e chineses, em cujos países as pessoas se reuniam em fila nas ruas apenas para bater-papo, e ninguém pensava em sair a passeio para nenhum outro país. - Foram demasiadamente rigorosos com os simpatizantes daqueles regimes, só porque soltaram uma "bombinha de São João" no aeroporto de Guararapes, onde alguns inocentes morreram de susto apenas. - Os militares são muito estressados. Fazem tempestade em copo d'água só por causa de alguns assaltos a bancos, sequestros de diplomatas... ninharias que qualquer delegado de polícia resolve. - Tiraram-nos o interesse pela Política, vez que os deputados e senadores daquela época não nos brindavam com esses deliciosos escândalos que fazem a alegria da gente hoje. - Os de hoje é que são bons e honestos. Cadê os Impostos de hoje, isto eles não fizeram! - Para piorar a coisa, ainda criaram o MOBRAL, que ensinou milhões a ler e escrever, aumentando mais ainda o poder desses empregados contra os seus patrões. - Nem o homem do campo escapou, porque criaram para ele o FUNRURAL, tirando do pobre coitado a doce preocupação que ele tinha com o seu futuro. Era tão bom imaginar-se velhinho, pedindo esmolas para sobreviver. - Outras desgraças criadas pelos militares: Trouxeram a TV a cores para as nossas casas, pelas mãos e burrice de um Oficial do Exército, formado pelo Instituto Militar de Engenharia, que inventou o sistema PAL-M. Criaram ainda a EMBRATEL; TELEBRÁS; ANGRA I e II; INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM. - Tudo isso e muito mais os militares fizeram em 22 anos de governo. Pensa!! - Depois que entregaram o governo aos civis, estes, nos vinte anos seguintes, não fizeram nem 10% dos estragos que os militares fizeram. Graças a Deus! Ainda bem que os militares não continuaram no poder!! Tem muito mais coisas horrorosas que eles, os militares, criaram, mas o que está escrito acima é o bastante para dizermos: "Militar no poder, nunca mais!!!", exceto os domesticados. - Ainda bem que hoje estão assumindo o poder pessoas compromissadas com os interesses do Povo. - Militares jamais! - Os políticos de hoje pensam apenas em ajudar as pessoas e foram injustamente prejudicadas quando enfrentavam os militares com armas às escondidas com bandeiras de socialismo. Os países socialistas são exemplos a todos. - ALÉM DISSO, NENHUM DESSES MILITARES CONSEGUIU FICAR RICO. ÊTA INCOMPETÊNCIA!!!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Lula para sempre

Luiz Inácio Lula da Silva não é um homem de palavra. Proclamou diversas vezes que, ao terminar o seu mandato presidencial, iria se recolher à vida privada e se afastar da política. Mentiu. Foi mais uma manobra astuta, entre tantas que realizou, desde 1972, quando chegou à diretoria do sindicato de São Bernardo, indicado pelo irmão, para ser uma espécie de porta-voz do Partidão (depois de eleito, esqueceu do acordo). A permanente ação política do ex-presidente é um mau exemplo para o país. Não houve nenhuma acusação de corrupção no governo Dilma sem que ele apoiasse enfaticamente o acusado. Lula pressionou o governo para não “aceitar as pressões da mídia”. Apresentou a sua gestão como exemplo, ou seja, nunca apurou nenhuma denúncia, mesmo em casos com abundantes provas de mau uso dos recursos públicos. Contudo, seus conselhos não foram obedecidos. Não deve causar estranheza este desprezo pelo interesse público. É típico de Lula. Para ele, o que vale é ter poder. Qualquer princípio pode ser instrumento para uma transação. Correção, ética e moralidade são palavras desconhecidas no seu vocabulário. Para impor a sua vontade passa por cima de qualquer ideia ou de pessoas. Tem obtido êxito. Claro que o ambiente político do país, do herói sem nenhum caráter, ajudou. E muito. Ao longo do tempo, a doença do eterno poder foi crescendo. Começou na sala de um sindicato e terminou no Palácio do Planalto. E pretende retornar ao posto que considera seu. Para isso, desde o dia 1 de janeiro deste ano, não pensa em outra coisa. E toda ação política passa por este objetivo maior. Como de hábito, o interesse pessoal é o que conta. Qualquer obstáculo colocado no caminho será ultrapassado a qualquer custo. O episódio envolvendo o ministro do Esporte é ilustrativo. A defesa enfática de Orlando Silva não dependeu da apresentação de provas da inocência do ministro. Não, muito pelo contrário. O que contou foi a importância para o seu projeto presidencial do apoio do PCdoB ao candidato petista na capital paulista. Lula sabe que o primeiro passo rumo ao terceiro governo é vencer em São Paulo. 2014 começa em 2012. O mesmo se repetiu no caso do Ministério dos Transportes e a importância do suporte do PR, independentemente dos “malfeitos”, como diria a presidente Dilma, realizados naquela pasta. E, no caso, ainda envolvia o interesse pessoal: o suplente de Nascimento no Senado era o seu amigo João Pedro. O egocentrismo do ex-presidente é antigo. Tudo passa pela mediação pessoal. Transformou o delegado Romeu Tuma, chefe do Dops paulista, onde centenas de brasileiros foram torturados e dezenas foram assassinados, em democrata. Lula foi detido em 1980, quando não havia mais torturas. Recebeu tratamento privilegiado, como mesmo confessou, diversas vezes, em entrevistas, que foram utilizadas até na campanha do delegado ao Senado. Nunca fez referência às torturas. Transformou a casa dos horrores em hotel de luxo. E até chegou a nomear o filho de Tuma secretário nacional de Justiça!! O desprezo pela História é permanente. Estabeleceu uma forte relação com o símbolo maior do atraso político do país: o senador José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney. Retirou o político maranhense do ocaso político. Fez o que Sílvio Romero chamou de “suprema degradação de retrogradar, dando, de novo, um sentido histórico às oligarquias locais e outorgando-lhes nova função política e social”. E pior: entregou parte da máquina estatal para o deleite dos interesses familiares, com resultados já conhecidos. O desprezo pelos valores democráticos e republicanos serve para explicar a simpatia de Lula para com os ditadores. Estabeleceu uma relação amistosa com Muamar Kadafi (o chamou de “amigo, irmão e líder”) e com Fidel Castro (outro “amigo”). Concedeu a tiranos africanos ajuda econômica a fundo perdido. Nunca – nunca mesmo – em oito anos de Presidência deu uma declaração contra as violações dos direitos humanos nas ditaduras do antigo Terceiro Mundo. Mas, diversas vezes, atacou os Estados Unidos. Desta forma, é considerável a sua ojeriza a qualquer forma de oposição. Ele gosta somente de ouvir a sua própria voz. Não sabe conviver com as críticas. E nem com o passado. Nada pode se rivalizar ao que acredita ser o seu papel na história. Daí a demonização dos líderes sindicais que não rezavam pela sua cartilha, a desqualificação dos políticos que não aceitaram segui-lo. Além do discurso, usou do “convencimento” financeiro. Cooptou muitos dos antigos opositores utilizando-se dos recursos do Erário. Transformou as empresas estatais em apêndices dos seus desejos. Amarrou os destinos do país ao seu projeto de poder. Como o conde de Monte Cristo, o ex-presidente conta cada dia que passa. A sua “vingança” é o retorno, em 2014. Conta com a complacência de um país que tem uma oposição omissa, ou, na melhor das hipóteses, tímida. Detém o controle absoluto do PT. Usa e abusa do partido para fortalecer a sua capacidade de negociação com outros partidos e setores da sociedade. É obedecido sem questionamentos. Lula é uma avis rara da política brasileira. Nada o liga à nossa tradição. É um típico caudilho, tão característico da América Hispânica. Personalista, ególatra, sem princípios e obcecado pelo poder absoluto. E, como todo caudilho, quer se perpetuar no governo. Mas os retornos na América Latina nunca deram certo. Basta recordar dois exemplos: Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón.

Deus ex machina !

" O poeta faz-se vendo através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos..." Rimbaud, que após encerrar sua genial obra com "Temporada no Inferno", abandonou a poesia aos dezoito anos, e -pasmem!-, tornou-se um mercador de armas! Camile Claudel...Lima Barreto...Artaud...Qorpo Santo...internados em manicômios... talvez porque vivenciaram em suas sensibilidades diferenciadas, "O Paraíso Perdido..." Romperam com a "harmonia" de um mundo "normal", crivado de guerras, holocaustos, doenças fatais, onde o TER procura preencher a angústia do inevitável conhecimento da caminhada rumo à finitude... Acordes dissonantes em partituras previsíveis, ameaçavam a melodia, o ritmo apaziguador e hipnótico de um planeta que se retorce em Tsunamis, terremotos, com seu eixo verticalizado enlouquece-aí sim!- hábitos e comportamentos "disciplinados..." Não estou fazendo nenhum "elogio à loucura" ou buscando alguma originalidade em um assunto mais do que dissecado por filósofos e psicanalistas; apenas procuro-sem conseguir-chegar o mais próximo possível do universo desses seres diferenciados que nos retiram as referências "salvadoras”! Mas tranqüilizemo-nos: sempre existe o choque elétrico, que como um deus ex machina, nos devolve a paz e recoloca esses "anjos decaídos" em seus devidos lugares...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Não choro por ti, América Latina

Nem tanto pelo resultado, pois ele representou a vontade da maioria e por isso tem que ser respeitado, mas sim pela similaridade do contexto político descaradamente assistencialista praticado por Lula e ratificado por Dilma Rousseff, a eleição que reelegeu a presidente argentina domingo último me leva a acreditar que a Era da Mediocridade se disseminou por toda a América Latina. Como aconteceu aqui no Brasil do lulalato, o viés social-populista prevaleceu e, embora distante, me pareceu que a maioria dos argentinos votou mais preocupada em preservar a mesada que recebe do governo e em garantir o acesso à carne de segunda pela metade do preço. Premidos pela necessidade, rezaram a oração do prato nosso de cada dia. Aliás, exatamente a mesma que a maioria dos brasileiros tem rezado nos últimos nove anos, fenômeno que vem se firmando perigosamente como doutrina em boa parte deste pedaço do continente americano que teima em continuar permeável à ação predatória de falsos profetas gestados na barriga do atraso e de messias salvacionistas paridos no ventre da submissão. Não chores por mim, América Latina, porque eu não choro por ti. Não a desprezo nem sinto pena. Apenas vergonha. Ignorá-la, entretanto, por mais que eu queira, é impossível. És o que sempre fostes, um celeiro inesgotável de caudilhos. Uns, mitômanos irrecuperáveis, outros, sanguinários compulsivos, mas todos medíocres, sem exceção. Travestidos de redentores iluminados se fizeram proprietários da pobreza latina, mas cuidaram por primeiro de construir suas fortunas pessoais à custa da dor e do sofrimento dos pobres que supostamente seriam redimidos. Astutos, institucionalizaram a miséria como o método mais democrático para se perpetuarem no poder. Cientes de que em uma sociedade medianamente evoluída seus argumentos não prosperariam, sempre apostaram as suas fichas no filão inesgotável da insensibilidade oficializando o pão e o vinho degradantes como principais métodos de convencimento e fórmula infalível do sucesso da sanha totalitária que os torna unos na ação, porém, pateticamente divisíveis na ganância. Acentua-se o triunfo da sordidez que, debochada, ridiculariza a vã democracia. Cada um em seu tempo, tanto Vargas, como Fidel, Perón, Chavez, Lula, Morales, Cristina, entre tantos, descobriram que o estômago é o menor atalho para o poder. Reinaram, reinam e ainda reinarão absolutos por muito tempo em países solapados pela miséria crônica que avilta a dignidade ou naqueles devastados pela indigência intelectual que remete gerações inteiras às mais obscuras trevas da ignorância. A maioria dessas nações destaca-se pelas duas abjeções. Sempre souberam que sem a bandeira da fome que mata e sem o ópio da dependência que humilha e vicia jamais se firmariam como líderes. Seriam, no máximo, pálidos astros de quinta baixeza. Um dia quem sabe brasileiros, cubanos, argentinos, venezuelanos e bolivianos despertem da letargia que os tem escravizado ao longo dos séculos e libertem-se do jugo desumano que os mantém atrelados a essa condição de rendição consentida. Livres, terão a oportunidade de demonstrar que são senhores absolutos dos seus destinos e suficientemente capazes de determinarem os caminhos mais seguros a serem percorridos e ajustarem a rota mais que perfeita na busca da edificação de uma sociedade socialmente justa, politicamente desenvolvida e democraticamente consolidada, abolindo definitivamente de seus cotidianos o horror representado pelo deserto cultural que os descaracteriza, pela fome que os submete e pela miséria que os flagela. Quando esse dia chegar, certamente derramarei uma lágrima em homenagem à tua redenção, envilecida América dos latinos submissos. Até lá tens apenas o meu luto árido.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Mais aula não resolve

Está todo o mundo tonto. Esse negócio de educação deficiente deu pano para todas as mangas. No redemoinho dos perdidos, o simplismo é "afundante". O Pisa e testes que tais -que não parecem com o Enem, em vários sentidos, superior a eles- passaram a ser o padrão-ouro para se medir a escola. Aqui e mundo afora. Li uma entrevista com o ministro da Educação da Dinamarca, no ano passado, e fiquei perplexo ao descobrir que a sua meta era subir no ranking do Pisa. Não bastava ter obtido um dos melhores resultados do mundo -ele era cobrado pela sociedade dinamarquesa para melhorar a posição na listagem. O Brasil, há poucos anos, passou a se medir assim também. Como consequência, todos perguntam como fazer para subir no ranking (estamos na 53ª posição). Ora, descobrindo o que fazem as melhores escolas do mundo serem um sucesso. Viramos súditos das respostas simplórias. Todos fazem estudos que demonstram que professores melhores e mais tempo em sala de aula dão resultado melhor. Como a questão de professores melhores é subjetiva, de uma "ululância" vexante, e que leva tempo (uma ou duas décadas) para se consertar, parte-se para o segundo item. Assim, começa a grita pela escola integral e por mais tempo na sala de aula. Como se torturar a meninada com mais horas monótonas e mal pensadas fosse resultar em aprendizado duradouro. Que bobagem! Isso não passa de um clichê, que serve para dar aos pais e aos políticos a sensação, idealizada, de que algo está sendo feito. O custo é altíssimo, e esse percentual a mais de PIB que iria custear um aumento de jornada deveria ser usado na reforma curricular. Gilberto Dimenstein falou de uma escola na Califórnia, a Summit, que concede aos alunos dois meses, além das férias, para que escapem do tal do currículo. Com isso, essa escola pública é muito superior - em notas - àquelas que aumentaram suas jornadas. Claro. No mundo que está por vir, com currículos baseados na web e abolição gradual do sistema conteudista, acrescentar horas de aula é quase um ato criminoso. Essa dinheirama precisa ser redirecionada a fim de preparar as escolas para a revolução digital. Que, aliás, permitirá aos alunos surfarem questões em casa, em vez de acorrentá-los às carteiras. Todo esforço tem de ser no sentido de alforriar a meninada, em lugar de achar maneiras de aumentar o "Febem-ismo". Com que mais tempo em sala, mais decoreba e mais tortura, nosso pequenos "guantanamistas" aparentarão melhorar? Mas terão apenas se rendido, catatonicamente - como fazem os coreanos que se suicidam depois - à pobre conclusão dos que "pensam" o ramo: "se está ruim assim, vamos dobrar o mal e ver se melhora". Quanta preguiça macunaímica!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Deu errado

A ideia de terceirizar serviços públicos para Organizações Não Governamentais pode ter sido movida a boas intenções, mas deu errado. Transformou-se em ralo para drenar dinheiro público e reforçar maus hábitos na política. As ONGs (Organizações Não Governamentais) estão em xeque. A cada novo episódio de rolo com dinheiro público revela-se a deformação de um mecanismo nascido benigno, para transferir recursos oficiais a entidades que executam ações complementares às do Estado. Os fatos reforçam a atualidade do velho ditado, de que as boas intenções lotam o inferno. A intenção na origem era boa. Comparadas à máquina estatal, as ONGs ganham em agilidade e foco, permitem a mobilização rápida e flexível de conhecimentos específicos indispensáveis. Essa é a teoria. Na prática, o universo das ONGs é fonte recorrente de notícias sobre irregularidades e desvios. Pululam as maneiras espertas de contornar normas e regulamentos, os expedientes para prevalecer o interesse privado e espúrio sobre o público. É sempre complicado generalizar, mas o número de casos nebulosos e escândalos permite o diagnóstico de um problema sistêmico. Pode-se argumentar que o modelo é bom, que os problemas devem ser tratados como tal, que generalizar é perigoso e injusto, que os erros não devem servir de pretexto para condenar o sistema no todo. É uma argumentação razoável, desde que venha acompanhada da proposta de solução. Qual é então o remédio para extirpar os focos problemáticos? Uma estrutura de vigilância capaz de controlar a destinação do dinheiro público que vai para as ONGs? Aí seria o absurdo ao quadrado. Pode-se imaginar qual deveria ser o tamanho dessa estrutura para funcionar a contento. Para monitorar milhares de ONGs sem deixar espaço ao malfeito. Ou pelo menos para minimizar o risco. Provavelmente seria uma máquina gigantesca, uma megaburocracia para corrigir uma estrutura cujo objetivo inicial era fugir da burocracia. Aí não dá. E por que não submeter então as ONGs às mesmas regras rígidas aplicáveis à despesa pública propriamente dita? Nas compras e contratações, para evitar que a maior flexibilidade abra portas e janelas ao erro. Bem, nesse caso a pergunta é imediata. Para que então as ONGs? Por que não fazer a coisa por meio do Estado e ponto final? É um beco sem saída. Na verdade, o impasse é produto de uma deformação estrutural. De um antagonismo conceitual. As Organizações Não Governamentais surgiram como novidade para dar expressão à sociedade civil, às novas formas de protagonismo, às correntes sociais à margem dos partidos políticos, do Estado e das instituições tradicionais. Eram novos atores, organizados para inocular vida na fossilizada política institucional, um oxigênio muito bem vindo. Finalmente, a política deixaria de ser monopólio dos profissionais e as demandas coletivas teriam novos canais de expressão. Mas para que fosse efetivamente assim um detalhe seria imprescindível. As ONGs deveriam buscar os meios de subsistência na sociedade, e não no Estado. Mas simplesmente não aconteceu. Na prática, os governos, partidos e políticos acabaram tecendo cada um sua rede-satélite de ONGs, financiada com os recursos da atividade político-estatal e orientada a facilitar a reprodução do poder de quem a sustenta. Bem ao contrário do que deveria ser. E quando uma boa ideia resulta no contrário da intenção original está na hora de avaliá-la com rigor e tomar providências.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Vade retro, Luiz!

Estou nesta vida há quase seis décadas. Tempo suficiente para constatar que a retórica do poder mudou. Vem mudando, aliás, a cada novo governo. Até mesmo a lógica que rege a política parece ter-se modificado através dos anos. Desde os tempos do regime militar, ao que me recorde. É curioso perceber que esse fenômeno não se dá apenas no modo de se expressar dos governantes. Os seus assessores, simpatizantes, adversários e até inimigos, ao fim e ao cabo, terminam adotando idênticas expressões linguísticas e até o discurso daqueles que ocupam o centro do palco.Eu me lembro bem de que, nos tempos dos generais Ernesto Geisel e João Figueiredo – mesmo depois que a censura à imprensa acabou -, era muito raro encontrar nos jornais artigos nos quais os autores não se valessem do vocabulário próprio das casernas para expressar as suas opiniões. As expressões mais comuns na imprensa daquele período eram “dispositivo civil”, “teatro de guerra”, “operação política”, “técnicas de despistamento”, “recuo tático”, “manobra ofensiva” e tudo o mais que compunha o jargão militar. Até que, em 1985, o último general bateu em retirada. Com ele partiram também os cavalos que tanto amava e os inúmeros oficiais militares que infestavam a capital da República. Os que estavam na ativa ocupavam prestigiosos postos no SNI – o todo-poderoso Serviço Nacional de Informações. Quanto aos já reformados, cabiam-lhes as diretorias das quase 400 empresas estatais. Vieram, então, a Nova República, a redemocratização e a Assembleia Nacional Constituinte. E as expressões mais em voga, nessa época, passaram a ser “responsabilidade social”, “diálogo democrático”, “causas populares”, “reformas institucionais”, etc. Mas o que realmente importava, para a Nação, era remover o “entulho autoritário”. Tudo o que se produzisse em termos de noticiário só era publicável se pudesse encaixar-se numa dessas prateleiras. O resto era enviado para a “cesta seção”, eufemismo que designava a cesta de lixo. Vieram os anos 1990 e, com eles, a ditadura do “politicamente correto”. Para a liberdade de expressão era algo ainda pior do que a censura imposta pelos militares. Ao menos esta última vinha de fora. O autopoliciamento é o que de fato esteriliza a criatividade e o livre-pensar. A necessidade de se expressar apenas em termos neutros e não preconceituosos, a premência de se valer exclusivamente de vocábulos não ofensivos a ninguém, tudo isso representava – e cada vez mais representa – uma verdadeira castração intelectual. Mas o recurso ao dicionário viria a se tornar, de fato, imperioso somente alguns anos depois. Foi quando se iniciou a era FHC. Os emproados tucanos que cercavam o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em sua maioria, provinham dos meios acadêmicos de São Paulo. E, portanto, cultivavam um linguajar complexo e hermético. Havia entre eles, também, alguns economistas de origem carioca. Mas estes falavam um português ainda mais difícil. E com isso causavam uma enorme confusão na cabeça das pessoas. A começar pelo próprio presidente, que ao se lançar candidato alegou um “imperativo categórico”, até um alto dirigente econômico que se regozijou por estar realizando uma “destruição criadora”, quase todos eles disseram coisas que para o cidadão médio não faziam sentido. Ora, ninguém tem obrigação de conhecer Kant ou Schumpeter para decifrar o que eles realmente pretendiam. À primeira vista parecia que o economista estava cumprindo uma terrível profecia bíblica e o candidato, apenas pedindo licença para ir ao toalete. Isso para não falar em outro economista que, quando ocupou a presidência do Banco Central, pretendeu dar um jeito na economia por meio de uma certa “banda diagonal exógena”. Confesso que até hoje não descobri o que ele queria dizer… O fato é que o dólar disparou, a popularidade do governo despencou e o sujeito está sendo processado na Justiça até hoje. No meu entendimento, o governo dos tucanos foi muito positivo. Eles promoveram muitas reformas importantes e também nos forçaram a enriquecer nosso vocabulário. Mas, evidentemente, com tal linguajar não conseguiram transmitir nenhum de seus feitos ao povo. E este, ao final, cuidou de eleger alguém da oposição que falasse um português minimamente compreensível. Infelizmente, os eleitores exageraram na dose. Escolheram o Lula, que abusa da linguagem chula, das metáforas impróprias e dos atentados às normas gramaticais. Seu talento retórico é inegável. Ganhou o mundo com seu enredo do “coitadinho que chegou lá”. Plagiou as idéias de seu antecessor, colheu os frutos do que aquele plantou e, mesmo quase nada fazendo, vendeu a imagem de grande realizador. Logrou eleger a sua sucessora, mas deixou para ela uma pesada herança: uma equipe ministerial que já está sendo conhecida como “Marilyn Monroe” – não passa um mês sem se envolver num escândalo. Pasmem, o homem quer voltar! E, ao que parece, já se vai candidatar agora, em 2014. Com, sem ou contra Dilma Rousseff. O que dizer a ele? Vade retro, Satanás! Ou, então, escrever-lhe uma carta nos moldes da que – segundo citou Magnoli – o ex-aliado D’Annunzio enviou a Benito Mussolini: “Acorde! E se envergonhe também! (…) Pelo menos fure a barriga que vos oprime e desinche-a. Senão chegarei eu. Mas não o olharei no seu rosto”.

domingo, 23 de outubro de 2011

Requiem para Kadafi

Muhamar Kadafi (ou Gadhafi) foi pro saco. Morreu de maneira coerente com seu reinado de terror, que durou 42 anos: de forma ignominiosa, abatido a tiros, feito um animal, depois de ter sido descoberto fugindo em um comboio em Sirte, sua cidade natal. Não lamento por ele, nem lhe tenho nenhuma piedade. É um ditador a menos para envergonhar a humanidade. Que a terra lhe seja pesada. Apesar disso - aliás, justamente por isso -, ao ver o vídeo em que ele aparece ensanguentado, sendo espancado por um bando de rebeldes armados, implorando para não ser morto, fui tomado de dois sentimentos conflitantes: primeiro, de júbilo, pela rara oportunidade de ver um tirano sanguinário capturado; depois, de frustração, pois perdeu-se uma excelente oportunidade de se fazer Justiça. Conforme sempre ensinei na Academia de Polícia, o preso não é propriedade de seu captor, ele é responsabilidade do Estado. Kadafi já estava dominado, sem chances de escapar. Deveria, portanto, ter sido conduzido sob custódia. Deveria ter tido sua integridade física preservada para ser levado a julgamento e responder por seus crimes. Deveria ter sido julgado e condenado a uma pena compatível com seus delitos – e isso inclui a morte, como no caso de seu colega Saddam Hussein no Iraque. Em vez disso, ele foi seviciado e linchado por uma turba sedenta de sangue e de vingança. Não estou dizendo que Kadafi merecia um destino melhor do que aquele a que condenou milhares de pessoas, dentro e fora da Líbia. Ao contrário de muitos “humanistas” da esquerda pró-castrista, não tenho nenhuma lágrima a derramar por ditadores, seja de que lado estiverem. (Aliás, o que teria a dizer o auto-proclamado consultor-geral do mundo, Luiz Inácio da Silva, sobre a morte de seu “amigo e irmão”?) Mas sei diferenciar Justiça de vingança. A primeira faz parte da civilização; a segunda, da barbárie. Ao executarem Kadafi, capturado e indefeso, os rebeldes líbios se asssemelharam a ele. Pior: podem ter ajudado a criar um mártir. "Ah mas logo você, que aplaudiu a morte de Bin Laden, vem falar em direitos humanos no caso de Kadafi?", poderia perguntar um idiota da objetividade, achando que me pegou em contradição. Tive de responder a algumas viúvas do terrorista saudita que acharam um absurdo um comando norte-americano tê-lo despachado para os quintos dos infernos sem antes ter-lhe lido os direitos. Repito: a morte de Bin Laden foi uma necessidade militar, ditada pelas circunstâncias de uma guerra que ele mesmo começou. Kadafi, ao contrário, já estava capturado, não havia por que matá-lo sem julgamento. Do mesmo modo que Saddam Hussein, ele já não representava nenhum perigo quando foi apanhado. Bin Laden, pode-se dizer, morreu em combate; Kadafi, por sua vez, era um prisioneiro. Seus captores deveriam tê-lo tratado como tal. É isso o que distingue quem leva a sério direitos humanos de quem os despreza. À frustração por não ver Kadafi sentado no banco dos réus, onde certamente ajudaria a revelar importantes segredos politicos de nosso tempo – e quantos governantes, principalmente na Europa, devem estar aliviados por causa disso! – juntou-se a preocupação pelo futuro da Líbia. Desde que se iniciou a chamada "primavera árabe", no começo do ano, venho buscando alertar que uma coisa é derrubar ditadores como Mubarak e, agora, Kadafi; outra coisa, muito mais difícil, é substuí-los por governos democráticos. No Egito e na Tunísia, os fundamentalistas islamitas estão ganhando espaço a cada dia – na semana passada, a polícia matou 25 cristãos coptas no Cairo, e não se ouviu quase nada a respeito na imprensa ocidental. Na Líbia, igualmente, há ex-membros da Al Qaeda no tal conselho nacional de transição, e quase ninguém parece estar muito preocupado com isso. A primeira condição para a existência da democracia – o império da lei – acabou de ser jogada no lixo na Líbia. E justamente quando era mais necessária, para distinguir os novos donos do poder da tirania. Kadafi foi assassinado. É uma pena. O que virá depois, só Alá é quem sabe.

sábado, 22 de outubro de 2011

A Grécia levou os "direitos adquiridos" até à demência

Li recentemente, uma mensagem sobre os descalabros econômicos promovidos pelo governo grego, razão por que o belo país helênico está afundado em dívidas. Saí a pesquisar a fonte, a fim de verificar a veracidade do texto e terminei encontrando o artigo abaixo, no jornal português Expresso Nas TVs portuguesas, a situação na Grécia é contada através da seguinte narrativa: eis um pobre povo periférico que está a sofrer as agruras de uma crise internacional, eis um povo do sul da Europa a sofrer às mãos da pérfida Merkel. Ora, já é tempo de sair desta superficialidade. Já é tempo de perceber que os gregos têm muitas culpas no cartório. Já é tempo de escavar a sério na situação grega. E, assim que começamos essa investigação, a conclusão é invariavelmente a mesma: os gregos não foram sérios, não estão sendo sérios. Os gregos levaram a lógica dos "direitos adquiridos" até à demência, até à falta de vergonha. Os exemplos desta falta de seriedade são imensos. Em 1930, um lago na Grécia secou, mas, o Estado Social grego acha que tem de existir um Instituto para a Proteção do Lago Kopais - o nome do tal lago que secou em 1930, mas que em 2011 ainda tem dezenas de funcionários dedicados à sua conservação. Calculo que estes funcionários devem estar nas ruas a gritar "abaixo o fascismo". Mas há mais. Sabiam que na Grécia as filhas solteiras dos funcionários públicos têm direito a uma pensão vitalícia após a morte do mãe/pai-funcionário-público? Não é genial? Na Grécia, os direitos adquiridos adquirem-se por, vá, osmose familiar. Na Grécia, X e Y recebem 1.000 euros mensais - para toda a vida - só pelo fato de serem filhas de funcionários públicos falecidos. Há 40 mil mulheres neste registro. E, depois de um ano de caos, o governo grego ainda não acabou com isto completamente. Calculo que estas meninas devem ir para a rua fazer manifestações. Coitadinhas. Querem mais? Num hospital público, existe um jardim com quatro (4) arbustos. Ora, para cuidar desses arbustos o hospital contratou quarenta e cinco (45) jardineiros. Num ato de gestão muito social (para com o fornecedor), os hospitais gregos compram marca-passos quatrocentas vezes (400) mais caros do que aqueles que são adquiridos no SNS britânico. E, depois, claro, existem seiscentas (600) profissões que podem pedir a aposentadoria aos 50 (mulheres) e aos 55 (homens). Porquê? Porque são profissões de alto desgaste. Dentro deste rol de malta que trabalha como mineiros, encontramos cabeleireiras e apresentadores de TV. Sim, faz todo o sentido: cortar cabelo é o mesmo que estar nas minas da Panasqueira. COMENTÁRIO: É uma pequena mostra do que pode fazer um governo (ou diversos governos seguidos) que se preocupa mais com a distribuição da riqueza do que com a produção da mesma. O descalabro é ratificado no jornal espanhol El Mundo, que acrescenta outros disparates gregos como a existência, em muitos departamentos estatais, de 50 (cinquenta) motoristas para cada veículo oficial; os 4.500 mortos cujos familiares "muito vivos" não comunicaram seus falecimentos para continuar a receber suas pensões; e o fato de que um quarto dos cidadão gregos são completamente isentos de impostos. Isso tudo em um país com 11 milhões de habitantes e um total de 4,3 milhões de trabalhadores, 750 mil destes, funcionários públicos. Como costuma dizer um jornalista conhecido: "Não há o menor risco disso dar certo!" E a culpa é jogada sobre os ombros do "neoliberalismo".

NIÓBIO: O QUE PODERIA SER A REDENÇÃO DO BRASIL!

Você já ouviu algo a respeito ? Nióbio, o metal que só o Brasil fornece ao mundo. Uma riqueza que o povo brasileiro desconhece e tudo fazem para que isso continue assim Como é possível o fato de o Brasil ser o único fornecedor mundial de nióbio (98% das jazidas desse metal estão aqui), sem o qual não se fabricam turbinas, naves espaciais, aviões, mísseis, centrais elétricas e super aços; e seu preço para a venda, além de muito baixo, seja fixado pela Inglaterra, que não tem nióbio algum? EUA, Europa e Japão são 100% dependentes do nióbio brasileiro. Como é possível em não havendo outro fornecedor, que nos sejam atribuídos apenas 55% dessa produção, e os 45% restantes saíndo extra-oficialmente, não sendo assim computados. Estamos perdendo cerca de14 bilhões de dólares anuais, e vendendo o nosso nióbio na mesma proporção como se a Opep vendesse a 1 dólar o barril de petróleo. Mas petróleo existe em outras fontes, e o nióbio só no Brasil; podendo ser uma outra moeda nossa. Não é uma descalabro alarmante? O publicitário Marcos Valério, na CPI dos Correios, revelou na TV para todo o Brasil, dizendo: “O dinheiro do mensalão não é nada, o grosso do dinheiro vem do contrabando do nióbio”. E ainda: “O ministro José Dirceu estava negociando com bancos, uma mina de nióbio na Amazônia”. Ninguém teve coragem de investigar… Ou estarão todos ganhando com isso? Soma-se a esse fato o que foi publicado na Folha de S. Paulo em 2002: “Lula ficou hospedado na casa do dono da CMN (produtora de nióbio) em Araxá-MG, cuja ONG financiou o programa Fome Zero”. As maiores jazidas mundiais de nióbio estão em Roraima e Amazonas (São Gabriel da Cachoeira e Raposa – Serra do Sol), sendo esse o real motivo da demarcação contínua da reserva, sem a presença do povo brasileiro não-índio para a total liberdade das ONGs internacionais e mineradoras estrangeiras. Há fortes indícios que a própria Funai esteja envolvida no contrabando do nióbio, usando índios para envio do minério à Guiana Inglesa, e dali aos EUA e Europa. A maior reserva de nióbio do mundo, a do Morro dos Seis Lagos, em São Gabriel da Cachoeira (AM), é conhecida desde os anos 80, mas o governo federal nunca a explorou oficialmente, deixando assim o contrabando fluir livremente, num acordo entre a presidência da República e os países consumidores, oficializando assim o roubo de divisas do Brasil. Todos viram recentemente Lula em foto oficial, assentado em destaque, ao lado da rainha da Inglaterra. Nação que é a mais beneficiada com a demarcação em Roraima, e a maior intermediária na venda do nióbio brasileiro ao mundo todo. Pelo visto, sua alteza real Elizabeth II demonstra total gratidão para com nossos “traíras” a serviço da Coroa Britânica. Mas, no andar dessa carruagem, esse escândalo está por pouco para estourar, afinal, o segredo sobre o nióbio como moeda de troca, não está resistindo às pressões da mídia esclarecida e patriótica. Cadê a OAB, o MFP, o Congresso Nacional ??? Os bandidos são mais honestos! O nióbio apresenta numerosas aplicações. É usado em alguns aços inoxidáveis e em outras ligasde metais não ferrosos. Estas ligas devido à resistência são geralmente usadas para a fabricação de tubos transportadores de água e petróleo a longas distâncias. Usado em indústrias nucleares devido a sua baixa captura de nêutrons termais. Usado em soldas elétricas. Devido a sua coloração é utilizado, geralmente na forma de liga metálica, para a produção de jóias como, por exemplo, os piercings. Quantidades apreciáveis de nióbio são utilizados em superligas para fabricação de componentes de motores de jatos , subconjuntos de foguetes , ou seja, equipamentos que necessitem altas resistências a combustão. Pesquisas avançadas com este metal foram utilizados no programa Gemini. O nióbio está sendo avaliado como uma alternativa ao tântalo para a utilização em capacitores. O nióbio se converte num supercondutor quando reduzido a temperaturas criogênicas. Na pressão atmosférica, tem a mais alta temperatura crítica entre os elementos supercondutores, 9,3 K. Além disso, é um dos três elementos supercondutores que são do tipo II ( os outros são o vanádio e o tecnécio ), significando que continuam sendo supercondutores quando submetidos a elevados campos magnéticos.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Para além de Hobbes

Ano passado, um casal, Bernadete e Cléber Nunes, de Timóteo, Minas Gerais, foi condenado por abandono intelectual dos dois filhos adolescentes. Eles saíram da escola há quatro anos e, desde então, são educados em casa pelos pais por meio da metodologia chamada "homeschooling"-em português, ensino domiciliar. O casal também foi condenado na área cível pelo descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca). Na sentença, o juiz Eduardo Augusto Guastini estipula uma multa de um salário mínimo para Cléber e um terço de um salário para Bernadeth Ante a condenação judicial do homeschooling, devo lembrar ao meritíssimo que mesmo no Leviatã, a tirania absoluta inventada por Thomas Hobbes, os súditos conservavam “o direito de comprar, vender ou relacionar-se de outra forma; de escolher seu próprio domicílio, sua própria dieta, sua profissão, e de educar seus filhos conforme bem lhes pareça”. O signatário daquela obscenidade não se conforma com tão liberais concessões à autonomia dos súditos: para ele, o Estado tem o direito de impor a todas as crianças a forma e o conteúdo da educação, passando por cima da autoridade dos pais mesmo quando estes tenham comprovado, como Cleber e Bernadeth Nunes comprovaram, sua capacidade de educá-las melhor do que o Estado jamais poderia fazê-lo. Alegando “abandono intelectual”, o Estado exigiu, para prová-lo, que os filhos do casal, David e Jonatas, se submetessem a provas escolares -- até aí, tudo bem --, mas manejou as provas de modo a torná-las bem mas difíceis do que aquelas a que são submetidos, nas escolas oficiais, os alunos da mesma idade dos dois meninos. Não eram provas, eram uma armadilha. Só com essa manobra, a autoridade já provou sua condição de litigante de má-fé e deveria ter recebido a punição judicial correspondente. Em vez disso, David e Jonatas submeteram-se humildemente ao jogo sujo. Não só passaram, mas revelaram possuir, com 13 e 14 anos, os conhecimentos requeridos para ser aprovados em qualquer vestibular de Faculdade de Direito do país. Provado, portanto, que não havia abandono intelectual nenhum, qual o passo seguinte da autoridade? Desprovida de seu argumento inicial, apelou ao Plano B e condenou o casal Nunes de qualquer modo. Qual foi esse plano? Alegar que, sem escola, os meninos, mesmo intelectualmente preparados, são deficientes em “socialização”. Mas, se o problema deles era socialização, para que testar-lhes a capacidade intelectual em primeiro lugar? E qual a prova de que lhes falta socialização? O juiz não forneceu nenhuma: sua palavra basta. O que ele forneceu, sim, foi a prova de que Cleber e Elizabeth Nunes já estavam condenados de antemão, per fas et per nefas, para a glória do Estado onipotente e exemplo de quantos pais sonhem em retirar seus filhos do bordel pedagógico oficial para dar-lhes uma educação que preste. O processo montado contra o casal Nunes foi fraudulento na inspiração, no encaminhamento e nas conclusões. Nem a justiça, nem a racionalidade, nem o interesse sincero na educação dos dois meninos passaram jamais pelas cabeças dos autores dessa farsa abjeta. Tudo o que elas quiseram foi impor a onipotência pedagógica do governo como um fato consumado, uma cláusula pétrea, um dogma indiscutível. E por que o fizeram? Porque o governo necessita desesperadamente apossar-se das mentes das crianças, para usá-las como instrumentos na criação da sociedade futura, moldada nos cânones ditados pela ONU, pela Fundação Rockefeller, pela Fundação Ford, pela Fundação MacArthur e outras tantas organizações bilionárias firmemente decididas a implantar no mundo uma nova ordem socialista -- um socialismo diferente, onde o controle estatal da economia, falhada a experiência soviética da intervenção direta, se fará pela via indireta e sutil do controle da conduta, da modelagem das consciências, da engenharia social onipresente e onipotente. Nem os tiranos da antigüidade, nem os monarcas absolutos da Idade Clássica, nem Thomas Hobbes, nem Maximilien Robespierre, nem talvez o próprio Karl Marx imaginaram jamais estender o poder do Estado aos meandros mais íntimos da alma infantil, para fazer dela a escrava dos planos de governantes insanos. Mas, para o nosso governo, isso é indispensável. Que será da revolução continental se as nossas crianças não forem amestradas, desde a mais tenra idade, nas belezas sublimes das invasões de terras, no ódio aos velhos sentimentos religiosos, no culto dos estereótipos politicamente corretos e na prática devota da sodomia?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os pássaros

Um dos meus Hitchcocks favoritos é um dos filmes mais estranhos da história do cinema. Em "Os pássaros" o sempre explícito Hitchcock faz uma parábola obscura que só pode ser descrita como um prelúdio para o fim do mundo. O filme é sobre os últimos dias de harmonia entre a Humanidade e a Natureza e termina - como nenhum outro filme do Hitchcock - sem resolução ou explicação, pois o único fecho adequado seria o Apocalipse. Numa pequena cidade da costa californiana, os pássaros começam a atacar as pessoas. Ninguém sabe por quê, e o filme acaba sem que se saiba por quê. É uma história de horror sem vilões. Um filme com violência e mortes em que não aparece uma arma, salvo os bicos dilacerantes dos pássaros. Já se disse que "Os pássaros" é, antes de mais nada, sobre a conhecida misoginia do Hitchcock, já que no filme as mulheres são os alvos preferidos das bicadas. E tudo começa com a chegada na pequena e idílica Bodega Bay de uma loira vinda da cidade grande que irá se intrometer na rotina do lugar e subverter a ordem natural das suas relações antigas, e concentrar a fúria das aves. Mas o filme vai além do que o Hitchcock gostava de fazer com loiras. Algo está sendo anunciado. Algum desconcerto está sendo vingado. Li que, em janeiro, pássaros começaram a cair do céu em regiões dos Estados Unidos e da Suécia. Ainda não se sabe a causa das mortes. Como no filme do Hitchcock - especula-se, pois o próprio Hitchcock não deve ter entendido bem o que estava fazendo -, os pássaros estariam tentando nos dizer alguma coisa. Pássaros caindo do ar são quase mais perturbadores do que pássaros nos atacando, pois sugerem um desconcerto sem refúgio, do qual não se escapa nem voando. Podemos viver com a idéia de pássaros retomando o mundo, mas não com a idéia de um mundo irreparável caminhando para o nada. Depois de pássaros caindo do céu vêm mortos saindo das sepulturas, o Juízo Final, sobem os créditos e Fim. Ou então descobrirão causas perfeitamente racionais para a morte dos pássaros e tudo continuará como antes. Bodega Bay, por sinal, ainda existe.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sobre a Tal Comissão da Verdade

A verdade é um espelho que caiu das mãos de Deus e se quebrou. Cada um recolhe um pedaço e diz que toda verdade está naquele caco." Provérbio iraniano Corria em mim a cândida idade de dez anos incompletos, quando estourou o contragolpe, a revolução ou o golpe de 1964. Seja qual nome adotado, nada tive a ver com o movimento, contra ou a favor. Como já possuo um passivo de 57 anos, creio que a maioria do povo brasileiro hoje em dia também não fora responsável direto pelos acontecimentos que culminaram no evento, nem tampouco tem a ver com as suas conseqüências, notadamente a luta armada ou a guerra oficial contra ela, empreendidas entre 1968 e 1975. Isso posto, é preciso notar que o regime militar terminou em 1985, após 20 anos de ditadura, embora o período de transição de José Sarney (1985-1989) tenha sido ainda tutelado pelas Forças Armadas, época ainda prenhe de explicações por parte de bons historiadores. Quando tinha 35 anos pude, enfim, resgatar minha cidadania e votar para presidente da República, após amargar, como quase todo mundo a tristeza de, anos antes, ver falecido o doce movimento das Diretas-Já, que, em 1984, procurou transformar pacificamente nosso precário sistema eleitoral de eleições indiretas. Hoje vivemos um regime democrático regular, mas eis que o governo atual pretende revolver o passado para recuperar o sentido histórico do que foi perdido nas franjas do tempo, remexendo em feridas que pareciam sepultadas pela velha lei da Anistia (1979). A Anistia valeu, como confirmou há pouco tempo o Supremo Tribunal Federal, mas a militância de esquerda não se deu por vencida: deseja revolver o que foi sepultado para trazer à tona o que até hoje ficou equívoco e sem melhor explicação. Como conheço algo daquele período, sei que houve mortos de lado a lado, torturadores, torturados, vítimas e assassinos a sangue-frio. A guerra oficial foi vencida pelo Estado, cujos proprietários e ideólogos da ocasião eram os militares e seus prepostos tecnocratas. Hoje, ao converso, os manipuladores do governo são de outra ideologia e propagam, com toda a convicção, que praticam agora a democracia e os direitos humanos. Querem convencer aos que nada têm a ver com o bololô que militares de direita torturaram e massacraram à vontade inocentes ativistas anti-ditadura que eram “apenas” democratas e meros agentes dos direitos humanos. Essa é muito boa! Esse estratagema de linguagem é grave, porque pressupõe uma reação extremista de um lado e moderada do outro, como se houvesse excessos de um lado só. O outro era o da facção vitimada e trucidada, com raras exceções, entre as quais a nossa “presidenta”, que ora nos governa... Ora, se é comissão da “verdade”, não se pode aceitar que ela esteja apenas de um lado, porque, senão, não haveria querelas. Ocorre que existem arquivos históricos confiáveis de que houve luta armada, guerrilha, seqüestros e assassinatos perpetrados pela esquerda radical, que gostaria de ver instaurado no país um regime parecido com o de Cuba, que, então, estava na moda... Vários próceres do atual governo, inclusive, foram treinados na ilha dos Castro, retornando ao país com objetivos de retomada do poder pela força, compondo células e aparelhos, na tentativa de subverter a ditadura de direita. Para os de esquerda, os militares subvertiam a ordem que pretendiam instaurar, isto é, uma república proletário-sindical, à semelhança de Cuba e da extinta União Soviética; para os militantes da direita, os que foram para a clandestinidade, os banidos e os cassados representavam a massa de manobra que pretendia desfigurar a Pátria, mediante um regime comunista e ateu... No meio dessa sopa conflitante e ideológica, o povo assistía a tudo, tocando o dia a dia, opinando e silenciando de acordo com a conveniência cidadã de gente mal-informada ou sempre cientificada pela metade do que estava acontecendo. Agora, após tantos anos, os dois lados preparam-se para nova guerra, açulando os mais portentosos argumentos de parte a parte. Os cadáveres da esquerda e da direita ressurgirão, revigorados, trazendo raiva e estupor para uma sociedade de massas, entorpecida pela mídia e amedrontada no seu dia-a-dia sob violência difusa e insegurança. Pobre povo brasileiro, que não pode andar para a frente nem merecer o futuro! Abrirão a tampa do caldeirão e as bruxas surgirão, de parte a parte, com seus sortilégios noturnos. Poucos ganharão as reparações de guerra, um conflito em que a maioria absoluta da nação não lutou ou viveu qualquer envolvimento direto ou indireto. A pantomima desenvolver-se-á em meio a eleições, sendo bucha de canhão para aproveitadores, assim como se diz dos mensalões, também objeto de conflito e que sabemos não darão em nada em nossa Justiça capenga, lerda e elitista. Os caquinhos da verdade pertencem a dois grupos, em luta eterna, e que não mais representam os interesses do povo brasileiro. Os queixosos de injustiças – nós vamos ver – serão calados por maçarocas de dinheiro sangradas dos contribuintes e voltarão para suas casas, aburguesados, para criar os filhos, os netos e seguir a vida. Na verdade, a melhor coisa de que me lembro do período militar foi de uma música do Chico Buarque, em que ele implorava intensamente: “chamem o ladrão, chamem o ladrão!”. Parece que deu certo a veemência do ilustre compositor: os ladrões foram chamados e, hoje, no governo atual, estão todos aqui...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Distúrbios da aprendizagem - Discalculia

A matemática para algumas crianças ainda é um bicho de sete cabeças. Muitos não compreendem os problemas que a professora passa no quadro e ficam muito tempo tentando entender se é para somar, diminuir ou multiplicar; não sabem nem o que o problema está pedindo. Alguns, em particular, não entendem os sinais, muito menos as expressões. Contas? Só nos dedos e olhe lá. Em muitos casos o problema não está na criança, mas no professor que elabora problemas com enunciados inadequados para a idade cognitiva da criança. Carraher afirma que: “Vários estudos sobre o desenvolvimento da criança mostram que termos quantitativos como “mais”, “menos”, maior”, “menor” etc. são adquiridos gradativamente e, de início, são utilizados apenas no sentido absoluto de “o que tem mais”, “o que é maior” e não no sentido relativo de “ ter mais que” ou “ser maior que”. A compreensão dessas expressões como indicando uma relação ou uma comparação entre duas coisas parece depender da aquisição da capacidade de usar da lógica que é adquirida no estágio das operações concretas”...”O problema passa então a ser algo sem sentido e a solução, ao invés de ser procurada através do uso da lógica, torna-se uma questão de adivinhação” (2002, p. 72). No entanto, em outros casos a dificuldade pode ser realmente da criança e trata-se de um distúrbio e não de preguiça como pensam muitos pais e professores desinformados.Em geral, a dificuldade em aprender matemática pode ter várias causas. De acordo com Johnson e Myklebust, terapeutas de crianças com desordens e fracassos em aritmética, existem alguns distúrbios que poderiam interferir nesta aprendizagem: Distúrbios de memória auditiva - A criança não consegue ouvir os enunciados que lhes são passados oralmente, sendo assim, não conseguem guardar os fatos, isto lhe incapacitaria para resolver os problemas matemáticos. - Problemas de reorganização auditiva: a criança reconhece o número quando ouve, mas tem dificuldade de lembrar do número com rapidez. Distúrbios de leitura - Os dislexos e outras crianças com distúrbios de leitura apresentam dificuldade em ler o enunciado do problema, mas podem fazer cálculos quando o problema é lido em voz alta. É bom lembrar que os dislexos podem ser excelentes matemáticos, tendo habilidade de visualização em três dimensões, que as ajudam a assimilar conceitos, podendo resolver cálculos mentalmente mesmo sem decompor o cálculo. Podem apresentar dificuldade na leitura do problema, mas não na interpretação. - Distúrbios de percepção visual: a criança pode trocar 6 por 9, ou 3 por 8 ou 2 por 5 por exemplo. Por não conseguirem se lembrar da aparência elas têm dificuldade em realizar cálculos. Distúrbios de escrita - Crianças com disgrafia têm dificuldade de escrever letras e números. Estes problemas dificultam a aprendizagem da matemática, mas a discalculia impede a criança de compreender os processos matemáticos. A discalculia é um dos transtornos de aprendizagem que causa a dificuldade na matemática. Este transtorno não é causado por deficiência mental, nem por déficits visuais ou auditivos, nem por má escolarização, por isso é importante não confundir a discalculia com os fatores citados acima. O portador de discalculia comete erros diversos na solução de problemas verbais, nas habilidades de contagem, nas habilidades computacionais, na compreensão dos números. Kocs (apud García, 1998) classificou a discalculia em seis subtipos, podendo ocorrer em combinações diferentes e com outros transtornos: Discalculia Verbal - dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações. Discalculia Practognóstica - dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens matematicamente. Discalculia Léxica - Dificuldades na leitura de símbolos matemáticos. Discalculia Gráfica - Dificuldades na escrita de símbolos matemáticos. Discalculia Ideognóstica – Dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos. Discalculia Operacional - Dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos. Na área da neuropsicologia as áreas afetadas são: Áreas terciárias do hemisfério esquerdo que dificulta a leitura e compreensão dos problemas verbais, compreensão de conceitos matemáticos; Lobos frontais dificultando a realização de cálculos mentais rápidos, habilidade de solução de problemas e conceitualização abstrata. Áreas secundárias occípito-parietais esquerdos dificultando a discriminação visual de símbolos matemáticos escritos. Lobo temporal esquerdo dificultando memória de séries, realizações matemáticas básicas. De acordo com Johnson e Myklebust a criança com discalculia é incapaz de: Visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior; Conservar a quantidade: não compreendem que 1 quilo é igual a quatro pacotes de 250 gramas. Seqüenciar números: o que vem antes do 11 e depois do 15 – antecessor e sucessor. Classificar números. Compreender os sinais +, - , ÷, ×. Montar operações. Entender os princípios de medida. Lembrar as seqüências dos passos para realizar as operações matemáticas. Estabelecer correspondência um a um: não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras. Contar através dos cardinais e ordinais. Os processos cognitivos envolvidos na discalculia são: 1. Dificuldade na memória de trabalho; 2. Dificuldade de memória em tarefas não-verbais; 3. Dificuldade na soletração de não-palavras (tarefas de escrita); 4. Não há problemas fonológicos; 5. Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem; 6. Dificuldade nas habilidades visuo-espaciais; 7. Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis. De acordo com o DSM-IV, o Transtorno da Matemática caracteriza-se da seguinte forma: A capacidade matemática para a realização de operações aritméticas, cálculo e raciocínio matemático, encontra-se substancialmente inferior à média esperada para a idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo. As dificuldades da capacidade matemática apresentadas pelo indivíduo trazem prejuízos significativos em tarefas da vida diária que exigem tal habilidade. Em caso de presença de algum déficit sensorial, as dificuldades matemáticas excedem aquelas geralmente a este associadas. Diversas habilidades podem estar prejudicadas nesse Transtorno, como as habilidades lingüisticas (compreensão e nomeação de termos, operações ou conceitos matemáticos, e transposição de problemas escritos em símbolos matemáticos), perceptuais (reconhecimento de símbolos numéricos ou aritméticos, ou agrupamento de objetos em conjuntos), de atenção (copiar números ou cifras, observar sinais de operação), e matemáticas (dar seqüência a etapas matemáticas, contar objetos e aprender tabuadas de multiplicação). Quais os comprometimentos? Organização espacial; Auto-estima; Orientação temporal; Memória; Habilidades sociais; Habilidades grafomotoras; Linguagem/leitura; Impulsividade; Inconsistência (memorização). Ajuda do professor: O aluno deve ter um atendimento individualizado por parte do professor que deve evitar: Ressaltar as dificuldades do aluno, diferenciando-o dos demais; Mostrar impaciência com a dificuldade expressada pela criança ou interrompê-la várias vezes ou mesmo tentar adivinhar o que ela quer dizer completando sua fala; Corrigir o aluno freqüentemente diante da turma, para não o expor; Ignorar a criança em sua dificuldade. Dicas para o professor: Não force o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter conseguido; Explique a ele suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre que precisar; Proponha jogos na sala; •Não corrija as lições com canetas vermelhas ou lápis; Procure usar situações concretas, nos problemas. Ajuda do profissional: Um psicopedagogo pode ajudar a elevar sua auto-estima valorizando suas atividades, descobrindo qual o seu processo de aprendizagem através de instrumentos que ajudarão em seu entendimento. Os jogos irão ajudar na seriação, classificação, habilidades psicomotoras, habilidades espaciais, contagem. Recomenda-se pelo menos três sessões semanais. O uso do computador é bastante útil, por se tratar de um objeto de interesse da criança. O neurologista irá confirmar, através de exames apropriados, a dificuldade específica e encaminhar para tratamento. Um neuropsicologista também é importante para detectar as áreas do cérebro afetadas. O psicopedagogo, se procurado antes, pode solicitar os exames e avaliação neurológica ou neuropsicológica. O que ocorre com crianças que não são tratadas precocemente? Comprometimento do desenvolvimento escolar de forma global O aluno fica inseguro e com medo de novas situações Baixa auto-estima devido a críticas e punições de pais e colegas Ao crescer o adolescente / adulto com discalculia apresenta dificuldade em utilizar a matemática no seu cotidiano. Qual a diferença? Acalculia e Discalculia. A discalculia já foi relatada acima. A acalculia ocorre quando o indivíduo, após sofrer lesão cerebral, como um acidente vascular cerebral ou um traumatismo crânio-encefálico, perde as habilidades matemáticas já adquiridas. A perda ocorre em níveis variados para realização de cálculos matemáticos. Cuidado! As crianças, devido a uma série de fatores, tendem a não gostar da matemática, achar chata, difícil. Verifique se não é uma inadaptação ao ensino da escola, ou ao professor que pode estar causando este mal estar. Se sua criança é saudável e está se desenvolvendo normalmente em outras disciplinas não se desespere, mas é importante procurar um psicopedagogo para uma avaliação. Muitas confundem inclusive maior-menor, mais-menos, igual-diferente, acarretando erros que poderão ser melhorados com a ajuda de um professor mais atento. Bibliografia: CARRAHER, Terezinha Nunes (Org.). Aprender Pensando. Petrópolis, Vozes, 2002. DISCALCULIA. Disponível em: Acesso em 13out2011. (s.a.) GARCÍA, J. N. Manual de Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre, ArtMed, 1998. JOSÉ, Elisabete da Assunção, Coelho, Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. São Paulo, Ática, 2002. RISÉRIO, Taya Soledad. Definição dos transtornos de aprendizagem. Programa de (re) habilitação cognitiva e novas tecnologias da inteligência. 2003.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Justiça Sectária

Diante da reação corporativista, de primária e insustentável rebeldia de setores da Justiça contra as palavras da Corregedora Angela Calmon, em apêndice ao posicionamento do Ministro Cezar Peluso, elevaram-se vozes em vários segmentos da sociedade, e sem modulação de tom não só em apreço ao posicionamento da Corregedora, mas ainda em demonstrar a mais completa indignação, desilusão por nossos Tribunais com as Excelências togadas. Não é para menos, o desvario que se presencia na vida pública nada mais é do que a corrupção institucionalizada pela falta de justiça. No Brasil, a política foi substituída pela corrupção institucionalizada. A contrafação na administração pública agora é organizada e até partidarizada. A pior das formas de corrupção é aquela que se presta aquiescência às demais que proporcionam qualquer dano à nação, até mesmo quando o erário público é dilapidado. Isto nada mais é do que a prática da injustiça qualificada pela toga que a sociedade ora se insurge. O Ministro Gilmar Mendes, durante o processo do Ficha Limpa declarou:- “que as vezes a sociedade deve ser protegida dela própria” (pelo STF). E quem nos protege das Cortes e suas sentenças viciadas, lambuzadas pela politicalha, trabalhadas em seus estertores pelo favorecimento às oligarquias? Não temos verdugos a nossos préstimos; ou do affaire com o clã Sarney, quem está certo a Justiça nitidamente apadrinhada ou meses de investigação da Polícia Federal? Que exemplo deu-se a sociedade? - Uma justiça arbitrada e vergonhosamente serva do coronelismo. A garbosidade de caráter demonstrada pelo expresso corporativismo, deveria a bem da própria instituição – JUSTIÇA, ser substituída pela autocrítica e pela humildade; isto representaria muito mais apreço ao que emana do povo. Humildade é disso que estes senhores togados necessitam em substituição à galhardia rota de títulos sem glória alguma. A glória vem do que se presta a outrem; o que prestam, em geral não tem atendido sequer mínimos padrões de moralidade à nação e que deveriam proteger. Se houverem problemas, resolvam; se em suas hostes houver quem não mereça ali continuar, expulse-os com ira exemplar, pois ao povo, em seu direto sagrado cabe justiça. Isto não é um prenuncio nem opinião desqualificada, é a visão de milhões que não creem mais nos tribunais deste país pela injustiça a que nos predispõe. Afinal de que fileiras saíram Medina e Lalau? Este último dirigia a Comissão de Obras do imponente Fórum Trabalhista de S.Paulo, e isto mesmo depois de regiamente aposentado. Era “um trabalho voluntário” e que “ninguém desconfiava”, certamente com o beneplácito silencioso de centenas de servidores muitíssimos bem remunerados pelos cidadãos que carecem do funcionamento isento das Cortes. Dispensável é elencar outros casos, porém nada passa sem lembrarmo-nos do mensalão. Mister citar ainda quando completa-se um ano que o Ministro do STF Antonio Toffoli pediu vistas para obstar o andamento do processo relativo ao expurgos dos planos econômicos e as perdas decorrentes nas cadernetas de poupanças. Milhões de pessoas aguardam a manifestação do STF – presidido pelo Ministro Peluso. Toffoli, um Ministro tardinheiro, que foi assessor de José Dirceu na Casa Civil, tem nesse episódio uma marca indelével. Quando de sua passagem pela Advocacia Geral da União, manifestou-se a favor dos Bancos, e contrário aos poupadores - motivo este mais que suficiente para declarar-se impedido de ora manifestar-se no Supremo. Ele o fez? Não! O Ministro Peluso presidente da Corte interviu? Não? Estão fazendo justiça a quem? Portanto a Corregedora Eliana Calmon disse o mínimo, e o que disse está correto, provavelmente apenas errou na grandeza, pois se quisesse falaria muito mais. Que as vulgares teses corporativistas tenham ouvidos para ouvir e olhos para ver e semeiem a verdade em torno de si e de seus atos e palavras se desejarem praticar justiça e não a hipocrisia dos falsos pregadores de uma honestidade impoluta que nem ilude mais a incautos.

domingo, 16 de outubro de 2011

Multiculturalismo

A discussão sobre o denominado multiculturalismo abrange um amplo leque de temas candentes da atualidade. Todos importantes e de conteúdos variados. Político, institucional, cultural e ideológico. Portanto, não deve ser subestimado como algo superficial, diletante ou simplesmente uma supérflua tese de alguns acadêmicos. O multiculturalismo, como fato histórico, existe desde sempre. De certa forma, ele é a própria história. O que está em debate não é especificamente o pluralismo cultural ou a noção de diversidade. Estas, não são falsas nem contestáveis O mundo natural, o físico e o cultural são caracterizados pela diversidade, e esta significa, seja em que sentido se apresente, um avanço da humanidade em relação à uniformidade das coisas. O fenômeno acontece com pessoas de espaços culturais diversos que são muitas vezes obrigadas a relacionar-se e a conviver entre si. Na época de Roma, devido às invasões e ao desejo de viver sob a Pax Romana, e na atualidade devido à imigração, era como é possível numa região a existência de diversos núcleos culturais e ainda grupos sociais que por diversas razões se sentem marginalizados. Perante a existência de diferentes culturas, as pessoas podem assumir atitudes como o etnocentrismo, o relativismo cultural e o interculturalismo. Roma, numa visão diferenciada para a época, procurou, aos moldes do Império persa de Dario e Xerxes, adotar uma política de tolerância com os costumes alheios. Mas, vejam bem: tolerância e conciliação não são a mesma coisa. Quando se concilia, quer-se que várias características, muitas delas díspares, convivam umas com as outras. Isso é muito perigoso, e com o tempo passa a indicar fraqueza dos dominadores. O Brasil, apesar de sua formação multigenética, pratica o preconceito, ainda que velado, contra o negro, o pobre, o nordestino, numa postura etnocêntrica, que deriva para posturas negativas como a xenofobia, o racismo e o chauvinismo. Devemos combater esta postura. Devemos gritar contra teorias como de Gobineau, contra posturas como de Euclides da Cunha e de tantos outros teóricos derrotados pela realidade brasileira. Assim, podemos afirmar que o multiculturalsimo avança na medida em que recuam o ímpeto, a coragem e a necessidade imperiosa de enfrentarmos os nossos graves e seculares problemas econômicos, de soberania e a criminosa exclusão social. Devemos buscar o caminho brasileiro de desenvolvimento, através das nossas vocações e particularidades, inclusive naturais. Sabermos utilizar como alavanca de auto-estima e mobilização, uma das culturas mais ricas e diversificadas do planeta. Não impedir, através da imitação barata de outras formações antropológicas, que o potencial de um povo extraordinário, o povo brasileiro, se desenvolva com plena capacidade e inventividade criadora. O problema do brasileiro é que parte de suas elites é aculturada, colonizada e incapaz de pensar um projeto singular, real e factível – harmonioso com as peculiaridades e riquezas do país. O povo, o povo mesmo, é uno em sua diversidade, inclusive individual. Não há que fragmentá-lo, fracioná-lo em grupos e subgrupos, como uma esquizofrenia imposta à força, para melhor dominá-lo de dentro e fora, imobilizá-lo. Devemos receber de braços abertos as boas coisas que a humanidade produz, criticamente, incorporando-as ao nosso patrimônio em geral. Para isto estamos abertos e sempre estivemos. Somos meios antropofágicos, inteligentemente antropofágicos. Sabemos assim, as mazelas de que o brasileiro padece. Cabe a quem desejar, ou estiver disposto, incorporar-se à aventura árida, sofrida, às vezes sangrenta tarefa da libertação das potencialidades da população brasileira. Uma ampla arquitetura da construção de um país generoso, sem vocação imperial. Do trabalhador anônimo, da balconista sorridente, do operário inventivo, do empresário desenvolvimentista, da juventude impulsionada em sua vitalidade e movimento, da intelectualidade acreditando, do agricultor fazendo plantações de dar gosto. De uma cultura incentivada a ser feita nas suas permanências e renovações. É nesta pluralidade e na diversidade dos brasileiros que se pode construir o presente e perseguir o sonho da utopia do futuro possível.

Nenhum país é uma ilha

Nenhum homem é uma ilha, dizia o poeta inglês John Donne, no século 17. No auge da globalização, é razoável afirmar que nenhum país é uma ilha. Quando as coisas apertam o mundo, o Brasil tende a se ilhar, mentalmente. O Brasil é uma ilha de prosperidade, dizia o general Geisel. Tsunami econômico aqui não passa de marolinha, afirmava o presidente Lula. O jornalista americano Michael Lewis acaba de concluir um livro - Boomerang, Viagens ao Novo Terceiro Mundo - sobre a Europa. Ele percorreu quatro países: Islândia, Irlanda, Grécia e Alemanha. Seu objetivo era extrair lições para os EUA. E concluiu que os americanos deveriam inquietar-se com a crise europeia, pois podem ser os próximos da fila. Barack Obama e Dilma Rousseff têm feito constantes advertências aos líderes europeus. Alguns já reclamam por terem sido condenados a ouvir conselhos. É compreensível que os dois presidentes se inquietem com a crise européia e a demora em achar saídas. Mas ambos, em níveis diferentes, têm de olhar a própria retaguarda. A exemplo de Islândia, Grécia e Espanha, os EUA enfrentam manifestações de rua. Elas têm um objetivo vago, mas miram o sistema financeiro e suas relações com o governo. No Brasil o tema é a corrupção, mas o núcleo de descontentes pode ampliar seu alcance em caso de crise econômica. E não só porque a corrupção se torna mais insuportável num quadro de crise. Outro fator potencial de protesto é o modo irracional de gastar o dinheiro público. Olhando por esse ângulo, o Brasil comporta-se como um novo-rico, alheio à tempestade que se aproxima. Os últimos fatos fortalecem essa visão. A Câmara dos Deputados gastou R$ 13,9 milhões com telefone nos últimos oito meses. Se houvesse interesse, com a ajuda da tecnologia esses gastos poderiam ser reduzidos à metade. Os custos do Congresso aumentam, assim como aumenta a resistência a considerar a tese de que, sem perder a eficácia, eles poderiam ser reduzidos à metade. A Câmara tem uma televisão com equipamentos e equipe completa. A pouco mais de 300 metros dali, o Senado tem também uma televisão com equipamentos e equipe completa. Com bons editores, uma só televisão divulgaria todo o trabalho do Congresso e ainda sobraria tempo. José Sarney declarou em entrevista que os privilégios parlamentares são um tributo à democracia. Os suecos, apesar de sua riqueza, considerariam um insulto à democracia. Basta examinar o tratamento que dão a seus parlamentares, que precisam lavar sua roupa e limpar, após usarem, a cozinha coletiva de seu prédio. Na área do governo, os fatos também revelam indiferença pelos gastos inúteis. Essa tendência pode rastreada pelas manchetes dos jornais. O Ministério da Pesca surge como um generoso pagador da bolsa-defeso. Não há indícios de que conterá seus excessos. O da Saúde aparece gastando parte de sua verba com vale-transporte e até pista de skate. Enquanto isso ocorre, R$ 1,8 milhão enviado à reserva dos índios guaranis-caiuás parece ter sumido no caminho, pois os postos, segundo o Ministério Público, estão em estado de miséria. Já a reforma do Palácio do Planalto custou 43% acima do preço estimado inicialmente. Apesar de notas técnicas condenando os gastos, R$ 112 milhões foram pagos. Tudo isso vem à tona na fase pós-escândalo dos Ministérios dos Transportes e do Turismo, áreas em que as cifras do dispêndio eram muito maiores. A visão corrente na base do governo é de que tudo é secundário e chega a ser comovente se importar com tais gastos, diante da complexidade do processo. O mantra é confiar no mercado interno, apoiar-se nele para continuar crescendo. No entanto, embora não seja alarmante, pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que, entre os emergentes, o Brasil sofreu uma das mais fortes desaceleração do crescimento. A presidente Dilma deve anunciar, dizem os jornais, um novo plano de investimentos. Ela quer estimular a economia. Grande parte dos investimentos que o País fará nos próximo anos é destinada à Copa do Mundo e à Olimpíada. É preciso muita confiança para supor que esse caminho não apresente riscos na crise. Não se trata apenas de calcular o custo de alguns elefantes brancos. Eles continuarão representando gastos de manutenção muito tempo depois de usados nesses eventos internacionais. Não se pode dizer que o governo ignore o problema de gestão dos recursos. Dilma atraiu para sua equipe o empresário Jorge Gerdau, que investiu na modernização dos governos. O do Rio de Janeiro deve a ele grande parte do êxito em superar o atraso constrangedor das administrações anteriores. A presença de Gerdau indica, pelo menos, a existência de plano de longo alcance. Mas falta uma força-tarefa para as emergências. Toda eleição presidencial discute os gastos com viagens, que rondam os R$ 800 milhões. Num tempo de teleconferências, e-mails, Skype, gastos com viagens poderiam ser reduzidos. Mas não se vê uma campanha para diminuí-los, com resultados transparentes. Ao pedágio da corrupção soma-se o espírito de novo-rico, inspirado pelo crescimento econômico. É muito peso para voar em tempos difíceis. Os dois fatores se entrelaçam e ganham nova dimensão quando o foco está na Copa e na Olimpíada. O primeiro grande acontecimento, o sorteio das chaves, no Rio de Janeiro, revelou a amplitude dessa tendência perigosa. Estado e cidade gastaram, juntos, R$ 30 milhões. O aluguel de uma cadeira custou R$ 204, soma suficiente para comprar cadeira nova. A racionalidade nos gastos é um remédio muito simples para a complexidade da crise. Outras grandes medidas se pedem aos estadistas. A vantagem do remédio está sobre a mesa: é só ter a coragem política de adotá-lo. Na verdade, o grande obstáculo para racionalizar os gastos é político. Uma configuração estática de governo torna a política não mais uma solução, mas parte da crise.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Remissão

Uma única catedral gótica ou uma única cantata de Bach redimem a religião de todos os seus males. Ou não. Você pode atribuir a beleza da igreja e da música à devoção religiosa e perdoar as barbaridades que a mesma devoção inspirou através da história, ou concluir que uma coisa não determinou a outra — Bach seria Bach mesmo sem a devoção — e apenas se admirar que tenham sido simultâneas. Escolha: a arte religiosa se nutriu da violenta história do cristianismo ou floresceu apesar dos seus conflitos, para compensar a violência? Pode-se até imaginar uma tabela de remissões. Quantos anos de obscurantismo e fanatismo da Igreja são absolvidos pela Pietà do Michelangelo, por exemplo? Só o Réquiem do Mozart basta para a absolvição da Inquisição? Tudo depende do olhar. Há quem olhe as pirâmides do Egito e veja um fenômeno arquitetônico e um triunfo do empreendimento humano. Outros só vêem o sofrimento dos escravos pela maior glória de senhores insensíveis. Há quem olhe a fachada de uma catedral antiga e sinta seu espirito se enlevar, há quem veja na sua imponência apenas uma declaração de poder. No seu livro "Cultura e Imperialismo", o critico Edward Said escreveu sobre a relação, às vezes inconsciente, do romance europeu com o colonialismo a partir do século 19. Seu exemplo mais comentado é um estudo sobre "Mansfield Park", de Jane Austen, em que ele ressalta a importância para a vida na mansão descrita pela autora, que dá título ao livro, de uma plantação no Caribe. Em nenhum momento do livro de Austen é sugerido que a família seja cúmplice do imperialismo, e muito menos que seu estilo de vida dependa de escravos, mas a tese de Said é que em boa parte da literatura feita na Europa na época — inclusive singelas histórias de donzelas pastorais vivendo o drama de arranjar marido — esta interdependência está implícita. Depende do olhar de quem a lê. Como no caso de catedrais e cantatas, a literatura produzida na Inglaterra e na França principalmente (e Portugal e Espanha, já que estamos falando de colonizadores) redime ou não redime o crime, neste caso da conquista imperial. Vendo uma mansão inglesa em meio a um idílico parque de grama perfeita, você pensa em Jane Austen ou pensa nos escravos?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Avec élégance

Precisei conhecer Paris para descobrir que tem gente que odeia a cidade. Gente que foi, como eu, visitar e detestou – não volta e faz propaganda negativa. O comentário normalmente vem acompanhado do argumento: aquilo lá é muito decadente, credo. De velharia basta eu (ou minha esposa, marido, etc). Confesso que eu não entendia muito bem – mas passeando de forma crítica pelo Brasil consegui deixar mais clara, pelo menos para mim, a noção de decadência que esses turistas identificam por lá. Li uma vez uma entrevista da Sofia Coppolla dizendo que ela precisa sair dos Estados Unidos para ver o quanto é americana. Eu acho que precisei ir à Europa para ver a mesma coisa: o quanto nós somos americanos. Quando estive em Brasília fiquei impressionado com a beleza das quadras, dos comércios, letreiros bonitos, logomarcas vistosas, luzes piscando. Não existe mais botequim em Brasília – aqueles de pintura descascando, onde os porteiros comiam um PF de pé, bebendo cerveja. Agora tudo está moderno, tem letreiro vermelho e amarelo para todo lado, tudo muito profissional. Ir a Paris e andar nos bairros mais “normais” da cidade, longe da Champs Elysées, me deu a exata percepção dessa certa decadência de que falam certos turistas. As lojas de lá não tem essas fachadas à Las Vegas. Os comércios de serviço – cabeleireiro, imobiliária – esses não têm mesmo. A maior parte têm só o nome pintado na parede. Nem neon, nem placas retroiluminadas, nada. Só tinta. Bares e restaurantes seguem mais ou menos aquele padrão das brasseries – um neonzinho vermelho fajuto que facilita a identificação do lugar à noite. Quando muito. E o engraçado é que a existência ou ausência de uma fachada caprichada, por lá, não diz absolutamente nada sobre o refinamento e a importância do lugar. Basta dizer que as mais importantes boates de Paris, onde é quase impossível de entrar se você não estiver acompanhado de um certo Karl ou de uma certa Carla, sequer o nome na porta possuem. Jeitão de festa privê. Na rue des Canettes, um dos bares de vinhos mais conhecidos da cidade, o Chez George, tem a fachada mais degradée do mundo, com o nome pintado à mão. Lá dentro, jovens yuppies e gente de todas as partes do mundo dividem o balcão para conseguir sua tacinha de vinho. Um bar com aquele jeitão boêmio que, concordo, é meio decadente. Mas ao mesmo tempo…

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Os quatro caminhos

O povo San, os primeiros habitantes do sul da África, acreditavam que depois da morte o espírito humano se defrontava com quatro caminhos. Três dos quatro caminhos eram estradas magníficas, com chão liso, sombrejadas por árvores altas, que levavam ao Inferno. O quarto caminho era uma estrada calcinada de pedras soltas que levava ao Paraíso. O espírito precisava escolher, e a sua escolha não era entre o Inferno e o Céu, era entre o caminho e o destino. Andar por uma das três estradas largas e prazerosas engrandeceria o espírito, mesmo que levasse à perdição. Escolher o caminho mais difícil castigaria o espírito mas o levaria à salvação. O que era uma opção para os mortos era um enigma para os vivos: vale mais a viagem ou o seu fim? O que se aproveita da vida se ela for apenas uma provação para a alma? Fiquei sabendo da crença dos San num cenário adequado para reflexões sobre a sabedoria antiga, o Museu das Origens, na grande universidade de Witwatersrand, em Johannesburg. É um museu arqueológico com natural ênfase em evidências de que a África foi mesmo o berço da humanidade, entre estas uma pedra com riscos siméticos feitos há 75.000 anos que foi a primeira obra de arte do mundo. Talvez impressionado com a rede de avenidas, elevadas e minhocões que se entrecruzam ao redor de Johannesburg, achei que havia uma metáfora aproveitável na parábola dos quatro caminhos dos San - só ainda não conclui qual é. Johannesburg decididamente escolheu seu destino, que não é mais do que ser uma nova América, ou um conglomerado de shopping centres e condomínios fechados interligados por grandes estradas. Resta saber se perdeu sua alma no caminho. Pois a opção pelas grandes estradas também deu em universidades publicas como a Witwatersrand, onde vimos o que parecia ser uma maioria de estudantes negros, e em vários prêmios Nobel em física, medicina e literatura. As universidades publicas foram feitas na sua maior parte com dinheiro branco. Afinal, uma raça que produziu a Charlize Theron não pode ser totalmente ruim.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Carro: extensão das pernas ou do ego?

As cidades brasileiras, em sua maioria, cresceram em um processo de adaptação aos automóveis, com exceção de Brasília, que já foi construída inteirinha para servir os carros. Lá a situação ganha contornos de tragicomédia, porque além de Brasília não ter sido planejada para o transporte público, o tombamento da cidade impede as adaptações necessárias para a implantação de corredores de ônibus, ciclovias e outras formas de transporte que não sejam os carros. Enquanto isso, a cidade,ou melhor, os cidadãos padecem. Os que têm carro por conta dos congestionamentos. Os que não têm, por conta das condições precárias de transporte coletivo. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus e várias outras cidades que se desenvolveram durante o século XX foram sendo adaptadas ao uso dos carros. Mesmo com alguns políticos fazendo o discurso do transporte coletivo, os investimentos prioritários foram destinados à construção de avenidas, viadutos e estradas. O motivo da esquizofrenia, onde os políticos falam em transporte público e investem em infra-estrutura para automóveis, pessoas pregam a necessidade de redução do uso dos carros, mas não vão sem ele nem à esquina, é o fato de que o automóvel, ao contrário do que deveria ser, não é uma máquina de mobilidade, uma extensão das pernas, mas sim uma extensão do ego das pessoas. Um automóvel deveria ser uma extensão das pernas, uma maneira de ir e vir de forma rápida, eficiente, econômica e com qualidade. No entanto, esta não é a realidade do mercado. Ter um carro significa mostrar poder, capacidade de consumo e coisas que nada tem a ver com ir e vir. Uma vez, a psicóloga Ana Verônica Mautner se saiu com essa: “Tem homem que precisa de um motor para carregar seu próprio pinto. A potência é da máquina, e não dele”. Do lado feminino já se criou, inclusive, a pouco honrada denominação de “Maria Gasolina”, que define as mulheres que colocam as qualidades do carro acima das qualidades do motorista. Recentemente a revista Exame deu uma capa com o título “Em busca do carro verde”. Dentro estavam as experiências de se suprir as demandas do ego com veículos que consomem combustíveis alternativos. Há, inclusive, um Hummer, aquele enorme jipe militar que é o sonho de consumo de muita gente, movido a biocombustível. Outros eram esportivos e carros de luxo com motores elétricos ou a célula combustível. Grandes e pesados carrões que precisam de “muita potência” para carregar o próprio peso e o ego de seus proprietários. Pouco se pensa em redução de peso e eficiência energética. O carro do futuro poderá ser, inclusive, um carro movido a gasolina. A diferença é que, ao invés de fazer 10 quilômetros com a energia armazenada em um litro de combustível, poderá fazer 50 ou mais quilômetros com ela. Mais até do que faz uma motocicleta de baixa cilindrada hoje. Quando o ex-presidente Itamar Franco lançou o desafio do carro popular, a Volkswagen tentou ridicularizar a ideia, com o relançamento de um projeto dos anos 30, o Fusca. A Fiat deu um passo adiante e lançou um novo conceito de veículo, o Uno Mille. Hoje praticamente todas as montadoras têm carros de mil cilindradas. Veículos que caminham para a concepção de um modelo de transporte individual menos impactante tanto sob o ponto de vista do consumo de combustível, como do uso do espaço urbano. Mas só ter carros mil resolve? Claro que não. As montadoras precisam continuar investindo em soluções de eficiência energética. A criação do sistema flex, que permite a queima de álcool e gasolina foi um passo adiante, mas ainda há muito o que se fazer em termos de redução de peso dos veículos, aumento de autonomia por litros de combustível, segurança ativa e passiva, etc. Porém sem uma mudança drástica na forma de uso e na visão do que é um automóvel, muito pouco vai mudar. Um carro deve ser visto como uma extensão das pernas, como mais um modo de transporte à disposição das pessoas, e não como o único. Uma pessoa ou uma família pode ter um carro, mas usá-lo de forma integrada com o transporte público, com a bicicleta e com trajetos a pé. Um carro deve ser visto como um instrumento de conforto que pode nos levar a locais isolados, onde o transporte público não chega, em horários onde a cidade está com menos movimento e coisas assim. No entanto, enquanto o carro for extensão do ego, e não das pernas, não haverá alternativas, porque políticos continuarão fazendo a demagogia do discurso pelo público e o investimento pelo individual, e as pessoas vão continuar a usar desculpas para não utilizar o transporte público. As cidades brasileiras precisam mudar, e rápido, para oferecer conforto a quem usa transporte coletivo. É preciso ter circulares nos bairros, interligando estações de trens e metrôs com sua própria vizinhança e não apenas com linhas de longa distância. O carro do futuro não terá, necessariamente, de ser movido a eletricidade ou a biocombustíveis. Mas deverá ser um veículo de transporte com alta eficiência energética, segurança ativa e passiva, além de trabalhado no conceito de ser uma extensão das pernas. As montadoras precisam direcionar parte de seus esforços para a concepção de veículos que sejam apenas um meio de transporte eficiente. Não adianta apenas falar na necessidade de mais e melhor transporte coletivo. É preciso também construir automóveis mais modernos e eficientes, menos pesados e ostensivos, menores e mais seguros. O ego, este deve encontrar outras maneiras de se manifestar.